domingo, 16 de agosto de 2015

pensei que foce morrer

Título alternativo: V de vergonha



Estou esgotada.

Esta semana foi especialmente difícil, em vários aspectos, e eu tentei concentrar todas as atividades essenciais ao longo da semana, porque sabia que o domingo seria de estudos, então eu queria poder descansar o corpo (e talvez um pouco da mente) no sábado. Passei a semana estudando intensamente, mas sábado de manhã acordei com mensagem do grupo de estudos avisando que estaria na universidade pra mudar um trabalho. Fiz um pouco mais de pesquisas de casa mesmo, porque não tinha condição de passar mais um dia dentro daquele campus. Fiquei estressada por várias razões e, no fim da tarde, quando não conseguia mais raciocinar de cansaço mental e mau humor, minha mãe disse que tinha combinado com meu BFF de patinar no gelo no shopping e insistiu pra que eu fosse junto.

Fui.

Impossibilitada de sentir alegria num dia quente de inverno, fui emburrada o caminho todo, cheguei emburrada, sentei na mesa onde todo mundo tomava café emburrada, fiz o cadastro emburrada, entrei no rinque emburrada e comecei a patinar emburrada. Piorou quando vi que a pista estava imunda, cheia de buracos enormes e morrinhos que fazem a lâmina enroscar. 

Patinei bem devagar, até sentir bem a pista. Estava perto da beirada, fazendo tudo como manda a segurança. Com o tempo, o movimento dos instrutores e de trenós com crianças foi criando cada vez mais sujeiras e mais buracos, então comecei a patinar cada vez mais no meio da pista, onde ela costuma ser mais limpa.

Numa das curvas que eu fui fazer, duas crianças caíram na minha frente. Quando fui desviar, desequilibrei e caí de joelhos num montinho de gelo ralado. Fiquei muito brava porque foi o primeiro tombo no gelo da minha vida. Nada doeu, mas eu percebi que minha lâmina enroscou num buraco quando tentei parar. 

Andei perto da beirada de novo, conversei com os amigos de fora da pista, disse que estava considerando sair do rinque porque os patins estavam especialmente ruins. Mas como eu sabia que isso faria minha mãe desistir - e ela ainda está aprendendo - resolvi dar mais uma voltinha.

Parabéns.

Porque, ao desviar de uma criança escorregante, eu levei o pior tombo que já tomei na minha vida.

Minha lâmina enroscou na emenda da pista, perdi o equilíbrio e caí de costas. Meus pés voaram do chão, minhas costas bateram com toda força no chão e nem a cabeça eu consegui segurar. Estatelei completamente.

Por três segundos, por causa da violência da pancada, eu não consegui respirar. O barulho todo desapareceu e eu vi dois bombeiros vindo desesperadamente na minha direção. Só tive tempo de pensar duas coisas:

MEU DEUS.

MORRI.

Nos muitos anos que eu patino no gelo, NUNCA vi um bombeiro na pista, e ó que eu já vi todo tipo de tombo. Eu sentia uma dor horrível no derriê e escutava os gritos não levanta, não levanta, enquanto se formava uma rodinha à minha volta. Eu só enxergava o azul da blusa dos instrutores e o vermelho dos bombeiros, não via nem ouvia mais nada, nem sentir o gelo sob o corpo eu estava sentindo.

Primeiro o bombeiro me perguntou se estava tudo bem comigo e eu respondi que sim, morrendo de medo que fosse não. Ele perguntou onde doía e eu respondi que era... o bumbum (JÓIA). Então manda olhar pra lá, olhar pra cá, mexer as pernas, mexer as mãos, responder se alguma coisa formiga, dobra uma perna, dobra a outra, dobra os braços, responde o nome, "olha, moça, a gente vai tirar você daqui de maca".

O QUEEEEEEEEEEEEEEEE????????????

Achei que estava respondendo certo só na minha cabeça, né? Mas aparentemente é isso que acontece quando alguém voa e aterrissa sobre as próprias costas. No fim, quando eles acreditaram que eu sabia patinar, me deixaram sair de cadeira de rodas.

HAAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHA

Primeiro eu tinha que provar que conseguia sentar sozinha. Foi só nesse momento que me dei conta que minha roupa INTEIRA estava molhada e eu estava gelada. Devo ter ficado uns 5 minutos deitada no gelo. Quando eu sentei, me explicaram como me ajudariam a levantar e ficaram até impressionados que eu sabia como travar o patim no gelo. EU SEI PATINAR, KIRIDO, EU NÃO SEI O QUE ACONTECEU. Me colocaram sentadinha na cadeira de rodas, me atravessaram pela pista, onde eu vi meus amigos com cara de desespero, porque todo mundo pensou que me mantiveram deitada porque eu tava morrendo mesmo.

atentem para a risada


Já fora da pista, sentada no banquinho, nem vi quando alguém me desmontou inteira. Tiraram capacete, joelheira, luva, colocaram meu tênis, avisaram os seguranças todos do shopping, porque eu obviamente tinha que ir pro ambulatório ver se estava tudo encaixado no lugar certo. Eu já estava falando tanta abobrinha que o bombeiro mais ria do que trabalhava, quando, SEM ZOEIRA, me vem a moça da pista dizer que meu tempo de patinação acabou.

OLHA, MOÇA, MAS VOCÊ NÃO DIGA????

Eu na cadeira de rodas! Disse isso e completei "sério? eu tava pronta pra voltar ¬¬". Eu e o bombeiro rimos muito. Um outro bombeiro apareceu, seguranças me escoltaram até o ambulatório, na cadeira de rodas (!!!) onde a cara do médico deveria ter sido fotografada. Não sei se ele estava achando graça, porque TODO MUNDO na minha comitiva estava rindo sem parar. Eu fui o shopping todo de rosto coberto.

- tá doendo muito?
- tá, mas é a vergonha que dói mais.

Depois de 20 minutos de consulta, de passar por apalpações até onde o sol não bate pra ver se a coluna estava no lugar, aquele negócio maneiro de lanterninha no zóio, responder bonitas frases pra provar que o cérebro tá em ordem, uma injeção suave de anti-inflamatório no derriê, 800 recomendações de repouso, fui liberada pra viver novamente.

Só fica a dúvida de quando poderei sentar adequadamente e de quando essa dor horrível no meu corpinho vai passar. Até meia hora atrás eu achei que tinha quebrado a mão (parece que não), porém todos os músculos do pescoço pra baixo doem vigorosamente.

Me pergunto se entrei na voadora no meu inferno astral. Vamos acompanhar.

NOT TODAY.