terça-feira, 20 de outubro de 2020

la piñata


 

 Às vezes é curioso pensar no isolamento geográfico e cultural que nóis brasilero sofre. Faço a menor ideia de quantos países fazem fronteira com o nosso pelas borda esquerda, mas o caso é que nossa densidade demográfica tá toda apertada na direita. Tem uns lugar que eu imagino que seja fronteira com a Bolívia que têm menos de um habitante por quilômetro quadrado, mas vê a quantidade de gente a dois passo do oceâno atlântico procê vê.

Quando eu era criança, eu me perguntava por que que a gente teve que dar tanto azar de ser o único país DUM CONTINENTE INTEIRO colonizado por uma galera de língua inútil! Pensa na facilidade que ia ser se a gente viesse de fábrica já falando espanhol? Outra pergunta que eu me fazia era: por que caramelos com uma fronteira terrestre CENTO E VINTE POR CENTO composta de países de língua espanhola, a gente não tem essa disgrassa como segunda língua obrigatória? Aí cê se da conta que as fronteiras mais próximas de capitais tão a uns 600km e entende que o brasil se sente esse cristal especial isolado num solitário de zircônia, jurando que é diamante no ouro branco.

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Fora a distância imposta pela condenação histórica, um momento da minha vida foi definido por um trauma de grandes proporções envolvendo a Espanha enquanto país. NUM ADIANTA PERGUNTAR QUE EU NÃO VOU RESPONDER os detalhes, mas o caso é que eu passei dois terço da minha vida ODIANDO absolutamente qualquer coisa relacionada à espanha: de sua língua às suas ex colônias, música, comida, existência e os caraio todo. Se alguém me perguntasse, eu não sabia o motivo, eu sabia apenas do ódio. Então, quando eu estudei em escolas em que eu podia colocar o espanhol na grade, eu disse não. Estudei italiano no lugar. Quando tive que escolher uma terceira língua pra minha vida acadêmica, escolhi o francês, ensaiei o alemão. Espanhol nunca esteve na minha lista de coisas que eu queria saber.

Aí, um dia, fazendo terapinha, eu tomei consciência de alguns eventos desgraçados da minha existência. Nessa época, eu achei um quadrinho - que sempre esteve em algum canto obscuro do meu quarto - vindo diretamente de Madri e PÁ, eu compreendi todo o meu ódio pelo país espanha e por tudo que ele influenciou no mundo. E, por mais que o estrago causado pelo evento ~espanha~ lá nos idos dos anos 90 seja impossível de reverter, eu me permiti "perdoar" o lugar, a língua e a cultura, que não tiveram nada a ver com o que eu passei.

A grande tristeza foi lembrar das viagens pro Uruguai, Paraguai e Argentina feitas na força do ódio, sendo que nem precisava. Um dia eu volto.

PARÊNTESE

Além do grande trauma™, algumas pequenas derrota diária me faziam ter absoluta certeza de que eu tinha que me manter longe dessa língua duzinferno.

O primeiro aconteceu na escola, quando eu tava - literalmente - na quinta série. Nesse ano eu estudava numa escola italiana alternativa, cheia dos frufru. Metade das aulas em português, metade em italiano (não porque era chique, mas porque os fundadores não sabiam falar português e 38 membros da família eram os professores kkkkkk), chegam dois irmãos vindos diretamente do Peru.

As salas tinham entre 5 e 10 alunos, então algumas aulas eram comunitárias, juntando até 4 classes diferentes. Uma delas, a "recreativa", a gente socializava durante um período com todo mundo da quinta a oitava série. Justamente no dia da chegada dos peruanos, alguém tinha levado um jogo de imagem e ação e sentamo lá em umas 30 criancinha, separadas em dois grupos, brincando de adivinhar.

Fui a primeira a perguntar se os caleguinhas internacionais se sentiam confortáveis em brincar de um negócio QUE ENVOLVE A LÍNGUA CORRENTE DO PAÍS que não era o deles e o menino falou "si si, claro que si" e fomo lá brincar. Tudo ia bem quando chegou a vez do jovem crianço e ele girou a roleta "materiais de limpeza" e pegou a letra B. De bombril a balde, a gente gritou tudo quanto foi palavra, enquanto via a areia com corante azul esvaindo na ampulhetinha. Com o desespero batendo, gritos de BERFEX, BANO DE CHÃO, BODINHO, BESINFETANTE E BIBOA ecoaram pelo corredor. Com lágrimas nos olhos, eu perguntei "¿mijo, estás piensando em portugues????" e ele garantiu que sim. Quando perdemos a rodada, ele gritou orgulhoso................

 

BASSORA!!!!!!!!!!!!

 

NUNCA MAIS FOI CONVIDADO PRA BRINCAR (mentira).

*

Já adulta, trabalhando na universidade, eu descobri que rola uns programa aí de manter professores estrangeiros, o que é até bonito no tocante à troca de culturas, mas de vez em quando dificulta a vida. Eu tenho histórias bizarras com professores chineses, russos, alemães, estadunidenses e até portugueses, mas nada como o problema com o professor chileno.

Eu odeio que erre meu nome. Odeio. Chama de "ei, balofa", mas não mexe no meu nome. Não diminui, não corta, NÃO ERRA MEU NOME. Pois esse professor, morando há 37 anos no brasil - mais do que morou no caraio do chile - não fala uma única palavra de porutugês e me chamava apenas de Banessa. Eu corrigi uma vez, duas, dez, três bilhão. Falei pra ele escrever mentalmente com B e pronunciar o V se ele achasse melhor. Falei que já tinha dado tempo de falar português fluente e não tá contente tenho certeza que os portão do chile tão aberto ainda, pode voltar. Falei que ele podia escolher outra pessoa pra infernizar e nunca mais me dirigir a palavra, porém era dia sim, dia também: banessa.

BANESSA É O CARALHO.

Acontece que, para a minha alegria, o nome desse professor é Ramón. Não fosse meu ÓDIO pela língua dos vizinho tudo, eu saberia antes da existência do vocábulo jamón, que pra gente tem o mesmo som, fodase. Mas eventualmente essa palavra entrou na minha vida e então um dia ele adentrou alegremente a minha sala, berrando "BUENOS DIAS, BANESSA", ni que eu respondi muito efusiva "¿OLA QUE TAL, PROFESSOR PRESUNTO?".

mano

maNO

MaNo


AHHAHAHAHAHAH O DESESPERO NO OLHAR DO CERUMANO.


"Não é a mesma coisa, não escreve do mesmo jeito, não é bem assim, eu gostaria que no me llamastes desta fuerma ¡؟؟¡¿¡¡ꜝꜞꜟ¿¡¡¿؟؟¡¡¿ꜝꜞꜟ"

 

— bom, é só me chamar pelo meu nome certinho e a gente segue daí :)

 

Nunca mais errou, não é incrível?


/PARÊNTESE


Só que depois de aceitar toda essa região geopolítica na minha vida foi um intensivão de biene en mi casa e entra em mi bida que vou te contar. Todos reggaeton já gravados pelo homem na minha playlist, finalmente ouvindo Shakira, assistindo filmes e seriados (e entendendo porra nenhuma), planejando visitar Sevilla um dia só porque parecia bonita na televisão. Comer empanada no chile? Quero. Esquiar na venezuela? Quero. Visitar Machu Picchu em El Salvador? SIM. Pegar um bronze na cordiLEra dos Andes? VAMO. Tomar um chimarrão no Panamá? ME CHAMA.

kkkkkkkkkkkkkk

Mas la casa de papel ainda vai ter que esperar, porque eu tenho mais o que fazer. Ryza.

Agora tô eu lá no duolingo tentando recuperar o tempo perdido, descobrindo que oficina é escritório e escritorio é APENAS A MESA, mas tudo há de dar certo no projeto:turismo, assim que eu descobrir o que é que tem na espanha, além de madri, sevilha e barcelona kkkk (o primeiro filho de chocadeira que vier com "barcelona não é espanha" eu vou jogar uma maldição pra 8 gerações, vocês nem começa com essa palhaçada). Pensa que até ano passado eu achava que Andorra era na África e, quando eu descobri que não era, fiquei achando que era um estado da Espanha. Vem discutir geografia comigo não, você não tem como vencer.

*****

E aí que agora o sonho da minha vida é ARREBENTAR UMA PIÑATA na porrada...

não, péra!

 

Por isso que eu gastei uma pequena fortuna (vinte real) pra ter minha própria piñatinha de unicórnio oca, em cuja cual não dá pra por uma única bala chita. Mas fala a verdade se socar um cavalinho cheio de doce com um cabo de BASSORA não é 87 vezes mais legal que estourar uma bexiga gigante cheia de bala 7 belo, amendoim e soft?

Eu sei que a gente teve a bexiga gigante, mas ela morreu nos anos 80 e isso é muito triste. Agora pensa no conceito maravilhoso da piñata! Eu tenho certeza que eu teria gostado muito mais das minhas festas se eu tivesse podido espancar um caixote de papel machê (¿) cheio de doce, podendo acertar gente chata que foi convidada por educação no processo.

Experiências que jamais recuperarei, mas adoraria. Aniversário de 41 tá logo ali (se o mundo não acabar).