terça-feira, 7 de agosto de 2018

O tijolinho que faltava na minha construção




Cêis caem muito no golpe "esqueci minha carteira, paga pra mim?"? Aconteceu muito comigo semana passada (nenhum caloteiro, apenas vários desmemoriados por perto). E isso me fez lembrar de uma história que nunca contei aqui (ou contei e não lembro, ou ficou no finado sopa de letrinhas, ou vocês vão ler e lembrar e pensar que estou ficando gagá, porém não me importo).

Lembrei porque envolve esquecimentos monetários, almoços e burrice. Mas burrice eu pratico todo dia, não preciso lembrar.

A história em questã é a do boy que chamarei de TIJOLO.

Mas ela começa antes de ele chegar.

O ocorrido deu-se durante a era paleozoica. Faculdades ainda contavam o tempo em anos, eu estava no meio do quarto (ano) e tinha eu mesma vinte (anos). Uma jovem inocente.

Eu trabalhava no centro de Curitiba e almoçava no calçadão, num dos únicos restaurantes que não ofendiam minhas 97 restrições alimentares. Era um lugar que tinha almoço você que se serv-se, tinha fast food, tinha de um tudo ali. Eu só comia mesmo as comidas saudáveis, passava no buféty e ia pra uma mesinha, muito adulta, muito saudável. 

Um dia, cheguei no restaurante e fui impaquitada pela beleza do novo chapeiro. Meu deus do céu, o que era aquele homem? Lindo, alto, com 38 dentes brancos e brilhantes, chegava a dar tontura olhar praquela pessoa. Massss eu não como carne, passava direto pela chapa, quase considerando botar um bife no prato apenas pra interagir com o moço bonito.

Passou um tempo e ele trocou de lugar, agora ele entregava as caixas de comida do fast food. Bem na frente do restaurante, ele começou a acenar quando eu chegava e eu acenava de volta, muito desenvolta, tropeçava, essas coisas que ficam ótimas em comédia romântica e horríveis na vida. Também considerei passar um tempo vivendo à base de esfiha e quibe (spoiler), mas não funcionaria.

Mais um tempo e ele foi pra balança. Oh, glória glória, aleluia, o senhor esteja convoscoooo! Todo dia ele mandava lindas frases como "eita, quanto brócolis", "mas cê não pega bife mesmo, hein kkkk", "ôôôôôô, pratinho econômico!".

Eu ria, derrubava comida do prato, enfiava o garfo cheio de comida na orelha, essas coisas que toda pessoa com a sanidade mental em ordem faz.

Até o dia que

EU

NÃO 

PESEI


PRATO

Peguei a comida, passei pela balança, sorri pro infeliz e segui meu curso. Vi que tava todo mundo rindo atrás do balcão, sabia que eu tinha feito alguma merda, mas não conseguia compreender qual era até que..................... PYTA QUE PAROLLLLLL!111 Fiquei 38 tons diferentes de vermelho e fui com a maior cara de bunda até o caixa explicar que meus neurônios tavam em greve e não foi por mal, me cobraram um valor simbólico e eu segui com a minha vida, porque não tinha a MENOR condição de terminar de almoçar.

Saí do restaurante cabisbaixa, pensando que eu teria que procurar um lugar novo pra almoçar, porque eu não voltaria ali nem morta, quando eu senti uma mão no braço.

Era ~Tijolo~, o boy maravilhoso.

- Nossa, você é tão bonita, posso te dar um beijo?

PODE SIM, MEU FILHO.

Beijei. Disse que tinha que trabalhar. Ele falou que tinha um intervalo 18h, o que era ótimo, porque era quando eu mesma saía do meu próprio trabalho. Me chamou pra ir comer umas esfihas com ele. Fui.

E aí começou o sofrimento.

Gente. O cara era burro demais. Ele não conseguia encadear um raciocínio. Mas tão linda a cara, tão gostoso os beijo. Fui levando o relacionamento, evitando conversas e focando nos pontos positivos HOHOHOHOHO.

Foi assim que surgiu a bonita história do apelido do rapaz: aparentemente a família era rica, a tia era dona de vários restaurantes daquela rede e todo mundo parecia bastante bem sucedido, com exceção de Tijolinho, que não conseguia exatamente usar o cérebro pra viver. Como ele era MUITO bonito, tinha se acostumado com as pessoas fazendo todas as vontades dele. Mas um dia a mãe teve um choque de realidade e fez o menino trabalhar. Já que ele não tinha muitas habilidades, ele começou a trabalhar de........... carregador de tijolo em obra. Aí tava ele lá no ofício, tinha que arremessar os tijolo andar acima, pensou "por que não fazer uma gangorra?". Montou lá, botou os tijolinho de um lado, desceu o pé no outro e, como as leis da física não eram o forte de Tijolo... bom, ele tacou os tijolo na própria testa, teve traumatismo craniano e uma cicatriz estilo réuri póte no meio da fuça.

Tijolo passou a fazer muito mais sentido naquele momento.

Quem me conhece ao vivo pode imaginar as discretas risadas que dei no meio da rua XV de Novembro enquanto o infeliz me contava essa história bonita, mas eu já falei que MUITO GOSTOSO OS BEIJO.

O relacionamento estava completando seis meses da mais pura insanidade mental, quando ele parou de se vestir como um mendigo e roupinhas novas e bonitas passaram a cobrir seu corpinho. Como o burro do relacionamento era ele, eu percebi logo que alguma coisa tava muito errada. A essa altura, conhecia os funcionários do restaurante tudo. Fui tentar sondar se ele tinha virado gerente, mas ninguém me respondia direito, até que ninguém mais falava comigo. Foi uma semana de climão maneiro pra todo lado, até que eu chamei Tijolinho pra uma conversa.

Mas não levou meia hora pra eu concluir que ele tinha virado..... (gente, não desiste de mim), GAROTO DE PROGRAMA AHAHAHAHHAHAHA. Oh, meldels, o que eu fiz pra merecer? Jamais saberemos. Ele fez umas ~AMIZADES~ com contatos e achou que era um jeito super ok de ganhar dinheiro e apenas foi. E NÃO IA ME AVISAR KKKKK *baba*. A partir daquele momento não havia bons beijinho que salvasse, eu não encostei mais nem um dedo naquele homem. 

(Quem acha que não tem problema que vá lá e namore com ele, eu não nasci pra viver em piscina de fluidos.)

Aí eu realmente tive que achar outro restaurante pra almoçar, especialmente porque Tijolo NÃO ME DEIXAVA EM PAZ. Eventualmente ele desistiu, grazadeus em 1830 não tinha rede social nenhuma, não tinha uats, sms era caro, finalmente em algum momento ele desapareceu.

SEIS ANOS DEPOIS, tava eu inclusive já trabalhando onde eu trabalho hoje, porém ainda com fé na minha carreira kkkkkkkk, fui numa feira que minha alma mater promovia, onde eu ia todo ano, dava um hello pros professores, pros ex coleguinhas de sala, pensava nas empresas das quais eu seria presidente em 2020, essas coisas. Tava eu lá passando no stand de uma multinacional conhecidíssima de toda a população brasileira, olho pra dentro e vejo um jovem de costas. De terno bem cortado, alto, desconcentrando as pessoas todas em volta. Ele vira e QUAL NÃO É MINHA SURPRESA ao ver que Tijolo parecia um presidente de empresa Fortune 500? 

Fiquei tão chocada que não consegui parar de olhar nem quando ele me viu. Ele também me reconheceu, foi até mim, me abraçou e eu ali imóvel tentando COMPREENDER o que tava conte seno. Ele memo quebrou o silêncio com um sonoro "CÊ ACREDITA?"

- Tijolo, qqCtá fazendo ali, meu deus? Essa roupa? ESSE TERNO?
- Ah, eu sou gerente de whatevs da EMPRESA CHIQUE ali.
- MAS COMO?
- Depois do pé na bunda que cê me deu, eu fui fazer "engenharia" no CEFET, uma coisa levou à outra e agora é isso aí.
- VOCÊ NÃO PODE ESTAR FALANDO SÉRIO.

Ni qui eu me dou conta que Tijolo não apenas era "engenheiro", como estava falando DE FORMA ENCADEADA E ELOQUENTE. Perguntei se tacou outro tijolo nas ideia, ele apenas riu e disse que eventualmente parecia que o cérebro voltou a funcionar. Aí ele pediu pra que eu esperasse a hora que ele estaria livre pra gente conversar. Esperei. Conversamos. Ele disse que me procurou (já existia orkut, mas eu usava o nome VANESSA PALMITA nessa época, o que dificultava propositalmente esse tipo de situação) e ele nunca me achou. Dizia ele que foi pra me provar que ele podia ser um homem sério e que ele estava disposto a se relacionar como um adulto dali pra frente (bom, com ele tendo TRINTA ANOS na ocasião, chato seria se não estivesse). Mas eu tava muito traumatizada (e apashonada por outro homem que não queria nada comigo, sejemo franco), de modos que declinei dessa bonita proposta, ainda que Tijolo ficasse 127% ainda mais bonito num terno bem cortado, com cara de homem de sucesso.

Nunca mais vi ou obtive notícias. Ontem, quando lembrei dessa história, lembrei também do nome completo do indivíduo. Botei na busca do feyce, como qualquer pessoa normal teria feito. Envelhecer bem, ele não envelheceu não. A cicatriz da testa sumiu. Hoje tá casado com, dois filhos e a mulher é exatamente como eu imaginava: um tribufu. Por mais que a vida de Tijolo tenha dado várias reviravoltas, aparentemente enxergar bem não fazia parte de suas habilidades (senão não teria me chamado de linda etc).

Mas ele parece estar feliz, então é isso que importa, né?

E é nesse momento bonito de auto análise que eu me convenço que eu PRECISO ficar longe de homi, porque eu não tenho estrutura pra sediar o evento de ter um crush normal. Fica aí essa bonita moral pra história de como passarei a vida desacompanhada e morrerei com 8 pimenteiras secas na minha sala.

(Se tudo der certo, este blog voltou, vamos torcer.)