terça-feira, 30 de julho de 2013

dois bicudos



heads up: não consigo organizar as ideias pra esse post.


Meus pais sempre fizeram questão que a educação musical dos filhos incluísse absolutamente tudo que fizesse barulho. E se você pensa que funk é ruim, experimenta até sua mãe aparecer com um cd de música tribal, simulando os sons desde o início da humanidade. Cê prefere escutar qualquer ~qualidade~ de batidão a sons aborígenes, vai por mim. Cê prefere escutar Michel Teló que orquestra de flautas doce. MEODEOSDOCÉU, um dia eu vou martelar aquele cd da orquestra de flauta doce até a fissão nuclear dos átomos daquela porcaria. (Mãe, se você tá lendo, cê já sabe do meu apreço por aquele cd.)

Mas assim, a coisa não podia ser feita com amor. Quanto pior o gênero musical, pior a hora de execução. De modos que quanto mais potencial pra ser odiada, mais provável de ser tocada na hora do despertar (como cêis sabe, minha hora favorita do dia). Nunca vou estar esquecendo a época da oitava série e o eterno Gian e Giovani (não me interessa como escreve o nome desses dois, ok?). E não bastava cd, disco. Minha mãe tinha que ligar na rádio e oferecer a música pra gente HAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHA.

Meu pai sempre foi muito roqueiro, do tipos que tem banda cos 38 irmãos (ô gente pra ter filho essa do passado), então a gente pôde escutar muito Pink Floyd, Deep Purple, Queen, Supertramp, Iron Maiden, Metallica, Guns'n'roses e tal. Mas a gente tinha uns vizinhos meio pentelhos, então, quando eles começavam a gritar rock pelo corredor, minha família combatia com Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Zezé e Luciano. VALEO AÊ GALERA ¬¬

Minha mãe começou tocar piano aos seis anos e tocou a vida toda, fez tudo que é tipo de conservatório, faculdade de música, canto e tal OUSSEJE. Também crescemos ouvindo Beethoven, Bach, Vivaldi, Haendel etc etc etc. Mas de vez em quando tacava um Bananarama na vitrola e vamo nessa, né?

Grazadeus ninguém na minha casa curtia muito Beatles e Chico Buarque, oremos. (Guardem suas preciosas opiniões pros seus espelho, não me interessa, brigada.)

*****

Também tivemos muitos momentos de MPB, mas era o que a gente menos ouvia. Lembro de ter me interessado mais por Marisa Monte, Caetano Veloso, Gilberto Gil já maiorzinha, tipo depois dos 15 anos e com força na época da faculdade, com uns 17. 

Nessa época longínqua da minha vida, quando Alexandre Nero ainda não era famoso e tocava musgas num bar podrão em Curitiba, eu me apaixonei pela sua belíssima voz ao som de Magamalabares e Um Índio. Depois de um tempo eu fiquei tão insuportável que ele sempre oferecia uma dessas cançãs para a minha pessoa, quando eu tava debruçada no camarote ♥♥♥♥♥♥

E, com a finalidade exclusiva de cantar todas as músicas com o Nero, eu cavoquei a internet atrás de todas as músicas de MPB que fossem compatíveis com os meus ouvidos, excluindo terminantemente chicos, gals, vanessas da mata e outros engodos do tipo.

Foi assim que eu e Ana Carolina ficamos amigas kkk.

Por mais que eu seja super a favor de músicas de dor de cotovelo, que me afunde em Brandi Carlile, Gabrielle Aplin, Russian Red, eu tenho um probleminha com música de corno ou de baixa auto estima, sabe?

Eu vou sair nessas horas de confusão
 Gritando seu nome entre os carros que vêm e vão
Quem sabe então assim 
Você repara em mim 

PFV, né, amiga? Vai reparar sim, vai chamar a polícia, vai te indicar o MADA, vai avisar os vizinhos pra tomar cuidado, vai pedir mandado de restrição. 

Mas sei lá, entre isso e Marisa Monte cantando sobre cérebro eletrônico, eu ainda prefiro isso. Acho que a gente acostuma.

(Eu tenho esse probleminha crítico mesmo quando eu gosto do artista. Eu tenho consciência de que é impossível gostar de todas as músicas e to diboa daquelas que são ruins.)

Então eu tava lá vivendo minha vida e apareceu um show da Ana Carolina na minha vida. Não lembro que ano foi isso por mais que eu tente, mas deve ter sido, sei lá, 2007. Lembro que o ingresso custava 60 dinheiros, 30 se a gente levasse uma lata de leite em pó. Lembro também que não sabia que tinha aquele bonito preconceito com cantoras de MPB e não tinha a menor ideia de que iria parar no meio da maior concentração de moças que gostam de moças do universo. Nem que meio mundo ia me julgar por ter ido sozinha. Ó MINHAS RUGA.

Cheguei cedo, fiquei perto do palco, que era baixo e tinha uma visão muito maravilhosa pros instrumentos. Eu estava esperando ansiosamente pela melhor música de todos os tempos (vale muito ouvir a versón ao vivo por causa de belos batuque que eu vi ao vivo111!!!1!!), mas sabia cantar absolutamente todas as músicas. Uma coisa assim muito bonita.

Aí apareceu uma pessoa louca na minha vida que se apossou das musgas da Ana [/íntima] (cêis sabe como é, né? quando alguém se apossa de uma coisa que você gosta e aí você é obrigado a detestar a coisa até expurgar o indivíduo da sua vida? tipo o que aconteceu entre mim e o twix, apenas que eu nunca mais vou poder comer twix na vida?) e eu fiquei de mal e deletei tudo do meu computador e nunca mais ouvi.

Mas meu HD morreu e eu resolvi baixar músicas que me fazem feliz e eu fui num show do Cauby ♥ (e aqui eu devo avisar que li que ele ia cantar retalhos de cetim e não sei por que raios meu cérebro ficou com retrato em branco e preto na cabeça E NÃO ME INTERESSA QUEM ESCREVEU SE NÃO SABE CANTAR) e eu baixei Ana Carolina tudo de novo.

Só que fiquei nas musgas antigas, nunca mais baixei nada novo e tava vivendo normalmente.

Até que alguém ligou o rádio do meu carro (coisa que eu NUNCA faço) e eu escutei que Ana Carolina estaria estando fazendo um show em Curitiba.

Será que vô? Será que num vô? Será que é na PQP? (é) Será que custará milhões? (sim)

Desencanei.

Tava deprimida por assuntos não relacionados, gastando dinheiros que não tenho, pintando unhas com cores que não gosto, toca meu celular.

- Cê gosta de Ana Carolina?

Meu, a falta de carboidrato na vida da pessoa é um assunto sério, porque eu só conseguia pensar em docinhos ocos cheio de recheio doce e ruim.

- Ana Carolina, sua anta, a cantora.

AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

- É que eu ganhei um ingresso extra pro show amanhã, cê qué?

OPA, vô querê!

De modos que no dia seguinte, tava eu linda, loira e japonesa na entrada do teatro que fica pra lá do raio que o parta, esperando pra ver o show da minha querida cantora brasileira favorita. Com uma diferencinha: num sabia música nenhuma.

*****

Quem me deu o ingresso não conhecia o teatro e disse que ficaríamos na fila 39. O teatro é gigante e a fila 39 é na pqp, então nem levei máquina fotográfica, fiquei apenas empolgada em ouvir as cantorias de uma pessoa que não desafina ao vivo - não tem como não amar.

Acontece que a gente ia ficar na CADEIRA 39, na fileira 6. Tipo assim, na cara da dona Ana, cê tá entendendo? Quase morri de catapora com a proximidade que não era suficiente pra essa porcaria de câmera de iphone. Mas não tem problema, porque eu tava vendo ela linda e maravilhosa e perfeita debaixo daquela luz horrível (tem que nascer muito incrível pra ficar bonita nessa luz) e ouvindo e ai ai.

E eu, que sempre tive um problema em me entender com a definição da palavra catarse, tive uma ali mêmo.

Aliás, esse teatro é o campeão. Ali eu vi a linda palestra maravilhosíssima com seu Ariano Suassuna que mudou minha vida, sabe?

Sou muito sortuda. Tenho os melhores amigos do mundo pra me darem um presente desses, viu? Eu e Ana estamos de bem agora.

Mas ó, se você num curte as MPB, recomendo que vasculhe a imensidão do repertório e ache alguma coisa compatível com seus belos ouvidos. Não desista porque um fanho overrated estraga tudo que escreve (heh). Não precisa nem ser Ana Carolina, sabe? Tem tanta música boa aí pra você ouvir e apreciar um pouco da cultura nacional. E ó que eu sou tudo menos xiita da cultura nacional. Só acho que é válido fechar o zóinho e cantar entendendo a letra, a menos que seja Djavan ou Pato Fu HAHHAHAHAHAHAHAHAHAHA.

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Gente, já fui em tanto show maravilhoso na minha vida. Tipo, Paulinho da Viola, não tem como resistir. SINTA ESSA CANÇÃO. Ao vivo ele também não desafina, é muito amor. Recomendo também Alexandre Nero, a canção mais triste do cancioneiro brasileiro, também tem essa, muito maravilhosa (também já fui a um show do seu Arnaldão), mas quem não estiver pronto pra esse desafino artístico todo, tem com uma moça e mesma musga. E obviamente esta e esta, né? Sem esquecer a segunda musga mais triste do cancioneiro brasileiro e tal. E, POR FAVOR, me poLpem de clarizzzzz falcão, loser manos, as vanessa tudo (NÃO HÁ UMA VANESSA AFINADA NESSE MUNDO, GARANTO) e seus amores fanáticos por pessoas que tão enriquecendo independentemente dos seus amores e dos meus desgostos.

Tamo entendido?

quinta-feira, 18 de julho de 2013

vamo falar de coisa boa,

vamos falar sobre mim. RISOS.




Vamos voltar a um tema recorrente: sônia.

Sônia, da minha definição, excesso de sono, antônimo de insônia, e não uma pessoa qualquer que pode até mesmo ter uma profissão exótica, como médica de áreas remotas do corpo humano, cujo nome da especialidade não vou dizer pra não correr o risco de o google me indexar na busca pelo nome da minha mais nova amiga. Q

Enquanto 87% da população mundial sofre pra pegar no sono, sente cansaço e não consegue dormir, perde o sono facilmente, posta no facebook às 4:39 da madrugs perguntando onde o sono foi parar (e eu sempre me pergunto que raios essa gente tá fazendo no computador ou celular se deveria estar dormindo), eu tenho problemas em permanecer acordada. Eu consigo dormir a qualquer hora, em qualquer lugar, em qualquer condição. Exemplo: eu posso ir dormir às 10 da noite, ininterruptamente até 9:30 da manhã, acordar, fazer um pipi, comer duas bisnaguinhas, escovar os dentes, ligar a tv no disney channel e estar confortavelmente dormindo de novo cinco minutos depois, até uma da tarde, quando acordarei com sono.

Tem gente que acorda parecendo o nyan cat, eu acordo mais nas vibe mumm-ra mesmo, independente da hora em que isso aconteça.

De modos que eu faço qualquer coisa que me garanta cinco minutos a mais de sono, porque eles são extremamente importantes para a manutenção da minha sanidade mental e para a segurança do mundo - ainda que apenas do que me cerca.

Por exemplo, eu vou trabalhar de carro, mesmo estando a apenas oito quadras do ambiente de trabalho. 

*****

Minha família acreditou por muito tempo que meu defeitinho era apenas má vontade de fazer as vontades dos outros. Neste último fim de semana, minha mãe teve a oportunidade de relembrar que não, eu sou incapaz de acordar cedo, mesmo.que.eu.planeje.

Eu sou a loca da loja de departamento, todos sabe. Aí a CyA lança coleção assinada, quem vou correndo ver? Pois é. Aí tava eu lá na quinta feira bem tranquila enchendo os braço de cabide, dos quais eu levaria provavelmente apenas uma peça de roupa (o padrão), provei um vestido, achei maizomenos, não levei. Minha mãe, por sua vez, comprou 345 vestidos, um deles o que eu gostei. Um número menor. Provei em casa, surtei, quis um pra mim. A missão: levantar sábado até 9h da madrugada, para efeitos de estar no xópem até umas 10:15, para evitar a) araras zoneadas e muita coisa no provador e b) gente. Reflitam que eu planejava estar pronta a jato, com o intervalo de uma hora entre o despertar e o comparecer em público (nunca acontece). 

Obviamente, não aconteceu.

Acordei 10h, super bem humorada só que não, cheguei quase 11h no shopping (fui descabelada e sem café da manhã), só tinha o vestido dois números menor que o meu, o sistema de cartão da C&A caiu e eu obviamente não tinha milhões de reais na bolsa. Mas o vestido dois números menor SERVIU LINDO e eu tive obrigação de comprar. Fui sair do shopping e o que acontece? Sim, meu carro desiste de viver. Sábado fucking à tarde. Estragar em horário comercial não pode, tem que ser quando não tem oficina aberta, que é pra dar o toque de cocô na vida da pessoa.

*****

Chorei todas as lágrimas que não chorei ou evitava chorar, enquanto dirigia pra casa esperando pelo milagre de chegar lá inteira. Cheguei. O carro ligava de novo? Não. 

Expectativa: trabalhar a semana toda sem carro.

- Mas, Vanessammmmm, por que raios você anda uma distância tão pequena de carro, sua destruidora de pandas, sugadora de oxigênio, gastadora de carbono?

Porque pra andar, leva meia hora. Se você acha que meia hora é pouco, é porque você não tem sônia. Eu.não.consigo.acordar.nem.cinco.minutos.mais.cedo, MAGINA se é possível acordar meia hora antes. NÃO.É.

- Então porque você não vai de ônibus, sua bruxa?

Porque são apenas 3 pontos entre minha casa e o trabalho e eu tenho vergonha, porque a linha que faz esse trajeto é uma linha utilizada quase que totalmente por vovós e elas fazem isso e eu sempre ri da cara delas FUÉN.

- Mas, sério, não dá pra ir andando?

Daria, viu? SE

1 - eu não tivesse um pequeno problema de temperatura interna desregulada, que faz com que eu sinta os maiores calores nas menores temperaturas, tendo que obrigatoriamente tomar outro banho e domar outros cabelos na eventualidade de andar por meia hora. Eu não quero trabalhar o dia inteiro com cara de doida, ok?

2 - eu fosse pro trabalho e voltasse do trabalho.

Nunca.Acontece.

Eu vou pro trabalho, vou pra academia, vou pro mercado, compro ração, busco alguém no ponto de ônibus, levo sei lá o que sei lá pra quem, passo num sei onde, dou a volta ao mundo em 180 minutos e volto pra casa. TO.DO.DI.A. 

Eu moro-trabalho-estudo-vivo num bairro bem abastado desta linda metrópole com cara de roça. Mas não daqueles bairros com prédios high-tech, cheio das ostentação e beleza. Um bairro tipo subúrbio americano, cheio dos casarão com famílias de dois filhos e três cachorros e velhinhos com 37 netos, sabe? De modos que a gente consegue a façanha de ser assaltada às cincoevinte da tarde, né? Cê vai andar à pé sozinha por aí? Eu não vou.

*****

Mas meu carro quebrou e fuén, se vira aí.

O plano no primeiro dia era acordar uns 15 minutos mais cedo, que era pra não correr o risco de perder o busão.

HAHAHAHAHAHAHAAHAAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Acordei milagrosamente na hora de sempre, me arrumei correndo, saí descabelada e mais mal humorada que o normal por motivos de café da manhã apressado. 

Cheguei no ponto e vi o ônibus vindo na direção contrária, o que significa que ele ainda está indo pro freaking.ponto.final, ou seja: mais uns 20 minutos de espera e eu só tinha 10 pra chegar no trabalho na hora. Cê chegou na hora? Eu não. E andar de carro ainda te deixa imbecil, porque cê joga lá o casaco, uma sombrinha, a mala da academia, o tênis, sua vó e tal, e acaba tendo tudo que precisa. Pois eu saí de casa sem casaco, sem cachecol, com uma mala de academia pesando 200kg e morri de frio e de peso em menos de meia hora.

Passei apenas um pouco de vergonha depois de mais ou menos 1 minuto e 36 segundos, quando meu ponto finalmente chegou e eu desci. Só não fui vaiada pelo ônibus inteiro porque curitibanos, né?

Aí saí do trabalho correndo pra dar tempo de chegar na academia andando. Quiqui eu vejo na rua? Dois retardado de capuz na cabeça, bem nas vibe bandido (tô traumatizada, me deixa). Quiqui eu faço? Dou uma volta de 14 quarteirões correndo - seriam 4 pra chegar na academia - e chego já exercitada, quase desisto. Obviamente alguém tem que ir me buscar depois das 3 horas que eu passo enfiada lá, porque minha mãe me proibiu terminantemente de ir andando pra casa às 8 da noite. Se eu não morasse com a minha mãe, também teria me proibido. Se você acha ridículo a mãe de alguém de 32 anos proibindo alguma coisa, você lê este blog há tempo de menos.

No segundo dia o plano era ir de bicicleta. Aí eu lembrei que tinha que passar numa loja que não tem estacionamento de bicicleta, poste, nada na frente e eu não teria onde ~estacionar~. Então vamo andando, né? Coloquei os SEIS despertadores usuais (sério) pra meia hora mais cedo cada um, vamo acreditar, né?

Hora que eu deveria acordar 7:15.

Hora que eu acordei: 8:26.

AHHAAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHA

Saí descabelada de novo (o bom é que mesmo quando eu me penteio eu não obtenho sucesso, então as pessoas não sabem a diferença), sem comer, sem pegar tudo o que eu precisaria, peguei o ônibus (que chegou na hora nesse dia, ó que glória) e fui trabalhar. Saí mais cedo e fui levar o bendito carro no mecânico, porque eu não tinha mais estrutura emocional pra esse horror.

Claro que só ia ficar pronto no dia seguinte, de modos que eu teria que trabalhar sem carro ainda mais uma manhã.

Sem bicicleta também, porque num ia ter como levar pra casa.

Andando eu já sabia que não ia dar.

Então estava lá eu, pelo terceiro dia seguido, no ponto de ônibus, com uma blusa, um casaco, uma jaqueta, um cachecol, uma bolsa gigante, penteada, maquiada, alimentada, acordada e de posse de um exemplar de "a culpa é das estrelas", 8:50 da manhã.

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Só posso agradecer ao meu automóvel por ter quebrado apenas 3 peças facilmente trocáveis, minha mãe, meu pai, toda minha família e a xuxa por hoje, depois de ter ido dormir às 23h e acordado às 8h, ter pegado meu próprio carro consertado e com barulhinho de ferrari (i wish) para vir trabalhar linda e alimentada e de posse de todas as coisas que precisarei para chegar até o fim do dia, nessa cidade que tem o termostato que muda de geleira da sibéria pra lava vulcânica duas vezes no dia, de 12 em 12 horas.

São 15:30 e eu só caí com a cara na mesa de tanto sono duas vezes. 

Oremos.

(Vamos ver quem vai ser o  primeiro que vai reclamar do sofrimento da classe média.) 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Doctor Who Experience



Eu sei que estou levando um ano (literalmente) pra contar dessa viagem, mas dá licença que eu tô vivendo dessas memórias e sofrendo porque não vou voltar neste ano? Brigada.

Bom, um aviso importante sobre este post: se você não tem nenhuma familiaridade com o universo de Doctor Who, ele pode realmente não te interessar.

No caso de DW estar entre seus interesses, devo avisar que vai ter spoilers. Porque teve gente que se recusou a ouvir sobre isso pra não saber o que vai acontecer quando for a uma hipotética DWE, sendo que a) nunca se sabe se vai existir uma próxima e b) elas raramente são iguais à anterior. Mas cada um com suas maluquices.

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Primeiro eu acho que devo dizer que achei que a localização da DWE fosse um pouco mais óbvia. Mas, na verdade, Cardiff parecia ter muito mais amor por Torchwood. Na primeira noite que fui até Cardiff Bay, eu vi as plaquinhas que indicavam pra que lado a DWE ficava, mas tanto pela placa quanto pelo mapa, eu achei que era só descer do trem no sentido do Millennium Centre, passar por trás do prédio e tcharam. Só.que.não.

Dei vinte voltas no Millennium Centre, fui parar num centro de exposições que tava promovendo a festa de uma rádio. No próprio Centre ninguém sabia exatamente onde estava o que eu estava procurando (ou meu inglês tava falhando ou nego era meio lentinho, porque não tem muito erro em "where's the doctor who experience?", né?

Eu ainda tinha uma hora pra achar o lugar e Cardiff não é exatamente uma cidade gigante, então fui andando pela baía, acreditando no amor, na sorte e na minha impressionante capacidade de localização no hemisfério norte (tive a confirmação de que nasci no hemisfério errado), mantendo sempre a direção da placa inicial. Uns 20 minutos depois, achei o lugar, meio afastado, mas nada que um morador local nunca deva ter visto.

Chegando lá, a coisa do horário dos ingressos era bem mais flexível do que parecia, especialmente de manhã, já que eles davam preferência pra que crianças entrassem juntas, sem adultos. No meu horário eram umas 30 crianças e a moça me perguntou se eu podia esperar. MAS É CLARO. Eu quis acreditar que não seria a única tia véia ali hahahah. E não fui. 10:30h tava cheio de bocó da minha faixa etária, esperando na fila ansiosamente.

No hall, objetos da River Song, pedaços de Daleks, paredes cobertas pela palavra exterminate. Encontrei a gift shop e me segurei pra não começar a comprar tralha antes mesmo de ter a experience. Voltei quietinha pro meu lugar na fila.










Assim que a gente entrava, tinha um aviso de que durante a experiência não era possível filmar ou fotografar. O que eu acho muito legal, senão ninguém aproveitaria nada. Então ficamos todos num espaço como se fosse uma sala, todos em pé, na frente de um telão. Eu tenho um problema sério com telas de projeção, porque se elas não forem impecavelmente lisas e brancas eu perco o foco e em 5 minutos de filme eu já estava contrariadíssima com um risco bem no meio da exibição. Mas eu estava focadíssima em entender o que o amado Doctor me dizia (na emoção, no som abafado e sem legenda, eu tava com medo de me sentir analfabeta), então levei um tempinho pra perceber que aquilo era.a.fenda.do.tempo. ahahahhahahahaha.

Então tá lá o Doctor explicando que uma catástrofe aconteceu e ele perdeu o controle da TARDIS e nós fomos inexplicavelmente parar ali, de modos que se a gente podia ver aquela mensagem, é porque a fenda estava perto de se abrir E NUM É QUE A PAREDE ABRIU BEM NA FENDA? Felizmente eu não conhecia ninguém e pude ter um chilique bem ridículo nesse momento, porque só estando lá pra entender a vibe de tudo ficando escuro, a luz saindo do meio da fenda e aquele trem abrindo.

Quando a fenda abre, a gente tá numa sala meio zoneada, parece uma biblioteca e MEODEOS, Donna Noble has been saved, Donna Noble has left the library, é lá memo que a gente tá!!!11!1!

Devido à demora pra contar sobre esse evento, algumas coisas estão definitivamente confusas na minha cabeça agora. Mas eu lembro de a gente tendo que procurar coisas pela biblioteca, de barulhos, de uma tela com a imagem do Doctor passando instruções, até que a gente ouve uma explosão, a imagem do Doctor desaparece e só sobra a voz dele mandando correr. A gente corre e fica de cara com a TARDIS, que se materializa na sua frente. Sério, o efeito é sen.sa.cio.nal. Com barulhinho e tudo.

Aqui eu tenho uma pequena dúvida na ordem dos eventos, mas eu vou contar como eu acho que foi e whatever.

Aí corre todo mundo pra dentro da TARDIS e dá vontade de chorar, porque é a sala de comando do 10th e você acha muito que é a Rose enquanto sobe a rampinha de acesso. Aí todo mundo se posiciona em volta da mesa de controle e o Doctor reaparece numa tela na TARDIS e diz o que cada um deve fazer e quando. EU TIVE QUE PUXAR UMA ALAVANCA, TÁ ENTENDENDO? EU VOEI A TARDIS. Eu ouvi o barulhinho dos freio tudo puxado, eu ouvi a materialização, EU VI A MATERIALIZAÇÃO, cê tá entendendo?

Agora que vem a parte que eu tava em dúvida. Não lembro se os Daleks vêm antes ou depois de a gente estabilizar a TARDIS. Só sei que de repente a gente tá encurralado no meio de uma sala, com os fiduma ronquifuça apontando pras nossas cara, berrando ex-tah-mi-na-te e você quase borra as calça, porque é tudo muito real. Tinha criança lá em pânico hahahhahaha.

Mas aí o Doctor recupera o comando da TARDIS e salva todo mundo, tira a gente dali e deixa na mais perfeita segurança na Terra, em Cardiff, numa manhã que não é de domingo, porque domingos são boring.

Parece meio bobo contando assim (é mêmo?), mas não é tão rápido nem tão simples, nem bobo. É sensacional. Dá vontade de chorar e de ficar pra sempre e de achar a TARDIS e ir ver outros planetas.

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Bom, quando a gente sai, sai numa espécie de exposição de dois andares. No começo, tem várias TARDIS, o 11th, alguns vilões, algumas coisas originais guardadas, tipo as sonic screwdrivers, bengalas, objetos em geral dos 11 Doctors. E tem um manequim com todos os figurinos principais e um painel com explicações. Aí tem a sala de comando da TARDIS do 10th, PERFEITA, e um telão que mostra a cena da regeneração em looping e a gente pode chorar na frente dela sem ser julgado. Do lado, mais duas versões da sala de comando: a do primeiro Doctor e aquela que a Idris mesma faz. Uma mais linda que a outra.







cêis tão entendendo que sou eu na TARDIS? do 10th? com colar de TARDIS? METATARDIS?

















post its em gallifreyan ♥





Dá pra sentir o foco da pessoa andando pelo ambiente pela ordem das fotos. Deixei assim pra dar a mesma emoção hahaha.

Você pode andar por ali o tempo que quiser e eu confesso que enrolei horrores, porque achei que era só o que tinha. Aí eu subi as escadas e dei de cara com:

a cara de Boe ♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥

Não tinha como não amar. Tinha mais zilhões de coisas pra ver no andar de cima, também, pelo tempo que você quisesse. Fiquei lá milhões de anos.

Tinha a evolução dos Cybermen. Aquele primeiro outfit zoadíssimo, aqueles mais engraçados dos anos 80, os assustadores de hoje em dia. Todos. Mó pavor daquele zóinho que parece que tem uma lágrima. 

Um monte de lindíssimos Silence, oi quiqui eu tô falano mesmo? Hihihi


o.berço.de.melody.pond.



dalek colorido

walk like a cyberman







pior.personagem.do.pior.episódio.ever.

melhor ET ♥♥♥♥♥

de nada

Dei duas voltas nesse andar, tirei milhões de fotos que provavelmente só têm graça pra mim e saí, com muita dor no coração.

Fui direto pra lujinha, pra me acalmar gastando. Quero nem lembrar quantas libras mais pobre eu fiquei e quanto tempo levei pensando "isso eu não acho nunca mais, isso eu posso importar, isso eu nem queria tanto" e por aí vai. Ainda não tirei foto de tudo que comprei, mas o lego de vanishing TARDIS tá entre as coisas favoritas de todos os tempos.

No caminho de volta pra Mermaid Quay eu tive tempo de ficar admirando a TARDIS encalhada na baía.






Depois de o melhor passeio da vida estar feito, o resto do tempo era só pra aproveitar Cardiff. Se eu soubesse o quanto aquele lugar era lindo, teria ficado 20 dias lá.

Nos próximos episódios: uma ode a Cardiff e a viagem sem fim.

FALTAM.APENAS.DOIS.CAPÍTULOS.

Vocês aguentam, eu sei.

terça-feira, 9 de julho de 2013

not everyday is a bad day



Talvez você não saiba apenas lendo este blog, mas eu sou a louca da festa junina. Morar no sul deu uma boa dificultada nessa tradição, porque aqui mal tem quermesse. As pessoas chegam a achar engraçado festa junina de igreja, esquecendo completamente que que são as festas de Santo Antônio, São João e São Pedro, basicamente. Mas ok.

Neste ano eu acho que já fui a umas cinco festas, perdendo apenas aquelas que dilúvios impediram. No último sábado eu fui em duas.

A primeira era "meu território", aquela festa em que a gente conhece praticamente todo mundo, sabe? Não que isso faça diferença na hora em que eu estou me vestindo, eu sempre faço a caipira esculhambada. Isso porque eu nunca acho um vestido "oficial" que sirva e estou sempre com roupas do dia a dia combinadas de forma a parecer caipira extreme. O característico blush chinelada, pintinhas, duas tranças feitas com cabelo próprio, batom vermelho rubi woo (caipira chique, meu bem) e dentes pintados de preto, é claro.

toda a beleza da muié brasilêra desprovida de autoestima

Pois se no lugar onde todo mundo me conhecia foi difícil sobreviver sem ouvir "meodeos, ahahhahahahhahahahaha, olha sua caaaaaara" por mais que 5 minutos, imagina o que aconteceu na festa número dois, aquela em que a gente vai de convidada, porque alguém  que você conhece trabalha na empresa que está oferecendo a festa?

Gente, festa junina corporativa, não fui feita pra esse tipo de evento porque não sei me comportar.

Cheguei sozinha, então fiquei de boca fechada, né? Porque meu sorriso tava hipnotizante e ficava um pouco chato se não tinha ninguém do meu lado pra dar aquele balanço, tipo "é desorientada mesmo, mas tem gente que gosta dela mesmo assim". Procê ter uma ideia: uma amiga presente no evento chegou a ficar em dúvida se eu era eu mesma, devido ao nível de auto esculhambação.

Então eu tava lá num evento em que eu era coadjuvante da história secundária, muito quieta no meu canto, pra não envergonhar ninguém e nem promover a fama de piriguete que a sociedade me deu. TAVA SENTADINHA NO CANTINHO, MINDING MY OWN BUSINESS.

Aí a festa vai enchendo, animando, eu vou passando mal por motivos de crepe comido na festa anterior (a pessoa resolve comer farinha esporadicamente e se acaba na indisposição), de modos que tive que correr pra comer alguma coisa, qualquer coisa, pra acalmar meu estômago. Minha bolsa de caipira não comportava remédios e eu tive que apelar pro caixa das fichas.

Quano chega minha vez na fila, a coisa mais bonitinha que meu zóio viram naquela noite: um moço aaaaaaaaalto, maaaaagro, branquiiiiiiiinho, todo bonitinho, todo trabalhado no bigode de kajal, calça curta e botina. Se tem coisa que eu amo tanto quanto essa festa é o povo que entra no clima. Me apaixonei imediatamente. Tanto que troquei uma fortuna em fichas apenas pra não dizer não praquela criatura.

Comi, permaneci enjoada, bebi águas, respirei, cantei anitta (agora até eu sei que """""""""""""""""""""""""""música"""""""""""""""""""""""""" é essa), mas só ficava assim distraída com eficiência quando tava encarando de forma deselegante o moço do caixa.

Tava ali sofrendo de amor, não resisti: chamei a coleguinha trabalhadoira do local em questã e perguntei quem vinha a ser aquela pessoa que viria a ser meu marido no futuro próximo. Ela não conhecia.

Fui passear pelo ambiente com as pessoas. No caminho de volta pra mesa, o objeto do meu amor estava parado de frente pra entrada do salão, de onde eu vinha conversando animadamente com a minha amiga, de modos que meu sorriso ficasse evidente. Quase morri ao ver a expressão do moço me encarando, com a maior cara de "gente, precisa disso?", mas assim, meio que bem humorado, não sei.

Nisso, vem a coleguinha me dizendo que tá tentando descobrir quem ele é, porque nunca viu na empresa. Considerando as possíveis funções que ele poderia desempenhar, senti uma onda de pânico ao imaginar que pudesse se tratar de um dentista.

Com a pessoa confinada no caixa do evento, ficava impossível tentar esbarrar casualmente e iniciar uma conversa casual. De modos que o único jeito foi apelar pra perguntas idiotas no momento em que ele saiu de perto da pessoa que dividia a função com ele. 

Depois de fazer a repórter, minha amiga volta quase sem ar de tanto rir, com uma boa e uma má notícia. A má, obviamente, é que o moço já tem uma namorada. Namorado não é casado, vai que ela é chata e ele não aguenta mais, né? Fácil. A boa notícia é que se tratava apenas do FILHO.DO.DONO.

Fuéééén.

Vamos estar preservando a identidade da empresa, por se tratar de um grande conglomerado de renome, ainda que talvez apenas em curitola, mas gente. Tem condição não. Como disse uma das presentes: cê não consegue começar do menorzinho, do mais baratinho. Mira já na prateleira mais cara!.

Gente, taí uma verdade.

Fui criada pra ser princesa, estudei numa business school, tenho o zóio treinado pra achar a melhor oportunidade onde quer que eu esteja.

Tamos aí tentando descobrir o sobrenome do príncipe e arranjando motivos pra visitar a empresa (que não me faltam, ó que beleza) e já planejando aqui o que fazer quando herdar o império.

#eusourica

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Em assunto totalmente não relacionado: em algumas segundas as pessoas te roubam. Em outras, a pessoa de quem você sonhou roubar o primeiro beijo vinte anos atrás (mas não fez isso porque é bocó) te confessa assim, sem pretensão nenhuma, que pensava a mesma coisa em relação a você. No mesmo dia, na mesma hora, no mesmo acontecimento social - num passeio no campinho de futebol.

Num é bonitinha a vida?

Às vezes eu acho.

sábado, 6 de julho de 2013

flashed before my eyes


1- a culpa não é minha;
2- eu não sou idiota;
3- você não sabe como vai reagir a determinada situação até que ela aconteça com você, nas mínimas variáveis;

Eu fui assaltada.

Não foi a primeira violência que eu sofri na vida. Minha mãe já teve toda a mudança roubada, arma na cabeça, comigo na barriga. Já tentaram me sequestrar. Já roubaram metade das coisas da minha casa enquanto minha família dormia e isso mal faz dois anos. Eu lembro de pensar desde criança em como é possível uma pessoa, que é como eu, feita da mesma coisa que eu, me botar medo. Como é que pode? De onde vem esse ímpeto? Por que alguns têm e outros não? Sempre me incomodou isso e eu sempre fui paranoica. Piorou muito depois da invasão da minha casa enquanto eu dormia. A ideia de que alguém foi até meu quarto, entrou, mexeu, fechou a porta, levou coisas minhas embora... É impossível de superar.

Eu sempre fui educada pra me prevenir. Carregue a bolsa assim, se defenda batendo aqui, posicione seu braço lá se alguém te atacar, faça isso, faça aquilo, não reaja, não ande sozinha à noite, entre no carro e trave a porta, não use roupa curta, não chame a atenção, blábláblá. É aquela história, né? A sociedade me ensina a me proteger em vez de ensinar as pessoas a não.praticarem.violência.

Então, embora fosse meu direito, eu não estava andando desligada pela rua. Não estava escuro. Não era um lugar desconhecido. Eu estava vestindo jeans e suéter, um tênis arrebentado pelo uso constante, completamente em desacordo com o resto da roupa, pra não ter que carregar mais uma coisa academia a dentro. Por mais que meu estilo de vestir possa chamar a atenção pela completa falta de compromisso estético, jamais chamaria a atenção por ostentação ou refinamento. Ainda que fosse totalmente direito meu. Minha bolsa é dessas lojinhas pequenas, nem uma imitação de logotipo famoso tem. E minha bolsa de ~ginástica~ é só uma sacola cheia de corações. Nada demais. 

Minha academia fica numa esquina de duas ruas que levam nada a lugar nenhum. É um cul-de-sac de mentirinha, porque tem saída. Então 100% das pessoas andando por ali estão.indo.na.academia. Todo mundo saído correndo do trabalho, em roupas de moletom, tênis, bicicletas. Não soou nenhum alarme o menino de calça preta e blusa cinza, com o capuz na cabeça. O frio estava congelante e praticamente todos os meninos exibiam o mesmo visual, nas mesmas cores.

Era 17:20h. Apesar de o sol se por cedo nessa época do ano, o dia estava claro. A rua estava cheia de gente chegando e saindo. Eu parei o carro onde eu paro praticamente todos os dias. Eu olhei quatrocentas vezes se desliguei as luzes que eu nem tinha ligado, se tranquei as portas que nem tinha destrancado. Se não estava bloqueando nenhuma garagem. Se não estava perto demais do carro da frente. Exatamente como eu faço todos os dias. Uma bolsa num braço, outra no outro, segurando a calça que estava caindo, vejo uma pessoa fazendo a volta na porta da academia e vindo na minha direção. Super normal, porque eu estava no meio do caminho entre uma calçada e outra, no meio da rua.

- Sem correr e sem gritar, senão te mato.

O que? Como que é? É piada? É alguém que eu conheço e não reconheci que está fazendo uma brincadeira? Não era brincadeira.

- É isso mesmo, tudo que tem valor dentro da sua bolsa, sem gritar e sem pedir socorro, senão eu te mato.

A mão dentro do casaco, uma bicicleta entre as pernas. Eu pensei "Não posso chutar, porque não vou acertar nele. Talvez não esteja armado, mas e se estiver?". Ele era menor que eu e eu considerei bater no rosto dele com um soco. Cairia com a bicicleta e demoraria pra levantar, eu sairia correndo os 5 passos que faltavam pra entrar na academia.

- Tá achando que é brincadeira? Tem uma pessoa atrás de você, se tentar alguma bobagem, te mato.

Olhei, tinha mesmo outra pessoa.

- FICA DE OLHO, PORQUE TÁ GARANTIDO AQUI. Para de enrolar e dá tudo de valor que tem na sua bolsa ou eu te mato.

E foi nessa hora que eu entendi quando as pessoas dizem que a vida passou diante dos olhos. Eu não consigo fazer ninguém entender a quantidade de pensamentos diferentes que eu tive nos 5 minutos que duraram essa história.

Cada vez que ele dizia que ia me matar, eu tinha certeza de que ia mesmo. Rosto descoberto, que eu poderia reconhecer. Minha relutância em entregar minhas coisas. O curso natural dos eventos: ele ia fazer o que? Pegar o que eu tinha e ir embora? Como se asseguraria de que eu não estaria seguindo? Ele ia me matar. Mas eu não via a arma, então eu achei que minha melhor chance seria derrubar o imbecil da bicicleta com toda a minha força, torcer pra ele rachar a cabeça no chão e correr.

A única pessoa que presenciava a cena, em vez de chamar a polícia, chamar ajuda, chamar alguma pessoa forte com anilhas, todas as pessoas do mundo, qualquer pessoa, apenas se escondeu. Ninguém vai me ajudar, ele vai me matar.

Me perguntei se ele levaria meus documentos. Quanto tempo levaria até alguém sair e me ver no chão. Se alguém me reconheceria, se encontraria minha mãe, se ela ia sofrer muito, se eu tinha dito pra alguém alguma coisa de que me arrependia, se alguém se importaria, se era isso, já fiz tudo que tinha pra fazer, acabou.

- Dá seu celular, dinheiro, tudo que tiver de valor.

Não vou dar meu celular. Se ele não mostrar a arma, não dou meu celular. Não vou dar nada que é meu pra um folgado qualquer, por qualquer motivo que ele ache que tenha. NÃO.VOU.DAR.

Olhei bem nos olhos dele. Guardei bem o rosto dele. Olhos grandes e castanhos, cílios grandes. O rosto em forma de triângulo invertido, traços suaves, três pintas pretas na bochecha esquerda, pele da cor de brigadeiro. Maior de idade, com certeza. Mais baixo do que eu. Uma bicicleta cinza, com algum detalhe em vermelho, provavelmente as rodas. Não vou te dar nada. Vou te bater, você vai cair e eu vou embora.

Tirei o dinheiro da carteira sem tirar a carteira da bolsa. Segurei o dinheiro na mão. Alguém gritou "tá acontecendo alguma coisa aí?". Não me mexi. Não tirei os olhos da mão do bandido. "Tá precisando de ajuda?" Não respondi.

- TÁ ACONTECENDO UMA COISA SIM, E SE NÃO CALAR A BOCA, EU MATO ELA!

Foi um segundo. Ele tirou os olhos de mim. A bicicleta só apoiada nas pernas, porque uma das mãos estava no casaco e outra com o dinheiro que tomou da minha mão. Até ele se equilibrar, se mexer, olhar pra mim de novo... Eu corri.

Corri sem olhar pros lados e me joguei atrás de um carro, esperando som de tiros. Não ouvi nenhum. Não fiquei esperando. Corri pra dentro da academia, pra trás de outro carro, onde fiquei até que alguém veio me tirar de lá.

Enquanto isso, a pessoa na janela que me perguntou se eu precisava de ajuda pediu socorro e várias pessoas correram pra ajudar, mas ele já tinha fugido. Eu não vi ninguém, só escutei os gritos. E de repente alguém me segurando e dizendo "já passou", carregando pro sofá mais próximo.

4- eu não tenho que ficar feliz porque ele levou ~só~ dinheiro e pouco dinheiro.

Ninguém olhou pelo lado da pessoa que mal conseguia respirar de nervoso. Pode não ter tido arma nenhuma, mas eu ouvi mais de 10 vezes "eu vou te matar". Pode não ter levado meu celular, porque eu me recusei a entregar. Mas se não fosse a distração que ele teve, poderia ter levado tudo, até meu carro. Pode não ter me matado, mas matou meu sossego de andar pela rua, ainda que movimentada, durante o dia.

Meu estômago doía tanto que eu mal conseguia respirar e tudo que eu ouvia é "pelo menos não levou..." qualquer coisa. NÃO. VOCÊ NÃO ESTÁ CERTO. Eu não deveria ter sofrido violência nenhuma, em lugar nenhum, em hora nenhuma. Eu não deveria ser ameaçada enquanto atravesso uma rua. E não tem muito pra onde correr: entre minha casa e o trabalho são 8 quadras e a academia está no meio do caminho. Não é como se eu nunca mais precisasse passar por ali.

Por favor, parem de dizer "pelo menos" e qualquer bobagem. Podia ser pior, óbvio que podia. Mas foi ruim o suficiente. Pelo menos é o cacete.

*****

Assim que recobrei o controle sobre meu corpo, fui até a unidade de polícia que fica no bairro, no mesmo raio de 8 quadras. Várias viaturas, vários policiais disponíveis. Como todas as vezes em que fui a uma delegacia, senti como se eu estivesse incomodando. Pode ser só a situação, que sempre é delicada, mas eu acho que quem lida com pessoas fragilizadas tinha que ter um pouco mais de tato.

Descrevi o que aconteceu, esperando a hora em que me perguntariam de detalhes que pudessem identificar o bandido. Nunca aconteceu. Perguntei o motivo.

- não faz diferença, porque não vamos procurar.

Não vão mandar uma viatura, não vão nem fingir que estão interessados, não vão fazer nada. Porque ele não me machucou, não levou nada identificável. Eu me pergunto pra que serve então um boletim de ocorrência.

- Pra estatística.

Não é reconfortante? Não sei se é a gente que assiste seriado demais e acredita que alguém realmente se importa, que existe um interesse público em tirar ameaça da rua. Mas não, ninguém se importa. Você está sozinho e não tem ninguém com quem contar. Você é só estatística.

PELO MENOS não é de gente que morreu em assalto, né?

(E eu, sinceramente, não quero mais falar sobre isso.)