sábado, 22 de agosto de 2015

alimentaçã ~saudável~ com Horrorosa Negão

Cêis pegaram a piada incrível que eu fiz? Transformei meu nome em hippie, fazendo gracinha com o nome da Bela Gil. RYSOSSSS.

Nossa, ruim demais.

Vamos estar falando de comida, hoje.

Em casa, toda refeição começa com uma cebola cortada, contém um vegetalzinho refogado, arroz carcado no alho, salada. MUITA SALADA. Minha mãe é a louca da salada. Às veiz tem estrogonofe e tem salada (num orna).

Hoje, por exemplo, tinha arroz integral, bife de soja com pimentão e cebola e lentilha, salada de cenoura e milho e ovo cozido. É assim todo dia, porque a gente curte. As pessoas que me veem comendo pela primeira vez sempre perguntam "tá de dieta?". Talvez, considerando a forma física, elas esperem que a resposta seja sim, mas eu digo que é como eu me alimento todo dia. De vez em quando tem coxinha de milho com catupiry empanada? Tem. Tem bolo salgado com maionese e batata palha suficientes pra entupir veias? Ô se tem. Pizza numa casa onde tem mais alérgico a leite e intolerante à lactose que gente saudável? Também.


O problema é que eu não como carne desde criancinha, muito inha, quando a mãe ainda falava "se não comer esse almoço todo, esse prato vai ser o da janta", sabe? E, vou te contar, eu já não gostava de feijão e bife desde o útero, minha mãe ficou 9 meses sem poder ver a cara dessas comidas.

Eu tinha 12 anos quando minha mãe finalmente falou com um nutricionista, depois de uma reação alérgica grave que eu tive. Era a um conservante frigorífico que é usado no Brasil, de modos que a recomendação era suspender carne de gado, porco, essas carnes ~tradicionais~. Então minha mãe, achando que era castigo, chegou com um pacote de proteína texturizada de soja (tem gente que chama de PTS, eu chamo de soja e fim), falando É ISSO AQUI O ALMOÇO DAQUI PRA FRENTE.

Demorou um tempo até a gente aprender a fazer direito - dica: o modo de preparo do pacote é horrível e não satisfaz paladares críticos com sabor - mas desde o primeiro preparo eu já achei uma delícia. De verdade, sem nenhuma ironia. Minha mãe ficou chocada, minha família ficou chocada e eu fiquei 120% feliz de nunca mais ter que botar um bife, uma carne de panela, um churrasco pra dentro.

Desde que eu fiz a cirurgia do rim e passei a ter um relacionamento mais saudável com alimentos (long story), eu descobri amor por brócolis, abobrinhas, couves-flor, tomates... tanta coisa! Minha família, que seguia o esquema arroz-feijão-bife-vinagrete durante a semana e pizza no domingo, passou a variar o cardápio, porque ninguém queria comer arroz com soja todo dia, né? Hihihi. Aos 14 anos eu sabia fazer tanta comida diferente que praticamente garanti o posto de cozinheira da família. A comida da minha mãe, que sempre foi saborosa, ficou cada vez melhor. Até meu pai, que passou a vida achando que comida de hómi era roiz, fejão, bife, descobriu as alegrias da alimentação terráquea de qualidade.

Uma vez, eu tinha 17 anos e tinha acabado de chegar em Curitiba, uma pessoa me convidou pra almoçar. Já consciente da dificuldade de me alimentar na casa alheia, avisei que adoraria, desde que não incomodasse o fato de eu não comer carne. A pessoa confirmou que tudo bem (gente rica, que avisa o cardápio pra cozinheira), fui.

Chegando lá, o que tem pra comer?

Arroz, maionese de batata, salada sem tempero, carpacio e FILÉ MINHÃOUMMMM! Eu peguei tudo, menos as carnes. Minha amiga falou, eu juro:

- pode pegar do bife, é mignon. 
- miga, brigada, não quero :)
- é mignon.
- eu não sei o que isso significa, porém estou agradecida.
- cê não vai pegar o mignon?
- é vaca, o minhôm?
- dã, claro que é.
- então eu não vou comer não, brigada, eu não como carne.

Ni qui vem a cozinheira:

- ahhhh, num é carne de pobre que cê não come, é? Mandaram buscar mignon porque disseram que a pessoa era fresca com carne.

POXA, CÊ ESTARIA JURANDO???

O dobro do tempo de vida já se passou e eu continuo sofrendo desse mesmo mal. "Tem carne de panela com batata, cê tira a carne, né?"




Vou fazer cachorro quente com vina no molho, cê pega só do molho e deixa a vina, né?



Tem presunto na pizza, cê peg...





E o eloquentíssimo "não fala pra vaneça que tem bacon no molho branco, é tão pouco que ela não vai perceber", 10 minutos depois que eu já tinha avisado minha irmã "não pega desse molho branco, tá nojento, cheio de bacon, credo.

*****

De modos que, quando ouvi falar da Bela Gil pela primeira vez uns dois meses atrás, não quis nem saber quem era. Era alguma coisa tipo churrasco de melancia, as pessoas falando mal. Eu odeio melancia com muita intensidade, então não ia comprar a briga de uma possível pessoa vegana que eu não conheço, deixei passar. Depois vi encrencas relacionadas a pipoca, arroz integral, fingi que não era comigo. Aí vi a lancheira da criança com pepino e batata doce, era isso? Fiquei um pouco chateada porque eu ODEIO batata doce +qd+, a única forma de eu comer essa batata é transformada em purê, porque eu comi num restaurante português em Londres [/pedante] enganada e achei gostoso e pedi a receita. Mas quando eu vejo aquela rodelinha de batata doce cozida, eu prefiro morrer que morder, sabe? Pepino, só com muito azeitinho e orégano pra descer.

Cê vê: eu digo que não como carne, a pessoa assume, imediatamente, que me alimento de rúcula, pepino e churrasco de melancia. Eu nem como essas coisas!

Bom, aí veio o "escove seu dente com cúrcuma" ou qualquer outro condimento irrelevante e eu fui obrigada a adquirir conhecimentos pra poder reclamar. Fiz o que? Num dia de extrema dificuldade de viver, liguei a TV no GNT e esperei pacientemente o programa dela começar.

Peguei esse episódio aqui, que tinha tudo pra dar errado, já que incluía cagar regra de alimentação infantil. Passei o programa todo esperando aquele momento de dizer "nossa, mas que merda, Bela Gil" e esse momento......... não veio.

Fora o suco, que eu não tomaria porque eu detesto, fiquei com vontade de fazer todas as receitas. O que eu mais gostei foi que ela usa sal, como uma pessoa normal. Não teve nenhum "ai, sal, né, gente, que bosta". Não teve. Teve inclusive "tofu é meio horrível, então a gente usa de bucha", que eu achei bem coerente. O que eu não curti foi o "usei farinha de sei lá o que, porque é mais saudável e nutritiva", porque é cara e difícil de achar e nem todo mundo é obrigado. Mas no programa seguinte ela usou farinha sem falar mal, porque é um negócio que faz parte da vida e da culinária e essa birra já se foi. 

Onde eu quero chegar:

Não fosse a vibe hippie rico, dono de horta hidropônica, que compra no sacolão dos Jardins, a pessoa nem precisaria ser desacreditada. Não fosse justificar a escolha de vida com "sou nutricionista" ou "a indústria é assassina e dinheirista", super dava pra levar a sério. É só comida, comida criativa, nutritiva, não convencional, que a maioria das pessoas nem considera cozinhar. Muitas vezes nem dá trabalho, nem é tão difícil, mas tão mais simples o rôiz-fejão-bife, né?

Então eu fico NEUVOSA com a pessoa física de Bela Gil, enquanto estou admirando bastante a jurídica. 

Xô explicar. No programa ela parece bem razoável. Não vi receita com carne ainda (olha minha preocupação), mas você sempre pode fazer lá seu eloquente bife combinado com qualquer coisa que ela ensina. Acho super ok. Inclusive, apesar de eu não ter crescido com a mais variada das alimentações, minha mãe sempre fez a comida como uma coisa gostosa. Nunca falou "ó, o espinafre é porque precisa". Era sempre "fiz bolinho de espinafre e tem refogado também, vê qual você prefere". Sabe? Nunca cresci achando que comida era ruim, nem jiló, porque minha mãe ama jiló. Eu nunca entendia o horror das pessoas por jiló. Eu não curto quando esfria, porque fica amargo. Tem que comer na hora. Fora isso, vem ni mim, jiló.

Só que quando a pessoa vem e mostra a lancheira da criança com aquela comida visualmente horrorosa, manda escovar os dentes com pozinho natural, se apresenta como nutricionista, ela tira a credibilidade de pessoas como eu, que só querem se alimentar com alegria de alimentos vegetais. Eu tenho uma amiga que manda o mesmo conteúdo na lancheira de sua filhinha, porém as fotos são lindas e e cê pensa "se é pra comer abacaxi com cereja no lanche, que seja assim".


foto real do lanche da filha da minha amiga

Eu odeio uva passa, mas num dá vontade de comer? Ó que diliça a granolinha, morango, banana... Sabe? Não compreendo a vertente da comida saudável porque é melhor pra você, largue esse sanduíche, porém curto muito a vertente de comer porque é gostoso, faz bem e é mais nutritivo que repetir sanduíche com batata frita todo dia. Inclusive acredito que arroz com feijão todo dia deve matar a pessoa. Se não for desnutrida, talvez de desgosto :P

Como ainda me alimento de peito de frango esporadicamente, sempre te um momento no mês que eu vou numa rede de lanchonete pedante de Curitiba e como um podrão com batata frita e refrigerante, porque sim, ué. Tenho consciência da informação nutricional da coisa toda (que nem é tão ruim assim, fora o refri) e como sem medo de ser feliz.

Onde eu quero chegar?

NÃO SEJAM CHATOS.

Cê curte encher a cara de carne, cerveja, feijão todo dia? Vai fundo.
Cê curte veganismo, carne é crime, mandioqueijo? Manda ver.
Cê faz dieta duvidosa, atkins, dukan, frug[ivora, cavernista? Cara, carrega sua marmita, que ninguém é obrigado e lembra que quando você indica isso pros outros, parece testemunha de Jeová na porta da pessoa que tá quieta em casa e não te perguntou.

Mas pra convidar os amiguinhos pra comer na rua ou na sua casa, tem que se comprometer um pouquinho. Claro, não adianta eu falar que vou fazer um bife porque vou receber carnívoros. Não vou. Mas também não vou tacar soja na sua cara. Vou, sei lá, fazer panqueca de milho, se for do seu agrado. E não adianta você me chamar pra comer e tacar caldo de carne no arroz. E vai ser a maior falta de respeito se você não contar. Mesmo que eu não sinta o gosto - eu sou alérgica, às vezes eu perco o paladar - eu vou passar mal e ficar me perguntando o que aconteceu por 4 dias. E isso é sacanagem.

Não sejam tão radicais com suas carninhas, a maioria dos vegetarianos pouco se importa com seu amor incondicional pela carne. Quando você fala mal de comer carninhas, como se fosse religião, as pessoas querem comer MAIS BIFE só pra te provar que elas podem. Abram suas mentes, experimentem coisas que não vão contra suas filosofias e decidam o que vocês gostam com o coração aberto. 

E não é porque é uma pessoa chata tem um hábito alimentar específico que TODAS as pessoas com aquele hábito serão igualmente chatas. 

Tamo combinado?

:)


PS: a pessoa que perguntou do ask, ele tá aqui. Descobri que tem perguntas não respondidas lá, mas eu posso reativar a visita. Tem também meu email, que tá sempre aberto pro cantinho do coração. Só chamar!