Pois então eu botei os pés na Irlanda. WEEEEEEE!
Taí um país que eu nunca tinha pensado em visitar na vida,
até uns 3 anos atrás. Mesma coisa que alguém falar agora “meu sonho ir pra
Islândia”. Nada contra, tipo Índia, mas é um país sobre o qual eu não sei nada
e não me vejo passeando.
Aí, um dia minha irmã encasquetou que queria um claddagh
ring. Pesquisa vai, pesquisa vem, eu descubro que a Irlanda é terra desse
negóço LINDO, dos arco-íris, dos leprechauns, dos trevos e das ovelhinhas, MÃE
ME LEVA LÁ.
Até aí, beleza. Nossa, quero muito conhecer a Irlanda. Mas
um dia seu BFF se muda pra lá e quiqui você faz? Planeja uma viagem de verdade
pro lugar.
Depois do voo traumático, em que a gente teria que pagar se
quisesse água e eu não sabia onde tinha enfiado os dinheiros (me processa, eu
já estava em modo zumbi), botar o pé no aeroporto com tudo escrito em gaélico
primeiro e em inglês depois era muito divertido.
E vamo pra imigração, né? Tudos papel certinho, não tem
erro, vejo calega atrás de calega passando e eu lá, enroscada. O tio perguntou
até a cor do céu no Brasil e eu lá, achando que tinha feito alguma coisa errada
e seria deportada.
SÓ PODIA SER CULPA DA MALA DE CACHAÇA.
Meu amigo Frederico estava com saudade de toddynho,
tortuguita e cachaça. Eu, enquanto boa amiga, montei uma mala com esses itens
em quantidades permitidas pela legislação internacional, numa vibe compra do
mês, e levei. Separadinho da mala de roupas, que era pra não dar problema, não
parecer escondido, não explodir, não dar nada errado.
Aí eu achei que tava ali sendo enrolada na imigração por
contrabando, sei lá.
Quando eu tava a um passo de entrar em pânico, o tio me diz
que achou muito divertido poder FINALMENTE conversar com um brasileiro, porque
normalmente rola uns “I don’t know”, “I don’t understand” e muito embromeishon
e ele achou muito legal conhecer um brasileiro articulado em inglês.
AH, QUE MANEIRO, MOÇO.
Dessa forma, eu cheguei na esteira quando tava vazia. Mas
tipo, vazia. A mala de toddynhos e cachaças rodando mais que a Berenice e
nenhum sinal de outras malas. Fiquei lá forevis and evis e... NADA.
Minha mala de roupas, shampoo, chapinha, perfume,
desodorante, calçolas, sapatos, tudo favorito, não.che.gou.
Abri o berreiro em pleno aeroporto e saí perguntando, num
inglês muito lindo só que não, “moço, cadêêêê minha malaaaa?”. O moço fala em
gaélico com a minha pessoa, o que achei muito deselegante. Achei que ele estava
dizendo seis, fui até a esteira seis e fiquei lá até ela parar de rodar... e
nada.
Fui até o balcão da empresa que me levou de Amsterdam até lá
e tudo o que eles me disseram foi: o aeroporto lá é gigante, sua conexão foi
corrida, sua mala chega em até dois dias.
DOIS.FUCKING.DIAS.
Saí do desembarque ca cara toda vermelha ao encontro de um
Frederico que me aguardava com uma plaquinha onde se lia VANESSÃO. De modos que
todo mundo estava esperando como visita um traveco com uma tabela de preços
baixa renda. Frederico apenas riu da minha cara quando soube que os toddynho
chegaram, mas minhas vestimentas não. Saiu comigo do aeroporto diretamente para
a Penneys. Fico na dúvida se falo sobre Penneys (kkkk) agora ou se falo um
capítulo só sobre ““““moda””””, ou se vou falando de acordo com os
acontecimentos.
*****
Assim, até esse momento, pra mim, a Penneys era só um lugar
mágico, que estava aberto no fim da tarde no domingo. A gente que mora no
braziu tá acostumando que domingo ferrou, negada. Não pode precisar de nada,
porque tá tudo fechado. E eu fui lá e comprei vestimentas por menos de 10 euros
cada uma, o suficiente pra viver pelos dois dias que me prometeram.
E olha, você não sabe o tamanho da dor até passar por ela,
mas visualizar uma longa viagem sem langerrí é desesperador. Sem meia. O pobre
cerumano que passou pelas minhas 248957234 mensagens contendo apenas “aimeldels
não tenho meia” sabe o que eu passei. Mais do que dar adeus pra todas suas
coisas favoritas, perder a mala é pensar em tudo que você vai precisar adquirir
pra se manter bonita (só que não) na Europa.
*****
Da Penneys diretamente pro Tesco, porque deurmelivre ficar
sem shampoo, pasta de dente, desodorante. Comprei shampoo ingoalzinho o meu que
tava na mala, sabonete, tudo. Os cheiro era tudo diferente ahahhahahahaha. Não.
Posso filosofar abobrinha? CLARO QUE POSSO, o blog é meu.
Pois então. Quando você perde suas roupas e todos os seus
pertences e tudo que é seu favorito, e você está num outro continente, onde
ninguém fala sua língua e os cheiros das coisas não são os seus, e você veste
roupas que não são a sua cara e tem um cheiro estranho e seu cabelo não se dá
bem com a água local e você olha no espelho e não sabe bem o que é aquilo...
você perde a identidade. Parecia que eu não era eu, que tava rolando um
pesadelo lindo, naqueles em que você sonha que esqueceu a mala e deu tudo
errado e acorda e PLIIIIM, tá na hora de sair pra viajar.
*****
Decidi que de posse do meu novo shampoo e das minhas novas
calçolas, eu não ia deixar a perda da mala estragar minha viagem. Mas era
domingo à noite, eu tava morrendo de sono, todos tem que trabalhar na
segunda... dia pra colocar as coisas em ordem e descansar pra viver num fuso 4
horas mais cedo a partir do dia seguinte, né?
(Falando em fuso, eu fui e voltei tanto no tempo, que eu
poderia jurar que tava na TARDIS. Era um tal de sair dum lugar numa hora, voar
por duas e chegar meia hora depois que ó. Meu cérebro desistiu e no fim do negócio
todo, cada relógio meu tava num fuso. O maneiro era descobrir em qual relógio
eu tinha que olhar naquele lugar. Heh)
BÉÉÉÉÉÉ! ERRADO!
Amigues estrangeiros (pra mim, né? Pra eles, eles eram
locais) foram até a casa onde eu estava hospedada com biritas. Inicialmente,
toda minha dificuldade em falar inglês com brasileiros presentes estava impedindo
a socialização. 4 horas depois, a gente tinha uma nova banda montada, streaming
dos eventos acontecendo pras galera do facebook, piadas de duplo sentido
aconteciam numas oito línguas diferentes, pessoas dançavam a dança da galinha e
eu já tinha aprendido que tomate não se diz tomeito, se diz tomááááto, de
preferência, tomáááá’o. Sacoé?
Acho que se ninguém tivesse que acordar cedo, estaríamos em
volta daquela mesa até agora.
O mais sensacional foi acordar no dia seguinte pra passear
às 9h da manhã no horário local, sendo que meu cérebro operava no fuso das 5
horas da madrugs. Depois de uma soneca de 7 horas, depois de 30 horas acordada.
REFLITA.