segunda-feira, 8 de outubro de 2012

três países e uma mala viajante




Pois então eu botei os pés na Irlanda. WEEEEEEE!

Taí um país que eu nunca tinha pensado em visitar na vida, até uns 3 anos atrás. Mesma coisa que alguém falar agora “meu sonho ir pra Islândia”. Nada contra, tipo Índia, mas é um país sobre o qual eu não sei nada e não me vejo passeando.

Aí, um dia minha irmã encasquetou que queria um claddagh ring. Pesquisa vai, pesquisa vem, eu descubro que a Irlanda é terra desse negóço LINDO, dos arco-íris, dos leprechauns, dos trevos e das ovelhinhas, MÃE ME LEVA LÁ.

Até aí, beleza. Nossa, quero muito conhecer a Irlanda. Mas um dia seu BFF se muda pra lá e quiqui você faz? Planeja uma viagem de verdade pro lugar.

Depois do voo traumático, em que a gente teria que pagar se quisesse água e eu não sabia onde tinha enfiado os dinheiros (me processa, eu já estava em modo zumbi), botar o pé no aeroporto com tudo escrito em gaélico primeiro e em inglês depois era muito divertido.

E vamo pra imigração, né? Tudos papel certinho, não tem erro, vejo calega atrás de calega passando e eu lá, enroscada. O tio perguntou até a cor do céu no Brasil e eu lá, achando que tinha feito alguma coisa errada e seria deportada.

SÓ PODIA SER CULPA DA MALA DE CACHAÇA.

Meu amigo Frederico estava com saudade de toddynho, tortuguita e cachaça. Eu, enquanto boa amiga, montei uma mala com esses itens em quantidades permitidas pela legislação internacional, numa vibe compra do mês, e levei. Separadinho da mala de roupas, que era pra não dar problema, não parecer escondido, não explodir, não dar nada errado.

Aí eu achei que tava ali sendo enrolada na imigração por contrabando, sei lá.

Quando eu tava a um passo de entrar em pânico, o tio me diz que achou muito divertido poder FINALMENTE conversar com um brasileiro, porque normalmente rola uns “I don’t know”, “I don’t understand” e muito embromeishon e ele achou muito legal conhecer um brasileiro articulado em inglês.

AH, QUE MANEIRO, MOÇO.

Dessa forma, eu cheguei na esteira quando tava vazia. Mas tipo, vazia. A mala de toddynhos e cachaças rodando mais que a Berenice e nenhum sinal de outras malas. Fiquei lá forevis and evis e... NADA.

Minha mala de roupas, shampoo, chapinha, perfume, desodorante, calçolas, sapatos, tudo favorito, não.che.gou.

Abri o berreiro em pleno aeroporto e saí perguntando, num inglês muito lindo só que não, “moço, cadêêêê minha malaaaa?”. O moço fala em gaélico com a minha pessoa, o que achei muito deselegante. Achei que ele estava dizendo seis, fui até a esteira seis e fiquei lá até ela parar de rodar... e nada.

Fui até o balcão da empresa que me levou de Amsterdam até lá e tudo o que eles me disseram foi: o aeroporto lá é gigante, sua conexão foi corrida, sua mala chega em até dois dias.

DOIS.FUCKING.DIAS.

Saí do desembarque ca cara toda vermelha ao encontro de um Frederico que me aguardava com uma plaquinha onde se lia VANESSÃO. De modos que todo mundo estava esperando como visita um traveco com uma tabela de preços baixa renda. Frederico apenas riu da minha cara quando soube que os toddynho chegaram, mas minhas vestimentas não. Saiu comigo do aeroporto diretamente para a Penneys. Fico na dúvida se falo sobre Penneys (kkkk) agora ou se falo um capítulo só sobre ““““moda””””, ou se vou falando de acordo com os acontecimentos.

*****

Assim, até esse momento, pra mim, a Penneys era só um lugar mágico, que estava aberto no fim da tarde no domingo. A gente que mora no braziu tá acostumando que domingo ferrou, negada. Não pode precisar de nada, porque tá tudo fechado. E eu fui lá e comprei vestimentas por menos de 10 euros cada uma, o suficiente pra viver pelos dois dias que me prometeram.

E olha, você não sabe o tamanho da dor até passar por ela, mas visualizar uma longa viagem sem langerrí é desesperador. Sem meia. O pobre cerumano que passou pelas minhas 248957234 mensagens contendo apenas “aimeldels não tenho meia” sabe o que eu passei. Mais do que dar adeus pra todas suas coisas favoritas, perder a mala é pensar em tudo que você vai precisar adquirir pra se manter bonita (só que não) na Europa.

*****

Da Penneys diretamente pro Tesco, porque deurmelivre ficar sem shampoo, pasta de dente, desodorante. Comprei shampoo ingoalzinho o meu que tava na mala, sabonete, tudo. Os cheiro era tudo diferente ahahhahahahaha. Não.

Posso filosofar abobrinha? CLARO QUE POSSO, o blog é meu.

Pois então. Quando você perde suas roupas e todos os seus pertences e tudo que é seu favorito, e você está num outro continente, onde ninguém fala sua língua e os cheiros das coisas não são os seus, e você veste roupas que não são a sua cara e tem um cheiro estranho e seu cabelo não se dá bem com a água local e você olha no espelho e não sabe bem o que é aquilo... você perde a identidade. Parecia que eu não era eu, que tava rolando um pesadelo lindo, naqueles em que você sonha que esqueceu a mala e deu tudo errado e acorda e PLIIIIM, tá na hora de sair pra viajar.

*****

Decidi que de posse do meu novo shampoo e das minhas novas calçolas, eu não ia deixar a perda da mala estragar minha viagem. Mas era domingo à noite, eu tava morrendo de sono, todos tem que trabalhar na segunda... dia pra colocar as coisas em ordem e descansar pra viver num fuso 4 horas mais cedo a partir do dia seguinte, né?

(Falando em fuso, eu fui e voltei tanto no tempo, que eu poderia jurar que tava na TARDIS. Era um tal de sair dum lugar numa hora, voar por duas e chegar meia hora depois que ó. Meu cérebro desistiu e no fim do negócio todo, cada relógio meu tava num fuso. O maneiro era descobrir em qual relógio eu tinha que olhar naquele lugar. Heh)

BÉÉÉÉÉÉ! ERRADO!

Amigues estrangeiros (pra mim, né? Pra eles, eles eram locais) foram até a casa onde eu estava hospedada com biritas. Inicialmente, toda minha dificuldade em falar inglês com brasileiros presentes estava impedindo a socialização. 4 horas depois, a gente tinha uma nova banda montada, streaming dos eventos acontecendo pras galera do facebook, piadas de duplo sentido aconteciam numas oito línguas diferentes, pessoas dançavam a dança da galinha e eu já tinha aprendido que tomate não se diz tomeito, se diz tomááááto, de preferência, tomáááá’o. Sacoé?

Acho que se ninguém tivesse que acordar cedo, estaríamos em volta daquela mesa até agora.

O mais sensacional foi acordar no dia seguinte pra passear às 9h da manhã no horário local, sendo que meu cérebro operava no fuso das 5 horas da madrugs. Depois de uma soneca de 7 horas, depois de 30 horas acordada. REFLITA.