quarta-feira, 2 de março de 2016

mariekondonização do mundo

Eu odeio palpite.

E não importa quantas vezes eu repita isso, nunca será enfatizado suficientemente, já que as.pessoas.continuam.dando.os.delas.

Do que vive a pessoa que curte opinião? Como se alimenta? Como sai de casa todas as manhãs? Tenho essa dúvida.

Eu sou muito autossuficiente, sempre fui.

A primeira memória que eu tenho de vontade própria deve ser de quando eu tinha uns 8 anos. Eu tinha um daqueles conjuntinhos de moletom horrorosos dos anos 80, que podiam ser de blusa e calça, blusa e bermuda, blusa e saia. Esse, no caso, era de blusa e saia. Verde musgo. MOLETÃO. Pois tinha umas frorzinha e eu achava que ornava super com um sapatinho preto de verniz que eu tinha e minha mãe dizia que achava meio caída essa combinação. Pois eu ignorava solenemente a opinião dela e saía super ~confiante~ com a minha combinação pavorosa de vestimenta e acessório. Tinha também um conjuntinho rosa, cuja calça tinha aquele elástico gangrenante na barra. Pois eu usava com um sapatinho branco medonho e achava que tava linda, posava sorridente pras fotos. Assim como um outfit repetido exaustivamente, que consistia de um macacão jeans semi-bag (reflitão), uma camiseta azul petróleo e um tênis amarelo de cano alto. Muito fashion. Se hoje eu olho pra fotos do passado e quero fazer uma fogueira, se tenho medo de ficar famosa e alguém soltar isso nas internets? MUITO. Porém esses erros foram frutos de escolhas próprias, não tem ninguém a quem culpar além de mim e isso é muito reconfortante.

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Assim, com independência das roupas, veio a independência do armário.

E é aí que eu quero chegar.

Naonde eu vô, pra onde eu olho, com quem eu converso, alguém tá com o bendito livro da capa verde com a bola vermelha ou está falando dele ou está postando sobre ele ou está parecendo uma testemunha de marie kondo "você tem um minutinho pra ouvir a palavra da organização?".

CREDO.

Eu faço o máximo de esforço pra não chatear ninguém, mas eu tenho pouco ou nenhum respeito por pessoas desorganizadas e não me interessa sua desculpa. NUNCA é mais fácil viver na zona e na desordem. Uma baguncinha pelo uso e por falta de tempo sempre vai acontecer, mas o caos doméstico (pra ficar apenas em uma seara) é porquinho sim, é inconveniente sim e é evitável.

QUÉ DIZÊ, a não ser que você more cozotro e ozotro tenha domínio sobre o ambiente, mas a parte que lhe cabe nesse latifúndio sempre dá pra administrar.

Comecei bem cedo a criar uma rotina de organização completamente própria. Minha mãe curte uma zona, minha irmã não poderia se importar menos com organização, meu pai e irmão não estavam em condição de opinar e outros membros da família têm aquele toc que só acomete mulheres que foram educadas pra servir macho. De modos que eu tive que desenvolver sozinha um sistema que compreendesse minhas necessidades. Assim surgiu o ~sábado da arrumação de armário~, cuja primeira edição aconteceu ainda antes dos 10 anos, quando eu ainda dividia o quarto com a minha irmã.

De um baú que a gente tinha pra guardar livros e brinquedos, evoluindo pra gavetas, armários com cabides, portas do topo do armário, sapateiras, tudo foi virando de domínio próprio, arrumado com as próprias mãos. (Em alguns momentos minha irmã era contagiada pelo evento e a arrumação se estendia pro quarto todo.)

Quando eu tinha 12 anos, minha mãe passou a ficar o dia (e boa parte da noite) fora de casa, e o que eu fiz? Me dei conta de que ela não se arrumava sozinha e passei a fazer isso também. Ninguém nunca disse "ó, a gente bota desinfetante no balde, molha o pano, taca no rodo e vai". Por tentativa e erro, inclusive algumas vezes quase assassinando a família toda (literalmente, com clorofórmio) devido à combinação de produtos de limpeza. E, como quem limpa sabe o trabalho que dá, foi nessa época que eu descobri a alegria da movimentação de objetos.

Minha mãe até hoje tira uns dias pra gritar que a casa dela está uma zona e não consegue encontrar nada, mas um dia eu vou filmar. Isso geralmente acontece quando a casa está arrumada e organizada e eu comprei alguma coisa nova pra conter a bagunça.

Sim, porque a glória da pessoa organizada é dinheiros no banco. A gente vê livros fora do lugar e compra nichos, compra estante, compra gaveteiro, compra aparador e gasta uma pequena fortuna na leroy merlin, incompatível com a condição de não-proprietário de uma moradia.

Então quando a pessoa vem falando como se o livro da dona japonesa fosse uma maravilha abridora de olhos, mágica, onde se encontra um segredo incrível, eu tenho vontade de implodir.

MIGA, CÊ REALMENTE PRECISA DE UMA PESSOA QUE NEM TE CONHECE CAGANDO REGRA DE FORMA GENERALIZADA PRA QUE VOCÊ ARRUME SUA GAVETA DE CARÇOLA?

Seus problemas vão muito além da bagunça, sério mesmo.

Num tive ainda coragem de abrir esse belíssimo exemplar pra ver que qualidade de ~regras~ a pessoa dá. Também não consigo deduzir sozinha por meio da conversa dos convertidos, já que as pessoas falam que doaram 12 sacolas de roupa (quantas roupa cê tinha, mddc) ou que compraram cabides (onde cê pendurava as ropa, mddc). Não consigo achar a linha que separa essas pessoas. 

Só sei que cada amiguinho que eu vejo fazendo ode a esse livrinho, me dá um princípio de ataque de pânico de pensar na condição dos lares dessas pessoas e na precariedade em que vivem seus pertences.

Enquanto isso, sem ajuda de ninguém, meus armários de cabides (iguais) têm as roupas distribuídas num degradê que leva em conta o peso, pra que as mais pesadas fiquem longe do meio e evitem empenamento. Minhas gavetas são dividias por categoria, cada uma por tipo de uso e entre elas a frequência do uso. Eu só levo 8 anos pra me arrumar pela manhã porque o corpo está em movimento, mas a alma e o cérebro ainda estão dormindo.

Além das roupas, eu sempre sei onde estão livros, dvds, cosméticos, maquiagem, potes, caixas, remédios, sapatos, tudo em suas devidas caixas de plástico translúcido com tampas, de modos que seja não apenas fácil de guardar, mas de ver e acomodar.

Sério, gente.

Eu me apavoro com a ideia de dividir um lar com pessoas que não são essas com quem divido agora, cuja bagunça conheço, sei domar e sou obrigada pela lei do universo a aceitar. Fico pensando na desgraça que seria roomates bagunceiros ou que precisam de um exemplar do livro cujo nome nem sei pra botar um mínimo de ordem em suas vidas.

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Está especialmente difícil manter este blog atualizado. E nem é porque estou trabalhando, estudando e arrumando a casa igual a uma condenada. É porque tenho um único assunto acontecendo na minha mente: o. boy.

Só quero falar dele, tô realmente muito irritante. Acho que até COM ELE eu tô só falando dele, todo um descontrole social sem precedentes.

Tava consultando aqui meus alfarrábios e me dei conta que faz 4 meses que estou afogada nessa paixonite adversa e não passa, o que quer dizer que já batemos todos os recordes do ridículo e indo RUMUAL hexa.

Mas também, quando o amor vai sendo consolidado com base nos mesmos odinhos, com fofoquinhas de pertinho™, em lindos links estúpidos no whatsapp, em promessas que dependemos ~DOZOTRO~ pra cumprir, em tomar no fiofó juntinhos e dessa mesma forma dividir um chocolate, NÃO TEM COMO SUPERAR ESSA PASHÃO.

Só que tem também o fator: pavor de que a pessoa descubra este blog e leia sobre si mesma e pense "deus, tira essa véia do meu encalço, nunca te pedi nada", então eu se reprimo, não importa quanto os menudos recomendem o contrário.

E é isso, minha gente. Enquanto eu não botar NAMORANDO no status do feice, inclusive naquele esquema que identifica quem é a vítima, (porque putaquelamerda, que pessoa linda, dá vontade de afofar aquela carinha e sair mostrando pra todo mundo), fica este cérebro dificultado de prosseguir com as atividades normais.

E não é como se eu tivesse que qualificar mês que vem e tal, tá sobrando mesmo espaço mental pra gastar em criação de cenários em que o mundo não implode no caso de o amor florescer entre nozes.

Mandem good vibes, arrumem seus quartos e sejam felizes.


Q