segunda-feira, 14 de março de 2016

namorado imaginário de Schrödinger

corazón gelado

Relacionamentos sempre me pareceram uma coisa bastante complicada. Relacionamento de qualquer natureza. Eu sempre tive a impressão de viver numa frequência diferente daquela em que operam a maioria das pessoas, eu nunca sei o que ninguém tá pensando, eu nunca entendo o que tá acontecendo, quando eu vejo, entendi tudo errado tudo de novo.

De modos que evito.

Masss, nenhum homem é uma ilha bem que as mulher podia ser, no caso etc, não dá pra evitar sempre.

Se eu estou num relacionamento, seja ele de qual tipo for, serei uma ótima relacionamentista. Mais conhecida também como trouxa, porque a vida de todo mundo fica meio maravilhosa quando estou presente, porém a minha costuma ficar uma grandes bosta.

E nem vou dar exemplos, pois ouvindo Paul McCartney candando leribi há horas, num quero chorar mais.  

Por causa do meu jeitinho de ver o mundo, eu tive que estabelecer definições pras coisas da minha própria maneira, já que a definição padrão raramente faz meu requisito.

Tanto que muito tempo da minha vida eu achava que casamento era uma coisa que você fazia quando queria ter filhos, alguém pra dividir as contas ou dar satisfação pra sociedade sobre seu sucesso. Eu não tô nem tentando ser engraçada, eu achava que era EXCLUSIVAMENTE pra isso que existia casamento. Como eu não tinha sido bem sucedida em me relacionar romanticamente até hoje, vamo sê sincero os vinte anos, eu achei que tinha entendido que romance era tudo mentira, que as pessoas ficavam juntas pra provar que podiam ficar com alguém e cumprir obrigações sociais. Fim.

(Não que eu não ache mais que isso é o que move MOITA GENTE, mas ok.)

De modos que por uns 10 anos, meus relacionamentos ~amorosos~ foram pautados por essa bonita ideia de fazer minha família e meus amigos pararem de reclamaaaaaar.

Preciso nem dizer como funcionou bem, preciso?

Ali pelos 30 eu abdiquei dessas coisas mundanas e passei a ter uma vida bastante tranquila. Tranquilidade que era interrompida pelas raras paixonites desgastantes que surgiam de vez em quando, cada vez mais convencida que esse negózdi amor, sei não.

Eu preciso de um certo sossego pra existir em boas condições, sabe? Esses dias estava passando a timeline do facebook, aquele lugar onde a gente esquece às vezes de dar unfollow em parente, quando me surge um post com as seguintes palavras bonitas: "quem quer privacidade que fique solteiro, casal tem que compartilhar tudo. quem vê meu corpo e divide comigo a cama é lógico que divida também a senha e o celular".

AHAHHAHAHAHAHHAHAAHAHA PUTAQUELOSPARMITO!

Não sabia nem por onde começar a me desesperar com a quantidade de curtidas e compartilhamentos dessa desgraça. Também não sou nem trouxa de comentar um post imbecil desses pra lindos parente me responder "por isso que tá sem homem", como se não fosse fruto de escolha própria, mas de destino maligno por eu ser ~assim~.

O problema é que eu sei que MUITA GENTE compartilha desse pensamento, especialmente muitos homens. Mulher minha não tem senha no celular, por isso é coisa de biscate. Então tá.

Mesmo antes do advento do celular, eu já tinha uma noção de privacidade e individualidade muito acentuada. Uma vez, terminei um romancinho porque fui a um lugar sozinha e antes de me dizerem oi, perguntaram "CADÊ FULANO?". Eu tô costurada nele? Eu tinha vida antes dele? Olha, vão todos cagar, que eu não posso ser reduzida a uma fusão de casal. Sai pra lá.

E tem o eloquentíssimo movimento de, cada vez que você tem um homem, os convites de eventos sociais, CEM POR CENTO DELES, incluindo aqueles dos amigos que você tinha antes de esse homem surgir, passarem a ser direcionados a ele. E o desgraçado sempre vai filtrar de acordo com sua conveniência e você só vai saber duas semanas depois que perdeu um aniversário porque ele tinha um churrasco com os amigos de infância que você inclusive detesta e você nem foi porque olha bem pra minha cara. E não adianta tentar argumentar com seus amigos, eles ficam incapazes de compreender o motivo de ligar pra uma mulher em vez de ligar pro MACHO SOBERANO.

Eu prefiro viver só.

Tenho uma ideia bem fantasiosa do amor, uma coisa que torna divertida e importante a convivência entre duas pessoas, sem que elas deixem de ser duas.fucking.pessoas. Uma gosta de pescar, a outra gosta de ouvir música eletrônica no talo, mas ninguém precisa fazer isso grudado, é só uma parcela da vida que pode prosseguir normalmente enquanto os dois se enfiam debaixo das cobertas no domingo pra ver seriado com um balde de pipoca, compreende? Um conforto nas coisas feitas a dois que fica mais especial POR CAUSA das coisas feitas separadamente.

Nunca senti esse conforto.

Quando estou num relacionamento, posso generalizar com o uso do ~sempre~: SEMPRE estou desconfortável. Sempre o infeliz quer fazer parte de uma coisa que é minha e que não quero dividir e sempre quer me enfiar em seus infinitos e horripilantes churrascos com os amigos da quinta série que só falam de mulher como coisas e de futebol. Sempre tenho que ceder na escolha do filme e na qualidade da pipoca. Mas, se por alguma razão inexplicável (aconteceu duas vezes), eu tô achando até ok o funcionamento do relacionamento, um dia a pessoa surta que estou sendo sufocante e exigente e ó, ninguém nunca viu meu eu sufocante e exigente, porque EU.SOU.TROUXA. e invariavelmente coloco as necessidades e vontades alheias antes das minhas, nem que eu tenha que ler pensamento pra isso.

Por isso, uns anos atrás aboli relacionamentos num dia bastante específico, em que a pessoa problematizou a compra de uma caixa de sabão em pó. A coisa foi tão ridícula que eu mandei à merda imediatamente e, daquele dia até hoje, eu fiquei sozinha com um escudo de vibranium, jogando pra longe quem tentar se aproximar.

*****

Uma vez eu li isso aqui

"if you meet somebody and your heart pounds, your hands shake, your knees go weak, that’s not the one. When you meet your ‘soul mate’ you’ll feel calm. No anxiety, no agitation."

que vem a ser uma frase atribuída ao budismo, mas nem é (e não me importo de quem seja, pra ser sincera), e concordei. E meique resume tudo, porque essa coisa que te desestabiliza num pode estar muito certa não, amor devia ser um troço que dá calma.

Aí é que mora o PELIGRO.

Porque eu tava lá enlouquecida das minhas loucuras, quando surgiu c e r t a c r i a t u r a. Sabe aquele processo ridículo de encantamento, em que um dia cê pensa "só pensei isso porque eu penso isso em relação a todo mundo que eu conheço, pra ter certeza", 

depois cê vai pro "claro que eu tô pensando naquele diálogo, mas é que foi muito significativo mesmo", 

depois cê vai pro "não é que eu esteja interessada, mas ele é bonito, inteligente, engraçado e é normal querer me aproximar de gente assim", 

depois cê vai pro "não é que eu esteja arrumando desculpa, mas ele realmente vai gostar de saber disso e que melhor maneira de enviar que pelo whatsapp, mesmo que pra isso eu precise coincidentemente ter o número do celular",

depois cê vai pro "não é que eu esteja apaixonada, é que é bem normal pensar na pessoa e em tudo que ela fala de forma obsessiva",

depois cê vai pro "fodeo".


Normalmente é nesse momento que eu já visualizo a desgraça que vai ser quando a pessoa surgir na próxima vez e eu ficar vermelha, tiver tremedeira, falar coisas que não fazem sentido e sair correndo sem razão aparente.

Aí a pessoa surgiu na minha frente e............

Nada.

Inclusive eu soltei um maravilhoso "ué, cê tá fazendo o que aqui?" que rendeu 2 semanas de "nossa, a cara de desdém quando você me viu doeu na alma", fora a pessoa contando pra absolutamente todo conhecido em comum o meu desgosto de verlha ali naquele dia.

E eu fiquei esperando o dia em que viessem os tremeliques e pensei que seria depois de uma mensagem meio sem noção que mandei no celular. Não foi.

Ou que seria depois do dia em que aconteceu uma daquelas conversas ridículas de duplo sentido que só casaizinhos ainda não existentes conseguem ter, cheia de insinuações bocós, que deixam as pessoas em volta com vergonha alheia. Não foi.

Ou podia ser no dia em que alguém fez graça ao ouvir o telefone alheio tocando, dizendo "deve ser as namoradinha" e meu coração não despencou de 3 andares com a ideia. Não foi.

Podia ser depois de um grande oversharing, depois de 15 dias sem ver o cerumano, depois de fazer a doida e aparecer num lugar onde não fui convidada, só pra ver o indivíduo ~exibindo habilidades especiais~, escondida atrás da porta, ser vista e convidada pra entrar, como uma boa pessoa sem noção. NÃO FOI TAMBÉM.

E não foi quando a pessoa passou a achar conveniente debruçar sobre mim durante diálogos sobre assuntos tão internos, que as pessoas ao redor já dizem "não dá mais pra entender a conversa de vocês dois, parece que tão falando em código". 

Inclusive muito pelo contrário.

O que confere à situação de calma todo um nível de desespero.

Já aconteceu, inclusive, de eu estar em franca espiral descendente de ansiedade, com a mão tremendo, taquicardia e respiração ofegante, revirando a bolsa atrás do calmante. Quando finalmente tirei o comprimido do blister e estava segurando ele numa mão e a garrafa de água na outra, me surge a pessoa na minha frente, FALANDO INCLUSIVE BOM DIA, e pá, respiração, coração e músculos imediatamente restaurados às funções normais, tipo mágica.

Fiquei 5 minutos segurando o comprimido e pensando "tomo samerda ou o que?". Nem a ideia de surtar porque me acalmei (q) me deixava nervosa com a presença de anita ali. 

CÊ VEJA SE TÁ CORRETO ISSO????

Por que se a essa altura os sintomas de instabilidade não apareceram, pode existir uma chance de que seja amor.

E eu não tô preparada pra lidar com amor agora não.

*SURTA*

*vai descontroladamente até a presença do rapaz*

*se acalma*


FIM