quinta-feira, 29 de outubro de 2015

o drama do estacionamento

Eu tenho 99 problemas e todos eles é que eu provavelmente vou morrer de stress antes dos 40 anos. Eu costumava dizer que seria antes dos 30, mas milagrosamente ultrapassei tanto essa marca quanto a dos 35. Segue em frente.

Pois eu trabalho no mesmo lugar desde 2004, gente. Não tem muita coisa aqui com que eu não tenha me estressado ainda. Mas sempre surge gente nova e aí facilita, porque eu posso me estressar com todo um novo conjunto de falta de educação que vem instalado em cada indivíduo, tipo o estagiário que roubou meu monitor duas vezes e ainda não estamos em condição de falar a respeito.

Vamos falar hoje de um assunto interessantíssimo, chamado: estacionamento.

Estacionamento em universidade é um troço muito irritante, por si só. Pessoas de 18 anos que já têm um carro são geralmente o pior pedaço da classe média, porque eu me lembro muito bem de ter 32 anos a primeira vez que consegui comprar um carro usado, já que ninguém da minha família tinha dinheiro sobrando pra manter uma tonelada de metal com impostos pagos, combustível e etc. Favor não vir defender jovens recém saídos da fralda conduzindo esse tipo de máquina.

O mundo é um lugar maravilhoso e horrível pra essas crianças. Porque elas acham que você TEM QUE prover um lugarzinho pra ela deixar seu carrinho. HAHAHAHA. Minha faculdade de gente rica não tinha sequer uma vaga de estacionamento, nem pra necessidades especiais. Os filho do rico tudo indo de ônibus, os dos muito ricos pagando mensalidade em estacionamento e os ricos mesmo indo de motorista. Se quiser, né? Se não quiser, pode ir pra outra faculdade, que a gente não liga. Mas faculdade pública é essa maravilha, um campus enorme e arborizado onde árvores são derrubadas pra que crianças de 18 anos possam estacionar seus carros zero. Whatever.

Os estacionamentos aqui são todos em vagas de 45º. Tem literalmente uma dúzia de vagas estilo supermercado e o resto é rua onde as pessoas param ilicitamente mesmo. Ou seja, não tem mistério de como estacionar, né?

AHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHA

Uma das diversões no meu prédio é ficar na janela distribuindo darwin awards pras pessoas que não compreendem vaga de 45 graus. Sempre tem alguém parado numa rotação de 90 graus, inviabilizando 3 vagas ao mesmo tempo, sempre tem quem não chegue no fim da vaga e entupa a rua, quem pare de ré na contramão, um desespero. Eu tenho ÓDIO desse estacionamento, com toda a força do meu eu.

O estacionamento é separado em bolsões e só um deles é fechado pra funcionários. E ainda assim, alguns alunos furam o cerco e meu sonho é destruir os carros deles com bastões de metal.

Aaaaaaaaaaaaaanyway. Cê pensa que trabalhando numa universidade não vai ter erro de inteligência, pelo menos entre os funcionários, né? BÉÉÉÉÉ, errado.

Eu passei 9 anos da minha vida vindo trabalhar de ônibus, à pé, de bicicleta. Mas minha mãe trabalha aqui também e de vez em quando eu era obrigada a me relacionar emocionalmente com esse lugar horrível, até que eu adquiri meu próprio carro e a vida se tornou um lugar difícil pra se estar nos dias úteis às 8 da manhã.

Eu ia colocar 20 vezes o mesmo desenho, mas não vou não e vocês que volte nesse pra visualizar.

estacionamento da depressão 


Eu fiz bem menorzinho, tem umas 12 vagas de 45 de cada lado, é compriiiido. Os carros cinza são aqueles estacionados como deus mandou. Em azul, as únicas vagas paralelas. Só tem essas 3 mesmo, mas a fila nesse lugar costuma chegar a 8 carros atrapalhando a entrada do estacionamento (que é uma curva fechada). Os carros laranja são os imbecis que acham que qualquer espaço é vaga, mas o negócio institucionalizou e não tem quem convença que fica apertado e perigoso. Meu sonho é que pintem essa bosta no chão, pra eles aprenderem a parar direito, e que circule um aviso que SÓ PODE parar no meio depois que encherem as vagas de fato. Tem dia que tem 8 carros no estacionamento e tem imbecil entulhando o meio do caminho.

Teve um tempo, incrusível, que eu deixei de ir trabalhar de carro pra não ter que lhedar com algumas pessoas. Por exemplo, ali onde tem os carrinhos azuis. Era muito raro ter carros parados ali. De modos que, depois de alguns dias de observação, eu passei a usar aquela vaga, assim que comprei meu carro. Passei aproximadamente um ano estacionando sempre ali, uma das vagas mais longes do prédio, pra não ser cobiçada e eu não ter que ficar estacionando num lugar diferente a cada dia. Não gosto, me deixa. Até que um dia eu me atrasei e tinha um carro ali. Reparei, porque era um daqueles cherry qq, que eu achava muito simpático. Só que depois de um tempo, a pessoa do carro preto passou a chegar mais cedo, pra pegar a vaga. Aí eu ia mais cedo, aí a pessoa ia mais cedo. Até que um dia eu cheguei, estacionei, fiquei alguns segundos dentro do carro juntando minhas coisas pra sair, distraída. De repente, buzinas. Nem dei bola, porque eu não tava no meio do caminho nem nada. Terminei, peguei minhas coisas e saí. Buzinas mais loucas. Continuei andando e aí um carro veio pra cima de mim enquanto cerumano. Gritei com a pessoa que estava... num cherry qq. TÁ LOUCO, TIO????? "Não, louca tá você, que parou onde eu quero estacionar".

Gente, você estaria jurando?

Falei que ia na prefeitura da cidade universitária denunciar e o velho gritando comigo sem parar "VOLTAAAA, TIRA O CAARRO, SAI DALIIIIII, A VAGA É MINHAAAAAAAAAA". Sério. Até o ponto que o velho provavelmente parou de usar o próprio carro, porque ele estava pregado naquela vaga 24 horas por dia e pessoas aleatórias iam até minha sala interceder pelo velho desequilibrado. Parei de ir de carro, porque eu não sou obrigada, sabe? 

Quando precisei voltar a usar o carro, passei a usar um estacionamento ruim, lá nos cafundó do campus, que ninguém usava. Claro que hoje em dia é lotado e zoneado e eu vou ter um troço em breve. Por enquanto, eu tenho usado esse bolsão da ibagem acima, que rendeu o lindo post de hoje.

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Hoje falaremos dos gênios representados em vermelho.

O tipo 1 é o que para na frente da fila laranja. Não tem mais lugar ali, porque o estacionamento é de mão única e a pessoa precisa de espaço pra sair. Quantas vezes eu fiquei presa por culpa de um imbecil desses? Não sei. Duas semanas atrás, uma pessoa parou ali e aconteceu um esforço conjunto pra encher o carro de galhos de araucária (cêis já viram pessoalmente a desgraça que é um galho seco de araucária?) e o carro ficou riscado até a alma. E era um desses carros de gente rica, cujo nome inclusive desconheço, mas tem tipo uns 10 em cada cidade grande. E a galera dos carro véio passava lá ralando propositalmente. Eu, que sou muito boa motorista, levei 25 minutos mas saí sem bater em nada. Se não amasse a integridade do meu carro, teria contribuído com a destruição em progresso. Infelizmente a pessoa é rica o suficiente pra arrumar e parar lá de novo (ontem).

Esse tipo aparece em menor frequência.

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Aí tem o tipo 2, que é o pior tipo. É o animal que emparelha com a primeira vaga, onde não é vaga. Se ele parar na linha da calçada, a rabeira do carro será destruída até o fim do dia, então ele para em cima da calçada pra caber. Não sei, mas acho que se não tem a marquinha de vaga no chão AND precisa subir na calçada, fica um tanto óbvio que não.é.vaga.

Devido à dificuldade que é manter meu horário de trabalho inalterado, cada semestre eu tenho que chegar numa hora. Cinco meses atrás, além de eu passar a chegar mais cedo, a greve fez com que cada vez menos gente viesse trabalhar e a primeira vaga ficasse quase sempre livre. Vou parar lá longe? Não vou. Eu parava ali e tudo ia bem, até que um dono de um daqueles carros estilo minivan achou conveniente começar a estacionar em cima da calçada, do meu lado. Mas não basta ser babaquinha, tem que ser SUPER babaca, porque, além de tudo, ele parava de forma que eu não conseguia abrir a porta do motorista e tinha que entrar pela do passageiro.

¬¬

Minha mãe, que também trabalha aqui, um dia viu que eu estava presa e foi chamar o segurança do estacionamento, pra reclamar que isso acontecia sempre. Ficou por ali alguns minutos, o suficiente pra ver o dono do carro chegando e levando uma bronca do segurança, que ali não era vaga e que além de tudo estava prendendo o carro ao lado, etc. O que ele respondeu? Que certeza que era carro de mulher e mulher que não sabe usar automóveis.

¬¬

Pois eu gosto mais de mim do que de qualquer outra coisa do mundo, de modos que eu parei de estacionar ali por uns dias, porque não sou obrigada.

Mas a greve foi intensificando e durando eternamente, eu não via um único motivo pra não estacionar na melhor vaga. O que eu fiz? Passei a estacionar de forma que não tinha como botar outro carro ali, a não ser que ele ficasse completamente em cima da calçada. Por uns dias, tive sossego. Até o cara da minivan passar a parar GRUDADO no meu carro, retrovisor colado no meu. Passei a abrir a porta com violência, pra que fosse destruindo a dele gradualmente. Aí eu fui perdendo a paciência e parando o carro quase invertido na vaga e o idiota cada vez parando mais amontoado, somado a todo o stress que eu tenho passado, eu estava a ponto de arrebentar o carro todo no chute.

Sexta passada eu estava apressadíssima, saí cinco em ponto, porque tinha que estar cinco e quinze em outro lugar. Passei pela janela do prédio e vi que estava presa pelo cara da minivan e desci furiosa, acabei nem abrindo o guarda-chuva, num misto de pressa e desespero, dei uma portada no carro dele, entrei, sentei e olhei pra frente. Qual não foi o meu desespero quando eu vi pregado no meu limpador de para-brisa um bilhetinho, onde se lia "quando vai aprender a ocupar só uma vaga?".

PUTA QUE PARIUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU

A primeira coisa que eu pensei foi: NÃO ENCOSTA NO MEU CARRO!!!!!!!!!!!
A segunda coisa foi: EU.VOU.MATAR.ESSE DESGRAÇADO.

Esqueci a pressa, esqueci a chuva, esqueci a educação. Desci do carro e fui pegar um caderno e uma caneta no porta malas, escrevi bem educadamente:


Preguei o bilhetinho amoroso no limpador de para-brisa dele com muito amor e carinho e fui embora gritando e tendo um princípio de ataque cardíaco pelo caminho.

*****

Esta semana eu consegui a façanha de me atrasar 100% dos dias, de modos que na hora em que eu cheguei:

- a primeira vaga estava ocupada;
- o espacinho que não é vaga estava desocupado;
- a minivan estava estacionada em lugares aleatórios pelo bolsão, nunca em cima da calçada ou apertando o amiguinho da primeira vaga.

Senti até um calorzinho no coração ao me dar conta que ensinei uma coisa a uma pessoa burra e ela conseguiu aprender.

Tudo bem que um dos dias a vaga estava sendo ocupada pela minha mãe, que parou toda torta para fins de graça, mas hoje já é quinta e o burrão da minivan permanece não amontoando nos amiguinhos, então eu acho que eu já ajudei um pouco a humanidade com a minha vida insignificante.

:)