quarta-feira, 7 de outubro de 2015

hearing me hoarse

katy cats (só que não)

I

Eu tenho dificuldades em amar pessoas num nível muito profundo. Eu não sou capaz, por exemplo, de ser fã de seres humanos. Eu tento, cara, tento muito. Mas eu sempre lembro que aquela é uma pessoa e etc. Sou louca, eu sei.

O que não me impede de admirar MUITO algumas pessoas, claro. Só que eu sou um fiasco, no geral. Tipo, eu gosto do ator, mas nem pensar que vou ver os filme tudo, gente. Tenho mais o que fazer. Gosto do cantor, mas impossível gostar de 100% das canção, né?

E é nessa vibe que eu vou interagir com gentes famosas.

II

O bom de ter desequilíbrio emocional é que eu ainda consigo ficar neuvosa perto dessas pessoas (mas eu fico nervosa até pra falar com o professor fora do horário da aula, então não sei.


III

Gente, eu vou em show, hein? Eu vou em muito show. Desde os mais bagaceiros tipo Wanderléa, aos mais maravilhosos tipo John Mayer. Já fui em show do Cauby com Ângela Maria. Já fui em show de cantor local invadido pela Letícia Sabatella e putaquelosparmito, se ela é horrível como atriz, é ainda pior como cantora. Já fui por engano em show do Paulinho da Viola apenas pra sair apaixonada. Já fui em show do Capital por engano e gostei. Já fui em show do Roberto Carlos por engano e foi horrível como eu imaginava. Já vi a morte em show da Sandra de Sá. Gente, dá pra gastar umas 100 linhas, porque eu já fui em show demais.

Só que eu não tenho paciência pra gente reclamando, então eu normalmente vou sozinha.

Até porque eu sou a rainha do VOU NA GRADE. Eu não fico matando tempo, dormindo em fila, sendo louca. Mas eu consigo 90% das vezes chegar na grade ou muito perto dela. O mais incrível é ter que suprimir funções fisiológicas, pra manter a localização.

IV

Algumas pessoas que nascem com dois rins e perdem um no meio do caminho sofrem do mesmo mal: o rim que sobra fica hiperativo.

Migos, não me perguntem a razão pra isso, porque eu mesma nunca entendi. Mas quem convive comigo tem que saber que eu vou ter que fazer 130 pausas pro xixi ao longo do dia. De modos que eu não viajo de carro, não pego caronas pela cidade e às vezes pago 4 passagens de ônibus pra um mesmo trajeto, porque se eu precisar descer pra ir ao banheiro, eu vou.

Agora imagina essa alegria em dia de show.

Eu começo a preparação 2 dias antes, rola toda uma dieta de água (sério) e de alimentos que desregulam o sistema urinário. Eu, por exemplo, tenho problemas com cafeína, de modos que nem chá eu tomo nesses dias (e em tantos outros, a quem estou querendo enganar?). Mas tudo bem, isso não vem ao caso, o que importa é que precisa de um grande planejamento e esforço pra ser bem sucedida na arte de assistir a shows.

V

Aí lá em março? abril? a gente comprou os ingressos pra Katy Perry. Eu, super burralda, esqueci que seria aluna de mestrado nessa altura. Mas num tem problema, a vida é assim mesmo, às veiz a gente perde, às veiz a gente ganha. E essa seria a finalização das festividades de aniversário de mim mesma e da minha irmã, então tava decidido.

~seeeeis meeeeses depoooois~

Claro que tinha 83 coisas pra fazer nesse dia.

Tinha uma defesa de tese, tinha aula com o orientador, tinha palestra do professor da universidade internacional pra onde eu penso em ir... CLAAAAAAARO. 

Me virei em 23 pedaços pra dar conta da maior quantidade possível de coisas. Claro que metade ficou pra trás, enquanto eu ia pra casa colocar uma tiara de orelha de gatinho e maquiagem duvidosa, coisa que minha irmã também fez. Como a gente é inteligente, tiramos da mente de todo mundo a ideia de levar as nossas pessoas de carro até os cafundó do juda (lugar do show) e fizemos um maravilindo plano de ir de ônibus, que não dependesse nem do ônibus especial da prefeitura. Uma hora e quarenta depois, estávamos a 1km da Pedreira, o mais perto que o ônibus conseguia chegar àquela altura. Um trilhão de pessoas na rua, meu deus do céu.

Agora cê reflita comigo: o portão tinha sido aberto 17h e a gente chegou 18:20h. Como é que podia ter uma fila de 2 quilômetros ainda??????????????

O último show grande que eu fui tinha sido John Mayer na Arena Anhembi. O portão abria 17h, e eu cheguei 16:40h. 17:10 eu tava dentro da arena, de xixi feito, água comprada e com a cara na grade. Tinha gente acampada por meses e tinha uma fila dupla pro Justin Bieber atrapalhando e não levou meia hora pra escoar a fila EM.SÃO.FUCKING.PAULO. Como é que conseguiram levar 3 horas pra botar 15 mil pessoas dentro da pedreira, pra mim, é um mistério.

Eu e Monique entramos logo antes de começar o show da abertura, de uma pessoa cujo nome nunca ouvi na vida, Tinashe, de quem eu conhecia um total de zero músicas.

Como a gente é macaca véia de show, resolvemos que num tinha necessidade de tentar sofrer na grade, a gente só queria um lugar onde desse pra ver Kátia. Então ficamo naonde? Atrás daquele lugar incrível que enfiam no meio da multidão pra fazerem a filmagem.


maior que ver pela tv

Parece ruim, mas tava bom, como vocês podem ver: apenas um funcionário imbecil com o cabeção na frente.

Só que tinha um probleminha.

O cercadinho era em forma de grade, de modos que as duas ou três pessoas na nossa frente ficavam subindo ali pra fazerem as loucas da foto e tal. A segurança avisava que não podia subir, ia embora e os farofeiro subiam de novo. A gente pensou o que? Na hora do show a segurança fica por aqui e ninguém sobe, né?

AHAHHAHAHAHAHAHA ERRADO.

Tentamos conversar civilizadamente com as pessoas, mas notamos que tinha uma véia entre eles DEITADA NO CHÃO, fingindo que tava passando mal, pra fins de guardar o espaço pra pessoas que não estavam ali ainda. Sério, gente. Quando percebi o golpe da tia, comecei a gritar "geeeeente, tem uma pessoa passando mal, vamo chamar ajuda que eles tiram daqui na maior rapidez, é incrível como é organizado!". A véia teve que levantar, né? Fora que o clube do desespero estava fumando e eu muito acho que não pode fumar em aglomeração? Tomara que morram. Bom, terminou o show da Tinashe (?) e ficou ali aquele momentinho de silêncio de antes de começar o show que realmente importa.

Deu o primeiro acorde de Roar (quem quiser spoiler, só ir ver o rock in rio, pois igual), me sobe a infeliz na grade e fica na frente de todo mundo.

AHHAHAHAHAHAHAHAHA QUE ERRO.

Monique catou a fia pelas banha e arremessou pra baixo. Duas parentes da menina foram pra cima da Monique pra tentar arrumar confusão. Com um bracíneo só, sem nem perder meu centro de gravidade ou a dignidade, puxei minha ermã para meu próprio lado e empurrei as duas barraqueiras com tanto amor que elas voaram longe. Completei com "encosta nela de novo se tiver acordado corajosa". E pra insuportável pendurada na grade, falei com um tom de voz que nem sei de onde saiu (mas era realmente trevoso) "se ficar quietinha no seu lugar, não tem por que sofrer. NÃO SOBE DE NOVO."


tipo isso

Gente, xô falar aqui uma coisa pra vocês: fez-se uma bolsa de ar à minha volta, que nunca tinha visto em show lotado. Um total de zero pessoas tinha coragem de me encostar, então ficou aquele espacinho maroto pra respirar. Ninguém tentou entrar na minha frente, ninguém esbarrou em mim, ninguém botou máquina fotográfica no meu caminho. Eu vi Kátia numa tranquilidade incrível.

:)

Ser gigante e grossa tem vantagens que eu nunca tinha reparado até hoje.




Aí a gente pode aproveitar o maravilhosíssimo show. Não teve falta de fôlego, não teve desafino, não teve nada de ruim. É um show bom DEMAIS.

Eu inclusive só tenho fotos dos momentos em que tocou músicas que eu não conheço (heh), porque aí eu me interessava mais pelo cenário que pelo show. Tipo a hora desse cocô inflável gigante, que eu tive uma crise de riso sem fim.

Aí teve o momentinho com o fã, que eu particularmente acho uma grande bosta, já que fica todo mundo analfabeto em inglês e o cara que subiu no palco era realmente insuportável. A graça ficou por conta de ela perguntar o que queria dizer "linda" e "morta" HAHAHAHAHAH. E depois ficou cinco minutos berrando LINDA! MORTA! LINDA! MORTA! no palco.

Fora isso, berramos quando era pra berrar, choramos quando era pra chorar, tive aquele momentinho de alegria berrando a música mais importante do ano a plenos pulmões e foi mais um show maravilhoso pra minha galeria.

A única coisa é que a gente tem que aceitar a idade um dia, né? E eu me fiz uma promessa: nunca mais ir a um show se não for pra ir na área vip. Não tenho mais condição de ficar no meio daquele povo mal educado, que tá tão longe do palco quanto você, que não vai chegar perto porque não é possível e fica te apertando, enchendo a cara e sendo insuportável no geral. Se é pra sofrer, que seja perto do palco.



Se eu não morrer de mestrado, vejo vocês na virada cultural.

(RYZOZ NELVOSOS)