Eu estava em cima da bicicleta ergométrica, com uma dor de cabeça dos infernos. O sol estava batendo no meu rosto e o ventilador não dava conta do calor da academia. Enquanto eu pedalava a 40km/h em uma bicicleta que não saía do lugar, não consegui evitar 3 pensamentos:
- estou cansada e está especialmente difícil viver dentro da minha cabeça esses dias;
- será que vale a pena essa rotina e
- Deus, me deixa ser magra de novo um dia.
Pensei em como pedalar à toda velocidade sem sair do lugar resume bem minha situação de vida atual, desci da bicicleta e fui empurrar 50kg de peso no abdutor.
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Tenho ido dormir depois da meia noite todo dia, pra dar conta de trabalhos escolares e afazeres domésticos. Inclusive, quando é meia noite e estou na cama, penso "obrigada, universo, por me deixar dormir cedo.
Ontem foi um desses dias. Na cama 0:08.
Hoje acordei antes das 7h, mas meu corpo sabe que eram 5:40h, não adianta o relógio tentar enganar. Adiantei o máximo possível de coisas, até sair correndo de casa pra trabalhar.
No trabalho, milhões de coisas pra resolver e eu corri pra não deixar nada pra trás.
Corri pra almoçar, já que comer é só uma pequena fração do que eu faço nesse horário. Lidei com uma crise de hipoglicemia, porque esqueci de comer no meio da manhã de tão ocupada, e deixei um lembrete no celular pra comer no meio da tarde.
Corri pra um campus que não é o meu, pra assistir aula. Corri no intervalo pra comprar uma lata de refrigerante que regularia o açúcar e ajudaria a tomar o terceiro remédio pra dor de cabeça do dia. Corri de volta pra sala pra não perder a segunda parte da aula.
Acabou a aula e corri pra uma reunião frustrante, que me deixou com vontade de ir pra casa e chorar. Resolvi ir pra academia, pra gastar a energia da tristeza. Corri pro carro e me dei conta que na pressa da manhã esqueci do tênis. Suspende a academia, aproveita pra fazer hoje coisas que vão amontoar amanhã.
Corri pra resolver os problemas de amanhã. Corri tanto que cheguei em casa a tempo de ir pra academia.
Corri literalmente pra academia, já pensando no tempo que eu economizaria no aquecimento na bicicleta que não sai do lugar. Mesmo que eu evite o exercício sem propósito, faço uma série que precisa ser intercalada com um minuto intenso na bicicleta. Seis exercícios, seis bicicletas. Na penúltima rodada, o pensamento ali de cima.
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Desci da bicicleta pensando que ainda tinha que comprar o jantar, cozinhar o almoço de amanhã, continuar 3 trabalhos acadêmicos diferentes, lavar a louça e rezar pra ter tempo de limpar meu quarto, que tá abandonado há duas semanas. Me perguntei se não era um absurdo manter uma rotina de academia com tanta coisa por fazer. Deixei os pensamentos todos de lado, enquanto aumentava o peso do abdutor e me concentrava em manter a coluna imóvel.
Saí do aparelho, cruzei a academia em direção à bicicleta, pra última rodada de tortura. No meio do caminho, encontrei um rosto "amigo". Na verdade, eu estava tão absorta nos meus problemas, que o rosto "amigo" que me encontrou, cumprimentou, ressaltou que não me via há muito tempo e que era bom eu voltar de vez pra academia, porque tá dando pra ver que eu estou enorme. De gorda.
E eu sou tão trouxa que ainda terminei os exercícios e passei na padaria, antes de vir pra casa chorar.
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- Eu não parei de ir pra academia, eu mudei o horário por conta da rotina trabalho-mestrado;
- Meu peso é exatamente o mesmo há 16 meses;
- Não é da conta de ninguém.
Outro dia me disseram que eu me justifico demais sobre minha forma física.
Eu vos pergunto: por que será?