segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

trá trá trá trá trá

(as que comandam vão no trá, pega metralhadora)


I

Eu tenho pesadelos desde sempre. Minha mãe nunca deu bola, porque ela acha que pesadelo é sonhar com monstros e trevas. Eu, por minha vez, acho que sonhos angustiantes e ruins em geral são pesadelos. Se me incomoda, é pesadelo. 

E eu acho que tenho aquele terror noturno, mas não vou ler a respeito pra saber, né, mores. Eu acordo frequentemente sem saber onde estou e eu só durmo fora do meu quarto quando não estou na cidade onde eu moro. O que é: quase nunca. Também não é raro acordar com a sensação que tinha alguém dentro do meu quarto ou ~em cima~ de mim ou da minha cama, de forma não prazerosa.

Ousseje, por mais que eu ame dormir e faça isso muito bem, rola uma tensão existencial no rolê.

II

Eu tenho dores. Pessoas já acharam conveniente me dar apelidos por conta das dores, as pessoas acham que é engraçado, que estou competindo, sei lá. Mas dói a cabeça, dói cada órgão dentro da minha pança, doem minhas articulações.

DÓI.

Algumas vezes dói dormindo e a dor atravessa o sonho. Porque eu sinto tanta dor, tanto tempo, que meu cérebro já não me acorda mais pra eu tomar um remédio ou uma atitude. Ele aceita a dor e incorpora na coisa toda, que é pra ficar legal.

III

Aí eu tava lá dormindo, mas não tava ligada que tava dormindo, sacomé? Às vezes eu não me dou conta que estou pesadelando e aí, mermão, que delícia.

Pois eu estava trabalhando. As pessoas eram do trabalho atual, mas o escritório era de um trabalho de DEZESSEIS ANOS atrás. Tava lá de boa vivendo, entrou uma pessoa na minha sala e atirou algumas vezes na minha barriga.

Atirou de tiros mesmo. Bala. TRÁTRÁTRÁTRÁTRÁ.

Eu sentia a dor, mas não tinha coragem de olhar pra baixo. Só coloquei a mão esquerda sobre o buraco da bala, porque a dor era grande demais. Todo mundo saiu correndo e me deixou sozinha e o que eu pensei? PRECISO ARRUMAR ESSAS GAVETAS, pra não deixar nada pendente.

Na vida eu realmente sou a louca da arrumação, mas putaquelamerda? Você lá com seis bala no bucho e arrumando gaveta? Façavor. Também tem a claríssima referência que todo mundo ca-gou para o evento e eu fiquei lá sozinha na sala arrumando gavetas enquanto baleada. Plausível.

Só que nas gavetas tinha o que? Isso mesmo: roupas. Aí eu comecei a pensar "poxa, que pena essas roupas que nunca usei e agora vou morrer sem ter a oportunidade de usar".

AHAHAHHAAHAHAHAHA A COERÊNCIA DA MORIBUNDA.

Aí eu fiz o que qualquer pessoa sã faria. Separei a roupa pro meu próprio enterro e deixei um bilhetinho avisando que era pra não morrer sem usar e ri da própria impossibilidade da coisa. Muito bem humorada.

Então eu pensei "mas será que não seria conveniente, sei lá, chamar uma ambulância?". Pedi pra secretária que eu não vejo desde 2001 ligar pro 190, por gentileza. Peguei meu telefone pra ligar pra minha mãe, pra dar as boas novas, porém não foi possível, porque a essa altura eu estava tendo dificuldades pra respirar.

Também não é raro eu sonhar que não consigo respirar, porque meu nariz costuma entupir à noite e demora um pouco pro meu cérebro compreender que eu preciso acordar, levantar, tomar remédios, etc.

Mas eu estava lá, com uma dor excruciante na barriga, com falta de ar e chega o que? Chega gente pedindo informação. Mostro o rombo da bala, aviso que não estou conseguindo respirar e aponto onde estão as pessoas que podem ajudar, mas ninguém me deixa falar, você tem que ajudar sim, que má vontade. E eu morrendo de verdade a essa altura. Pensando bem suave: agora vou saber o que acontece depois que a gente morre. 

Nisso toca o alarme de incêndio e meu único pensamento vem a ser: FODEOOOO, porque nunca que eu vou conseguir descer 21 andares nessa situação miserável.

Alguém me pega pela cintura e sai me carregando. As escadas magicamente se transformam numa rampa em espiral. Policiais surgem do nada, armados, pra escoltar a mim e a quem quer que seja que está me carregando e, ao mesmo tempo, perseguem quem atirou em mim.

Chegamos no hall do prédio e bandidos são abatidos pela força do pensamento quando damos de cara com eles. As armas caem, eles caem, cai todo mundo, enquanto um carro espera por mim, no que parece ser um beco. Vou andando até lá com dificuldade, pensando "não vejo a hora de estar na maca da ambulância, com uma máscara de oxigênio na minha cara, ar entrando nos meus pulmões e eu podendo desmaiar em paz".

Acordo sem ar e com uma cólica lancinante.

Vou rindo até a cozinha, onde vou pegar 38 comprimidos antes de voltar a dormir porque, VOU FAZER O QUE?


(Chorar parece adequado.)

*********

IV

Em assunto absolutamente não relacionado, a menos que a gente considere pesadelar acordado como uma ponte nos assunto, tem a saga do underaged boy.

Pois eu tava morrendo de dor de cabeça (cê jura), de modos que tava impossível viver. Sentei no sofá da sala com os braços pra cima, pedindo pra jesus me levar, enquanto minha mãe estava assistindo Project Runway no E!, porque minha irmã tinha largado nesse canal depois de ver Kardashians D:, e eu fiquei ali, meio sem condição de existir, só contemplando a existência da tv.

Aí veio o intervalo e passou uma propaganda de uma série chamada younger, propaganda essa que não acho nem por um decreto. Mas o barato é o seguinte (do que eu pude entender): a pessoa tem 40 anos e mente que tem 26 pra conseguir um trabalho. Consegue também um boy, né? Boy JOVEM. Aí ela conta pra ele que tem 40 anos e rola todo um desespero, porque o infeliz acha conveniente começar com aquela conversa maravilhosa "quando você tinha 20 anos eu tava no prezinho". 

ACHEEEEEI CARAIOOOOOOOOOO!!11 Tem que ver a partir do segundo 42, porque o youtube não cola direito essa bagaça. Sério, pula pra 42 segundos agora.


- quando eu tinha 16 você tinha.......... TRINTAAAAAAAAA!!1111!!11
- é, é isso memo, a gente sempre teve CATORZE ANO DE DIFERENÇA.

hihihihihihihihihihihi

Achei profético? Porque, né? NÉ?

Inclusive essa semana tá recheada de lindas conversa.

- isso aconteceu faz tanto tempo que eu acho que cê tava na quarta série.
- que ano foi?
- 2002.
- então eu tava na segunda série.
- EU ESTAVA ME FORMANDO NA FACULDADE, MAS TÁ TRANQUILO, TÁ FAVORÁVEL.


E assim vamos nesse sofrimento chamado vida.


Eu juro que uma base de umas 38 vezes por dia eu me pego pensando "num viaja, fia, tem nem chance de isso acontecer fora do plano das ideias". Mas aí a pessoa vem com aquele sorrisinho de ladinho que JESUS AMADO ME PROTEJA E ME GUARDE QUE NÃO TÁ SENDO FÁCIL.

Posso inclusive garantir que o mini (MAXI) bofe é uma unanimidade, porque já tem genteS inventando desculpa pra aparecer casualmente apenas para ficar apreciando a beleza alheia. Num julgo, né? Sorte minha que num preciso de desculpa pra fazer a mesma coisa.

E é isso, gente.

Agradeçam que vocês não são eu ou que vocês não têm 95 anos.

:*