terça-feira, 12 de outubro de 2010

crazy little thing called affection

Eu me casei com um A.L. no maternal, porque ele conseguiu abrir minha garrafinha da lancheira da mulher maravilha, quando ninguém mais conseguia.

Eu fui noiva na festa junina da terceira série, de um S.O., meu namorado, porque ele disse que me amava e eu tive medo que ele tivesse uma crise de bronquite se eu dissesse que gostava mesmo era de C.E.. Eu e C.E. vivemos num romeuejulietismo bem ridículo pra duas crianças de 8 anos.

Eu disse não quando R.C. me pediu em namoro na sexta série, porque jurava que era mais um babaca tentando fazer piada com a minha falta de características femininas. O problema é que R.C. povoava todos os meus pensamentos e estava falando sério. Pediu transferência da escola dois dias depois. Nunca mais tive notícia e o infeliz tem um trilhão de homônimos. Jamais verei novamente.

Levei o fora mais delicado do universo na oitava série, quando J.P. pegou na minha mão, me levou até o cantinho da sala (no meio de uma aula de matemática) e disse que o negócio dele era vídeo game, mas queria poder continuar andando de bicicleta comigo nas quintas-feiras.

E depois disso, eu meique matei meu coração. Haja talento pra fazer tudo errado.

Foi no meio dessa crise existencial, que eu estava tendo enquanto descia a rua, que ouvi alguém gritando meu nome. Era A.B., dentro de um ônibus, desesperado pra acenar pra mim. E aí meu coração deu uma apontadinha marota pro meu cérebro, enquanto ria e dizia “hahaha, eu que mando”. Deste dia em diante, A.B. morou no meu coração por 8 anos.

gestão 1990-2000

Eu acho que fica mais fácil se a gente separar em blocos de 10 anos. Dá tristeza porque *spoiler* serão 3 blocos e isso vai fazer parecer que eu tenho 40 em vez de 30 (ah, que alívio, SÓ 30). Mas é assim. De 10 em 10 anos, eu tenho um *grande afeto*.

Acontece que eu nunca tive muita paciência pra amor platônico. Fui lá e falei com ele – com toda sutileza que os 14 anos permitem. A.B. tava numas de aproveitar a vida e achava que não servíamos pra amizade colorida. Vivíamos juntos, mas ele sempre fazia questão de aparecer com alguém na minha frente.

E como a gente não tem o poder de fazer ninguém gostar da gente (tô nem falando de feitiço, tô falando da minha personalidade estragada mesmo), segui a vida. E posso dizer que, depois de um tempo, já nem doía mais ver A.B. com outras. Era segurando a minha mão que ele via sessão da tarde em dias de chuva. Entende? E eu tava feliz com isso.

Tive lá meus 28347569238745 casos, quebrei uns corações, quebrei a cara, quebrei copos nas cabeças das pessoas. Mas toda vez que *pensava* em sofrer, lembrava que amor mesmo era o que eu sentia por A.B. e isso estava em segurança. Ou seja: sofrer pelo fulano #8427 por quê? Era só mais uma forma de passatempo na minha vida.

Ficamos nessas idas e vindas que não são por sete fucking anos. Até o dia em que ele disse “acho que chegou a nossa hora”, mas saiu da festa com outra. Até hoje eu não sei o que aconteceu, nem quero saber. Mudei de cidade, de estado, de vida e passei 365 dias sem comunicação.

Mas o engraçado foi que eu não perdi o “amorômetro”. Sabe quando você pensa que gosta de alguém, aí compara: mas E SE fulano (A.B., neste caso) aparecesse agora e me pedisse pra ir com ele? Se a resposta fosse sim, eu sabia que a pessoa na minha frente não significava nada. E A.B. continuou sendo minha prova real no amorômetro.

Até o dia em que a gente finalmente se reencontrou. E foram hooooras de conversa, até que o platônico virasse real. O surreal foi que, pra mim, serviu de ponto final. Daquele momento em diante, a resposta não era mais sim no amorômetro quando a prova real era ele. Ele demorou um pouco mais pra desapegar, mas hoje somos bons amigos. Tem em algum lugar do meu diário, em fevereiro de 2000, que A.B. era tudo que eu esperava e muito mais. Mas o timing tava errado, a vibe tinha passado e que o que aconteceu foi o suficiente pra história ter um ponto final.

gestão 2000-2010

Esse período foi nebuloso. O mais platônico dos amores platônicos, o apito mais alto que meu amorômetro já deu na vida. 10 anos inteiros em que a resposta pra pergunta “se F.N. aparecer te pedindo pra largar tudo e ir com ele, você vai?” foi sim, sem nem um segundo de dúvida.

No dia em que nos conhecemos, eu podia jurar que F.N. era o cara mais babaca da face da terra. Fez questão DEMAIS de mostrar que era importante, amado, idolatrado, salve salve, você-não-significa-nada-pra-mim. Aí, numa bipolaridade linda, no dia seguinte ficou 3 minutos parado em frente a uma porta, só pra abrir pra mim quando eu finalmente resolvi passar.

Sabe, acho sexismo uma coisa muito da mongolóide, mas não resisto a um cavalheirismo. Aquela coisa que sutil, que mostra um lado delicado do homem, sabe? E F.N. era mestre no cavalheirismo. Não foi fácil.

Acontece que F.N. era casado. E homem casado: não trabalhamos. Fiz todo o esforço do universo pra ficar na minha. Mas F.N. um dia resolveu falar de como eu era inteligente e como estava impressionado com a minha linha de raciocínio. E no meio dos discursos na linha “não gosto de ninguém”, ficava reforçando o apreço pela minha pessoa. Assim dificulta a vida.

Mas eu sou uma pessoa forte e de princípios (pode rir, nem tô zuano). E resisti bravamente. Há alguns episódios marcantes da nossa história, mas que contar só traria uma tristezinha da minha parte e curiosidade das suas.

O que eu posso dizer é que F.N. me levou ao limite. Mil vezes por telefone (F.N. defendia a privacidade com unhas e dentes, mas me ligava com freqüência e pedia que eu fizesse o mesmo). Uma vez num almoço. Uma vez num jantar. Uma vez numa festa. E, por último, no meu ambiente de trabalho.

Ainda me lembro claramente do dia em que ele me ligou e perguntou se poderia ir até lá. OITO HORAS DA MANHÃ. Chegou antes das 9h. E eu, com a cara colada na janela virada pro estacionamento. F.N., numa das raras aparições sem terno e gravata, achou prudente me visitar vestindo bermuda, camisa pólo e tênis.

Falou o que precisava, falou da vida, inventou assunto. Quando se despediu, eu disse:

- acho que essa é a última vez que vamos nos ver.

Ele prometeu que não, mas entendeu o que eu quis dizer. E, de novo, eu colei o nariz na janela, pra vê-lo indo embora. Ainda olhou mais uma vez antes de entrar no carro.

Vi F.N. uma última vez na escada rolante de um shopping. Ia fingir que não vi, quando ele chamou meu nome e pediu pra que eu esperasse até que ele descesse até o andar aonde eu estava indo. Eu poderia reproduzir 100% do diálogo que aconteceu ali. Tudo tão formal e dito com tanto cuidado que chegou a machucar. Nos despedimos e então eu nunca mais o vi. (Nunca mais passei nem perto dessa escada.)

Não foi uma e não foram mil as vezes em que eu tive que me controlar pra manter essa falta de contato. Mas fui bem sucedida. Achei que F.N. jamais passaria na minha vida.

gestão 2010~

A razão pra tanta divagação é, provavelmente, culpa de uma noite dessas.

Porque, veja bem, se tem UM problema que eu não tenho, esse problema é insônia. Algumas crises de alergia perturbam meu sono, algumas idéias fixas me fazem acordar no meio da noite, cochilos infinitos no meio da tarde às vezes fazem com que eu leve uns 15 minutos pra começar a dormir. Mas noites em claro, dificuldades pra voltar a dormir, ser acordada por barulhos ou falta de sono não fazem parte da minha vida.

Mas dia desses eu não conseguia dormir. Consegui por poucas horas, mas a chuva me acordou. E o sono foi embora por muito tempo. Foi então que eu olhei pro lado e me perguntei: se F.N. por alguma razão cósmica me ligasse justamente agora e quisesse me tirar daqui, o que eu diria?

Deixei cair uma lagriminha solitária quando me dei conta de que a resposta seria não.

E é tudo o que eu vou falar sobre isso.





(Querido cupido – ou qualquer que seja a entidade responsável pelo so called love: por favor, não me faça sofrer por mais 10 anos. Serei velha, terei 40 e minhas esperanças terão acabado. Obrigada. Um beijinho.)