terça-feira, 30 de dezembro de 2014

december again

Não que eu deva satisfação, mas eu odeio essa época do ano e é por isso que tô aqui recolhida na minha insignificância.

Odeio a vibe amor ao próximo que acende lá pelo dia 10 (e apaga completamente dia 26 ou na fila do supermercado ou no estacionamento do shopping). Não que eu odeie amor ao próximo, mas quem é assim é no ano inteiro, não precisa de mimimi de natal. Não suporto essa obrigação de com quem e de onde.  Eu vou estar passando sozinha, na minha casa, nas mesmas condições que eu passo a vida, ué. "Ai, gente, mas é natal". E O QUICO? Se não quer me ver dia 4 de maio, dia 12 de julho, dia 23 de novembro, que diferença faz, meus amigos? Nenhuma. Milarga.

Odeio o calor que está e a dificuldade que isso impõe ao processo de trocar de roupa, pentear o cabelo, locomover-se até qualquer lugar usando qualquer meio de transporte e, necessariamente, sair feia em todas as fotos porque eu fico mais feia ainda no calor.

Odeio a "ode ao ano novo", porque só passa um dia e você vai continuar bocó igual, preguiçoso igual, feio igual, encalhado igual. Essa necessidade de se enfiar num lugar onde tenha água, salgada especialmente, e infernizar todo mundo que não compartilha desse delírio coletivo, meu deus do céu, que insuportável.

Detesto a ideia de metas ou sei lá como vocês chamam esse negócio, resolução? Mas que caceta, faz hoje? Quer comer menos? Come menos hoje, ué. Quer ser uma pessoa melhor? SEJA HOJE. Quer botar um plano em prática? H.O.J.E. Não é segunda, não é mês que vem, ano que vem, amanhã. Acho de uma babaquice sem fim. Faz mas não me conta. Já serve.

Detesto balanço de fim de ano, caaaara. Em casa eu não consigo atender às expectativas das pessoas, nem do meu cachorro, que provavelmente me ama mais do que minha mãe. No trabalho, mesmo sendo o meu (pouparei adjetivos) é impossível atender às expectativas até das pessoas mais tapadas. As minhas próprias HAHAHAHHAHAHA, já diria Pink, I'm my own worst enemy. Vou botar mais pressão aí? Ai, tenho que ir pra academia, estudar, ganhar mais, arrumar um relacionamento significativo, adotar um animal, arrumar a cama todo dia (fora o relacionamento significativo, para o qual não dou um cocô mole, já tenho tudo isso aí, cara, vou parar onde?).

Eu tô só aqui eternamente grata porque não moro na praia, mas moro perto o suficiente pra todo mundo sumir. Minha família achou lugares mais interessantes pra passar essa época e minha maior dúvida de figurino pras "noites importantes de dezembro" é qual pijama tá limpo (todos) e qual temperatura tá a água do banho e se tá conectando o netflix no playstation e se não caiu o on demand da tv a cabo (todos dramas reais do natal e véspera).

Fora isso, os nuggets tão no forno, a roupa tá lavada, a casa tá limpa e silenciosa e eu só tenho que me preocupar com vida social de novo no meio de janeiro.

Feliz mais um dia pra vocês.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

the power of love

(este não é um post triste)

o mais ridículo foi essa ibagem pular
na minha cara quando eu cliquei na aba do
 tumblr por engano, em vez de clicar no flickr


Gente, de vez em quando vocês se assustam com o poder que uma pessoa exerce sobre você?

*****

Sinto a necessidade de explicar: não é como se você fosse tomada por um feitiço do réuri póter ou possuída pelo alexandre-d'a-viagem (donde deriva o adjetivo "alexandrado") nem nada disso, é aquele típico comportamento de imitar o que o objeto do amor faz, porque, sei lá, cê admira tanto a pessoa que quer que ela te admire de volta sendo igual a ela e etc.

Eu sei que bato na tecla dos meus amores platônicos aqui com tanta frequência que todo mundo já até perdeu a conta, mas são os mesmos cinco indivíduos sendo representados por uma ou outra característica, de modos que parece que eu tenho toda uma lista de homens interessantes e ó, só de refazer as contas aqui, já reparei que tem um que eu nem lembro mais que existe.

Pra ser bem sincera, daqueles que eu sei que nunca vai acontecer nada, tomei tanta distância que eu simplesmente nunca mais vi. Tem um que mora na mesma cidade, frequenta os mesmos lugares e nunca.mais.encontrei. É o poder do pensamento construtivo, né? Se não vai me levar a lugar nenhum, se não posso ter, se começa a fazer mal, melhor cortar.


*****

Mas tem um indivíduo que sempre me faz rir quando aparecem filósofos de internet compartilhando aquele vídeo do "você nunca amou". Amei sim, cara. Eu tentei muito me enfiar na vida de uma pessoa, tentei adaptar minha personalidade aqui, ali, virar uma pessoa melhor, de acordo com a filosofia alheia. Até que um dia eu entendi que não tinha o que eu fizesse pra SER essa pessoa (que eu nem sei se ele queria, sejemo franco), e que não tinha como eu fazer esse indivíduo feliz, então eu fui recuando meu time lentamente. Um dia eu entendi que tinha alguém que veio pronta de fábrica com tudo que eu estava querendo inventar e acho que percebi antes dele que ele estava amando. Peguei meus bonequinho tudo e tirei o time completamente do campo. Se isso não é amor, não sei mais o que é.

Apesar de que sempre me intriga um pouco esse limbo em que a gente fica quando uma pessoa querida (ou amada) encontra outra e tudo parece forçado e desrespeitoso, até que a única solução eficiente é sair de cena mesmo. 

O triste é saber que você não é assim tão indispensável pra felicidade do outro, que tem alguém ali num patamar bem mais alto que o seu, que vem primeiro e que provavelmente ficará pra sempre - ao contrário de você.

Triste também é sair de uma situação de amizade intensa (porque pra mim é assim que nasce o amor) pra uma situação de completa indiferença. E, nesse caso específico, uma montanha russa disso, já que a coisa se arrasta há anos e a cada namorada nova é um tombo no abismo de um tempo que vinha sendo um voo alto.

E eu fico lá esperando o dia em que eu vou poder voltar a ter um pedacinho da pessoa. Talvez não seja amor, seja idiotice, não descarto a possibilidade. Mas, veja bem, eu não espero migalhas de atenção ou sinais de que finalmente o amor dele será meu. Eu espero é pelas bobagens que fazem com que essa pessoa povoe meus pensamentos amorosos por essa quantidade de tempo que já parece infinita.

De vez em quando eu esqueço, porque eu não sou assim tão bocó. Não é como se eu ficasse aqui fazendo simpatias e sonhando com o amor que nunca vem. Aliás, se tem uma coisa que eu não suporto na ficção é a capacidade de as pessoas, especialmente mulheres, mendigarem amor de quem não sente nada por elas. De tramarem contra as amadas de seus amados, pra que eles caiam como patetas em seus braços. Pelamor, né? Eu quero alguém que me olhe como uma coxinha com catupiry recém frita na hora do almoço.

*****

Mas aí tem essa pessoa que não tem nada a ver comigo, por quem eu não consigo me desapaixonar. Me apaixono também diariamente pelo menino que vi na rua, pelo vendedor de camiseta que ficou tão interessado em mim que até agora não consigo entender (não entendo também porque não dei meu facebook pra ele, por exemplo), me apaixono pelo sueco que vem pro Brasil de 6 em 6 meses e pelo cara da academia que além de maaagro é mais feio que bater na mãe e me apaixono pelo cara que tem 34 anos, mas parece que tem 45 só porque ele tem um sotaque bonitinho. E me apaixono por personagens de ficção e por cantores e por gente que era jovem 8 décadas atrás (juro) e por gente que era jovem 20 anos atrás e por gente que é tão jovem que é quase ilegal (mentira). E me mantenho apaixonada pelo moço com quem eu teria 37 brigas por fim de semana, quando ele quisesse pular de paraquedas e eu quisesse fazer maratona de seriado no netflix.

E tem dias que eu acordo questionando coisas que nem me incomodam e me punindo por coisas que não me afetam, porque eu sei o que ele pensa a respeito. É como se alguns dias ele virasse a voz da minha consciência. E tem dias que eu planejo coisas que são muito legais mesmo, mas que eu nem pensaria em fazer se ele não tivesse despertado em mim o interesse, mas eu faço com pessoas que não são ele, porque ele não está disponível.

Dias em que ele fala comigo por cinco minutos, sobre a coisa mais boba do universo - mas que sempre me faz rir - e aí eu penso que se eu amolho é porque a gente consegue rir junto de bobagens que são realmente muito bobas e eu passo o dia com cara de pateta cada vez que eu penso nisso e me dou conta que não tem o que eu faça, não tem o que ele faça, não tem incompatibilidade no mundo que seja capaz de apagar esse menino do meu coração.

Fuén.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

eleanor, park e a maldição dos finais insatisfatórios

Já vou avisando as madame que esse post vai ter spoiler, muito spoiler, spoiler até da última página do livro, então não quero mimimi.

Então eu vou fazer uma das coisas que eu mas odeio no mundo, mas que sempre faço quando o spoiler vai comer solto, vou botar um ~leia mais~ aqui embaixo.

*****

Foi só depois de adulta (velha) que eu comecei a ter coragem de deixar livros no meio, filmes sem terminar, essas coisas. Mais recentemente eu parei de convidar as pessoas pra irem ao cinema comigo ou pra assistirem coisas que eu alugo na locadora (literalmente, não tô nem falando de downloads) e passei a DAR livros. Dar. eu nunca nem emprestei livros na vida, imagina dar, gente. Outro dia passei num café e dei uns 4 livros lá, porque as capas eram bonitinhas e combinariam com o ambiente, porque as histórias, mddc, uma pior que outra. 

Porque eu sou muito chata com finais. Se o negócio começa bem, tem um ótimo meio mas um fim ruim ou blé, eu acho que a coisa toda não valeu meu tempo despendido. 

Aí eu vi quinhentas mil blogueiras recomendando eleanor & park (eu mereço por ainda acreditar em blogueiras em 2014), amigos, sites, livrarias, capa bonita, etc, comprei. E tava lendo e achando tudo ótimo até que acabou.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

levando a bola embora

Cada vez que alguém me corrige neste blog, especialmente usando o anonimato, eu tenho vontade de deletar tudo e não escrever nunca mais. Se vocês não conseguem aceitar a piada e a meia dúzia de erros que vêm com elas, puta merda, não sei o que a gente tá fazendo aqui.

as árvere genealógica não dá nozes

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Com o advento das eleições, sobre as quais não me pronunciei, como não me pronuncio desde 1994, quando fui obrigada por um trabalho de escola, descobri que sou amiga dum monte de babaca. Não que eu não soubesse que era amiga de alguns babacas, mas gente, é um monte. 

Se você acha válido, fico contente por você, mas acho de uma chatice sem fim quem declara voto. Quando a pessoa não vota em quem eu voto, eu muito questiono a sanidade mental dela (em silêncio, dentro da minha mente), queria poder evitar. E poderia, se vocês CALASSEM A BENDITA BOCA. Que mania de ficar declarando ideologia. Seu amiguinho indeciso não vai se decidir quando você fala "eu voto X". NÃO VAAAAAAAAAI. E você tem direito de votar nessa pessoa, aperta a bendita tecla na urna e seja feliz. Mas não enche o saco.

E aí tem a ala das sofredora, curto muito. Voto em fulano porque sou pobre, minoria, oprimido. E? Seu voto num conta igual da pessoa que você muito erroneamente chama de coxinha (chamar coisa ruim de coxinha, que contrassenso)?  Então não torra, meu amor.

Aí eu lembrei de um dia que tava aqui em casa, sofrendo muito da minha classe média, quando o namorado da minha irmã achou muito conveniente dizer "tá reclamando demais pra quem nasceu na favela". E foi só aí que eu lembrei que nasci na região do m'boi mirim, apesar de já ter rido sem fim de todas as vezes que a katylene usou isso como sinônimo de baixa renda. Cêis num cridita? Pois é verdadíssima.

Me perguntei se ter nascido na favela valida minha opinião política que, já aviso, passa LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOONGE do comunismo, nunca fui comunista, de esquerda, espero jamais ser. Tá permitido? Se nasceu favelada pode?

Massss, antes de chegar na minha história de nascida na parte pobre da zona sul paulistana, eu fui refletindo sobre minha genealogia e resolvi contar pra vocês, usando APENAS, vejem bem, APENAS parentes que eu CONHECI. Não vou falar de ninguém que já tenha morrido antes de eu nascer ou antes de eu obter memórias dessas pessoas, ok? Vamos aqui legitimar meu direito político através da minha árvere genealógica. Fiquem ligadinhos.

(Pelamordedels, quem não vem a este blog há mais de 10 anos, favor entender que nunca me levo a sério, embora também nunca minta. Tudo que vai ser contato aqui é estritamente verdade.)

Começando por essa senhora que não sei quem é, mas sei que é de onde vieram os genes bons:


deve ser mãe da minha bisavó, porque é IGUALZINHA.

Hahaha mentira, vamo tentar aqui uma ordem.

Bisavó paterna, mãe do pai do pai, vó Joana.

Vó Joana já tava bem gagá quando eu cheguei, tadinha. Teve uma infinidade de filhos. Baiana, nordestina (omg, nordestinos na linhagem conta ponto? mais se for mulher e pobre?). Vó Joana tinha um aspecto de índia, embora eu não saiba muito sobre quem veio antes dela. Pequenininha, magrinha, teve trocentos filhos, com o que eu imagino, tenha sido um senhor negro, já que meu vô, filho dela, era negro. Vó Joana era pobrezinha, morava numa casinha bem simples e fugiu da Bahia pros filhos pararem de apanhar do marido, que era pai deles. Vó Joana, te amo, mesmo que você tenha roubado minha cobertinha inúmeras vezes. Morreu quando eu era pequena, eu devia ter uns 7 ou 8 anos. Não achei registros fotográficos dela.

Avô paterno, vô Mané.

Meu vôvis chamava Manoel, obviamente, mas nunca vi ninguém no mundo chamandolho dessa forma. Minha vó chamava de "bem", simplesmente. Os neto tudo chamavam de vô Mané e é isso aí. Ele parecia o pai do cascão, sabe?


Mesmo corte de cabelo, mesmo bigodinho. Apenas a pele mais escura e carinha de vô, né?


Vôvis Mané nasceu em algum lugar da Bahia, não lembro exatamente onde. Também ninguém sabe dizer como foi que acabou indo parar no interior de São Paulo. Já perguntei tudo isso quinhentas mil vezes, mas também não sei onde ele conheceu minha avó. Não sei muito da história da família dele no geral. Sei que era sofrida. Morreu quando eu tinha 10 anos. Não sei se tinha curso superior, mas imagino que não.

Avó paterna, vó Alvira.

A gente sempre chamou de Elvira mesmo, mas o nome era grafado desse jeito porque meus bisavóvis eram italianos, importados diretamente da Itália. O sobrenome LINDO é meu maior recalque, já que meu pai não passou pra minha geração. Não sei quantos irmãos ela teve, só conheci minha tia-avó Palmira, que eu amava muito muito muito muito muito mesmo. Não sei se chorei mais quando morreu vó Elvira ou tia Palmira. Vóvis morreu em 2004 e tia Palmira um pouco depois. As duas torciam pro PARMERA, tinham muito sotaque italiano, eram braaaaancas até não poder mais. Minha avó tinha o olho bem azulzinho. O cabelo tinha sido castanho, mas nunca vi. Só vi branquinho. Siapaxonô pelo baiano e aprendeu a cozinhar sarapatel, rabada, feijoada. Melhor comida do mundo a da minha vó (com exceção dessas coisa aí, que eu não comia nem amarrada). Não estudou quase nada e sabia escrever muito pouquinho. Receita tudo de cabeça, mermão.



Juntos, meus avós tiveram 13 filhos. Doze biológicos e uma adotiva. Da mais velha até o mais novo, tem muitos anos de diferença. Meu pai é o penúltimo e praticamente todos os meus primos são mais velhos que eu, alguns têm NETOS. A maioria deles nasceu com a pele BEM morena, todo mundo de olho escuro, menos a filha adotiva, que é a cara da minha vó hahahaha. Na verdade, dos filhos biológicos só 8 sobreviveram, e desses, tudo ~moreninho~. 

Quando meu vô morreu, minha vó murchou. A gente acha que não morreu imediatamente em seguida, porque tinha um filho de quem sentia necessidade de cuidar. Quando morreu, não tinha razão nenhuma, de modos que eu acho que foi de tristeza.

*****

Eu achava que meus avós não eram ricos (apesar de nunca ter achado que eram pobres), mas meu vô tinha carro, casa pra caber esse povo todo, comida farta, móveis bonitos, roupa nova, etc etc etc. Acho que se não fosse o fato de ter ONZE PESSOAS pra sustentar com o salário de uma só, seriam bem ricos sim, hein? Num sobrou pra acumular herança, né? Mas todo mundo estudou (a maioria até o ensino médio), não teve ninguém que precisou sair da escola pra trabalhar. Quem não casou ou não quis sair de casa, morou com eles até o fim, sem crise. Inclusive um dos filhos casou com uma pessoa do mesmo sexo e NUNCA me pareceu absurdo, porque meus avós levaram numa boa, meus tios também, meus pais também. Eu e meus irmãos podíamos visitar a casa e as pessoas, eles visitavam nossa casa e eu só me dei conta que aquilo era um "caso raro" um tempinho atrás. Classifico a história toda como um caso de sucesso, ainda mais pra quem saiu do interior da Bahia e da Itália sem nada, nos anos 60 e 70.

Meu pai, chamado carinhosamente de GORDINHO, embora seja uma linha e mais leve do que eu.

quem vou morrer se souberem que publiquei isso?

Como é possível perceber por essa fotinho, meu papai nasceu, como direi, com melaninas muito ativas, cabelo de cachinho, olho castanho, essas coisas. Existe uma lenda que a família fazia fila no ferro de passar roupa, pra tacar no cabelinho. Babai nasceu no interior de SP, penúltimo numa carreira sem fim de filho. Era muito bem educado, junto com seus irmões, era conhecido como IRMÃOS METRALHA. Babai era o bocó da turma, o tonto que vai junto, se borra e se ferra. Grazadeus, porque hoje é o filho de maior sucesso. Filho de nordestino, trocentos irmãos, teve que estudar com mulher e filha pra sustentar, se ferrou muito na vida, já que meu vô não tinha como sustentar marmanjo casado e multiplicado. Fez faculdade só depois de casado e com filhos e hoje tá aí comprando Dudalina, né? PARECE QUE O JOGO VIROU MESMO, KIRIDINHA.





Bisavó Materna, mãe da mãe da mãe, vó Chica.


Chica não tem fota sozinha, muito menos sorridente

Vó Francisca, de quem só tenho uma informação genética: a família veio da Holanda. Quantas gerações antes, nem ideia, mas com certeza poucas. Metade dos sobrinhos dela (ainda falando só dos que eu vi com meus próprios olhos) era absolutamente ruiva, com pele alaranjada e sardas. Zezinho, um dos primos da minha mãe, era de um vermelho-ponto-de-referência. Ele devia ficar irritado, porque eu encarava loucamente quando tava por perto. Achava tudo lindo no Zezinho, embora ele fosse muito feio. 

Vó Chica era braaanca de olho azul, uma coisa linda. Há boatos de que tinha a cara ingoal a minha quando xóvem. Nunca vi fotos suficientes pra comprovar. Morreu em 2004 ou 2005, não lembro bem. Casou com 16 anos, como era o costuminho da época, sem estudar muito.

Bisavô Materno, pai da mãe da mãe, vô Tonho.




Antonio Benedito era mineiro, de uma cidade que já se chamou Ayuruoca, mas hoje é Aiuruoca mesmo. Eu sempre amei o nome dessa cidade. Não se sabe dos antepassados dele, mas também tem as vibe de ser brasileiro desde sempre. Cabelo castanho, olho castanho, pele cor de oliva, coisa e tal. Sei que tinha ~negócio próprio~, uma vendinha no interior de SP (como esse povo todo foi parar no interior de SP é um mistério pra mim). Era carpinteiro por hobby e fazia os objetos de madeira MAIS INCRÍVEIS do mundo. Era incrível ver alguém pedindo "vô, faz isso?" e ele fazia. Minha mãe, que é engenheira, tem uma maleta de canetas nanquim feita por ele, que é sensacional. Também rolou uma prancheta e um banco personalizados, que vivem até hoje. Eu acho que poderia ser rico vendendo artesanato, mas não foi assim que a história se desenrolou. Morreu um pouco depois da minha bisavó e eu diria que foi de tristeza e solidão.


vô Tonho, eu e meu desastre capilar de 2005

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Os dois tiveram apenas duas filhas, ó que glória? As duas morenas, de olhos castanhos e pele cor de oliva. Minha vó é a mais nova. A mais velha teve 4 filhos, três bem morenos e um bem branquinho, de olho claro. Mais uma filha adotiva. Morreu de câncer no meio do processo de adoção da filha mais nova e pediu pra que a enfermeira (e freira) que cuidava dela cuidasse da criança e do marido. Pois a enfermeira se casou com meu tio-avô e teve ainda mais dois filhos (hahahaha, melhor história), com a pele bem morena, mas como de índios. A gente chama todo mundo de primo e eu chamo a mãe deles de tia e tá tudo certo.


reparem a beleza da minha vó, a da extrema esquerda

Avó materna, vó Janir.




Minha vóvis, que nasceu com cabelinhos e olhos castanhos e pele cor de oliva já tem a carinha bem brasileira mesmo. É daquelas com tronco pequenininho e quadril grandão, embora bem magrinha. Um cabelón com cachos soltos, que vivia com aqueles bumps dos anos 60, ela tem as melhores fotos. Pensou em ser freira, entrou pro convento, saiu, achou meu vô, siapaxonaram em três encontros e grazadeus casaram, ou eu não estaria aqui. Vóvis foi a primeira mulher - que eu saiba - a fazer faculdade na família. GRANDE VÓ!!1111 Acabou trabalhando muito pouco como professora, mas eu não quero nem saber, de uma linhagem de trabalhadores com pouca escolaridade, ela.fez.faculdade.nos.anos.sessenta. YOU GO, VÓ.




Avô materno, vô Octávio.




Não sabemos muito sobre a linhagem do vovô, mas sabemos que em algum ponto, a família se formou entre a Itália e a Espanha e o sobrenome original era Negronni. Quando chegou no Brasil, esse povo foi se misturando com famílias indígenas e minha bisavó, de acordo com relatos, tinha aquela cara BEM de índia mesmo, pele cor de canela e cabelo liiiiiso. Vó Rita, essa. O marido dela, vô Tonico, era o italiano de ascendência, brasileiro de nascença. Vôvis nasceu com o cabelo lisinho, bem escuro, olhos escuros e a pele cor de oliva. Tinha trocentos mil irmãos, não sei se conheci todos, mas conheci muitos. Adivinha onde tava tudo espalhado? Isso mesmo, no maravilhoso interior de SP. Meu vô veio de família pobrezinha, teve que começar a trabalhar bem cedo. Acabou deixando tudo pra depois, inclusive casando com 33 anos, encalhadíssimo na época. Minha avó, no dia do casamento, tinha 19. Até onde eu sei, ele fez a faculdade depois de casado, GRAAAANDE VÔ, se tornou funcionário público e viu a vida mudar. 




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melhor.foto.do.mundo.: minha tia mais nova, vôvis e vóvis

Os dois tiveram 4 filhas, das quais apenas 3 sobreviveram. Minha mãe é a segunda, mas configura como mais velha, já que foi a nascida antes dela que morreu. O mais maravilhoso é que as duas nasceram no mesmíssimo dia, com um ano de diferença. Minha família curte muito história de novela na vida real. Meu avô conseguiu dar uma vida bem tranquila pras meninas, graças a muito esforço e noites mal dormidas, enquanto conciliava família, trabalho e faculdade. 




É daí que vem o gênio suave que impera nas gerações seguintes. Vô Óc teve apenas FILHAS, todas elas usam o sobrenome dele como forma de identificação. Assim como todos os 7 netos. Acho o máximo, especialmente porque eles acharam que o sobrenome ia morrer.




Mamai, chamada carinhosamente de "minha senhora", porque eu praticamente só chamo desse jeito mesmo.



Mamai também nasceu com lindas pele bronzeada, zóio cor de mel, cabelo preto, mas tão preto, que chegava a ter reflexo branco quando a luz batia. Só conseguiu fazer faculdade depois de casada e com filhos, mas foi a primeira mestre da família YOU GO MAMAINNNN!!11 Trabalha como se não houvesse amanhã, enlouquece a família, estabelece padrões impossíveis de alcançar e, consequentemente, é a melhor mãe do mundo.

MASSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS


Em 1979, quando os dois jovens mancebos resolveram se casar, eles mesmos, enquanto pessoas, não tinham onde cair morto. Os papaizinhos tinham lá suas vidas razoavelmente estáveis (os pais da minha mãe ainda tinham duas filhas NA ESCOLA e os pais do meu pai ainda sustentavam uns 5 dos 9 filhos), de modos que o negócio foi mais ou menos o seguinte: boa sorte.

Pra ajudar, meu pai tinha conseguido um trabalho em São Paulo (a capital, não mais o interior) e minha mãe se mudou pra lá com ele. E foi nesse momento mágico que a família se estabeleceu na periferia (ai que rica? minha mãe num deixa chamar de favela?) da zona sul. Com a incrível façanha de produzir uma quiança - no caso eu - NOVE MESES E DOISH DIASH depois do casamento, e por produzir eu quero dizer que eu estava pronta, nascida e chorando nessa data, tava lá os três pobre vivendo à base de feijão em mortandela (talvez essa seja a razão de eu não comer essas coisas ~agora que sou rica~). Hoje em dia, o lugar que a gente morava é um lugar onde provavelmente a gente não passaria nem por um decreto, daqueles que se a mãe sabe que você foi, te deixa de castigo, isso se você voltar intacto. Outro dia fomos olhar no google maps e é bem tensa a situação. Não era naquele tempo, sejemo franco. Eu tenho algumas lembranças do lugar e era até simpático. Talvez os dois assaltos lendários (não passa um mês inteiro sem minha mãe falar "ah, eu tinha uma coisa x, mas foi naquele assalto") contrariem um pouco essas memórias, aquele momentinho de alegria com meus pais com armas na cabeça, tendo que entregar o carro e tudo que tava dentro (e tinha praticamente a vida deles inteira lá dentro), mas sabe como é, né? Meus pais não apenas não curtem a ideia de que já moraram na favela (e não foi pouco), como têm aquela tendência humana de romantizar o passado. Especialmente um passado de recém casados. Eu compreendo.


já sabia o futuro de DO LAR


favelada porém artista


Meu lindo babai, muito competente, acabou sendo bem sucedido na sua vida profissional, de modos que a gente mudou dali pra um lugar melhorzinho, depois outro um pouco melhor que o anterior, até que a gente subiu muito de nível (ryzo) e foi pra beiradinha do Morumbi. Num éééé o morumbiiii que tem nas suas cabeça, mas ainda assim um lugar belíssimo, condomínio de condomínios, infraestrutura pra não precisar sair do bairro nunca, área verde com lago, patinhos (tá tudo lá até hoje, eu nunca lembro de fotografar os pato tudo quando vou pra lá porque tô sempre com pressa). Inclusive, meus pais resolveram se mudar quando decidiram ter o segundo filho. Por isso fomos pra esse lugar com parquinho, piscina, quadra, espaço pra andar de bicicleta, correr, conhecer um bilhão de crianças e etc.

A essa altura, eu estava estudando numa das escolas mais caras de São Paulo (parece que o jogo virou mesmo kiridinha etc), a gente fazia muitas viagens, ia no McDonald's, ganhava brinquedos Estrela no natal e tomava Coca-Cola em todo jantar. Pode não parecer grandes coisa pra você, mas no meu condomínio era motivo pra comoção. E pra nossa família também era.


a caminho do rildjans, pra viagem que nos levaria à casa da Xuxa

Até aí, meus pais tinham duas filhas.

Eu, que nasci com o cabelo PRETO e olhinhos azuis-que-viraram-verdes, a pele até clarinha, mas que de repente ficou num tom de marrom sem precedentes e minha irmã, que nasceu transparente de tão branca, olhos azuis que viraram um verde diferente do meu e o cabelo LOIRO, que foi ficando castanho claro ao longo do tempo. 

Quando eu tinha 12 anos, fui fazer minha primeira carteira de identidade. Naquele tempo (ou naquele lugar), a gente entrava sem a mãe pra colocar a digital no papel e responder algumas perguntas, entre elas a cor da pele. O moço foi preenchendo conforme olhava pra mim e quando chegou nesse item, respondeu sem pestanejar "parda". Eu gritei pra minha mãe, só porque nunca tinha ouvido aquela palavra na vida, e perguntei o que era parda. Minha mãe veio até a gente, viu o questionário e falou pro moço que tava errado, que minha cor era branca. Antes que os defensores da diversidade venham aqui me usar de exemplo, minha mãe só disse isso porque sabia que a) minha pele ~natural~ é branca mesmo e b) eu pareceria criminosa nos meses em que não tem muito sol. E ainda bem que ela fez isso, porque hoje em dia eu raramente me bronzeio (porque além de descobrir que odeio sol, rola uma alergia nervosa), então imagina pra explicar aquele parda no cadastro? Em tempos de cota, cê reflita que desonesto seria.

Mas já houve um tempo na minha vida em que as pessoas acreditaram que eu era parda.


realmente não compreendo o motivo?

Poucas vezes no mundo as pessoas acreditam que minha irmã seja minha irmã. E don't get me started com o meu irmão, não chegamo lá ainda. E ninguém nunca acredita que eu seja filha dos meus pais. Minha irmã lembra minha mãe, então as pessoas acham que ela tem um pai nórdico quando veem as duas (hahahaha), mas quando é comigo, a revelação sempre vem seguida de "sua filhaaaaa?".

E até outro dia eu nunca tinha reparado, mas quando as pessoas me veem com meu pai E minha mãe, elas sempre perguntam se eu sou mesmo filha dos dois. Eu achava que era culpa de não parecer nem um pouco com eles. Até que no começo deste ano alguém disse "seus pais têm a pele escura demais pra parecerem seus pais" e foi só aí que eu me toquei a razão de ninguém intuir automaticamente a relação entre a gente. Eu passei a vida escutando - nesse momento, quando me veem com pai e mãe - "uééééééé, mas da onde essa brancura e esse olho claro???". Amigos, aconselho estudar um pouco mais de genética. Num posso negar que deve ser assustador ir conhecendo minha família e se dar conta que rola um caso tenso de genes recessivos na minha pessoa, mas o que raios eu posso fazer? Isso mesmo: nada.

Bom, aí chegou o terceiro filho e eu mudei da escola de rica pra uma escola maizomeninho (com aulas em italiano - além da aula de italiano, tinha matemática em italiano, SOCIOLOGIA em italiano, informática em italiano, em 1991, molto moderno. Até hoje eu falo um italianinho razoável, mas NEM ADIANTA QUE NÃO VOU FALAR NA SUA FRENTE. Aí o terceiro filho foi crescendo e fuén na minha escola pública, onde descobri que a vida era horrível. Além disso, cabô mamai levando de carro, era de busão que tinha que ir, se vira, vira home.

Daí pro interior, escola ruim, passa fome, mora mal, ganha bolsa, volta pra escola de rica, não tem dinheiro nem pro lanche, dá problema na bolsa, volta pra escola normal, passa fome, não tem roupa nova, não tem festa, não tem nada.

Rolou uma época trevas mesmo. Era arroz, feijão, pão, leite e fim. Era de casa pra escola, da escola pra casa. Felizmente eu era a melhor aluna do lugar, de modos que pagaram todos os meus vestibulares, senão eu tava até hoje sem faculdade. No fim das contas, meu vô (Octávio) chegou e falou uma coisa com a qual eu concordo: faculdade pública é pra quem não pode pagar. Eu posso pagar a sua, você vai pra uma particular.

Parece pedante? Parece. Cê lembra que ele só estudou depois de adulto porque não tinha dinheiro? Pois é. Cê ainda acha que ele tá errado? Eu não acho. Ainda me explicou que eu veria a diferença de estrutura, biblioteca, salas, prédio, professores e viveria sem o fantasma da greve. Como funcionária e mestranda de instituição pública federal, eu vos digo: ele tava certíssimo e foi o melhor presente que me deu. Minha faculdade tem conceito melhor que a UFPR (midesgupi, ssdd), e tinha já quando eu me formei. Até hoje quero chorar limão quando chego numa sala de aula caindo aos pedaços, seja pra trabalhar, seja pra estudar.

Fiz concurso público contra minha vontade (não quero falar sobre isso) e tenho uma vida razoável. Moro com meus pais por vontade própria e, apesar de não ter dinheiro sobrando, nunca mais tive que me preocupar se teria xampu durante o mês inteiro, o que é muito reconfortante. E tudo isso só porque pelo menos 3 gerações antes da minha se mataram a vida inteira pra uma vida melhor.

A Prole a que pertenço

Aproveito este momento pra dizer que pais são genitores e avós que são progenitores, de modo que ninguém é filho de progenitor nenhum, pra ver se vocês aprendem.


foto salva no computador com o nome: prole étnica

Numa época em que eu ainda usava minhas melaninas.


erbãos

Eu juro que é meu irmão nessa foto e que a gente nasceu do mesmo pai com a mesma mãe e eu tô aqui procurando muito loucamente uma foto dele de hoje em dia procês ver o que virou.


01 foto recente (não) ou a única foto em que vocês vão me ver usando aparelho

Todo mundo formado em instituições de qualidade, empregado, bem vestido, alimentado e feliz.

O que eu quero com esse post, além de expor a família inteira e ouvir gente falando "menina, não coloca foto na internet, é perigoso"? Dizer que quem vê cara não vê local de nascimento, transformação genética, ascendência sócio-econômica, esforço pessoal. Meus pais se mataram pra gente ter uma vida ok hoje em dia, assim como os pais deles antes deles (ênfase no ok, que é bem menos que rico ou confortável), mas ontem mesmo minha mãe tava falando de uma história antiga (eu devia ter uns 16 anos na época) e perguntou "mas porque a gente não deu um jeitinho pra pagar aquilo eu não entendo". E eu que tive que pegar a âncora e falar "porque a gente não tinha dinheiro nem pra comer, então não ocorria 'dar um jeitinho' pra gastar com o que não fosse absolutamente essencial". Vi a cara tristinha que ela ficou e fiz uma prece interior pra agradecer que ela nem se lembrasse disso e hoje visse como "dar um jeitinho". 

De qualquer fora, meu recado pros amiguinhos é: vamo guardar o julgamento? Não é porque a pessoa defende ideias diferentes da sua que ela é privilegiada, filhinha de papai, herdeira de mão beijada. Outro dia vi pessoas esbravejando sobre a dificuldade de ser "branca de olho verde". Nem era comigo, sabe? Mas se eu tivesse permanecido na favela? Estudado pouco? Preguiça de trabalhar dificuldade de arranjar emprego? Teria o mesmo peso a cor da minha pele?

E se eu ainda tomasse sol regularmente e as pessoas VISSEM minha ascendência negra? E se minha pele fosse da cor da pele do meu irmão? E se meu olho fosse preto? Sério que é isso que vocês validam na hora de aceitar a opinião do amiguinho ou na hora de argumentar com eles?

Veja bem, não tô falando de diferença social, não estou relativizando racismo ou desigualdades, PELO AMOR DEDELS, não tô falando disso.

Tô falando daquela classe média sofrida que mora no facebook/twitter/instagram, que tem smartphone (tanto faz se comprado à vista, ou como o meu, em duzentas prestações), que tem emprego (tanto faz se ótimo ou uma porcaria pra não morrer de fome), que estudou no mínimo até o curso superior (tanto faz se ensino à distância ou numa business school, como eu), que reclama que não sabe fazer compra e cozinhar arroz, porque a mãe que sempre fez isso.

Sabe?

O que eu mais vi foi gente invalidando o discurso do amiguinho porque pobre não pode votar na direita ou porque rico não pode votar na esquerda e ai, gente, sério, vocês são tudo um monte de babaca e é por isso que eu não discuto e não falo da minha vida pra vocês regularmente, porque quem vai acreditar que uma branca de olho verde precisou se ferrar muito pra ter uma vida estável, né? Vão cagar.

*****

Fiquem agora com lindas fotos da minha família pra entender que todo mundo é o que é e você não tem nada a ver com isso.

Bgs miu (e aproveitem os próximos 4 anos pra se educar)


erbãs

erbões

papai e mamai

a geração anterior

 os neto tudo da minha vó

todas muié do mundo


vóvis e vôvis


FIM

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

hard core sônia



Cê veja se não é pra pessoa se desesperar.

Uns 10 anos atrás, quando eu tinha uma qualidade considerável de sono durante a semana e vida social nos fins de semana, eu fiz um acordo com a minha família, pra que me acordasse, caso eu dormisse além de 10:30 da manhã. Porque eu não queria perder o dia e etc.

Já faz uns dois anos que pedi pelo amor de dels que ninguém me acorde, nem se eu dormir até 13h. Eu tô cansada, eu não durmo durante a semana por falta de tempo mesmo, ME DEIXA DORMIR. Quem ama deixa dormir!!111 É só pra isso que servem meus finais de semana atualmente, preguei uma plaquinha dessas de e-card na porta do quarto. Mas adianta? Não adianta. Dá 10:30 e começa todo mundo a fazer barulho, falar alto, LIGAR MÚSICA (!!!). Aí eu acordo naquele humor excelente e a resposta é sempre a mesma "você sempre pede pra não deixar passar de 10:30".

ISSO JÁ FOI REVOGADOOOOOOOOOOOOOOOOOOO.

Não adianta, é todo fim de semana esse pesadelo.

*****

Aí tem a semana, né? Eu tenho que colocar de 6 a 8 despertadores pra garantir que eu vá acordar, mas tem dia que falha. Eu sou a última a sair de casa, de modos que acordo mais tarde que todo mundo. Então peço pra quem for saindo até 7:30 dar uma verificada se eu tô acordada e operante (às vezes tô em pé, mas tô dormindo e volto pra cama), mas não tem um que dê uma ajudinha. Alguns dias eu acordo 8:10 da manhã, atrasadíssima, não dá tempo de tomar café com calma e xingar Chico Pinheiro na tv, fico CHATIADA.

Me atrasei e fiquei muito brava, pensando "pelamor, sai todo mundo de casa e ninguém vê que eu tô dormindo ainda????? que sacanagi!!!", mas cheguei na cozinha e minha mãe tava lá calmamente sentada.

- mãe, são 8:20, cê não pensou em ver se eu tava viva?

- ah, você não gosta que te acorde cedo.

PÉÉÉÉÉÉÉÉINNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNN


*****

Para animar esse dia, fiquem com essa maravilhosa lista de músicas que eu não posso ouvir no carro, porque começo a twerk loucamente e torna a direção insalubre:

http://8tracks.com/saneva/shake-dat-booty

Alguém saberia o que acontece que eu não consigo mais embedar o disquinho aqui?

Alguém saberia como despossuir o 8tracks? A música 2 obviamente está na versão errada e não tem o que corrija.

PS: é tetraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Michael Jackson's daughter

Gente, que nome mais randômico pra esse post. HAHAHA



Mas é que esse pontinho marrom de saia azul nessa foto aí vem a ser eu. Hoje em dia a cor da minha pele tem um tom assim, puxando pro palmito e a maioria das pessoas não sabem do meu passado de melaninas hiperativas. Aliás, essa foto surgiu de uma pesquisa interna para um post que tá quase pronto, de como eu nasci preta e fiquei branca raízes e etc., mas eu quis fazer esse parêntese em forma de post quando encontrei esse belíssimo registro fotográfico.

*****

Duas coisas marcaram minha infância, para efeitos dessa história:

- a vida social intensa dos meus pais;
- viagens mil, para tudo que é canto deste país.

A gente vivia recebendo gente em casa e indo na casa dos outros. E viajando. Meu Deus, pra que tanta viagem? Quem diria que pais extrovertidos multiplicariam em três criaturas das cavernas, não é mesmo? Bom, entre os três milhões de amigos dos meus pais, tinha essa família carioca que morava em São Paulo, mas em algum ponto acabou voltando pro Rio. Quiqui meus pais acharam incrível fazer? Isso mesmo, esperar o carnaval mais próximo, botar as duas pirralhas no carro e ir rumo ao Rio. No. Carnaval. Aí cêis perguntam de onde vem meus trauma tudo e veja só que começaram cedo.

O ano era 1989, de modos que eu ainda tinha 8 anos, minha irmã tinha 3. 

O plano era ir direto pra cidade do Rio e depois ir visitando outros lugares na volta pra São Paulo. Então passamos vários dias entre Rio e Niterói e meus pais aguentando meus comentários super perspicazes, estilo "AI MEU DEUS, TÔ RESPIRANDO O MESMO AR QUE O CID MOREIRA" ahahhaa que dó da criança perturbada.

A gente fez um monte de passeio óbvio, tipo ir em praias famosas, subir o Corcovado (com a pequena Vanessinha contando os degrau tudo, que horror), ir ao sambódromo vazio e sair sambando loucamente, toda sorte de morros que não envolviam favelas, etc etc etc. Quase tudo com mais gente junto.

Mas teve esse dia que saímos só nós e uma das filhas do amigo do meu pai. Ficamos andando de carro pela cidade e eu não tenho muitas memórias desse dia, além de a gente na praia, uma coisa que sempre me dá aflição, pisar na areia e tal. Só que foi nesse dia que eu descobri a existência de tatuís e vos digo: se fosse possível um cerumano voar, eu teria descoberto a forma naquele dia. QUE.NOJO.MELDELS. Então eu fiquei muito traumatizada, querendo apenas voltar pro carro e pro cimento o mais rapidamente possível.

Pois a hora chegou e aí eu posso estar um pouquinho enganada APENAS nesse trecho. Na minha memória, a gente tava num posto de gasolina, numa espécie de centro comercial. Meu pai foi pedir dica de passeio pra fazer com três crianças e o cara que falou com ele respondeu muito calmamente "atrás dessa cancela aqui é um condomínio, a Xuxa mora aí".

EU.JU.RO.

Minha mãe foi perguntar se a gente podia entrar, só pra dar uma olhadinha na fachada da casa da Xuxa e o cara falou que não, veja bem, não pode, cê vai me quebrar merrrmão, ah, pode. Sério, o cara abriu a cancela e a gente entrou no condomínio onde morava a Xuxa. Três crianças gritando no banco de trás, porque o moço falou até o número da casa. E a gente lá dentro bem contente tentando encontrar onde ficava. 

Cê imagina o tamanho do lugar, né? Porque o tio falou que não era pra gente parar nem descer do carro, era só pra olhar. Mas depois de andar por ruas e mais ruas, casarões e casarões, numa década em que câmeras de segurança praticamente não existiam (gente, A GENTE ENTROU NO CONDOMÍNIO, COMPREENDE?), não tinha um segurança no perímetro, cê pergunta se a gente ficou com a bunda quieta no carro? Claro que não.

Achamos a casa e ficamos lá "ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh". O portão estava com uma fresta aberta e meu pai foi botar o zóião lá e começou "o Senna tá aí, eu tô vendo o carro do Senna aí" hHAHHHAKSDJDSHKF, meu senhor, e você lá conhece o veículo do Ayrton Senna? E meus pais fizeram o que qualquer pessoa sensata faria: tocaram a campainha.

Vem uma pessoa muito bem humorada (não) até o portão e aí eles explicam que as crianças estavam super empolgadas pra conhecer a Xuxa. 

Gente, cêis tão alcançando a cara de pau?

A funcionária dizendo que não tem como, que ela chegou tarde em casa e tava dormindo, não podia chamar. Três crianças abrindo um berreiro "não acredito que tô tão perto da Xuxa e não vou falar com elaaaaaaaaaaaaaa", eu fazendo comentários "tô respirando o mesmo ar que a Xuxa" e chorando, aí a mulher falou pra esperar um pouquinho.

E deixou o portão aberto.

E ninguém entrou, porque a gente tem limite na falta de educação HAHAHHAHAHAHA.

Ficamos lá imaginando que a Xuxa OBVIAMENTE iria até o portão, claro, né? Ela não deixaria as quiança lá sofrendo, certeza. 

Aí volta a funcionária com aquelas fotos impressas em papel cartão, com assinatura também impressa, dá uma pra cada uma e fala "a Xuxa mandou um beijo pra vocês".

E FIM.

Sem zueira, a mulher simplesmente foi fechando o portão e tchau, galera. A Xuxa não foi falar com a gente.

Minha mãe então teve a brilhante ideia de tirar uma foto nossa lá na frente da casa, pra que a gente pudesse provar que esteve na casa da Xuxa, ué. Porque tá escrito com uma flecha "XUXA MORA AQUI", como vocês podem ver ¬¬ Mandou ninguém mentir falando que VIU a Xuxa, mas que todo mundo acharia legal a história de como a gente ficou lá mofando na frente da casa dela, chorando e mendigando amor.

Aceitamos a derrota e prosseguimos com a viagem. Quando chegamos em casa, fui eu lá bem contente com a foto da Xuxa e a foto da casa da Xuxa contar pra todo mundo e, surpresa, ninguém acreditava. 

- mas essa foto é impressa e o autógrafo também!
- eu sei, a gente não viu a Xuxa, foi a funcionária dela que deu.
- vocês podem ter pegado isso aí em qualquer lugar.
- podia mesmo, mas foi na casa dela.
- TÁ BOM QUE CÊ FOI NA CASA DA XUXA, NÃO SONHA!!111

E assim foi todas as milhões de vezes que eu tentei contar essa história. Fiquei véia, tenho mais de 30 anos e as pessoas ainda dão risada e me olham como se eu fosse louca, mas, gente, EU NEM VI A XUXA, CARA. Eu via a garagem da casa da Xuxa por uma fresta no portão e ganhei um cartão que devia ser distribuído a rodo pra todas as crianças do mundo, incluindo aquelas bocó que mandavam carta para a rua Saturnino de Brito, 74, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, CEP 22470. (Sim, de cabeça.)

Inclusivemente, no dia em que isso aconteceu, quando voltamos pra casa da menina e contamos pra família dela, ninguém levou a sério.

Então é isso: tô aqui contando pra vocês do dia quem um porteiro muito do sem noção abriu um condomínio de luxo pra cinco pobretão entrarem, pra fazer a alegria das crianças de passar.na.frente.da.casa.da.Xuxa.

E ninguém acreditar.

Pensa em baixas expectativas de vida.