terça-feira, 28 de setembro de 2010

das coisas que eu não entendo

Outro dia minha amiga Saraô compartilhou um vídeo de uma escritora - que eu acho que era a de comer, rezar, amar – em que ela contava sobre uma história que ouviu a respeito de inspiração.

Não sei se vou contar direito, se vou lembrar direito, mas ela disse que uma vez ouviu alguém contar que sentia como se a inspiração fosse um vento. Que vem vindo, vindo e te acerta. Se você consegue “pegar” esse vento, então o texto simplesmente brota enquanto você escreve (tipo o que está acontecendo comigo neste exato momento, em que não tinha plano NENHUM de abrir o word e começar a escrever). Se você não pega o texto, ele não morre. Continua voando até encontrar a pessoa com o papel e a caneta (ou o monitor e o teclado) que vai fazer com que ele nasça.

Ou seja, de acordo com essa visão, a ideia está lá em algum lugar, implorando pra existir. A dúvida é se você vai ser capaz de dar vida a ela ou não.

E por que raios eu estou a essa hora da noite, quando meu cérebro já dormiu faz tempo e eu estou enfrentando uma ressaca solidária filosofando sobre inspiração AND escrevendo a respeito?

Porque against all odds, bateu um *turbilhãozinho* com um texto de amor aqui na minha cabeça. O inconveniente disso é que o vento é forte e em círculos, de modo que não está querendo sair daqui, desde sábado à noite, quando a intempérie se instalou.

Eu não quero escrever. Porque eu não sou escritora e vai sair um lixo, porque eu vou sofrer, porque tem gente que vai se assustar, porque tem gente que vai apontar e rir, porque eu.não.quero. E tenho direito de não querer. Mas ele não vai embora, ainda que eu finja que não estou ouvindo.

Acho que vou ficar depois do horário espancando a máquina de escrever do trabalho. Assim não existirá registro eletrônico (do tipo que espalha muito fácil) e queimar papel é até bem fácil. Porque eu acho que se não parir esse bendito, como em qualquer parto que dá errado, ele não morrerá sozinho.

Morreremos os dois.
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Se um dia você precisar torturar alguém, é só prender no meu cérebro.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

uma pessoa problemática

Eu sempre achei que sofria de algum tipo de síndrome de Peter Pan. Um pavor meio doente de crescer, sabe? Vai ver foi por isso que eu fiquei com essa estatura indecentemente baixa. (rhysos)
Só de pensar em ser responsável pelas coisas, tinha 12 tipos de nervoso e ficava aqui numas de me recusar a crescer. Dos 25 em diante, acho que só não choreeeeei e sofri no aniversário de 30.

(Mas aí é porque o universo foi BEM LEGAL e eu... FOCO. Ok.)

Aí, tava no meio dessa linha de raciocínio, praguejando Tom Hanks porque não quero ser grande nem a pau, e me ocorreu que na verdade é o contrário: eu nunca nem fui criança.

Não vou falar sobre responsabilidades e ~adultices~ aqui, que não quero apanhar nem discutir com seu ninguém. Mas a primeira vez que precisei de apoio psicológico na vida, foi quando comecei a ter pesadelos com morte. Eu sempre fui meio Coelho Branco, achando que não.ia.dar.tempo. Não tinha nem 10 anos e achei que não ia dar tempo de viver, veja só você.

Nessa época começou também um surto bem legal: toda vez que eu começava a acompanhar alguma coisa na TV - podia ser um seriadinho (armação ilimitada OI), um filme (tipo a pequena sereia), um capítulo climão na novela (eu prefiro melão) - eu tinha certeza que ia morrer antes de ver o final.

Eu imagino que o nome científico disso seja ansiedade, mas eu sempre me nego a dar nome pros meus problemas, pra evitar que eles sejam reais.

Aí você pensa: já que eu cresci e agora sou mulher tenho que encarar com muita fé, isso passou, né? Pois eu vos digo que piorou. Agora precisa de muito menos: a pessoa começa a me contar uma história com mais detalhes do que eu quero ouvir, ou não responde minha pergunta objetivamente, eu começo a sentir os efeitos do medo de a morte me adicionar no foicebook (ahahhah roubei e nem sei de quem). Eu tenho medo de ter algum tipo de morte fulminante, ali, antes de terminarem os 5 minutos de agonia de espera.

So doente?
(não respondam)

Outro dia estava trocando emails com um amigo, falando da minha incapacidade de entender o que eu mesma sinto ou acho sobre a vida. Pra falar a verdade, acho que tem umas 5 ou 6 pessoas na minha lista de email que sofrem com essas divagações (e mais algumas que sofrem no mundo real). Então sempre fica tudo mais fácil se eu escrevo. Chega a ser engraçado escrever e guardar, encontrar depois de algum tempo e achar graça do desespero do momento. Ou sentir saudade de um sentimento, de uma dúvida que passou. Ou continuar entendendo porcaria nenhuma e ver que essa minha vida anda em círculos mesmo.

O caso é que eu queria falar um monte de coisa que não posso, mas mais que isso, eu queria entender um monte de coisa que eu não consigo.

Aí agora que eu entrei oficialmente pra terceira idade, tô numas de ter medo de morrer sem ter falado tudo que eu tinha pra falar. O que seria incrível, ainda ter O QUE falar. Tava aqui pensando numa solução pra isso, porque tem coisas que as pessoas não estão preparadas pra ouvir, né? E já que se eu morrer não vou nem ligar, tava pensando aqui em escrever umas cartas e deixar tudo em bolinhos pré-endereçados, pra alguém entregar no velório causar climão manero e nego já parar de chorar por ali mesmo.

Talvez tivesse gente fazendo a maior reflexão, certamente ia ter gente procurando um carimbo de MALUCO, mas acho que ia ter gente que ia preferir que eu tivesse falado enquanto ainda tava viva.

Só que provavelmente isso é tudo desculpa da minha mente, pra liberar geral todas as vezes que eu tenho vontade de tagarelar.
O melhor é quando, depois de HOOOOORAS de falação, eu escuto “mas eu gosto de ouvir”.

(Não incentiva... senão não paro nunca mais.)

:)


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

filosofando e cantando e zzzzzz

Desde criança, eu sempre achei que era muito boa em projetar o (meu) futuro. Eu sabia que ia ter algum trabalho chato e burocrático, por exemplo. Porque, veja bem, não é igualsonhar ser bailarina, querer ser astronauta. Ninguém quer ser funcionário público, no máximo a gente acha legal ser patinadora do Carrefour. Por isso que eu digo que já sabia: eu reunia 3 ou 4 meninas, espalhava blocos, réguas e canetas, sentava no lugar mais alto da escada e saía mandando todo mundo preencher planilhas, escrever relatórios, fazer ligações. Na minha frente, uma máquina de escrever imaginária (dá um desconto que isso foi lá por 88) e um telefone com 738 botões, em que eu colocava as pessoas na espera. Uma profetiza, praticamente.

Além do trabalho BO-RING, eu já previa como seria meu outfit (boring também, né?), o corte do meu cabelo, o apego eterno aos tênis (por que eles não podem ser sapatos sociais também, hein?) e esse tipo de bobagem. Mas, assustador mesmo, era visualizar meu futuro num apartamento de janelas altas e enormes, quase futurista de tão clean e esterilizado, com uma samambaia e um aquário. E o peixe daqueles de plástico, pra não correr o risco de morrer de tristeza e abandono. E fim.

Resumindo: eu sempre achei que em algum ponto da vida eu acabaria sozinha. Mas assim, SUPER sozinha.

Que coisa amarga, não? Ou realista, sei lá.
(Mas triste eu nunca achei.)

Porque eu tenho um problema sério de egoísmo, sabe? [cê jura?]

Uns tempos atrás eu tava filosofando com o meu eu - única maneira válida de filosofar, pra que ninguém discorde de mim - e pensando no quanto é difícil viver quando absolutamente tudo tem que ter um significado na minha vida. E acaba que importa só o que eu penso sobre as coisas.

Outro dia, eu tava lendo um post que dizia:

“eu sou muito autocentrada, não no sentido de egoísta (esse também, claro), mas de ficar sempre tentando captar a sensação que aquele momento, fato, parque, música, filme, homem bonito desperta em mim.

sabe?

eu nunca tô "aqui". tem o aqui e eu tô perdendo ele (o aqui), olhando pra dentro. eu não me lembro dos filmes porque fico cada fala tentando pensar se eu sei aquela situação retratada, se eu já passei ou falei algo parecido.

enfim: é sempre all about me.
é um inferno.”

E eu fiquei primeiro triste, porque não fui eu a escrever isso assim, tão simples. E depois fiquei mais triste ainda, porque é exatamente como eu penso. Veja só que desde aquele dia (que já faz quase dois meses), eu tento escrever sobre o assunto e não consigo. Tamo aqui praticamente no quadragésimo oitavo parágrafo e eu não disse o que tinha pra dizer.


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Uma parte do meu comentário pra esse post dizia que eu acabo achando mais graça no meu reflexo no olho do outro do que no outro em si. Do que o outro provoca em mim do que o que o outro é. Eu deveria estar internada, pelamor.


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Outro dia estava atrapalhando fazendo companhia pra alguém que precisava trabalhar. De modo que, pra me distrair, fui até uma estante cheia de livros procurar por um cuja capa de trás (oi?) tinha uma citação que eu adoro, mas tinha perdido fazia muito tempo. Na mesma prateleira, meus olhos já tinham passado pelo título “o amor a solidão” várias vezes. Então eu peguei esse também e levei comigo.

Acontece que na manhã daquele mesmo dia, eu estava justamente pensando nessas questãs da vida.

(Não vou dizer que era porque a companhia em que eu estava é daquelas tão boas que fazem a gente querer ter certeza de que está aproveitando tudo direito, que é pra não assustar ninguém.)

E aí, ao tirar o livro da prateleira e virar ao contrário pra ler a capa de trás, o que eu vejo? Vejo alguém que resumiu ainda melhor o que eu estava pensando:

“nós somos prisioneiros do futuro e de nossos sonhos: de tanto esperar amanhãs que cantem, perdemos o único caminho real, que é o de hoje. No entanto é preciso viver e lutar: partir para o assalto ao céu, mesmo que esse céu não exista. Precisamos inventar uma sabedoria para o nosso tempo.”

Resumiu tanto minha vida que ó, nem preciso mais de ajuda psicológica.

Parar de pensar no daqui a pouco, comofas? Manter o foco no agora, absolutamente agora, não em daqui um segundo... é possível? Parar de planejar, de procurar causas e efeitos, de onde viemos, pra onde vamos e pensar só no que está acontecendo agora. Me pergunto se alguém é capaz. Eu adoraria.


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Eu fico numas de pirar com tanto egoísmo, porque rola todo um medo de ser impossível ser feliz sozinho, né? Mas sozinho não as in SEM MARIDO. Sozinho as in sem vida social. Tava aqui com esse post pela metade, quando me surge uma reportagem que quem enche a cara vive mais. Poxa vida, universo. ATÉ POR ISSO vou ser castigada? Eu não sou uma sóbria chata, eu juro. Os outros é que têm que beber pra que eu possa agir naturalmente.
Mas aí, no meio da minha leitura dinâmica, passei por um parágrafo que dizia que quem bebe socializa mais e, isso sim, é muito importante pra manutenção da vida: vida social.

Minha sorte é que eu faço amigos até bebendo leite (e morrendo de alergia pelos sete dias subseqüentes).

OH WAIT. Nesse caso, talvez seja realmente válido encher a cara, se a intenção é viver mais.

*****

Sabe, eu sempre tive problemas não só em acreditar em amor, mas em aceitar amor.

Mas eu não tô com vontade de explicar isso agora.

O caso é que eu sempre achei um absurdo a fusão de pessoas, perda de personalidade, abdicação da individualidade (ui, me perdi RISOS).

Mas como seu André Comte-Sponville me convenceu a ler o que ele tinha a dizer, mesmo que o céu não exista, eu continuei a folhear o livro. Cheguemo num ponto em que ele falava de solidão E amor (cê jura? Má não era justamente esse o título do livro, inteligentona? Era.).

E ele disse:

“Assim, solidão não é a rejeição do outro, ao contrário: aceitar o outro é aceita-lo como outro (e não como um apêndice, um instrumento ou um objeto de si), e é nisso que o amor, em sua verdade, é solidão.

O amor não é o contrário da solidão: é a solidão compartilhada, habitada, iluminada - e, às vezes, ensombrecida - pela solidão do outro. O amor é solidão sempre; não que toda solidão seja amante, longe disso, mas porque todo amor é solitário. Ninguém pode amar em nosso lugar, nem em nós, nem como nós. Esse deserto, em torno de si ou do objeto amado, é o próprio amor.

Quantos fogem da solidão (...) e são incapazes de um verdadeiro encontro? Quem não sabe viver consigo, como saberia viver com outrem? Quem não sabe morar na própria solidão, como saberia atravessar a dos outros?”.

E olha, eu costumo é fugir dos outros, de viver comigo eu entendo.
Não é incrível que, de acordo com esse ponto de vista, eu seja assim uma pessoa super preparada pro amor? Como diria Maria da Graça, só basta acreditar.
Melhor que cartomante.


Tudo que tiver que ser, será.

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Mas será que não dava pra eu ter um trabalho menos chato nos próximos 20 anos? Perguntar não ofende, né?

(Tava em dúvida se colocava isso no tumblr ou no blog. Ninguém vai ler mesmo, vou colocar nos dois.)