quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

a series of unfortunate events

Migas, xô avisar aqui: este post conterá spoilers de The Oranges, Muitos, todos. Pode conter spoilers de The Martian e Childhood's End. Eu posso até colocar aquele lindo e horripilante leia mais, mas ele não funciona pra quem lê por feeds, então já tô avisando já pras madame que corre de spoiler tanto quanto eu.


No episódio de hoje, eu vou estar falando de divagações existenciais decorrentes de entretenimento televisivo.

Cê vê: veio o recesso e, ao contrário do ano passado, que todo mundo vazou desta casa, deixando pra trás apenas limpeza, silêncio e paz (além do fato de que eu não tinha nada pra fazer além de comer e dormir), neste ano a casa encheu de gente desocupada e de férias, fazendo barulho, zona e sujeira (e eu tenho prazos de entrega de trabalho desde a primeira semana de janeiro).

PQP, que frase mais mal escrita e cheia de vírgula e que não vou arrumar.

Bom, aí eu fico vendo o povo de varde, cada um vendo um filme nas alturas, ou dormindo, ou tomando sorvete, ou indo passear, ou whatever e eu aqui mofando na frente do computador e ficando cada vez mais inchada a cada dia por causa dessa merda de calor e da falta de movimentação e minha força de vontade de estudar vai esvaindo até que é dia 30 de dezembro e meu relatório tá com exatamente duas linhas escritas.





tão pocas palavra mas tão linda as ibagem


Então o que eu fiz? Fui na locadora da internet e peguei um monte de filme que eu não vi em 2015. Se você me perguntar tudo que eu vi semana passada, vou responder: não lembro. Porque meu cérebro derreteu em algum lugar ali por outubro e tal. Sei que fui baixar filmes de alguns dos maridos de 2016 (pois é, nem eu acredito) e vi MUITA porcaria (mas vocês só saberão quais em janeiro, SE eu lembrar). E aí peguei coisas maravilhosas, como Matt Damon perdido em marte DE NOVO.

(Matt Damon JAMAIS entrará numa lista de maridos, o que é uma pena, pois não posso usar a inédita piada I'm fucking Matt Damon com alegria.)


O LEIA MAIS TÁ A PARTIR DAQUI, KIRIDAS.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

previously on: caverna do dragão mestrado edition

Este post não tem a menor pretensão de ser engraçado ou divertido. É só um desabafo que se autodestruirá muito em breve, mas que meique explica minhas postagens neste ano e meu ~bom humor~ sem data pra terminar.

RECAP: fiz a especialização em 2005, não tinha mestrado. O mestrado abriu em 2010, me encheram os pacová pra me inscrever. Encheram tanto que em 2014 fiz uma disciplina isolada, pensei "whatarrel" e me inscrevi. Pedi pra um professor específico ser meu orientador e ele fez drama pra aceitar, dizendo que eu era muito ~petulante~ e ele trabalhava com temas definidos e eu teria que aceitar decisões alheias blábláblábláblá. Disse sim, porque veja se eu tô preocupada. Inclusive, tive problemas mais importantes que esse pra resolver, me perdi nas datas (sendo que a pessoa passava todo dia na minha sala pra me lembrar de me inscrever, mas não achou conveniente confirmar a data da prova), fiz a prova sem estudar, passei, olha que alegria, num tem erro.

HA

HA

HA

HAHAHAHAHA

Meu curso é dividido em 3 trimestres por ano, sendo que o segundo é uma alegria fatiada por um recesso desnecessário.

TRIMESTRE UM

Duas matérias decepcionantes. Antes da primeira semana eu já estava chorando, literalmente. Era tanto trabalho, tanta bobagem, tanta aula ruim... Lembrei de um conselho no primeiro dia de aula, em que alguém disse que sozinho a gente não sairia do lugar. Operei um milagre pessoal e fiz amigos. Mas as coisas ainda não andavam. Não tinha mais tempo livre - e não tô dizendo livre pra ler livros recreativos, passear, ver gente. Não tinha tempo pra dormir, tomar banho, comer. Minha casa começou a cair aos pedaços, meu cachorro e minha gata deixaram de entrar no meu quarto, porque eu não estava dando atenção pra mais ninguém. Não sei o que me deixava mais sofrida, se era estar ocupada por uma coisa que eu nem acreditava ou se era por tudo que eu estava deixando pra trás.

Tentei algumas vezes me impor horários ~recreativos~, mas tudo que eu consegui foi brigar com gente de quem eu nem gostava tanto assim, porque ninguém entende pelo que você está passando, ninguém se importa e você tem mais o que fazer.

Nesse trimestre eu tive a primeira nota baixa da minha vida e me deparei com o fato de que elas (as notas) são atribuídas subjetivamente. Deve ser por isso essa história imbecil de conceitos de A até E. Pessoas que trabalham em empresas que podem gerar bons contatos no futuro e são homens tirarão notas melhores que pessoas com melhor produção que não forem homens ou não tiverem nada pra dar em troca na vida. É muito frustrante.

Então de março a maio, a coisa foi de "ó que maravilha que eu tô aqui sem nem ter estudado, sou muito inteligente" a "o que eu tô fazendo aqui, minha vida é uma merda".

Atribuí esse sentimento à minha idade, à falta de ritmo que ficar sem estudar me causou, ao fato de que eu tinha que passar muitas horas dentro do mesmo lugar, com as mesmas pessoas... Deveria ter existido um recesso de duas semanas entre esse trimestre e o seguinte, mas a desorganização dos próprios professores inviabilizou esse direito. No domingo em que tudo acabou, respirei fundo e me preparei psicologicamente para o 

TRIMESTRE DOIS

Olha, nada podia me preparar pra a desgraceira que estava vindo. Nem o privilégio de conhecer o sistema por dentro.

Uma das minhas matérias era como se fosse uma continuação das duas primeiras. Não foi surpresa nenhuma descobrir que eu não tinha aprendido NADA e que aquela matéria teria que render por três. Claro que isso não vem sem uma exaustão sem limite, mas era um cansaço intelectual, gratificante até. Terminar a matéria com a dica de que a minha foi a segunda maior nota da sala e a melhor foi bastante alavancada pelos trabalhos em grupo feitos comigo foi recompensador o suficiente.

MAS.

Enquanto isso, na outra matéria, o pau comia. Assédio, ofensas, aulas de péssima qualidade em que não tinha como ganhar. Todos os critérios de avaliação eram subjetivos e você poderia receber qualquer nota e qualquer justificativa e ser obrigado a aceitar.

Da primeira vez que fui ofendida (por mais de 5 minutos, na frente da sala toda), tive uma crise de ansiedade tão forte que pensei que fosse morrer. Nunca tinha tido uma dessas e nem minha família aceitou, tive que melhorar na porrada mesmo. Diz a lenda que a pessoa que deve ajudar a gente com esses problemas é o orientador, então eu esperei ter condições de me comunicar com outro terráqueo até falar com ele. Isso levou 14 horas. Logicamente, a pessoa que me ofendeu contou sua versão da história primeiro. Quando eu cheguei, ele nem me deixou falar. Disse que a culpa era obviamente minha - nada aconteceu, eu parei na frente da sala e a pessoa começou a emitir impropérios, sem que eu tivesse falado. Não tive nenhum apoio. A frase que eu ouvi foi "se vira pra passar nessa matéria".

Ao longo das semanas, eu me tornei o cabo de guerra. Escutava que se não tivesse projeto, não seria aprovada. Escutava que não precisava de projeto e estava arrumando desculpa pra ser reprovada. A essa altura, eu não tinha um projeto de pesquisa, porque a postura do mestre dos magos passou de "eu tenho uma linha e você se enquadra nela" pra "tu te tornas eternamente responsável pela dissertação que escreves". Até ali, tinha passado 4 meses indo a congressos, palestras, seminários, feito contatos, conhecido pessoas. E a acusação era de que eu estava esperando o trabalho cair do céu. Eu queria falar de transporte urbano, então consegui o apoio do ~presidente dos ônibus~, do diretor do trânsito, do cabeça da iniciativa das bicicletas. Tão entendendo? E o mestre dos magos dizendo que eu estava viajando num delírio hippie, a outra professora ameaçando me reprovar se eu não trocasse de orientador.

No meio disso tudo veio o recesso, que era um descansinho apenas para professores, já que fomos soterrados em prazos. Nesse meio tempo, sofri meu acidente famoso no gelo que, pra vocês terem noção da gravidade, ainda não terminou de curar. Estava drogada até o cabelo, com dificuldades de locomoção e fui obrigada a apresentar um trabalho por "sorteio" nessas condições, ouvindo que minha nota não seria atenuada pela minha dificuldade, que o que eu faço na minha vida particular é problema meu e ninguém mandou eu achar que podia me divertir durante o mestrado.

Foram 4 meses de desespero, em que eu procurava ajuda e era sumariamente ignorada. Um dia, depois de uma dessas ofensas que tiram o rumo, fui cancelar minha matrícula. Não encontrei ninguém pra fazer isso, mas um professor que estava por ali resolveu me acalmar. Contei a história e ele me disse pra pensar por algumas semanas. Caso eu resolvesse que não tinha mais jeito, ele tinha uma proposta.

Aconteceu mais uma vez, mais uma ameaça de reprovação. Fui procurar minha mãe (que trabalha junto com essa gente bonita) e ela não estava. Quem estava era o professor que me ofereceu ajuda e, desta vez, aceitei.

Começou aí um plano silencioso para conhecer pessoas, tomar decisões, aprender o que eu ainda não tinha aprendido. Em um mês eu tinha evoluído mais que nos 12 anteriores. Fiquei encantada com a possibilidade de produzir academicamente, como eu sempre tinha esperado que acontecesse. Tomei minha decisão e ficamos (os envolvidos) esperando a hora certa de tornar tudo público.

TRIMESTRE TRÊS

Foi uma operação de guerra pra esse semestre funcionar satisfatoriamente com um pé em cada canoa. De um lado, mantendo o mestre dos magos em banho maria. De outro, correndo atrás do prejuízo de um ano inteiro. Também não surpreendeu o pouco que eu evoluía na minha "condição oficial". Eu era culpada o tempo todo de viver em baladas, enchendo a cara, gastando o tempo em diversão. Enquanto isso, meus amigos todos reclamavam do quanto eu estudava, assim como meus colegas de trabalho e minha família. Eu já não tinha mais vida, fora aquela de fachada que a gente leva na internet. Até que chegou o momento de cortar os laços e, bom, sobre essa parte não posso falar muito ainda, porque não está concluída.

Enquanto isso, o pior trimestre de todos acontecia: 5 artigos por semana para serem lidos e revisados, um projeto complexo de pesquisa operacional feito computador, também semanalmente. Entre um e outro, não dava nem pra ver a semana passando. Sabe quando a gente tá no mar, se distrai e vem uma onda na cara? Aí a gente se afoga, se desespera, se debate e, quando o ar finalmente entra no pulmão, outra onda vem e você acha que vai morrer? Eram assim as minhas semanas. Até agora não sei como dei conta. Quer dizer, não dei. Pedi PELOAMORDEDEUS uma extensão de prazo pra um projeto final e isso nos leva à seguinte situação:

Enquanto todo mundo já está de férias, eu tenho uma reunião amanhã cedo, pra decidir os rumos da minha dissertação e quem será meu orientador ou minha comissão de orientação. tudo que eu passei um ano estudando foi pro ralo e eu tenho que começar um projeto do zero.

Além disso, tenho um trabalho pra entregar dia 10 de janeiro, que consiste de observar um lugar com 25 postos de trabalho, encontrar os tempos de cada um deles, descobrir qual é sua distribuição estatística e seus parâmetros, alimentar um sistema de computador que eu mesma vou criar, pra tentar replicar a realidade. Considerando que isso vai dar certo, tenho que transformar em um exercício com enunciado e explicações e etc.

Isso quer dizer o que?

Que tenho vontade de assassinar cruelmente as pessoas que vêm dizer "ué, mas é férias agora, você vai poder sair de casa, né?"

SERIA.

Se ninguém tivesse ferrado minha vida e minha dissertação, eu teria sim esses 10 dias de descanso mental, desde que me comprometesse comigo mesma de fazer o trabalho restante em 6 (não poderia me dar ao luxo de dormir).

Só que além desse trabalho, eu tenho que ter uma referência bibliográfica digna de qualificação até o mesmo dia 10 de janeiro, o que significa ler pelo menos 50 artigos nesse período. Você já leu 5 artigos científicos por dia? O que aconteceu com sua sanidade mental?

Aí as pessoas leem que vou ficar 10 dias em recesso e acreditam que serão 10 dias de vidaloka, na balada, enchendo a cara. Não é bem isso não, migas. Serão 10 dias estudando em casa, com a família inteira de férias, com um tocando guitarra, outro ouvindo filme de gurra nas alturas, outro ouvindo titanic pela centésima vez, outro desmontando a casa e remontando em outro formato, apenas por motivos de tédio. Com obrigações sociais de natal e ano novo (dois barato pra que nem ligo, só queria dormir). E pensando seriamente em largar tudo e aprender a gravar nome em grão de arroz.

Então, sei lá, se você convive comigo em alguma esfera, mesmo que só virtual, não torra minha paciência, não cobra nada, não pede nada, não fala desse mestrado como se fosse um clube secreto que entrei com meus amigos especiais pra me fazer de importante e ignorar que você existe. É o pior pesadelo com que me comprometi na vida e não quero jogar fora depois de tanto sofrimento.

A reunião de amanhã pode amenizar minha vida, então oremos. Mas se não for o caso e eu só sentir alegria de viver novamente em 2017, tem duas opções: uma é vocês tomar seu rumo. A outra é alguém sobrar na porta me esperando.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

otis e sua vida em vão



Eu tinha que ir no primeiro andar de um prédio, cuja fila do elevador está sempre imensa, mesmo que a maioria das pessoas tenha que ir sempre só no primeiro andar mesmo. Desde a primeira vez que fui lá, só subo de escada. Não julgo quem sobe de elevador. Tem dias - como hoje - em que minhas articulações estão tão sofridas que 10 passos já parecem provação, e não tem quem diga com a minha cara rechonchuda e saudável. 

Bom.

Cheguei lá, entrei no prédio, desviei da fila gigantesca do elevador, subi as escadas e, pra minha surpresa, precisaria levar um documento no último andar do prédio. Avaliei as possibilidades e decidi esperar pelo elevador ali do primeiro andar.

Como eu sou muito inteligente e sei que em andares com dois botõezinhos a gente aperta aquele para a direção pretendida, apertei o botão com flechinha pra cima. Sei que parece um conceito óbvio, mas anos trabalhando em prédios me mostraram que as pessoas apertam os dois botões achando que chega mais rápido, ou apertam o botão de cima quando querem descer, porque estão avisando ao elevador que ele precisa subir.

HAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHA

Sério.

Mas eu sei usar o elevador e estava solitária no corredor, observando o botãozinho da flecha que aponta pra cima aceso.

Chega uma véia.

A véia olha o botão, olha pra mim, respira fundo, abre a boca:

- você apertou o botão de cima por quê?
- porque eu quis.

Ah, cara, pelamor. 

- mas esse botão é pro elevador subir.
- é memo?

Véia, pls.

- pra que andar você vai?
- desculpa, mas isso não é da conta da senhora.
- eu só preciso descer um andar.
- que bom pra senhora, eu vou pro último andar :)

Comecei a ficar bem humorada e espalhar alegria, né?

- MAS EU PRECISO DESCER!!!!
- então é só a senhora apertar o botão com a flecha pra baixo e esperar quando ele voltar.
- mas o meu é um andar só, você tem que me deixar descer primeiro!
- infelizmente, não é assim que elevadores funcionam.

A véia bufa.

O elevador chega e a véia se joga na minha frente, se atira lá pra dentro e espanca o botão do térreo, como se não houvesse amanhã. Ainda assim, obviamente, o elevador começa a subir. Aperto calmamente o botão do andar onde vou descer e a véia vai a viagem toda berrando que o mundo tá perdido, que ninguém é capaz de fazer favor pros outros, uma caridade.

E eu vou aqui reclamando que no ano do senhor de 2015 as pessoas ainda não aprenderam a usar esse negócio complicadíssimo chamado elevador.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

my best sister's wedding

Hoje eu vou dividir um pavor aqui com vocês e adoraria que ninguém

a) minimizasse o sofrimento
b) mandasse procurar ajuda psicológica
c) desse conselhos

Especialmente por que os conselhos sempre giram em torno de minimizar o sofrimento, procurar ajuda psicológica ou o maravilhoso "por que você não se afasta?". 

OLHA, MIGOS, CÊIS ACHAM QUE NINGUÉM PENSA EM MORAR NUMA CAVERNA PRA SE ~AFASTAR~ FREQUENTEMENTE?????

Tejem avisados.

*****

Aqueles de vós que não são velhos o suficiente ou tinham mais o que fazer em outras épocas das suas vidas ou tinham mais critério com suas leituras, sei lá, talvez nunca tenham me visto bradando contra o casamento nesta internets. Não é que eu seja contra, de jeito nenhum, tenho até amigos que são. Mas eu acho que é um troço bem inválido e, definitivamente, não feito pra mim.

Descobri isso muito cedo na minha vida. Eu era feministinha muito antes de saber o que era feminismo, eu nunca fui fã de dividir e me responsabilizar por outras pessoas, sabe? Aquele blábláblá que cêis já tão cansados, que eu não vou lavar a roupa de ninguém, não vou fazer almoço de ninguém, ninguém dorme na minha cama, ninguém tira minhas coisas do lugar, etc, ad eternum. Então eu nunca tive pretensão de casar, nunca me visualizei nessa situação, nunca nem namorei direito, porque namorar é uma coisa que faz os homens pensarem que estamos prometendo amor eterno e eu acredito mais em homeopatia que em amor eterno, então cê veja. 

Alguns de vocês podem dizer "ah, mas eu lembro daquele seu namorado" ou "eu lembro de você apaixonadinha". Se você lembrar dessas coisas durando mais que 6 meses, pode vir aqui retirar seu prêmio, né? Inclusive, as pashãozinha resistentes são as platônicas, because in platonismo we trust. 

O problema é que essa minha revoltinha com o acasalamento humano meique saiu respingando pra tudo que é lado e eu achei que tinha estragado minha própria irmã, cuja vida não tem nada a ver com a minha. A pessoa passou 37 anos com o mesmo namorado, amando e sendo feliz, mas sendo resistente à ideia de casar por alguma razão que jamais saberemos qual é. Então eu parei de falar de relacionamentos pra sempre, só aviso potenciais interessados em me encher o saco com essa proposta estapafúrdia. 

Aí, uns meses atrás, minha irmã foi pedida em casamento e disse sim.

WEEEEEEEEEEEEEEEEE

Passadas as 24 horas iniciais de incredulidade, alegria pelozotro, assentamento da notícia e essas coisas, caiu a realidade em cima da minha cabeça como uma bigorna:

Minha irmã

mais nova

mais bonita

mais magra

vai

casar.

Calma, que isso não é aquele desespero de solteirona sofrida de filme de comédia romântica. Não reavaliei minha existência, não me senti solitária, não estou sofrendo enquanto cerumano.

Infelizmente, minha irmã também acredita em família, de modos que aqueles parentes insuportáveis com os quais consegui cortar relações depois de adulta estarão todos convidados para esse incrível dia em que, em vez de fazer ode à felicidade da minha irmã e de seu futuro marido, essas lindas pessoas estarão preocupadas em me infernizar porque estou 

velha

feia

gorda

sem homem.

Entenderam? Tipo, um dia bem feliz da vida da minha irmã provavelmente será um dia bem horrível da minha.

Pra melhorar? Serei madrinha. Magina a delícia de saber que os comentários que não ouvirei (se tudo der certo) terão o seguinte conteúdo: coitada, né? Deve ser difícil ser a irmã feia, gorda e militante que ninguém nunca vai querer :(

Cêis tão alcançando?

A bad bateu ontem de forma definitiva quando ouvi meu pai no telefone com os padrinhos dela, que são pessoas ADORÁVEIS.

Uns 5 anos atrás, nem gorda eu era ainda, a casa onde eu moro ainda era a casa da minha vó. Ela estava fora por um tempo quando essas pessoas apareceram pra visitar. Minha casa era muito pequena e essa tinha lá todo o espaço desocupado, meus pais ofereceram pra que eles se hospedassem ali. Achei ótimo, porque eu sempre tinha uma desculpa pra não aparecer na casa da minha vó. Até um domingo em que eles amorosamente ofereceram um almoço pra gente, uma bacalhoada.

Achei incrível, especialmente porque a família é vegetariana desde 1993, então não tinha mesmo como saber que ninguém ali comeria bacalhau nem morto, né? Não é culpa deles. "Ah, mas separa a batata, então", eles disseram. Mas um deles olhou pra mim e completou: "menos a Vanessa, né? que gente gorda tem que ficar longe de batata".

:)


*****

"Nossa, que paranoia, fia, daonde cê acha que vão ficar comparando assim, que doença."

Minha família tem esse bonito hábito desde que minha irmã alva, loira e de olhos azuis nasceu. A gente foi crescendo e a coisa foi ficando cada vez mais ridícula, os comentários eram sempre "quem bom que você é inteligente, né, porque ela é mais bonita".

O que a sociedade ganha com esse tipo de comparação, jamais saberei. É mentira que ela é mais bonita? É ÓBVIO QUE NÃO. É igual ser a gêmea da Gisele, sabe? A gente tem espelho, a gente tem noção. Não precisa ficar vindo avisar, até porque nunca fui me inscrever em concurso de beleza, né, mores. Além dessa alegria, minha irmã (de vez em quando) acredita que só dá pra ser uma dessas coisas e que ela não é inteligente. Tá todo mundo de parabéns.

Mas minha família é superficial assim mesmo e, sendo eu a única gorda e não agraciada pela boa genética, tenho que escutar desde os primórdios que O IMPORTANTE É TER SAÚDE, ops, não, péra, que bom que cê é inteligente.

Massssssssssss, isso não é exatamente verdade.

Termina o ensino médio com condecorações, altar na escola, recomendações de amor da diretoria e tal: mas e os namoradinho? Nessa idade num tem namoradinho? Quem muito escolhe acaba não escolhida.

Passa pela faculdade com honras, elogios e o terceiro maior IRA: MAS E OS NAMORADO, MINHA FILHA???? VOCÊ JÁ TEM 22 ANOS, uma moça séria já teria arrumado um bom rapaz, sossegado na vida! Tá ficando velha pra ter filho, os home bão já estão comprometidos, sério, será se você é lésbica? AHHHH QUE DESGOSTO, MEU DEUS, EU PREFERIA QUE VOCÊ FOSSE BURRA.

Faz três especializações, sendo uma delas numa área predominantemente masculina, só tira 10, dá olé nozomi tudo, tem convites de mestrado chovendo pela janela: sério que cê tava numa sala só de homem e não arranjou nem um???? O que tem de errado com você? Deve ser esse seu gênio ruim, minha filha. Deve ser essa sua mania de exigência, ninguém é perfeito não, você muito menos, não dá pra ficar querendo escolher demais a essa altura da vida.

Entra num mestrado em engenharia depois de 10 anos sem estudar, sem ser engenheira, sem ter tempo de se preparar, tem um monte de nota excelente, tem um monte de professor interessado em projetos, tem proposta de doutorado se não perder a paciência com a academia antes: viu? Passou dos 30, largou mão da vaidade, virou essa bola, virou feminista, se recusa a entender que mulher nasceu pra cuidar da casa e homem não tem paciência pra mulher bruta, pedante e engraçadinha, vai ficar aí largada mesmo, né? E aí, quando for velha, quem vai cuidar de você? Seus irmãos não têm obrigação. Vai ficar numa casa com 40 gatos? Que perspectiva horrível, você não acha?

Não, não acho.

Ousseje: não adianta ser legal, responsável, razoavelmente bem sucedida, inteligente, divertida, educada e tudo mais. As pessoas vão enxergar uma mulher velha, gorda, sem homem.

Mal posso esperar.

Não tem como ganhar.

*****

Aí eu comecei a pensar em algumas soluções super possíveis

DIETA DE FOME

Eu pensei aqui em várias palavras horríveis pra denominar essa atividade, mas o resumo é esse mesmo: parar de comer por 360 dias. Num é diminuir pra 500 calorias, largar mão da proteína, seguir o conselho do meu amado tio e me afastar de batatas: é virar faquir. É viver de luz. 

Da última vez que eu fiz isso, emagreci 2kg em 12 meses, então acho que vou conseguir vestir 48 no ano que vem :D

¬¬

APRENDER A COSTURAR

No último casamento que eu fui, cada loja de vestido que eu entrava era uma nova alegria. As vendedoras se desesperavam e insinuavam que obviamente não tinha pano o suficiente pra cobrir meus 3 milhões de metros quadrados de área. O que eu fiz? Fui a uma costureira. A vantagem é que a quilometragem de pano seria por minha conta, a fia tinha duas tarefas: entender o modelo que eu queria e costurar tudo na medida do meu corpinho. AHHAHAHAHAHAHA. Gastei uma fortuna em ticido, expliquei direitinho como queria o vestido (tem o post aí pra trás, gente) e não é só que deu errado, ela fez menor e disse que era uma dica pra eu emagrecer :)

No caso, então, se eu aprender a costurar, pode ser que eu tenha um vestido do meu tamanho pra usar e minimizar a catástrofe.

ENTRAR PRA UMA SEITA

De preferência uma seja contra casamento e essas coisas, aí eu digo que não vou poder estar comparecendo, que pena.

ME TORNAR ASTRONAUTA

Porque eu não vou descer de marte assim com essa facilidade se alguma nave me esquecer por lá.

CONTRATAR UM SILVIÇO DE ACOMPANHANTE.



Vou ser bem sincera com vocês. A primeira vez que eu assisti The Wedding Date eu achei um filme muito simpático, comprei o DVD imediatamente e tudo mais. Mas nunca me ocorreu o desespero da protagonista, justamente porque eu achava que ninguém na minha família (dentre aqueles com quem eu realmente convivo) ainda se casaria um dia. ESPECIALMENTE um dos meus irmãos. Eu sei que tem gente que se sente diminuída ou mal sucedida na vida se não segue a manada e sai do curso cresce-casa-temfilho e tudo mais, mas nesse filme dá pra sentir o desespero da sociedade te julgando porque você "ficou pra trás". A pena que as pessoas sentem porque você não tem um freaking marido e, PIOR, alguém da sua família tem.

Aí eu fiquei pensando que tanto faz o que você é, como é sua aparência ou o que você tem. Se tiver um homem do seu lado, validando sua existência, tá tudo bem.

Mas já que não temos um homem, eu pensei: por que não um homem perfeitíssimo?

De modos que abri a campanha no feici, que não obteve sucesso algum. Estava à procura de um rapaz bonito, que fosse capaz de fingir olhar apaixonado por mim e livre na data do casamento. Mas isso não é suficiente. Tem que ser alto, bem sucedido, inteligente, ficar bem de terno, divertido e fazer parecer que eu conheço algum tipo de magia.

- nossa, fia que velha que cê tá, né?
- mas olha meu bofe.

- engordou, né?
- mas olha meu bofe.

- feminista? que vibe.
- sim, mas olha meu bofe.

- mestrado a essas altura da vida? tinha que estar cuidando de uma casa, do marido, dos filhos...
- MIRA AQUI MEU BOFE RAPIDAMENTE.

Compreende?

Qualquer coisa que porventura esteja errada comigo aos olhos da sociedade será automaticamente apagada por um boy magia de qualidade, que faça todo mundo pensar MAS MDDC É FOLINHA VERDE QUE FAZ ESSA FIA COM ESSA CARA DE PASTEL AMANHECIDO TER UM BOFE DESSE????

É só isso que eu peço. Vocês conhecendo esse rapaz, favor empurrar na minha direção.
Dinheiro eu realmente não tenho pra pagar, mas disk a comida da festa estará ótima e tem sempre a minha maravilhosa companhia, que vale mais do que dinheiro.

:)