sexta-feira, 25 de março de 2011

sejemo franco, vai?



Capítulo I: dos mitos da inteligência, do poder, da força e da beleza e da síndrome de coitadinho

Quando eu era pequena e ia pra escola dominical, o dia que eu mais me irritava era o dia de aprender que quem tem mais sempre tem que ser compreensivo com quem tem menos. E, já que eu usei o nome escola dominical, deve ficar meio óbvio que o assunto não era bem material, mas essas coisas de bem interior.

Aí o resumo do negócio é o seguinte: quem sabe mais tem que entender quem sabe menos. O mais forte tem que proteger o mais fraco. MEU OVO.

Eu parto do princípio que todo mundo nasce meique mais ou menos igual (super precisa). Mas assim, fora deficiências óbvias, o cérebro (ou o espírito, fica a seu critério) de todo mundo pode chegar no mesmo lugar. O corpo não, eu admito, tanto em termos de beleza quanto de força. Mas inteligência e poder tão aí pra quem quiser usar.

Tem gente que não quer e a culpa não pode ser minha.

Aí assim. Nem na minha casa eu tenho a combinação genética mais favorável. Nem na minha casa eu tenho o QI mais alto. Nem na minha casa eu sou mais forte fisicamente. Nem na minha casa eu sou a pessoa mais influente. Se a gente chega a essa conclusão num universo de cinco pessoas, por que raios alguém estabelece que eu esteja acima de uma grande quantidade de pessoas em qualquer dessas características, enquanto cerumano pertencente a uma vasta sociedade?

Fica a dúvida.

O caso é que quando eu sou feia, fraca, burra e influenciável, ninguém tá nem aí pra mim. De modo que vos digo: cuida do teu que eu cuido do meu e fica todo mundo numa boa.

*****

Olha, eu devo ser uma atriz muito boa, porque eu passei a vida ouvindo que eu sou uma pessoa muito (?) privilegiada, de modo que sempre sou eu que tenho que ceder. “Você é mais inteligente, Vanessa. Você é mais bonita, Vanessa. Você é mais forte, Vanessa. Todo mundo sempre faz o que você quer, Vanessa”.

ANTES FOSSE, MEUS AMÔ. A gente não precisaria estar tendo esta conversa.

Que eu sou mais inteligente, bonita, forte e poderosa que muita gente, é verdade. Mas isso não quer dizer que eu tenha virado presidente do universo pro aclamação. (Uma pena. Uma pena.)

Só digo uma coisa: antes eu ser cobrada por ser demais que ser considerada coitadinha. Eu tenho pena de coitadinho e ÓDIO de quem tem dó de mim.

Acho incrível ser digna de revolta e não ser digna de pena.

*****

Capítulo II – da importância que as pessoas me dão

Aí vem a pessoa e diz que se eu acho que posso escolher quem faz parte do meu grupo, eu sou looser (sic) e perdi na vida. Olha, melbem, aqui no meu planeta, se eu posso escolher quem convive comigo, eu chamo isso de WINNER, mas né?

É me dar muito crédito.

E fica aqui a dica de graça, porque eu sou boazinha: loser tem um O só. Looser, de acordo com o Urban Dictionary, é outra coisa.

Porque assim: se eu fosse amiga de alguém acusado de decidir quem pode e quem não pode andar comigo, eu ficaria deveras indignada. Será que a pessoa acha que eu não tenho capacidade de escolher sozinha? Será que a pessoa acha que eu não tenho condição de ““““julgar”””” as pessoas por mim mesma? Quando a pessoa diz que eu acho que posso mandar nos outros, eu acho que os outros deveriam muito se ofender.

Eu até rio com a imagem de mim mesma dizendo “fulano é feio, não vai brincar com a gente” e todos com olhos vidrados, respondendo “siiiim, magnânima, mesopotâmica, luz da minha vida, razão da minha existência”.

Uma vez, na escola, eu fui pra diretoria porque a menina nova disse que não conseguia fazer amigos e a culpa era minha. Eu disse pra diretora que, até a última vez que eu tinha conferido, cada um usava o próprio cérebro pra pensar, e eu não andava emprestando o meu pra ninguém.

E, AINDA QUE eu gastasse preciosos tempos da minha vida esculhambando um outro cerumano, a gente tem que ter esperança de que cada um possa avaliar sozinho o que pensa a respeito do universo que habita, das pessoas que tão em volta e agir de acordo com isso.

E olha, eu só sou amiga de gente inteligente, eu garanto que cada um age da maneira que considera melhor, de acordo com a própria vontade.

Não sou eu que acho que o mundo gira ao meu redor, é você que acha.

Just sayin’.

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Capítulo III – da importância que as pessoas acham que têm pra mim

Gente, desculpa. O que eu vou falar agora é muito delicado, então vou tentar falar da melhor forma possível: eu não ligo pras pessoas. Sério. É mais forte do que eu.

[As pessoas em geral, né? Não tô falando dos meus amigos. Eu coração meus amigos como se fossem minha família. Acho desnecessário, mas é bom ressaltar.]

Tipos que se eu só te conheço ou até se já fui sua amiga, mas não mantenho contato através da imposição da minha presença em períodos regulares de tempo, de telefone, mensagem, email, twitter, meu ovo e até poke no facebook, é pelo simples fato de que não lembro que você existe.

Se você acha que algo que você fala ou faz me deixa muito brava e é por isso que eu fico sem falar com você, fica tranks, fica diboua, não tô nem vendo.

(Prova disso é que normalmente as pessoas têm que me avisar em 3 vias protocoladas que elas resolveram me ignorar.)

Sabe, eu nunca nem entrei em comunidade “eu odeio whatever” porque minha vida tem coisa boa demais pra eu despender energia com as coisas que eu não gosto.

Então, quando você diz, “oh, como a Vanessa é má. Como ela me exclui, ignora e trama contra a minha pessoa”, cara. Para. Nesse momento eu provavelmente estou vasculhando a vida do meu novo american idol favorito, ou jogando zuma, ou fotografando pro tumblr, ou sofrendo atrás de um scanner de negativo, ou comprando coisas em lojas chinesas pelo ebay, ou adquirindo tranqueiras na Inglaterra só porque o frete é grátis e a libra tá com a cotação boa, ou lendo um livro de qualidade duvidosa (ou um bom, que eu roubei da prateleira alheia ou ganhei do dono da prateleira hohoho) ou pensando em que cor de esmalte eu vou usar esta semana.

Resumindo: tô resolvendo a paz mundial.

Mania duzinferno que esse povo tem de achar que povoa todos os meus pensamentos, que é a razão de me fazer sair da cama de manhã. As pessoas que são importantes pra mim normalmente têm um documento por escrito atestando o fato. E pra mim, só é importante quem faz com que eu me sinta bem.

*****

Então ficamos assim. Não me dê mais importância do que eu tenho, não se dê mais importância do que merece. Curte aí a vida. E não esquece que quando você tem que gritar pro mundo te ouvir, é porque sua mensagem não é lá grandes coisa. E quando você tem que fazer propaganda da sua felicidade, é porque... bom, eu quando tô feliz não tenho tempo de ir avisando os outros. Normalmente dá pra ver na minha cara.

:)

terça-feira, 22 de março de 2011

devota de Einstein

Eu acredito que tudo é relativo.

*****

Sábado eu fui estúpida com uma das minhas pessoas favoritas no mundo, porque eu presumi uma coisa e falei com esse meu jeitinho delicado de ser. Levei de volta uma resposta que foi TÃO suave e tão explicativa em meia dúzia de palavras, que a única coisa que pude fazer foi abraçar e pedir desculpas, sabe? Eu sou idiota, sou uma cavala, às vezes faço isso com a desculpa do afeto, mas ninguém é obrigado.

Na manhã seguinte, enquanto eu ainda não conseguia parar de chorar por ser tão imbecil, minha mãe (com quem eu tinha sido estúpida no sábado também, porque eu tava sem arreio, né?), com todo o carinho do mundo que só uma mãe pode ter, me disse:

“Você não sabe falar com as pessoas.”

Não sei mesmo.

E não é que eu não queira aprender ou que eu ache que o mundo tem que aceitar que vai receber a marquinha da minha ferradura quando eu achar que a maneira mais terna de me expressar for através do coice. É que eu ACHO que estou sendo legal e suave e justa e pof, tô lá sendo a maior babaca que já pisou na face da terra.

Eu não sou fácil e sei disso. Não é motivo de orgulho, mas não é algo que eu saiba controlar. Eu já cheguei a acreditar que era autista em algum grau (é sério), porque me relacionar com um e com vários é sempre uma grande dificuldade e eu vivo na defensiva. Só que não na defensiva as in atacar e me impor, assim todo mundo já sabe o que esperar. Mas na defensiva as in preferir observar como a pessoa ou o grupo se comporta, pra aí decidir como interagir. Nada que abafe ou anule minha personalidade, só uma tática pra não assustar ninguém logo de cara.

Bom, aí, no fim da tarde do domingo quando eu já tinha secado e parado de chorar, eu e minha mãe fomos nos encontrar com alguns dos meus amigos mais próximos e o assunto da minha maldade ou falta de qualificação pra vida social voltou. E minha mãe disse de novo o que tinha me dito de manhã: sua família (e seus amigos tão próximos que funcionam como família) são capazes de perdoar sua grosseria. Eles te amam e te conhecem e sabem que aquilo é só um momento. Agora, as pessoas que só passam por você (mesmo as que passam muito) nunca vão te perdoar. Elas podem deixar pra lá em favor de um bem maior, mas nunca vão esquecer. As pessoas que você fere, ainda que sem querer, vão ostentar o machucado pra sempre.

Só que.

Só que isso não é só de mim pros outros. É dos outros pra mim também. É de todos pra todos.

Às vezes a gente nem percebe o quanto está sendo estúpido com alguém. Num dia aleatório, logo de cara, numa noite de sábado, numa manhã de domingo. Às vezes, na nossa cabeça, nem estúpido foi. Mas quem ouve sente que foi e tem todo o direito, ué. E aí morre um pouquinho o afeto. Só que se isso acontece antes de construir esse afeto, se você é bruto com quem nem te conhece, com quem você nem sabe como tratar logo de cara, você corre o risco de viver em ambiente hostil.

Aí não vale culpar quem só está lá cuidando pro trincado não virar rachado e ter que recolher os caquinhos, né?

Nossa geração é uma geração perdida, que não entende o conceito de amar ao próximo como a si mesmo. Mas acho que todo mundo é inteligente o suficiente pra levar pra vida o “trate os outros como gostaria de ser tratado”. E sempre é válido olhar pro próprio umbigo – de forma crítica, é claro – antes de atirar no amiguinho que nem sempre sabe o que você está pensando. E que não é obrigado a gostar de você.

O engraçado é que só dói quando é com a gente. Bater é bonito, xingar é bonito, desrespeitar é bonito. Mas só quando é com aquela pessoa que não vale nada, que merece. Nos nossos lindos fiofós ninguém mexe, afinal, somos tão bom samaritanos! Nunca fazemos nada, somos tão queridos, tão justos.

A gente tem todo o direito de não gostar dos outros, mas ninguém tem o direito de não gostar da gente. Como podem? Somos tão legais, tão engraçados, tão receptivos!

Já cansei de levar patada nessa vida sem que ouvissem meu lado da história, quando as pessoas fazem a mesma suposição que eu fiz no primeiro parágrafo. Já cansei de levar patada quando eu nem sabia que tinha uma história e meu nome tava lá no meio. Já cansei de pedir desculpa também. Já cansei de chorar baixinho no banheiro, pra não ter que explicar nada pra ninguém. Já cansei de ser rejeitada só porque a pessoa não foi com a minha cara. Mas né? É assim que a vida é.

Eu sou o tipo de pessoa que pede desculpa sempre que acha que errou e mesmo quando acha que não errou, mas machucou a outra pessoa mesmo assim. Não vou mudar. E não vou me desculpar quando eu não fiz nada.

E mesmo que se forme aquela rodinha injusta no fim da aula pra me pegar na saída, eu apanho, mas me defendo na maior educação. E sozinha.

Uma beijoca.

Eu.

sexta-feira, 18 de março de 2011

sincronicidade



O título nem tem nada a ver com nada, só quis usar uma palavra imbecil ali.

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Eu sou uma pessoa estressada e todo mundo sabe. Pode não ser a primeira coisa que se note a meu respeito, já que minhas alergias todas sempre chegam antes de mim e que meu rim roubado na banheira de gelo cause muito impacto através da minha mania de controlar o sódio das coisas. Mas, certamente, depois de um breve período de tempo, todos sabe que eu sou má, bruta e que não devem me provocar.

Tudo mentira.

Mas eu me estresso porque coisas simples da vida são complexas pra mim. Tipos ontem, que eu queria adquirir uma coisa e não queria perguntas a respeito. MELDELS, como eu odeio perguntas a respeito. Comentei? Não? Não pergunte.

Pois então eu me vi fazendo o maior malabarismo da face da terra pra comprar um troço simples numa hora em que ninguém estivesse presente. Um cerumano normal entraria na loja, compraria, sairia, ostentaria a sacola e pronto. Eu esperei até praticamente o shopping fechar, comprei, joguei a sacola no lixo, enfiei o conteúdo na bolsa e guardei sorrateiramente quando cheguei em casa.

Pensem o que quiserem, não vou dizer o que era.

*****

Aí, como forma de tentar me manter viva além dos 31 anos, resolvi aderir a uma terapia transcendental, em grupo e oriental.

Aqui cabe um aviso, caro amigo da vida real: se você me perguntar QUALQUER coisa a respeito disso pelas estradas da vida, eu vou te olhar, fazer expressão facial de Q e te tratar como biruta. Em português claro: não pergunte.

Então eu tava lá, tentando compreender o mundo holísticamente, buscando a paz, sentadinha no chão (ugh), sem sapato (uuuugh), em roupas confortáveis (cataplof), super tentando go with the flow pro troço funcionar. Aí me vem o orientador da parada com visual de faquir, voz mansa e pausada tornar tudo mais difícil. Aí ele manda as pessoas se alongarem. Aí a mulher à minha frente, na casa dos 60 anos maizomeno, levanta seus lindos braços e mostra pras pessoas que é possível passar mais de 45 anos sem se depilar.

Aí o tio de calma extrema conjugou o verbo relaxar no imperativo, e isso é tão eficiente pra me aliviar as tensão quanto me falar que eu tenho que falar em público daqui 5 minutos sobre um assunto que eu não domino.

Mudei de grupo.

O tio ficou MIGUXOMAGOADO, disse que ninguém ia se importar tanto com as minhas maluquices como ele, que ninguém mais ia entender como minhas alergias são um reflexo da minha mente auto destrutiva, que ninguém mais entenderia que meu stress é de fundo metafísico, que eu sou muito AR e falta TERRA na minha vida.

Me manda email até hoje.

(Alguém pode me dizer COMO eu atraio tanto encosto?)

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Aí agora eu tô num grupo de gente limpa, cheirosa, com uma orientadora ligada no 220v, muito mais a ver com o meu jeitinho meigo. Gente limpa é tão bonito, gente. Não entendo o povo do preconceito com o banho, com a escova de dentes, com a cera quente, com o sabão em pó em com roupas lavadas após o uso. (E o banho é antes de dormir, né? Quer tomar 236456 banhos, toma. Mas um deles tem que, necessariamente, ser na hora de dormir, pfv.). Mas divago. (JURA?)

O incrível é me concentrar pra levar esse troço a sério. Outro dia a mulher fez a gente ficar encostando nos coleguinhas e isso é muito difícil pra mim, encostar nos outros. Até quando eu gosto dos outros. Imagina outros desconhecidos. Mas eu vi, vim e venci. Tem também os momentos em que ela manda mentalizar o mar e eu durmo em 100% deles.

Aconteceu também no dia que tinha que abrir e fechar os chakras. Enquanto foi abrindo, eu fui mentalizando “não ri, não ri, não ri, não ri”. Enquanto foi fechando, eu mentalizei uma vez só “não dorme” e dormi em seguida. Tô cos chakra tudo aberto, por favor não abusem.

*****

Aí outro dia ela falou que nas próximas oportunidades, vai se concentrar em um chakra por encontro.

(Neste momento você ri e se pergunta por que raios eu me meti nisso e por que eu não desisto e eu te digo que me faço as mesmas perguntas e que a resposta é só TEIMOSIA).

Então ela perguntou, né? Disse que dava pra começar de cima pra baixo, ou de baixo pra cima. “Vocês preferem começar a estimular os chakras por onde? Pela cabeça ou pelo sëx?”.

Em uníssono, 8 meninas gritam “sëx”, enquanto eu grito sozinha “cabeça”.

Fim. (Até o próximo absurdo que eu inventar nesta vida).