quarta-feira, 27 de abril de 2011

Just another afternoon in paradise



Fui direto pra onde tinha que ir, porque já sabia em que lugar ia querer sentar. Entrei e vi uma única pessoa, ocupando – obviamente – o único lugar em que eu queria ficar.

- cheguei cedo pra ficar justamente aí.

- cheguei mais cedo pelo mesmo motivo.

Fiquei parada olhando o horizonte.

- senta do meu lado? – e colocou a mão na cadeira, fazendo aquele gesto característico de quem manda sentar.

Sentei.

- você não tá gripada não, né?

Minha eterna alergia estava tendo um péssimo dia, de modo que minha voz saía extremamente anasalada e rouca. Mas, felizmente, alergia não é contagiosa.

- não.

- é que da última vez que você ficou perto assim de mim, tava toda estragada e...

- ... e você teve a pior gripe da sua vida, eu lembro. Passamos uns 15 dias mudos, foi lindo.

- que bom. Se você estivesse gripada, eu ia ter que mandar você ir sentar pra lá.

*****

Começou assim uma conversa que demorou meses pra acontecer. Meia hora antes, Mr. E tinha passado por mim e não tinha visto. Escolhi não chamar e escolhi acreditar que não tinha visto. Tenho essa neura de ser ignorada desde 1997, quando um coleguinha passou por mim como quem não vê e não esperou o suficiente pra comentar aliviado com a pessoa ao lado por eu não ter parado pra conversar.

Mas ele não tinha mesmo como ter me visto.

- por que você sumiu? Tá chateado com alguma coisa?

- trabalho.

Ultimamente é assim. As pessoas somem da minha vida. Eu pergunto o que aconteceu e a resposta vem com uma palavra só: trabalho. Pelo menos no caso de Mr. E eu sei que é verdade.

Conversamos, demos umas risadas, atualizamos fofocas, demos umas alfinetadas e fim. Ninguém nem sabia como dizer tchau e, dada minha inaptidão conhecida pra isso, ficamos no aceno de mão mesmo. Mesmo a um passo de distância um do outro.

Depois de já ter dado uns 10 passos na direção contrária à minha, ele chamou meu nome.

- a gente se vê logo, tá? Ah, e meu chocolate favorito mudou. Agora é kinderovo.

Finalmente a gente tem alguma coisa em comum.

*****

Esse breve encontro com Mr. E me lembrou de um post que eu escrevi sobre ele e a vida mil anos atrás e nunca publiquei.

das coisas que nós queremos e não temos, da imprevisibilidade dos indivíduos, das indecisões e dos chocolates

título alternativo: Mr. E – uma breve história

Um dia alguém escreveu no tumblr uma frase que muito me chamou a atenção:

”Então, e como sempre, era só depois de desistir das coisas desejadas que elas aconteciam.”

Gente, é tipo a quarta lei da física, né?

(Como eu já disse uma vez, já achei tantas quartas leis da física que não sei como não tô com um Nobel aqui em casa.)

Mas é duma injustiça que nem a poesia é capaz de resolver.

Bom, o causo é que a frase pertence à dona Clarice Lispector e eu fui fazer uma investigação no google antes de atribuir a frase a ela. Vai que é tipos aqueles textos atribuídos ao Jabor ou ao Veríssimo, néam? Mas é dela mesmo. E a beleza da vida fica por conta do título da coisa em que essa frase está inserida ser “à procura de uma dignidade”. Também tô procurando, gente. Se alguém a vir, diz pra passar aqui em casa.

Devo dizer também que rolou altas preguiça de ler a coisa toda (não sei se é conto, se é crônica, que raios é aquilo), porque né? Tô lendo Nietzsche e Jostein Gaarder ao mesmo tempo e isso já é responsável pelo derretimento total das calotas polares do meu cérebro.

E tudo isso, pra falar de Mr. E.

Assim como Sarah Thomas, um rapazinho que eu conheci na estrada entre São Paulo e Curitiba, Mr. E tem esse apelido por uma razão TÃO aleatória, que nem adianta explicar. Inventem aí nas suas cabeças uma razão qualquer e pronto.

O engraçado é que eu não me lembro do dia em que me apresentaram Mr. E. E isso é muito estranho, porque eu sempre lembro esse detalhe das outras pessoas que acabam fazendo parte da minha vida. Não lembro nem QUEM foi que apresentou. Lembro vagamente de alguns monossílabos trocados, algumas tentativas da parte dele de iniciar um diálogo, mas eu estava sempre tão concentrada em outras coisas que não parava pra prestar atenção. Às vezes não levantava nem os olhos na direção dele pra responder um oi. Muito fina.

Mas eu lembro do dia em que PERCEBI Mr. E. Como acontece com as pessoas cujo dia da apresentação eu me lembro, posso lhes dizer que ele usava uma camisa de um xadrez muito horroroso, uma calça Pierre Cardin com aquele bordadinho característico no bolso e um sapato híbrido com tênis (odeio a palavra sapatênis) dum cinza esquisito. Eu usava um jeans da Levi’s com 400 mil botões e nenhum zíper, uma sapatilha rosa e cinza, uma blusa de oncinha em tons de cinza e um casaquinho cor de uva

Não pense você que é um privilégio de Mr. E esse exagero de detalhes. Dependendo da sua importância na minha vida, sou capaz de descrever movimentos das suas mãos no dia em que nos conhecemos.

E nesse dia eu estava andando e pensando em como seria interessante ter um +1 pro casamento da minha amiga, que seria exatamente dali a um mês. Pensei isso e olhei o horizonte. Mr. E vinha na minha direção e, nos poucos passos que nos separavam, revi todas as vezes em que ele tentou falar comigo e não dei bola e cometi o terrível erro de pensar... por que não ele?

O problema é que eu sou o tipo de indivíduo que ruboriza por.qualquer.bobagem. Mas não é um rosadinho discreto. É um vermelho-chamem-os-bombeiros. Foi nesse momento que tive que treinar meu ouvido pra perceber a presença dele o mais longe possível, pra evitar o ridículo de que ele percebesse que era o motivo do rubor.

Outro dia ele tava enfiado no meio da praça de alimentação do shopping. Gente, cêis já ouviu o barulho desses lugares? Eu ouvi que ele tava lá muito antes de chegar perto. É um absurdo meu detector de presença. Eu posso não conseguir matar um mamute, me alimentar de carne ou passar mais de 5 segundos em contato com a natureza, mas aposto que essa habilidade seria minha salvação na era das cavernas.

E essa paixonite por Mr. E durou até um dia em que eu andava pela calçada pensando na vida. E criando grandes roteiros pra ela, de modo que parecesse um filme. Pensei assim, despretensiosamente, em como seria engraçado se ele de repente aparecesse andando na direção oposta e... pelamordedeus quem é aquele vindo ali não pode ser.

Era.

Eu tava tão impressionada com a materialização daquilo, que não prestei atenção num detalhe muito importante. Só enxergava o cerumano vindo na minha direção, enquanto o vento frio batia no meu rosto e mexia no meu cabelo, em câmera lenta. Quando estávamos a uns 4 passos um do outro e nossos olhares se encontraram, ainda em câmera lenta eu comecei a sorrir. Foi quando ele desviou os olhos, virou o rosto pro lado esquerdo e esbarrou o ombro no meu, sem dizer nem oi.

A velocidade da cena voltou ao normal enquanto eu abria tanto a boca que engoliria uma melancia inteira sem problemas e me curvava pra frente, como se tivesse levado um chute no estômago. Parei o chilique, olhei pra trás e foi SÓ AÍ que eu percebi uma menina do lado dele. A namorada. A NOIVA.

Ah, gente. Para.

Recapitulei todas as conversas do período. Não era possível! Mr. E fazia questão de chamar minha atenção a qualquer custo cada vez que me via. Como assim esse cerumano era comprometido? Alguém explica? Aplusk?

Como homem comprometido - não trabalhamos, voltei eu aos monossílabos de sempre. Que ele fazia questão de transformar em conversas, cada vez mais longas. O engraçado é que a efusividade desaparecia toda vez em que ele me encontrava na companhia dela. No começo eu ficava magoadinha, evitava contato com ele o quanto podia. Mas isso já faz tantos anos que, em certo ponto, deixei pra lá. Aproveitei a amizade e as conversas divertidas que ele é capaz de ter e tamos aí. Hoje em dia ele já me cumprimenta quando ela está por perto, apesar de mudar completamente o tom. Vou fazer o que além de ficar na minha? Tô quieta.

*****

Acontece que Mr. E anda meio esquisito. Outro dia até conferi a mão dele, pra ver se a aliança continua lá. Sabe quando a pessoa força a proximidade, força assunto, força até reparar no cabelo que você não cortou uma semana antes de você cortar de fato e ficar extremamente constrangido quando você aparece com ele completamente diferente? Então.

Outro dia ele me cumprimentou e não disse mais nada. Eu já estava seguindo meu caminho, quando ele parou na minha frente, continuou mudo, mas olhando tão fixamente pro meu rosto, como se fosse ler meu pensamento através da minha testa. Ao sentir o oitavo tom de rosa aparecendo nas minhas bochechas, tive que intervir.

- que foi?

- comprei uma coisa pra você. Acho que você vai gostar.

Alguém aí pode fazer o favor de explicar? Ajudar? Aplusk?

Agora, que eu procuro desaparecer quando ouvo a voz dele se aproximando, é que ele não cansa de exaltar minha beleza. Hoje mesmo. Além de sair da pose de sempre e dizer que eu estava bonita, ainda mexeu no meu cabelo. (E olha, normalmente precisa MUITA intimidade pra eu permitir que pessoa se aproxime do meu cabelo.)

Dona Clarice estava certa. Devemos todos procurar um pouquinho de dignidade. E deixar de querer tudo o que queremos. Tudo só vai acontecer quando eu não quiser mais.

*****

Algumas coisas não vão acontecer nem quando eu não quiser mais.

Mas o xadrez que Mr. E usava desta vez era muito mais digno. Assim como o jeans (que não era Pierre Cardin, oremos) e o tênis, que era tênis direito, sem misturar com sapato.

Life is good.

terça-feira, 19 de abril de 2011

dos paradoxos do meu cérebro idiota


Semana passada eu levei uma cutucada no facebook. Super normal, você diria, uma vez que eu já fui a louca do poke e hoje em dia até nego que me conheceu ontem já sai me cutucando. Mas a cutucada em questã não foi produto do poke. Foi daquelas que a gente dá sutilmente com uma palavrinha no mural aqui, um linkzinho compartilhado ali, uma apertadinha no botão curtir acolá. Sacoé? Levei uma cutucada dessas.

Mas foi tão irritante, TÃO irritante, que eu descontrolei. Hiperventilei, tomei calmante, orei pra Jesus e escrevi um post (ou email, ainda tava decidindo) no qual a palavra *odeio* aparece somente e só sessenta e nove vezes (heh).

Aí usei a regra dos cinco minutos e não publiquei.

Sei lá se essa regra é inventada, mas é aquela que diz que se você quiser fazer alguma coisa num momentinho de fúria, guentaí cinco minutinhos e pensa de novo. Se ainda quiser, guentaí mais um dia e pensa de novo. Se ainda quiser, vai e faz (e problema seu). Se não quiser, deu tempo de salvar a Inês.

Agora tô calma.

*****

Em evento totalmente não relacionado, estava eu lá transcendentalizando, fazendo aquela forcinha pra não dormir, quando a tia disse “agora se transporte pra um momento muito feliz e reviva tudo aquilo”.

Normalmente, nessa hora ela manda a gente se transformar num animal específico (não ri não ri não ri não ri), manda a gente seguir um roteiro específico (não ri não ri não ri) e eu normalmente já dormi antes da minha própria águia levantar vôo e sair batendo as asa pelas arverez que somo nozes.

Mas nesse dia ela disse pra ir pra um momento da feliz da minha vida e ficar uns 15 minutos por lá.

PRA ONDE MEU CÉREBRO BOCÓ ME LEVA?

Apesar da infinidade de opções, apesar de eu normalmente dormir nesse momento, ele me leva praquela sala de estar estúpida. Pra uma tarde de sábado estúpida, em que fazia um sol estúpido, deixando tudo um calor estúpido. O dia anterior tinha sido de frio e chuva, mas o sábado tava praticamente sem nuvens e quente, muito quente. E eu odeio (olha lámmm, Silvio!) sábados de sol aluguei um caminhão pra levar galera pra comer feijão.

Então meu cérebro me levou praquela sala (que eu não posso descrever sob o risco de alguém identificar), praquele sofá, onde eu estava de joelhos, olhando pela janela (que também não vou poder descrever), enquanto um sol escaldante derretia meus olhos e meu rosto e eu soltava bolhinhas de sabão.

- vou ter que dizer pros vizinhos que minha sobrinha de 3 anos veio me visitar, se alguém reclamar das bolhinhas entrando pelas janelas alheias.

E aí, num movimento inesperado, ele se ajoelha do meu lado, pega o frasco da minha mão e não só faz bolhinhas de sabão. Faz uma bolhona de sabão e fumaça. Que voa em trajetória de colisão com a janela dozotro. Que eu espero sinceramente que estivesse fechada. Mas mesmo que não estivesse, nós dois saímos correndo do sofá, jogamos o frasquinho de sabão longe e ficamos sentados às gargalhadas, com a promessa que da próxima vez faremos isso num parque.

Não vai ter próxima vez, não vai ter parque, não vai ter mais bolhinhas de sabão (com ou sem fumaça).

Mas meu cérebro estúpido resolveu que aquele sábado de calor e reprise de filme velho em canal ruim de TV, depois de almoçar omelete (eu já disse que odeio *rá* omelete?) e soltar bolhinhas de sabão na janela... é um bom lugar pra eu me enfiar por 15 minutos pra imitar felicidade.

E eu odeio.


sexta-feira, 8 de abril de 2011

gorda, solitária e calma, até o fim dos tempos



Aí que lá no lugar onde eu tenho ido fazer minha terapia transcendental acontece todo um multitask. Mas num nível extreme. Assim: tem dentista, médico, psicólogo. Tem salão de beleza, massagem, loja de roupa. Tem um lugar onde as pessoas fazem campeonato de truco. Tem onde a gente mentaliza flores e cores e pétalas e aprende que a mente domina o corpo (minha atividade, se é que não ficou claro). E tem, COMO NÃO, aula de boxe.

Sério, eu queria saber comé que se planeja um lugar desse tipo, mas acho melhor não perguntar.

O caso é que o boxe sempre existiu, mas a gente nunca viu nem comeu, só ouviu falar até que um gênio da administração de horários fez com que o boxe coincidisse com a nossa meditação. Na sala ao lado. A gente lá ouvindo ondas do mar e passarinhos e se abraçando e mentalizando coisas bonitas e começa uma contagem agressiva, barulho de soco, chute e uma voz de ogro mandando as pessoas correrem e baterem e PARA DE CORPO MOLE, RAPÁÁÁÁ.

Não sei se falo sobre o agradável aroma que sai dessa sala. Outro dia ouvi alguém perguntando se tinham vomitado lá dentro e a resposta foi “nem, só esqueceram de abrir pra arejar”. É muito agradável.

E as moça sempre reclamavam, né? “Ai, quanta brutalidade, quanta energia ruim”.

Eu nem ligo. Na verdade, eu ficava era com inveja.

Só tem duas coisas que eu sou proibida de fazer na vida causadas pela falta de rim: comer sal e esportes de pancadaria. Obviamente eu adoro sal e sempre quis poder bater nozotro legalmente. Nunca pude fazer judô, nunca pude fazer karatê. E aí, uns 4 anos atrás quando eu resolvi que teria barriga estilo six pack, eu descobri que não dá pra fazer boxe sem apanhar e fuén fuén fuén fuén fuén. Queria tanto :(

Então eu saía da minha terapia calmante e ia pra frente da sala de boxe, gastar uns 10 minutinhos pelo tempo em que é possível prender a respiração, obviamente fazendo feitiço pra ver se despencava a barriga de alguma daquelas sortudas que pode se espancar pela vida.

Outro dia, no meio de uma chuva torrencial, encontrei a minha assessora para assuntos holísticos sentadinha na frente da sala do boxe, porque também não conseguia ir embora enquanto não parasse de chover.

- também tá aí nutrindo ódio pela barriga dessas meninas?

- não, tô apreciando o professor mesmo.

Gente, eu devo ter defeito, não é possível. Adônis ali, dando aula de boxe o tempo todo e eu não tinha nem reparado. Fiquei ali no apoio moral até a chuva diminuir e esqueci o assunto.

No encontrinho seguinte eu tive que faltar por conflito de agenda (kkk). E no que se seguiu a esse, quando começou a gritaria, a violência e a circulação do aroma de rosas do campo, em vez da habitual reclamação, suspiros all over the place. Não entendi nada, até uma dizer que chegou a levar um tombo e mostrar roxos e torções como evidência, causados por uma manobra facial de modo a apreciar a beleza do moço por mais tempo e perder o ponto da escada. Outra toda feliz porque trombou com ele enquanto ia buscar água. A outra dizendo que ficou atrás da janela só pra ver se ouvia alguém dizer o nome do infeliz. Adônis está causando comoção na galera.

Foi aí que eu percebi a mudança nas vestimentas. Todo mundo chegava de calça de moletão, camiseta, até de pantufa tem gente que vai. Naquele dia tinha gente de salto, tinha gente de roupa de balada, tinha gente penteada! E na hora de sair, todo mundo que sempre me julgou por me arrumar tudo de novo, voltar a calça jeans e o fio dental, morena você é tão sensual, os penduricalhos e a arrumação capilar tava lá passando até maquiagem.

Nega medita tudo rapidinho, que é pra dar tempo de sair cedo e dar uma paradinha na frente da sala do boxe, com toda a discrição que é possível pra senhoras de 40 anos (eu sou o bebê da sala). Tá muito engraçado.

Alguma coisa me atrasou e quando eu finalmente cheguei na frente da sala do boxe (que é toda de vidro, pra ajudar as babona a olhar de fora), a excursão já tinha dispersado. Parei ali alguns minutinhos pra conferir se o profe era tão bonito mesmo pra valer todo esse esforço.

Ainda não decidi.

Só sei que quando saí de lá pensando nisso, fui nocauteada (got got) pelo cheiro da minha pizzaria favorita, que fica no caminho. E cheguei à conclusão que é muito mais difícil resistir a entrar ali que na sala do boxe.

Once a forever alone chubby, always a forever alone chubby.

vê-a-ene-e-cecedrílha-a

Olha, isso nem merece um post, então eu vou fazer meio post. Porque cara, foi tão engraçado na hora que agora não vai ter graça nenhuma, sabe? Mas eu preciso contar.

Aí que eu vi um tênis num blog, caí de amores e, como qualquer um na minha situação, fiz um trabalho investigativo de modo a descobrir ONDE COMPRA. Achei o site do fabricante e nada de venda online. Nada de dica de loja. Fiz a única coisa que podia: liguei mandei email e pedi socorro.

O moço muito atencioso que me atendeu indicou uma loja que, Ó QUE SORTE, fica no mesmo lugar onde eu almoço. Quase deixei a refeição de lado, mas gordo não corre realmente esse risco. Então almocei e fui pra loja e nada. “Não tem, moça. Coleção nova chega em abril”.

Chorei, voltei pro trabalho e emeiei de novo o moço da fábrica, a quem só restou perguntar em que roça eu moro, né? E eu moro na roça disfarçada de capital, mas o tênis só ia chegar em abril. Não contei? Isso foi em fevereiro.

Pois abril chegou e com ele, minhas visitas diárias à loja. O vendedor num guenta mais ver minha cara, porque o bendito do tênis não chega nunca. E eu vou lá todo dia fazer uma pressão psicológica.

Hoje, provavelmente a ponto de me tacar um tênis na testa, o mocinho me pergunta meu nome e meu telefone e pega um papel pra anotar. Aí eu digo, né? Vanessa.

Nego escreve o v. Escreve o a. O n. O e. E para. Aí ele deixa lá o “Vane”, olha pra mim com a maior cara de pavor, esconde o papel atrás do balcão e pede pra repetir o telefone.

É isso mess: o moço teve grandes dúvidas de como escrever esse nome tão complicado e tão inédito.

Te falar. Se eu não quisesse TANTO esse bendito tênis, eu muito teria dito que era com ç.

E nem adianta perguntar que tênis é. Enquanto eu não tiver, ninguém mais tem.

terça-feira, 5 de abril de 2011

agruras de uma alta funcionária de repartição pública

ponto de tacs pimba em curitiba

A redação deste blog recebeu milhares de pedidos por email, twitter, telefone e até - vejem só vosmecês - cartas (nenhum deles da minha mãe), pra que eu contasse mais causos taxísticos. Chegaram a me parar na rua.

Porque depois que o fusca morreu para todo o sempre amém (que fuscão preto o tenha), ficou cada vez mais freqüente a necessidade de andar nessas expressões alaranjadas do horror.

De ônibus eu não ando, ainda mais eu, uma alta funcionária de repartição pública.

Teve o domingo em que eu peguei um devoto do ocultismo, por exemplo, que insistia que gente da minha idade não sabia nada da vida. Não tava a fim de conversa, de modo que não perguntei qual era essa “minha idade” a que ele se referia e muito acho que não passava de 20 anos. Contou sobre um avô Nostradamus que ele tinha e que, ao contrário do que pensamos nós, jovens irresponsáveis, lobisomem e boitatá existem sim e fazem parte do karma da pessoa.

De onde surgiu essa palestra é uma coisa que eu me pergunto e não encontro resposta.

Fiquei só no aham, porque né? Domingo à noite, gente. Meu cérebro tava que era pura cremogema e nego querendo provar a existência de criaturas míticas e eu super tinha mais em que pensar.

*****

Outro dia eu estava tendo o que se pode chamar de pior semana da vida (so far). Comé que num dia você pode estar tendo uma semana ruim é um tipo de destruição de lei da física que eu não vou explicar. Então vamos dizer que tava no pior dia da pior semana da vida (Maria do bairro pediu a frase de volta). Foi quando um amigo habitante de júpiter, que não tava ligado no meu sofrimento, me ligou por puro amor e chamou pra dar uma volta noturna depois do trabalho e comer um lanche.

Fui.

Fizemos lindos passeio, tiramos lindas fota, comemos lindos mclanche podrão, passeamos mais um pouquinho e todos tinha mais o que fazer, fomos embora.

Não queria que meu amigo tivesse que dirigir até o lado oposto da sua própria residência pra me deixar em casa, de modo que aceitei lindas carona até o shopping, com a desculpa de que ia me acabar na Renner Zara. Na verdade, a deprê tava voltando e eu queria chorar só mais um pouquinho antes de ir pra casa.

Desci do carro, quase me matei atravessando a rua, entrei no shopping e desanimei de torrar dinheiro (aí se nota a gravidade do caso). Mas, como comer sanduba dá sede, passei num quiosque antes de sair e adquiri uma garrafinha de água, da qual bebi apenas dois goles, só pra enganar a sede até chegar em casa. Os mais chegados saberão o motivo, que não explicarei.

Saí do shopping e me preparei pra caminhada da vergonha: aquela ida de taxi em taxi, seguindo a ordem da fila, perguntando qual deles aceitaria cartão.

Um parêntese:

1 - quem inventou fila de taxi é um bocó e tem a mãe na zona. Eu quero escolher o carro, ué. Vou pagar, não vou? Não quero pegar o carro feio que tá na frente se tem um lindo automóvel 3 lugares pra trás. Quero o bonitooooooo.

2 - eu não pago taxi com dinheiro. Não pago. Posso ter muitas notas espalhadas por toda a minha bolsa, vou pagar com cartão. Não perguntem, não julguem, não encham o saco. Eu só pago taxi com cartão.

Primeiro tio não aceitava. Que bom, o carro era feio. O segundo tio também não aceitava. O terceiro também não. O trigésimo oitavo também não. O trigésimo nono olhou bem pra minha cara e disse:

- cartão eu aceito, mas não aceito gente bebendo água.

Q

Sério, minha cara de “oi?” foi muito incrível. Coméquié? Bêbado cê pega, né? Gente sem banho também, aposto. Aí ele repetiu “água no meu carro eu não aceito”.

Sem nem me mover, peguei o celular e liguei pro cilviço de taxi da minha preferência (o que eu deveria ter feito antes de encarar the line of shame), pedi um taxi e o tio super me proferiu um palavrão de volta. Quase virei a garrafa de água nas fuça dele. Sorte que ele me pegou num mau, muuuuito mau dia. Num dia normal ele estaria secando aquela porcaria de taxi até agora.

Porque se já é difícil aceitar um mundo onde você tem que orar fervorosamente pra encontrar um taxi que aceite pagamento em cartão, mais difícil ainda é ser barrada num automóvel por porte de água.

*****

E o primeiro engraçadinho que disser que é porque se espalhou entre os taxistas a informação sobre o conteúdo alucinógeno da minha água vai provar da minha fúria acumulada no encontro mais próximo. Um beijo, eu.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

é quando eu fico mais fraco que meus ovo em chamas



Eu acho muito desagradável que exista sempre a quem recorrer quando minha conexão com internet morre, quando minha conexão 3g morre, quando minha conexão com a TV a cabo morre, mas não exista um serviço de atendimento ao infeliz cuja conexão com outros seres humanos morre.

Minha conexão com os outros cerumanos já era.

Não que eu tenha sido compatível com isso em algum momento da minha vida, sabe? Mas é que depois de um episódio extremo de reclusão, que preocupou até meu avô (quando até seu vô acha que você ta vivendo de menos, é que you’re doing it really wrong), eu prometi pra mim mesma que ia tentar.

What’s the point, eu me pergunto?

Acabo sempre me afeiçoando às pessoas erradas, em qualquer nível. E as pessoas de quem eu mais gosto sempre moram lá depois de onde o vento faz a curva. (Eu ia colocar um link agora, mas não quero todo mundo sabendo que é minha pessoa favorita do momento. Tem gente que eu não tô disposta a dividir com ninguém.)

Ou então eu me afeiçoo a pessoas que não estão nem aí pra mim. Um clássico, eu diria. Sobre essas não vou querer falar.

Mas eu vos digo: eu raramente preciso de colo nessa vida, enquanto cerumano auto-suficiente. Aí eu precisei e todo mundo sumiu. Eu sou miguxa magoada, vai ficar no meu caderninho. Eu vou jogar esse caderninho fora antes de agosto, eu sei. Só que hoje tá ali anotado.

*****

Eu sempre acabo descobrindo pessoas incríveis nesses momentos mais ou menos da vida.

*****

Às vezes não há incredibilidade que salve e, no final de semana, minha conexão caiu.

Quando isso acontece, não há o que fazer pra recuperar o sinal, além de esperar a conjunção astral (porque eu não sei a que mais atribuir) o sinal ficar favorável novamente.

A única solução é partir pra atividades que não envolvam interação direta com outros indivíduos, nem aqueles da família. De modo que quando eu soube que aquele domingo não tinha salvação, me montei linda (mas gente, quando digo linda, eu quero dizer que TODOS OLHA, porque eu tava mesmo linda), taquei meus Lolita glasses vermelhos nas fuça e fui. Fui comer e fotografar e andar pela cidade. Domingo é bom de andar porque quase não tem gente na rua, tornando a experiência ainda mais satisfatória.

Tirei umas 400 fotos. Umas produto de ódio, outras produto de tédio. Mas tem aquela meia dúzia que a gente acha que prestou, né? Conversei comigo mesma e me disse pra aceitar que tinha sido o melhor resultado possível pra terminar uma das semanas mais bocós da minha vida.


Cheguei em casa e não conseguia nem interagir com as pobrezinhas das fotos. Não conseguia viver, pra ser mais exata, depois de umas 8 horas de caminhada sob um sol senegalês que deu as caras em Curitiba. Tava até com as pernas bronzeadas (e quem tem contato com as minhas pernas sabe que precisava de muito sol pra fazer o trabalho). Estava cansada, dolorida, com fome, mordida por toda espécie de micro animais, estragada de alergia resultante de contato intenso com a natureza, descabelada, vermelha por causa das queimaduras de lágrima (acho tão fino me queimar com as minhas próprias lágrimas) e mal humorada.


Fui lá me recompor e descarreguei as fotos só umas 3 horas depois. Enquanto isso, o sinal da minha conexão com o universo começava a reaparecer. Fraco, mas operante.


Entrei em contato virtual com as pessoas que eu queria perto, mas moram longe e mostrei algumas das fotos. Publiquei outras no tumblr. Todo mundo elogiando. Todo mundo dizendo “nossa, você que tirou? Mas que foto alegre!”.

E eu só conseguia achar engraçado.

A minha falta de talento é engraçada, sabe?

Nem pra mostrar sofrimento através da arte eu sirvo. Tava lá, miseravelmente sofrida, questionando o propósito da vida e achando que jamais participaria de uma interação social novamente e todo mundo achando que eu tava expressando alegria.


Ou vai ver tá certo, né? Quando eu tô engraçada e divertida todo mundo acha que eu tô brava. Quando tá tudo errado, as pessoas enxergam alegria.

Vai ver é por isso que ninguém sabe como conviver comigo.

Se alguém aí achar o telefone do provedor da minha vida, me passa. Eu tô precisando de suporte técnico.