sexta-feira, 8 de abril de 2011

gorda, solitária e calma, até o fim dos tempos



Aí que lá no lugar onde eu tenho ido fazer minha terapia transcendental acontece todo um multitask. Mas num nível extreme. Assim: tem dentista, médico, psicólogo. Tem salão de beleza, massagem, loja de roupa. Tem um lugar onde as pessoas fazem campeonato de truco. Tem onde a gente mentaliza flores e cores e pétalas e aprende que a mente domina o corpo (minha atividade, se é que não ficou claro). E tem, COMO NÃO, aula de boxe.

Sério, eu queria saber comé que se planeja um lugar desse tipo, mas acho melhor não perguntar.

O caso é que o boxe sempre existiu, mas a gente nunca viu nem comeu, só ouviu falar até que um gênio da administração de horários fez com que o boxe coincidisse com a nossa meditação. Na sala ao lado. A gente lá ouvindo ondas do mar e passarinhos e se abraçando e mentalizando coisas bonitas e começa uma contagem agressiva, barulho de soco, chute e uma voz de ogro mandando as pessoas correrem e baterem e PARA DE CORPO MOLE, RAPÁÁÁÁ.

Não sei se falo sobre o agradável aroma que sai dessa sala. Outro dia ouvi alguém perguntando se tinham vomitado lá dentro e a resposta foi “nem, só esqueceram de abrir pra arejar”. É muito agradável.

E as moça sempre reclamavam, né? “Ai, quanta brutalidade, quanta energia ruim”.

Eu nem ligo. Na verdade, eu ficava era com inveja.

Só tem duas coisas que eu sou proibida de fazer na vida causadas pela falta de rim: comer sal e esportes de pancadaria. Obviamente eu adoro sal e sempre quis poder bater nozotro legalmente. Nunca pude fazer judô, nunca pude fazer karatê. E aí, uns 4 anos atrás quando eu resolvi que teria barriga estilo six pack, eu descobri que não dá pra fazer boxe sem apanhar e fuén fuén fuén fuén fuén. Queria tanto :(

Então eu saía da minha terapia calmante e ia pra frente da sala de boxe, gastar uns 10 minutinhos pelo tempo em que é possível prender a respiração, obviamente fazendo feitiço pra ver se despencava a barriga de alguma daquelas sortudas que pode se espancar pela vida.

Outro dia, no meio de uma chuva torrencial, encontrei a minha assessora para assuntos holísticos sentadinha na frente da sala do boxe, porque também não conseguia ir embora enquanto não parasse de chover.

- também tá aí nutrindo ódio pela barriga dessas meninas?

- não, tô apreciando o professor mesmo.

Gente, eu devo ter defeito, não é possível. Adônis ali, dando aula de boxe o tempo todo e eu não tinha nem reparado. Fiquei ali no apoio moral até a chuva diminuir e esqueci o assunto.

No encontrinho seguinte eu tive que faltar por conflito de agenda (kkk). E no que se seguiu a esse, quando começou a gritaria, a violência e a circulação do aroma de rosas do campo, em vez da habitual reclamação, suspiros all over the place. Não entendi nada, até uma dizer que chegou a levar um tombo e mostrar roxos e torções como evidência, causados por uma manobra facial de modo a apreciar a beleza do moço por mais tempo e perder o ponto da escada. Outra toda feliz porque trombou com ele enquanto ia buscar água. A outra dizendo que ficou atrás da janela só pra ver se ouvia alguém dizer o nome do infeliz. Adônis está causando comoção na galera.

Foi aí que eu percebi a mudança nas vestimentas. Todo mundo chegava de calça de moletão, camiseta, até de pantufa tem gente que vai. Naquele dia tinha gente de salto, tinha gente de roupa de balada, tinha gente penteada! E na hora de sair, todo mundo que sempre me julgou por me arrumar tudo de novo, voltar a calça jeans e o fio dental, morena você é tão sensual, os penduricalhos e a arrumação capilar tava lá passando até maquiagem.

Nega medita tudo rapidinho, que é pra dar tempo de sair cedo e dar uma paradinha na frente da sala do boxe, com toda a discrição que é possível pra senhoras de 40 anos (eu sou o bebê da sala). Tá muito engraçado.

Alguma coisa me atrasou e quando eu finalmente cheguei na frente da sala do boxe (que é toda de vidro, pra ajudar as babona a olhar de fora), a excursão já tinha dispersado. Parei ali alguns minutinhos pra conferir se o profe era tão bonito mesmo pra valer todo esse esforço.

Ainda não decidi.

Só sei que quando saí de lá pensando nisso, fui nocauteada (got got) pelo cheiro da minha pizzaria favorita, que fica no caminho. E cheguei à conclusão que é muito mais difícil resistir a entrar ali que na sala do boxe.

Once a forever alone chubby, always a forever alone chubby.