títulos alternativos: é uma cilada, bino, todos chora e o pior final de semana mais legal de todos os tempos
(Você precisará de muitas referências pra entender esse post.)
Querido diário,
Se alguém me dissesse alguns anos atrás que era possível existir no mundo real um grupo de amigos como os de Friends ou How I Met Your Mother, eu diria que era impossível. Sempre fui antissocial demais pra acreditar que mais de duas pessoas pudessem ter aquele nível de amizade, que agüentam se ver mais de duas vezes por semana, que se enfiam na casa de alguém, eleita praticamente o quartel general da galera.
Existe.
Temos lá o elenco fixo (que conta com mais de seis pessoas), temos eu, encarnando o Ted-forever-alone, imaginando quando contarei a história pros meus filhos (que não existirão) de how I met their father (não que eu acredite que haverá um pai também), temos o elenco de apoio muito presente, temos as Janices, os Richards, as Stellas, as Zoeys. Espero só que o Mike apareça logo e entre de uma vez pro elenco fixo, porque não é possívio.
Só que na minha vida a americanidade não funciona e eu ainda moro com meus pais, pra quem eu tenho que explicar muitas vezes por semana como é possível ver a cara da mesma galera quase todo dia e não enjoar. E eu vos digo: você enjoa de assistir as reprises infinitas de Friends e HIMYM? Pois então.
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Aí, como dizem meus amigos homens, enquanto representantes masculinos da espécie humana, no futuro essa história será contada com o seguinte início: “um dia, sua mãe teve uma brilhante ideia e as amigas dela concordaram...”. A parte mais legal é que o pai inexistente dos meus filhos inexistentes não vai poder contar a história assim, porque não estava presente. Kkk risos. Azar o dele.
Pois então minha amiga teve a brilhante ideia de fazer um passeio turístico por Curitiba. Informações importantes:
*não havia nenhum turista entre os presentes;
* temos uma dificuldade incrível de conseguir que todo mundo apareça num mesmo evento, já que somos muitos;
* em Curitiba chove todo dia de janeiro;
* aqui tem uma linha de ônibus chamada “linha turismo” que, segundo o papelzinho aqui na minha mesa, circula todo dia entre 9h e 17:30h, faz um percurso de aproximadamente 46km e que dura mais ou menos duas horas.
Cê leu em algum lugar que o último ônibus era o das 17:30h? NEM A GENTE. Reserve.
Me lembro de uma das calega falando “vamos cedo pra dar tempo de fazer as três paradas” (Que no fim eram quatro. Contei não? Quando você entra na linha turismo, tem direito a descer 4 vezes do ônibus, dos 24 pontos turísticos disponíveis. Se tem alguém que escolhe coisas que não são o museu do niemeyer, o parque tanguá, o jardim botânico, a torre da telepar, EU NÃO CONHEÇO). E o cedo em questão acabou sendo 15h. Vai vendo.
Saí de casa carregando bolsa, remédios, protetor solar, casaquinho, guarda-chuva de bigode, máquina fotográfica digital, lomo, minha vó e a pia da cozinha, total na vibe turista de domingo.
Todo mundo deu uma leve atrasadinha, passamos na padoca pra fazer um lanche e comprar garrafinhas de água, uns 3 ônibus passaram pelo ponto enquanto não estávamos lá, até que 15:40h embarcamos no nosso lindo passeio.
A parte de cima do busão já estava cheia, ficamos todos emburrados num cantinho do andar debaixo. O que era pra ser o passeio de 5 meninas acabou virando um passeio de 7 pessoas. E estávamos lá, alegremente, ocupando 7 assentos da jardineira.
Aí chega uma vovó e saem azamiga do banco preferencial, pra ficar no corredor do nosso ladinho. Ok, são só 10 paradas até nosso primeiro destino, coisa rápida. Mas quiqui acontece lá pela terceira parada? Desaba o céu.
Acontece que o andar de cima da jardineira é descoberto e todas as 234576 pessoas que estavam lá em cima tiveram a brilhante ideia de descer e ocupar um pedaço onde cabem umas 30, se a gente for muito altruísta. Visualiza aí na sua cabeça a hora do rush, com chuva, janelas fechadas, gente molhada e feia e TCHARAM, foi o que virou nosso passeio, dum minuto pro outro.
Quando finalmente chegamos no primeiro destino, não tinha como descer. Não sei o que tinha mais: água caindo do céu ou gente entre nós e a porta. Todo mundo se olhou, chorou, se perguntou POR QUE, Ó DEUS, POR QUE? e continuou sentadinho (ou paradinho em pé) onde estava.
Mais 5 pontos nos separavam do segundo destino escolhido. Era pouco mais de 17h e eu orava em silêncio pra são pedro permitir a descida por lá. Foi só então que me ocorreu perguntar em voz alta quando passaria o último ônibus. Foi só então que descobrimos que era 17:30h. Foi aí que começou a cair o maior dilúvio formador das maiores enxurradas do dia. Foi só então que percebemos que ficaríamos FOREVER DENTRO DA JARDINEIRA.
Ao passarmos no Parque Tanguá – meu único objetivo nessa jornada fail – reprimi uma lágrima solitária que cairia do meu olho esquerdo. Estávamos perigosamente perto do horário final da jardineira e longe demais da casa de todo mundo, de onde o carro estava estacionado, de um domingo animado.
Duas enjoadas, uma com dor de cabeça, 6 pessoas grudentas e morridas de calor, 8 garrafas de água esvaziadas, uma barrinha de cereal invejada, muitos pingos de água de goteira, uma velhinha louca que quase matou todo mundo de susto, muitas risadas e piadas compartilhadas com meio ônibus depois, descemos alegremente às 18:20h no exato.mesmo.lugar.de.onde.saímos.
Quase beijei o chão.
Todas as fotos do passeio foram tiradas dentro do ônibus e minha lomo nem chegou a sair da linda bolsa de pimentinhas onde ela mora. Somando todas as passagens, 140 dinheiros que valem menos que barras de ouro foram gastos nesse lindo passeio, que poderia ter sido feito pela bagatela de UM REAL no interbairros II – que teria a vantagem das paradas no terminal, onde a gente poderia ter descido pra fazer xixi.
(Porque ólia, o banheiro estroboscópico em que a gente foi parar quando finalmente descemos do passeio da depressão era de chorar. E ter ataques epiléticos.)
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Depois de uma sexta-feira estragada socialmente (vou ser uma pessoa evoluída e não vou falar do mau gosto de alguns amigos coadjuvantes pra escolher seus outros amigos coadjuvantes) em que eu tive que sair com a galera do spin-off pra não morrer de odinho no coração, depois de um sábado com essa gente horrorosa que não se toca que não faz parte do elenco, depois de um domingo trabalhado no passeio de ônibus, quiqui a gente podia fazer?
Passar na padaria e gastar 90 real em guloseimas, pra comer na casa da nossa Monica e nosso Chandler, obviamente.
Comemos até começar sair pão com queijo pelo zóio, sentamos em rodinha e em pose de pin-ups japonesas espalhados pelo chão, de modo que o vento do ventilador acertasse todos nós, falamos mal de tudo e todo mundo (até do teletubbie roxo), rimos até os pulmões perderem a força (meu pulmão asmático tá aguentando nada, esse podre) e foi aí que o final de semana ficou realmente divertido.
Se fosse a vanessalândia, teria sido imediatamente convertido em sexta à noite, pra gente começar tudo de novo. Desta vez, do jeito certo.
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Não vou nem comentar que hoje, segunda-feira, a primeira vez que choveu na minha cabeça já passava das 19h.
São Pedro, cê tá de sacanaji.