terça-feira, 22 de dezembro de 2015

previously on: caverna do dragão mestrado edition

Este post não tem a menor pretensão de ser engraçado ou divertido. É só um desabafo que se autodestruirá muito em breve, mas que meique explica minhas postagens neste ano e meu ~bom humor~ sem data pra terminar.

RECAP: fiz a especialização em 2005, não tinha mestrado. O mestrado abriu em 2010, me encheram os pacová pra me inscrever. Encheram tanto que em 2014 fiz uma disciplina isolada, pensei "whatarrel" e me inscrevi. Pedi pra um professor específico ser meu orientador e ele fez drama pra aceitar, dizendo que eu era muito ~petulante~ e ele trabalhava com temas definidos e eu teria que aceitar decisões alheias blábláblábláblá. Disse sim, porque veja se eu tô preocupada. Inclusive, tive problemas mais importantes que esse pra resolver, me perdi nas datas (sendo que a pessoa passava todo dia na minha sala pra me lembrar de me inscrever, mas não achou conveniente confirmar a data da prova), fiz a prova sem estudar, passei, olha que alegria, num tem erro.

HA

HA

HA

HAHAHAHAHA

Meu curso é dividido em 3 trimestres por ano, sendo que o segundo é uma alegria fatiada por um recesso desnecessário.

TRIMESTRE UM

Duas matérias decepcionantes. Antes da primeira semana eu já estava chorando, literalmente. Era tanto trabalho, tanta bobagem, tanta aula ruim... Lembrei de um conselho no primeiro dia de aula, em que alguém disse que sozinho a gente não sairia do lugar. Operei um milagre pessoal e fiz amigos. Mas as coisas ainda não andavam. Não tinha mais tempo livre - e não tô dizendo livre pra ler livros recreativos, passear, ver gente. Não tinha tempo pra dormir, tomar banho, comer. Minha casa começou a cair aos pedaços, meu cachorro e minha gata deixaram de entrar no meu quarto, porque eu não estava dando atenção pra mais ninguém. Não sei o que me deixava mais sofrida, se era estar ocupada por uma coisa que eu nem acreditava ou se era por tudo que eu estava deixando pra trás.

Tentei algumas vezes me impor horários ~recreativos~, mas tudo que eu consegui foi brigar com gente de quem eu nem gostava tanto assim, porque ninguém entende pelo que você está passando, ninguém se importa e você tem mais o que fazer.

Nesse trimestre eu tive a primeira nota baixa da minha vida e me deparei com o fato de que elas (as notas) são atribuídas subjetivamente. Deve ser por isso essa história imbecil de conceitos de A até E. Pessoas que trabalham em empresas que podem gerar bons contatos no futuro e são homens tirarão notas melhores que pessoas com melhor produção que não forem homens ou não tiverem nada pra dar em troca na vida. É muito frustrante.

Então de março a maio, a coisa foi de "ó que maravilha que eu tô aqui sem nem ter estudado, sou muito inteligente" a "o que eu tô fazendo aqui, minha vida é uma merda".

Atribuí esse sentimento à minha idade, à falta de ritmo que ficar sem estudar me causou, ao fato de que eu tinha que passar muitas horas dentro do mesmo lugar, com as mesmas pessoas... Deveria ter existido um recesso de duas semanas entre esse trimestre e o seguinte, mas a desorganização dos próprios professores inviabilizou esse direito. No domingo em que tudo acabou, respirei fundo e me preparei psicologicamente para o 

TRIMESTRE DOIS

Olha, nada podia me preparar pra a desgraceira que estava vindo. Nem o privilégio de conhecer o sistema por dentro.

Uma das minhas matérias era como se fosse uma continuação das duas primeiras. Não foi surpresa nenhuma descobrir que eu não tinha aprendido NADA e que aquela matéria teria que render por três. Claro que isso não vem sem uma exaustão sem limite, mas era um cansaço intelectual, gratificante até. Terminar a matéria com a dica de que a minha foi a segunda maior nota da sala e a melhor foi bastante alavancada pelos trabalhos em grupo feitos comigo foi recompensador o suficiente.

MAS.

Enquanto isso, na outra matéria, o pau comia. Assédio, ofensas, aulas de péssima qualidade em que não tinha como ganhar. Todos os critérios de avaliação eram subjetivos e você poderia receber qualquer nota e qualquer justificativa e ser obrigado a aceitar.

Da primeira vez que fui ofendida (por mais de 5 minutos, na frente da sala toda), tive uma crise de ansiedade tão forte que pensei que fosse morrer. Nunca tinha tido uma dessas e nem minha família aceitou, tive que melhorar na porrada mesmo. Diz a lenda que a pessoa que deve ajudar a gente com esses problemas é o orientador, então eu esperei ter condições de me comunicar com outro terráqueo até falar com ele. Isso levou 14 horas. Logicamente, a pessoa que me ofendeu contou sua versão da história primeiro. Quando eu cheguei, ele nem me deixou falar. Disse que a culpa era obviamente minha - nada aconteceu, eu parei na frente da sala e a pessoa começou a emitir impropérios, sem que eu tivesse falado. Não tive nenhum apoio. A frase que eu ouvi foi "se vira pra passar nessa matéria".

Ao longo das semanas, eu me tornei o cabo de guerra. Escutava que se não tivesse projeto, não seria aprovada. Escutava que não precisava de projeto e estava arrumando desculpa pra ser reprovada. A essa altura, eu não tinha um projeto de pesquisa, porque a postura do mestre dos magos passou de "eu tenho uma linha e você se enquadra nela" pra "tu te tornas eternamente responsável pela dissertação que escreves". Até ali, tinha passado 4 meses indo a congressos, palestras, seminários, feito contatos, conhecido pessoas. E a acusação era de que eu estava esperando o trabalho cair do céu. Eu queria falar de transporte urbano, então consegui o apoio do ~presidente dos ônibus~, do diretor do trânsito, do cabeça da iniciativa das bicicletas. Tão entendendo? E o mestre dos magos dizendo que eu estava viajando num delírio hippie, a outra professora ameaçando me reprovar se eu não trocasse de orientador.

No meio disso tudo veio o recesso, que era um descansinho apenas para professores, já que fomos soterrados em prazos. Nesse meio tempo, sofri meu acidente famoso no gelo que, pra vocês terem noção da gravidade, ainda não terminou de curar. Estava drogada até o cabelo, com dificuldades de locomoção e fui obrigada a apresentar um trabalho por "sorteio" nessas condições, ouvindo que minha nota não seria atenuada pela minha dificuldade, que o que eu faço na minha vida particular é problema meu e ninguém mandou eu achar que podia me divertir durante o mestrado.

Foram 4 meses de desespero, em que eu procurava ajuda e era sumariamente ignorada. Um dia, depois de uma dessas ofensas que tiram o rumo, fui cancelar minha matrícula. Não encontrei ninguém pra fazer isso, mas um professor que estava por ali resolveu me acalmar. Contei a história e ele me disse pra pensar por algumas semanas. Caso eu resolvesse que não tinha mais jeito, ele tinha uma proposta.

Aconteceu mais uma vez, mais uma ameaça de reprovação. Fui procurar minha mãe (que trabalha junto com essa gente bonita) e ela não estava. Quem estava era o professor que me ofereceu ajuda e, desta vez, aceitei.

Começou aí um plano silencioso para conhecer pessoas, tomar decisões, aprender o que eu ainda não tinha aprendido. Em um mês eu tinha evoluído mais que nos 12 anteriores. Fiquei encantada com a possibilidade de produzir academicamente, como eu sempre tinha esperado que acontecesse. Tomei minha decisão e ficamos (os envolvidos) esperando a hora certa de tornar tudo público.

TRIMESTRE TRÊS

Foi uma operação de guerra pra esse semestre funcionar satisfatoriamente com um pé em cada canoa. De um lado, mantendo o mestre dos magos em banho maria. De outro, correndo atrás do prejuízo de um ano inteiro. Também não surpreendeu o pouco que eu evoluía na minha "condição oficial". Eu era culpada o tempo todo de viver em baladas, enchendo a cara, gastando o tempo em diversão. Enquanto isso, meus amigos todos reclamavam do quanto eu estudava, assim como meus colegas de trabalho e minha família. Eu já não tinha mais vida, fora aquela de fachada que a gente leva na internet. Até que chegou o momento de cortar os laços e, bom, sobre essa parte não posso falar muito ainda, porque não está concluída.

Enquanto isso, o pior trimestre de todos acontecia: 5 artigos por semana para serem lidos e revisados, um projeto complexo de pesquisa operacional feito computador, também semanalmente. Entre um e outro, não dava nem pra ver a semana passando. Sabe quando a gente tá no mar, se distrai e vem uma onda na cara? Aí a gente se afoga, se desespera, se debate e, quando o ar finalmente entra no pulmão, outra onda vem e você acha que vai morrer? Eram assim as minhas semanas. Até agora não sei como dei conta. Quer dizer, não dei. Pedi PELOAMORDEDEUS uma extensão de prazo pra um projeto final e isso nos leva à seguinte situação:

Enquanto todo mundo já está de férias, eu tenho uma reunião amanhã cedo, pra decidir os rumos da minha dissertação e quem será meu orientador ou minha comissão de orientação. tudo que eu passei um ano estudando foi pro ralo e eu tenho que começar um projeto do zero.

Além disso, tenho um trabalho pra entregar dia 10 de janeiro, que consiste de observar um lugar com 25 postos de trabalho, encontrar os tempos de cada um deles, descobrir qual é sua distribuição estatística e seus parâmetros, alimentar um sistema de computador que eu mesma vou criar, pra tentar replicar a realidade. Considerando que isso vai dar certo, tenho que transformar em um exercício com enunciado e explicações e etc.

Isso quer dizer o que?

Que tenho vontade de assassinar cruelmente as pessoas que vêm dizer "ué, mas é férias agora, você vai poder sair de casa, né?"

SERIA.

Se ninguém tivesse ferrado minha vida e minha dissertação, eu teria sim esses 10 dias de descanso mental, desde que me comprometesse comigo mesma de fazer o trabalho restante em 6 (não poderia me dar ao luxo de dormir).

Só que além desse trabalho, eu tenho que ter uma referência bibliográfica digna de qualificação até o mesmo dia 10 de janeiro, o que significa ler pelo menos 50 artigos nesse período. Você já leu 5 artigos científicos por dia? O que aconteceu com sua sanidade mental?

Aí as pessoas leem que vou ficar 10 dias em recesso e acreditam que serão 10 dias de vidaloka, na balada, enchendo a cara. Não é bem isso não, migas. Serão 10 dias estudando em casa, com a família inteira de férias, com um tocando guitarra, outro ouvindo filme de gurra nas alturas, outro ouvindo titanic pela centésima vez, outro desmontando a casa e remontando em outro formato, apenas por motivos de tédio. Com obrigações sociais de natal e ano novo (dois barato pra que nem ligo, só queria dormir). E pensando seriamente em largar tudo e aprender a gravar nome em grão de arroz.

Então, sei lá, se você convive comigo em alguma esfera, mesmo que só virtual, não torra minha paciência, não cobra nada, não pede nada, não fala desse mestrado como se fosse um clube secreto que entrei com meus amigos especiais pra me fazer de importante e ignorar que você existe. É o pior pesadelo com que me comprometi na vida e não quero jogar fora depois de tanto sofrimento.

A reunião de amanhã pode amenizar minha vida, então oremos. Mas se não for o caso e eu só sentir alegria de viver novamente em 2017, tem duas opções: uma é vocês tomar seu rumo. A outra é alguém sobrar na porta me esperando.