quinta-feira, 30 de julho de 2015

dano satisfassaum

01 foto irrelevante, como também irrelevante eu sou

Primeiramente eu gostaria de, sei lá, me desculpar? (not) Aparentemente ofendi a mãe de alguém, porque nunca na história desse blog (ou da versão anterior dele) houve um post sem comentários. Pensando aqui se nunca mais compartilho as asneiras das blogueiras ou se paro de fazer muitos posts seguidos ou sei lá.

O que é totalmente incompatível com o que eu vim realmente dizer.

HEH

Assim. Eu não vejo video na internet. Esses videozinhos de 2 a 20 minutos, não vejo. youtuber é uma coisa que eu não aceito (sabe a *insira o nome de uma pessoa irrelevante*? ela tava falando bláblábláblá. eu não sei quem é essa pessoa e não vou assistir vídeo nenhum pra descobrir, ok?). E quem gosta dessas porcaria e fica me recomendando ou "viu aquele vídeo do canal whatevs?" eu tenho vontade de esganar.

NÃO VI, NÃO VOU VER E TENHO RAIVA DE QUEM VIU.

Tem uns blogs que eu sigo que eram essencialmente escritos até um ano atrás e estão fazendo a transição pra vlog. Eu acho muito incoerente a pessoa colocar o post num blog pra dizer que fez um vídeo, eu quero que ela pegue catapora. Mas quando a pessoa escreve um, filma um, eu ainda aguento. Quando passa pra 100% de vídeo, eu cancelo assinatura.

Aí em abril eu entrava nos blogs e via "esse vídeo é parte do VEDA". Mas eu perdi as contas de quantas vezes eu procurei o que raios vinha a ser VEDA, porque nenhum infeliz fazia o favor de dizer. Muito eficiente!11 (Eu queria saber pra odiar direito.) Pois era Vlog Every Day April. Parabéns pela sua riqueza ou desocupação, porque filmar, editar e postar um fucking vídeo por dia durante um mês, minha miga, é pra quem pode. E assistir isso tudo? MAS. NEM. MORTA. Aí eu fico pensando nas blogueiras produzidas, magina, gente? Todo dia maquilage, cabelo, outfit? Credo.

Só que enquanto membra do rotaroots, eu fui informada do BEDA, que já vou explicar já, porque eu sou assim bem mais legal que gente que ganha dinheiro com blog: Blog Every Day August. Normalmente eu pensaria "mas que ideia de jerico, meu deusssssss", porque eu sempre fui contra esse negózdi postar todo dia, porque acredito que um total de zero pessoas no mundo têm imaginação pra postar com qualidade nessa frequência (e não venham me contrariar, fazendo favorzinho). Só que quando a pessoa mal tem tempo pra dar conta da higiene básica e está entrando em fase de trevas no mestrado, no trabalho, na academia e na vida, o que ela faz? Isso mesmo, pensa em se comprometer a postar todo dia por um mês.

POR QUE NÃO?

(Penso em um trilhão de razões e estou ignorando todas elas.)

OUSSEJE

As possibilidades são as seguintes:

- eu enjoar no terceiro dia

- eu absolutamente não postar todo dia e postar duas vezes no mês, o que é quase o dobro de um mês normal

- a pouca qualidade deste blog cair vertiginosamente

- eu postar as mema porcaria que posto no feici e algumas pessoas lerem duplicado pra poderem reclamar duplicado

- eu perder os 3 leitores que eu já tenho (e nenhum deles é minha mãe, o IP lá de casa não aparece mais hehehe)

Porque obviamente os posts terão que seguir outra lógica pra isso acontecer. A coisa vai ficar bem mais curta e bem menos legal, obviamente. Eu consigo viver com a ideia que vai multiplicar essa quantidade de posts sem comentários, o que é muito triste, porque eu me sinto igual aqueles cantores de rua que todo mundo passa ignorando E EU NEM TÔ PEDINDO SEUS DINHEIROS, CARA. Mas estou disposta a superar.

Antecipadamente já me preocupo com quanta gente deve vir aqui pra reclamar que o blog mudou e não me ama mais e que não vai mais pagar pelos meus serviçooooooohhhh wait.

Vamo ver se os fortes sobrevivem. Se bem que faltam dois dias até agosto, vamo ver se EU não mudo de ideia até lá, não é mesmo, minha gente?

No mais é isso. A gente segue nesse relacionamento ruim que a gente sempre teve e tá tudo certo.

:*


segunda-feira, 27 de julho de 2015

shit blogueiras say #2

Não sei se foi a semana de estudos intensos, não se se foi porque o tempo que não foi ocupado trabalhando - estudando - gastando as banha foi passado na frente do video show. Não sei. Meus feeds nem acumularam tanto assim. Mas eu li TANTA merda que pode se segurar aí na cadeirinha que vem uma chuva.

Primeiramente, num blog internacional perto de você, temos o:

- Tira uma foto minha?

Vamo relembrar umas coisas. Eu não tenho nada contra as pessoas que escrevem nesses blogs, sejam as donas ou colaboradoras, tanto que eles estão nos meus feeds. E não são minhas miga, são pessoas que adquiriram fama e MUITO dinheiro postando. Aí a indivídua me vem com um post com regrinhas amigáveis que você deve seguir se algum aleatório te pedir pra tirar uma foto na rua.

Você não entendeu errado. Cê tá lá de boa na rua, na praia, no restaurante, vira a fia vestida de palhaça, claramente blogueira de moda e diz "tira uma foto minha?". Isso acontece sempre, normal, todo mundo já passou por isso. Mas nossa über blogger diz que é pra você fazer o favor de:

a) contar o tanto de bocó presente e ter certeza que tá todo mundo na foto;
b) se certificar de que todos aparecem na foto, numa luz boa, de forma que não se confundam com o fundo, em pose que não comprometa a silhueta;
c) escolher o melhor fundo e prestar atenção se algum aleatório saiu na imagem;
d) perguntar se a fofa quer retrato ou paisagem e se quer que o sapato apareça;
e) ver se o olho de todo mundo está aberto e ninguém está fazendo careta e tirar umas 5 fotos pra garantir;
f) ter certeza de que o cabelo de ninguém está estranho e
g) dar um jeito de fotografar momentos de pose casual e sorrisos sinceros.

NUM QUER MAIS NADA NÃO, AMOR?

Gente, eu procurei por traços de ironia por todo o post, pra ver se não era uma piada. Talvez seja, mas eu não fui alfabetizada em inglês. É que tem uma ou outra coisa escrita ali que me faz realmente questionar o humor da coisa. Especialmente os comentários que dizem "sim, mil vezes, sim, não aguento mais ter fotos horríveis tiradas pelas pessoas".

Eu descobri com uns 10 anos que um total de 100% das fotos em que eu apareço estarão uma merda, porque ninguém se importa. De modos que foi daí que saiu essa moda medonha de selfie - que eu chamava de auto-foto desde que apontei a minha câmera pra mim mesma.

Quer uma foto boa, pois tire a senhora mesma, né?

shit blogueiras say #3

Prosseguindo nesse maravilhoso costume de acompanhar blogs, tava eu em um que só me faz passar raiva, mas eu permaneço seguindo, quando chega o post hipster-pedante "banda que só eu conheço e me acho muito melhor do que vocês por esse motivo". Sempre tem, né? O ~post musical~. Eu costumo gostar muito de posts musicais, porque eu não escuto rádio (deus me livre) e também não trabalho muito bem com aplicativos de música, de modos que eu adquiro meu maravilhoso gosto musical de trilhas sonoras de seriados ou quando eu esqueço que o youtube tá no modo automático, pulando de música relacionada em música relacionada.

Foi por meio de gente pedante que eu descobri Florence e Ed Sheeran antes de todo mundo (milarga) e coisas que eu amo, tipo First Aid Kit, Brandi Carlile, Missy Higgins, Kat Edmonson. Não que ninguém conheça essas pessoas, mas é que tem umas músicas que realmente não ganham aquela popularidade de novela das 8, de sete melhores da pan, de disk mtv (jovem).

E também a alienação pop me priva de conhecer coisas como Rude ou Magic, sei lá qual é a música, qual é a banda, que eu descobri nesse fim de semana botando o vevo pra tocar o que quisesse no youtube hahaha. Veje só vocês.

Então quando a fia colocou lá o top 5 bandas que ninguém nunca ouviu falar, eu pensei "olha só que maneiro isso, nem acredito que ela conseguiu e..." minha alegria não durou nada quando:

top 5 - banda que todo mundo conhece, mas ninguém se importa porque é ruim;
top 4 - banda que todo mundo já ouviu falar, mas ninguém se importa;
top 3 - banda que tá em tudo que é festival e só tem gente na frente do palco pra esperar a banda realmente boa que vem depois.

top 1 - banda que realmente nunca ouvi falar na vida, porém ruim demais.

Pulei o top 2 deliberadamente, porque a banda desconhecida nessa posição era, sério mesmo, 


PINK FLOYD


HAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH

Eu caí no chão e ri por uns 25 minutos, levantei, tomei uma água e voltei pra confirmar se não tinha sido privação de oxigênio causada por crise alérgica ou alguma coisa assim, se a pessoa teve a coragem de colocar Pink Floyd numa lista de banda que ninguém nunca ouviu falar ahahahhahahahahahahah. E a música que a pessoa escolheu ainda foi Wish You Were Here, meu deus, eu não consigo aceitar, alguém me ajuda.

Magina você ser amigo dessa pessoa e ela falar "meu, vem aqui rapidão, escuta esse som meio psicodélico, poderia ser rock, é antigo, acho que essa banda deveria ter sido muito mais famosa" aí toca a introdução de Money e você considera cometer um crime HAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHA.

Magina o dia que essa fia wannabe tumblerette descobrir The Dark Side of the Moon? Magina o dia que ela descobrir que sincroniza com o Mágico de Oz (que deve ser top 5 filmes favoritos dela, já que essas fia amam dizer que curtem filme véio como se fosse a vida, a verdade e o caminho [de tijolos amarelos ryzo]). Será um dia incrível pra morar na internet, tomara que eu esteja aqui pra ver.

Miga, só tenho uma coisa pra dizer pra você: all in all it's just another brick in the wall.

HAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAH

shit blogueiras say #4

Pra finalizar essa onde de horror que é morar na internet, a última besteira que eu li, em ordem cronológica.

A pessoa falando de tendência dos anos 90 que voltaram.

Eu tenho uma certa propriedade pra falar do assunto porque:

- eu morava em São Paulo, que era o lugar onde as coisas chegavam primeiro, antes de o mundo ser essa maravilha da globalização e a pessoa poder comprar aquela blusa medonha e o shostinho de bujão de gás do aliexpress nos confins das regiões mais distantes, nas cidades do interior, de modos que toda tendência imbecil estava na 25 de março e na minha casa com muita rapidez e

- eu entrei nos anos 90 com 9 anos e saí com 19 (numerologia) e vivenciei INTENSAMENTE a moda pavorosa dessa época.

Cê vai falar daquela coleirinha horrorosa de plástico ou de veludo, eu posso garantir que estava lá. Cropped top 8 números maior que o seu? Tinha. Bermuda de lycra pra acompanhar? Tinha. Horrorosos tênis de plataforma? Check. Calça de "cintura baixa" com zíper de 12 centímetros? SIM. Calça de sarja colorida? Oh, yes. Pulseira de prástico, pulseira de neon, pingente de chupeta de acrílico nas mais variadas cores e tamanhos, tinha tudo isso. Mas se tem uma coisa que não tinha, essa coisa é cabelo colorido. Não tinha, cara. N.Ã.O.T.I.N.H.A.

Não havia mãe no mundo que permitisse. Tinha um ocasional cabelo vermelho de papel crepom, mas muito ocasional mesmo. Ninguém tinha tido a ideia de molhar giz e tacar no cabelo, não tinha, meus amor. NÃO TINHA. 

Hoje você anda na rua e é normalzíssimo ver cabelos de absolutamente qualquer cor. Minha mãe tem o cabelo roxo e não é uma vovó roxo balayage. Ela escolheu ter o cabelo roxo, comprou a tinta e pintou.de.roxo. Eu tive cabelo azul, rosa, azul e rosa, cortei o colorido por um problema social e estou só esperando uma matéria estúpida no mestrado findar pra voltar a tacar corzinhas fantasia na cabeça e ó que eu sou mega bundona enquanto pessoa.

Então, assim, quando alguém falar da moda dos anos 10 e falar de cabelo colorido, ela vai estar procedendo, porque hoje tudo que é pessoa, sendo ela capaz de sustentar o visual ou não, tem acesso a jeans color, tec italy e giz de cera.

Daí vem a fia com o top (mania infernal de top, putz grila) coisas horríveis que voltaram dos anos 90 e coloca "cabelo colorido".

MIGA, PARE.

NINGUÉM TINHA CABELO COLORIDO EM 1998.

Aí eu paro de gritar com o computador pra ver que ibagem ela vai usar de exemplo e me vem uma cantora pop americana, cujo nome não vou colocar deliberadamente, pra ver se alguém aí tem ALGUMA MEMÓRIA de cantora de cabelo colorido nos anos 90. Vai ver a moça usou o visual por 3 dias, daí já virou ~moda dos anos 90~.

Que difícil que tá viver na internet essa semana, viu.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

cê num tinha nem que tá aqui



Eu não queria fazer carteira de motorista. Nunca quis.

Meus pais começaram a me ensinar a dirigir com 14 anos (ê, anos 90 véio sem portêra), porque achavam que isso dava independência pra pessoa e pra mulher. Dar, até dá mesmo, né? Uns 5 anos atrás eu lembro das minhas amigas (todas com 30 ou mais) desesperadíssimas porque não sabiam ir pros lugares de ônibus, não sabiam pegar táxi, não sabiam dirigir. MIGAS, assim não dá pra te defender! Mas o dia o marido de uma passou mal, o carro na garagem e os dois esperando o táxi na portaria porque a miga não sabia dirigir. E aí? Faz o que?

No fim das contas, fui fazer minha carteira de motorista aos 20, e ela só chegou depois de 3 exames no detran. Acho que era todo meu eu em negação com a situação.

Também nunca sonhei ter carro. Tipo "quando eu tiver um carro, tudo vai ser melhor na minha vida". Com a carteira na mão, meus pais viviam me botando de motorista pra qualquer lugar que a gente fosse, pra ~pegar prática~. Mas, meldels, que saco que era ter que ir de um ponto a outro no universo com o "acelera, freia, acelerou cedo demais, abriu a curva demais, pisou na embreagem muito antes". Você reflita aí o tipo de indivíduo que fica com o zóio no seu pé da embreagem, só pra encher o saco.

Um dia eu tive um momentinho histérico e gritei "QUEM TÁ DIRIGINDO É QUEM? QUER APERTAR A EMBREAGEM NO SEGUNDO EXATO, DIRIGE VOCÊ" e foi uma maravilha a liberdade que veio em seguida.

Mas o resumo é que carro nunca foi uma coisa importante na minha vida.

Aprendi bem cedo que indo de ônibus ou metrô, eu não tinha que saber o caminho. Pra uma pessoa com sérias dificuldades de localização, saber só a) onde eu desço e b) como eu chego daí no meu destino, facilitava DEMAIS a locomoção. Depois veio a fase da bicicleta, que era como andar à pé, só que mais rápido. Curtia muito antes dos 18 e também depois dos 18, especialmente pra pequenas distâncias, que eu sabia percorrer andando.

Até os 20, eu andava predominantemente à pé, de ônibus e de bicicleta, nessa ordem. Eu andava demais. Mais de 10km por dia. Eu não trabalhava e minha única obrigação era chegar na hora na faculdade. Não via razão pra me locomover de outra maneira.

Aí, minha vida teve uma reviravolta: eu comecei a trabalhar, a faculdade mudou o meu curso de matutino pra noturno sem opção de troca ou reclamação, tudo virou um pesadelo. Eu tinha que acordar muito cedo pra ir pra academia, sair correndo pra trabalhar, sair correndo pra faculdade, pegar um ônibus no centro da cidade depois das 22h e correr do ponto até em casa, caso não morresse de violência no terminal. Foi uma época horrível, mas logo eu me formei, só pra me lascar trabalhando na região metropolitana ao mesmo tempo que fazia uma especialização. Quatro ônibus pra chegar no trabalho antes das 7h. Mais três pra chegar no centro de Curitiba pra faculdade às 19h. Mais dois pra chegar em casa às 23h. Nessa época eu poderia ter inventado a expressão "queria estar morta".

Me revoltei, fugi pro Guarujá, tentei virar hippie e fazer dreads e, sendo isso 100% verdade, dá pra imaginar que não fui muito bem sucedida. Vinte dias depois, estava de volta em Curitiba.

Acabei conseguindo esse maravilhoso trabalho onde estou enfiada até hoje, menos de 1km de casa. Eu morava perto naquele tempo, moro MAIS perto hoje em dia e a vida parecia ótima por um tempo. Mas sair de manhã com duas mochilas, uma pra viver, outra pra ir pra academia, já não me fazia feliz. Às oito da noite ficar no ponto de ônibus escuro e deserto, apavorada, não me fazia feliz. Correr 6 quadras em ruas escuras e desertas até uma rua menos deserta e esperar outro ônibus por mais 45 minutos não me fazia feliz. Voltei a estudar e sair com 3 mochilas, uma pra vida, uma pra escola, outra pra academia, era IMPOSSÍVEL. Honrar os horários todos, mais ainda. Isso porque tudo isso estava no raio de 1 quilômetro e em distâncias caminháveis. Mas com horários - e segurança - incompatíveis.

Nessa época eu e minha mãe passamos a dividir o carro, as coisas se equilibraram por um tempo, mas um dia esse carro se foi e pof, eu sofrendo porque não conseguia dar conta das coisas todas de maneira eficiente.

Três anos atrás eu comprei meu primeiro carro. Ano 95, porque veja só você se eu vou enterrar meus dinheiro tudo em uma tonelada de metal com 4 rodas. Não vou. Gastei menos dinheiro nesse carro que na minha viagem pra Europa, porque é assim que tem que ser, no meu ponto de vista. E não vou negar que minha vida ficou uns 400% mais fácil pra resolver os dramas do dia-a-dia, nesse 1km² em que eu vivo por praticamente uns 28 dias do mês. Sem zoeira: eu passo semanas inteiras sem sair desse círculo. Botei na minha cabeça que meu impacto no trânsito é pequeno, assim como o espaço que eu ocupo com a minha lata véia estacionada nas 24 horas do dia. A gente conforta a mente como dá, não é mesmo?

Mas se você me perguntar como eu faço pra ir pro centro da cidade, eu não levo 1 segundo pra te responder: de ônibus. Como eu vou pros parques? Andando ou de ônibus. Como eu vou pro shopping? Sempre que possível, DE ÔNIBUS. E no que tem aqui perto de casa eu vou andando mesmo. 

Porque um dia, muito antes de ter carro, eu li uma frase que nunca mais saiu da minha cabeça: você não está no trânsito, você é o trânsito.

E num me venha aqui me chamar de fazedora de colar de miçanga, porque é a mais pura verdade. Se você não estivesse ali com seu carrinho, eram 4 metros a menos de faixa ocupada. Se 40 pessoas tivessem no ônibus, em vez de sozinhas em seus carros, 600 metros a menos. 685, se a gente contar os 15 metros que um ônibus simples ocupa. Vai multiplicando esse povo pelos carros e vai vendo que de um em um, a cidade entope mesmo, né, mores.

De modos que eu desenvolvi uma técnica pessoal de locomoção: preciso ir longe da minha casa e faço questão de ir de carro por qualquer razão que seja? Farei isso em horário fora de pico. Por uma razão bem egoísta que é porque eu não quero pegar trânsito, mas isso só acontece se eu não for o trânsito. Compreende?

A única coisa que eu penso quando eu fico presa no trânsito de um lugar onde raramente eu vou e até dava pra ter ido de ônibus se eu tivesse me organizado direito é:



AHAHAHHAHAHA né?

*****

Então, assim, eu curto muito ter um carro. Sendo mulher e tendo mil coisas pra fazer, facilita muito a minha vida saber que eu posso usar esse meio de transporte pra carregar grandes compras de supermercado, 3 mochilas pra diferentes atividades no mesmo dia, além de gentes e animais, em caso de necessidade. Não vou desestabilizar ninguém falando do dia em que minha gata ficou doente e nenhum táxi aceitou me levar com ela pro hospital veterinário, levei mais de 3 horas pra achar alguém que me levasse e ela morreu no meio do caminho, porque, né? Vai parecer que a vida é ruim demais. Então o resumo da história é que eu acho carro importante pra alguns momentos da vida da pessoa SIM.

O que eu não sou é dependente do meu carro, nem de carro do ano, nem de carro da marca X. Eu curto muito meu carro que ninguém nem reconhece de tão velho que é, que tem a gaiolinha de metal em cima de 4 rodas, que me carrega pra onde eu preciso ir, com tudo que eu preciso dentro.

Mas se eu vou em um dos três supermercados perto de casa, por exemplo, eu pego meu carrinho de véia que vai na feira, ando até lá, compro as coisas e levo pra casa arrastando minha linda comprinha. Se eu tenho que ir num lugar onde não tenha estacionamento, eu deixo meu carrinho em casa. Se eu vou pra algum lugar depois do trabalho e existe trânsito ou ônibus fácil ou dificuldade de estacionar, EU VOU SEM CARRO já pro trabalho de manhã. Tá fresquinho, mas não tá gelado? Eu vou de bicicleta. Eu só não vou trabalhar andando, porque isso comeria 20 minutos preciosos do meu sono e nada que diminua meu sono é aceito na minha vida. Fora isso, eu sou a favor de usar a inteligência - e não o piloto automático - pra decidir como eu venho e vou.

*****

Quando eu fui pra Europa, fiquei meio abobalhada com o sistema de transporte como um todo. Andar por Dublin e ver que onde passa ônibus tem uma faixa exclusiva, mesmo que a rua seja estreita e mesmo que não seja hora de pico, me deixou até confusa. As pessoas não fazem as espertinhas quando a faixa tá vazia? Não que eu tenha visto. E o trânsito trava? Não que eu tenha visto. Cheio de gente andando pela rua, especialmente no centro. E nem calçadão era, rua normalzona mesmo. "Ah, mas lá é Europa". É sim, miga, mas as coisas funcionam lá por alguma razão, né? 

Daí fui pra Londres, pra ver motoristas reclamando do pedágio do centro da cidade. Mas quando eu ANDEI no centro da cidade, foi muito maravilhoso. Quando eu usei o transporte público no centro da cidade, maravilhoso igual. Fui pro bairro equivalente à avenida paulista e a estação cheia de gente, mas os trens passando um atrás do outro, ninguém apertado. Todo mundo sentado? Não, né. Mas todo mundo dignamente distribuído.

Foi assim por onde eu andei: ruas cheias de gente andando, muita bicicleta, muita gente MESMO no transporte público, mas nenhum momento de falta de dignidade. E os carros lá, empurrados pra um cantinho, pra quando você precisa de verdade. No meu caso, nas duas vezes que andei de carro foi pra me deslocar do ou para o aeroporto. Mais porque eu estava cansada (na primeira vez) e perdida (na segunda vez) do que por necessidade real mesmo. Da hotel pra estação de trem que me levaria pra outro país, fui andando. Chegando no outro país, do trem pro hotel andando de novo. Faria isso aqui? Sem dúvida, se não tivesse medo de me matarem ou roubarem minhas malas no caminho. Só essa restrição. Andar pela cidade num dia comum, eu sempre ando, não tenho nenhum problema com isso e até prefiro.

Pensa comigo: se eu moro a 8 quadras da academia e estou justamente indo me exercitar, qual é o tamanho da incoerência de percorrer esse trecho de carro? Eu acho enorme. Às vezes eu vou? Sim. Durante o inverno, escurece muito cedo em Curitiba (antes das 17:30h) e eu continuo voltando perto das 20h pra casa, num guento mais ser perseguida na rua, ser assaltada e minha mãe indo na polícia da rua de casa. Aí eu vou de carro que é melhor pra vida de todo mundo. Mas fora isso eu não vou não.

*****

Logo que eu voltei da Europa, conheci um pessoal meio radical da bicicleta. Gente que não usa carro, que fala mal de quem usa carro, que acha que o mal do universo é o carro. Se você leu direitinho até aqui, você já sabe que eu não concordo com essas pessoas. Mas tem muita gente inteligente e querida nesse meio, então parei pra escutar o que eles diziam. Isso somado ao meu sentimento de que eu sou o trânsito e etc, me levou a pensar: e agora, a gente faz o que?

Nesses últimos anos, cada vez mais eu conheço gente que vendeu ou abandonou o carro. E você me diz "mas em Curitiba é fácil, o ônibus aí funciona, a cidade é arborizada, tudo é razoavelmente perto", então eu te respondo: meus amigos adeptos da bike como estilo de vida.......... moram todos em São Paulo. TODOS. Tenho amigos ciclistas aqui, que vão trabalhar de bicicleta e fazem o máximo possível de atividades sem carro, tenho sim. Mas um pessoal mais meio termo, que tem um carro guardado na garagem pros dias de chuva. E todo dia surge mais alguém que aboliu o carro. A coincidência? Fica todo mundo mais feliz e de boas.

Primeiro eu fui me perguntar: esse povo tá certo? Depois eu me dei conta que eu mesma nem dou tanta bola pra carro assim.

Aí aconteceu um monte de coisa junta e eu resolvi estudar mobilidade urbana no mestrado. Parecia meique um sinal, porque 600 coisas aconteceram ao mesmo tempo e foi como se eu não tivesse saída. 

Cê me pergunta: ué, mas você não queria estudar isso? Migos, vivendo num mundo onde o mimimi semanal gira sempre em torno de "que desgraça, diminuíram a velocidade da via", "que horror, pintaram uma ciclovia nova", "tiraram estacionamento, botaram ciclofaixa pras moscas andarem", "faixa exclusiva de ônibus é o anticristo" e etc, cê acha mesmo que eu queria essa dor de cabeça na minha vida? Ainda mais na engenharia de produção, onde todo mundo parece ser devoto da santa indústria automobilística, e se você fala que tem que ver isso aí, as pessoas choram e chamam a mãe, imediatamente.

Eu não queria não.

Mas foi a missão que o cosmos escolheu pra mim nessa jornada (hahaha) e eu só quero dizer pra vocês que o ódio já está instalado no meu coração. Mal comecei e perdi as contas de quantas vezes escutei que sou hippie, que quero quebrar o Brasil, que minha alma de humanas está aparecendo, essas coisas bonitas que todo imbecil fala sem saber do que tá falando.

O mais divertido é ver a classe média-alta sofredora falando que precisa de carro sim, porque como que vai andar de ônibus e ser prático? Como vai andar de ônibus e ter conforto? Como vai viajar daqui pra sei lá onde? 

Olha, gente, é tanta idiotice que eu tô duvidando da sanidade mental humana.

Como eu disse no feici ao falar desse assunto: o mundo acadêmico é onde a gente deve supostamente viajar na maionese, pra achar um jeito real de resolver as coisas, porque na vida ninguém muda só porque sim. Pensa que foi nesse mundo que uma pessoa um dia descobriu que dava pra tratar infecção com BOLOR, cara. Agora pensa se tivesse essas âncoras na vida do cara pra dizer "tio, cé loco, vai usar mofo pra fazer remédio? tá usando droga?". Porque é assim que eu me sinto quando digo que a gente precisa rever o uso do carro na sociedade contemporânea.

Se eu passar muito tempo sem entrar em contato, verifiquem aí se não fui queimada numa fogueira.

Enquanto isso, reflitam aí nos seus cérebros se você é o trânsito (e vive pra reclamar disso) ou se você é uma pessoa legal, inteligente, que planeja sua vida, mora perto do trabalho, dirige em horários mais suaves e vai ser o humaninho que resiste quando a próxima fase da evolução chegar.

:*

segunda-feira, 20 de julho de 2015

trigger warning: person easily ofended



Eu sou aquele tipo de indivíduo que nasceu achando que precisa fazer alguma coisa. Eu não acredito em horóscopo, mas é muito engraçado ler que o virginiano não se permite o dolce far niente. ~Os virginianos~,  enquanto um grupo de pessoas que deve compreender um doze avos da população, não sei dizer. mas pra mim a coisa é bem séria.

Não tinha nem 15 anos quando comecei a visitar orfanato. Mas não tinha um dia que voltasse pra casa de alto astral. Voltava derrotada numa intensidade que minha mãe logo proibiu. Tentei de tudo, animaizinhos, gente pequena, gente idosa. Eu acho que tinha uns 22 anos quando passei a visitar um asilo, até que durou bastante tempo, mas teve um dia que não deu mais.

Me pergunto se é culpa da introversão ou da alta sensibilidade (HSP), mas meu mundo desaba quando eu tento fazer coisas benevolentes in loco. Aí um dia a solução apareceu: um sistema de apadrinhamento de crianças com problemas graves de saúde, à distância. Quer dizer, a instituição está em Curitiba e é possível visitar quando quiser, mas você pode escolher não fazer isso. Quando eu entrei em contato com a moça, eu perguntei se o meu "afilhado" ficaria chateado com a ausência, se seria o único, sei lá. Ela disse que não, então eu expliquei que não me sentia confortável em levar baixo astral pra criança pessoalmente. Então todo mês ela me ligava avisando que um voluntário vinha buscar a doação e aproveitava pra me dar notícias da criança. Fiz amizade com o moço e ele me disse que estava disposto a levar outras coisas pra instituição, se eu quisesse. Então passei a mandar brinquedos, revista em quadrinho, essas coisas bobas que alegram crianças. Eventualmente mandava a mistura que ele precisava pra se alimentar e tal. A vida ia bem.

Um dia, a moça me ligou no meio de um dia corrido e eu falei pra ela que não podia conversar, mas que tava tudo certo pra doação daquele mês, marquei a hora e desliguei. Alguns dias depois, liguei pra me desculpar e pra pedir as notícias que eu não tinha tido tempo de ouvir. Ao perguntar do menino, o segundo de hesitação foi o suficiente pra quebrar meu coração.

- Vanessa... O Alisson morreu.

CATAPLOF.

Cê não imagina a choradeira em pleno horário de expediente, sabe? A moça ainda me perguntou se eu continuaria doando depois disso e eu perguntei se dava pra ser uma coisa mais geral, sem escolher criança específica e ela disse que sim. Então eu doo até hoje. O inconveniente é que trocaram a moça da doação e essa nova NÃO ACEITA que não adianta me convidar pra eventos, eu não vou. E quando ela vem explicando "neste mês aconteceu uma catástrofe com fulano e...", eu tenho que interromper ali mesmo. Eu repito sem parar que é pra me dizer que precisa de mais dinheiro, mas não me dizer o motivo, senão eu vou cortar a ligação ali mesmo. Ela ainda não aprendeu, mas tenho fé de que vai. O drama não ajuda em nada, tem mesmo é o efeito contrário.

Me peguei pensando nisso porque estas últimas semanas estava especialmente difícil usar redes sociais, o facebook principalmente. Faz muitos anos já que configurei meu navegador pra entrar direto no meu perfil. Eu nunca entro numa rede social pela timeline. Sabe essa coisa da introversão, de a gente ter que se preparar psicologicamente pra interagir com pessoas, incluindo no telefone, de modos que você jamais será atendido na primeira ligação pra um introvertido? Eu entro na rede social, eu olho as notificações, eu penso na vida, eu respiro fundo, eu vou pra timeline.

Mas essa semana tava especial. Era abrir a timeline e ver uma desgraça. Gente, que prazer as pessoas têm em filmar, descrever, compartilhar ou fotografar desgraça? Eu queria entender. A maioria das pessoas em que eu dou mute ou unfollow publicaram uma desgraça. E é uma pena, porque às vezes a pessoa passa a maior parte do tempo interagindo de uma forma legal e PÁ, uma foto de gente morta na minha cara. 

O problema é que isso desencadeia uma série de reações físicas em mim que fica assim um pouco difícil me desenvolver com graça pela vida.

Tudo bem se eu ficar sem comer, se eu ficar 12 horas sem olhar a internet, se eu ficar emburrada. Basicamente só afeta a minha própria vida. Mas às vezes tem um animal precisando de ajuda, uma pessoa desaparecida, uma criança precisando de alguma coisa. E eu quero ajudar, cara. Sempre tem roupa pra doar na minha casa. Tem vezes que tem móvel, eletrodoméstico. E tem dinheiro, muitas vezes tem dinheiro. Mas se o post está fazendo com que minha pressão caia, meu estômago contraia e eu comece a sentir ânsia de vômito, eu vou ocultar o post na velocidade da luz. Não vou ter condição de voltar até ele pra ver detalhes e, bom, vou chorar o resto do dia porque não consigo ajudar. 

Ó QUE MANEIRO!!!!!!!!11111111111

Essa semana eu vi cada coisa horrível, que estou aqui, passando muito mal enquanto escrevo. Porque algumas das imagens ficam me assombrando, sabe? Tem um cachorrinho, especialmente, que eu choro cada vez que penso nele. Chorar ajuda? Nem ele, nem a mim. Eu consigo fazer uma coisa eficiente? Não consigo. Porque o post sobre ele tem um vídeo INSUPORTÁVEL - pra mim, pelo menos - então eu não consigo nem procurar quem foi que postou (já que eu obviamente ocultei). E fica ecoando na minha mente o sofrimento da pobre criatura que eu não consigo ajudar.

Eu queria que fosse possível pedir pros amigos me filtrarem quando postarem tristeza, sabe? Não interessa se é imagem, vídeo ou descrição detalhada em palavras. Sério, gente. Não é nem o caso de tampar o sol com a peneira e pensar que o mundo é cor de rosa. Eu tenho um freaking fundo para desgraças. Tem aquele dinheirinho que fica guardado, pra ajudar a primeira pessoa que pede naquele mês. Eu SEI que o mundo não é fácil, mas VER a coisa ocorrida não me ajuda, gente. 

Umas duas semanas atrás as pessoas tavam muito impressionadas com uma cobra comendo um morcego em algum lugar. A primeira vez que apareceu na minha frente, eu bloqueei o lugar que postou em primeiro lugar (pra não bloquear a miga), pra acabar com a possibilidade de aquilo aparecer na minha frente de novo. Mas não é que outro lugar fez OUTRO post e, quando alguém compartilhou, PÁ, a cobra na minha frente de novo.

Pois eu tenho aquele pavor incapacitante de cobra, sabe? Eu não sabia disso aos 8 anos, quando a excursão da escola foi pro Instituto Butantan, de onde saí carregada depois que um coleguinha me empurrou em direção a uma cobra qualquer. Se eu entro no quarto da minha mãe e ela está vendo animal planet, não é raro eu despencar. Uma vez eu tava lá bem bonita indo buscar alguma coisa e uma mamba negra na tv de 934857 polegadas. Reflita. Uma vez eu estava andando no campus onde eu trabalho e vi uma cobra às 8 da manhã. Paralisei de medo, botei todo o café da manhã pra fora e pensei "deus, me ajuda". Foi nessa hora que eu vi que era só a pele da cobra que estava ali, num tinha o ser vivo em si. Me pergunta se eu voltei a usar aquele caminho naquele ano. A resposta é não.

Uma pena que neste país a gente não tem aquele bonito conceito de trigger warning, que a gente não consiga fazer uma filtragem decente das nossas redes sociais por palavras e imagens que derrotam nosso dia. Outro dia quase quebrei meu celular porque uma pessoa achou conveniente colocar uma taturana no instagram. TRIGGER WARNING, migas. Não custa. Tinha que ter essa disponibilidade pra pessoa com dificuldades de lidar com a vida em geral. Por um mundo onde eu possa filtrar minha internet.

Então fica o apelo: você precisa de ajuda pra um animalzinho em sofrimento? Sem problema: me manda uma mensagem em particular, dizendo "animal em crise, socorro, pls, número da conta em anexo" e pronto. Não precisa me provar que alguma coisa ruim está acontecendo, eu não vou pedir prestação de contas, mi money es su money. 

Só gostaria de evitar acrescentar dificuldades na minha vida, quando ainda tenho que viver como se estivesse dentro de um jogo, em que passar do portão de casa ou interagir com outros seres vivos já gasta uma energia desgraçada, sabe? Não é como se tivesse energia sobrando e etc.

Obrigada eu,