Eu perdi a conta de quantos rascunhos eu tenho iniciados por uma pequena história que é a seguinte: eu cresci num condomínio em São Paulo, que tinha 256 apartamentos. É exatamente esse o número. Não eram vários prédios isolados, não era uma rua cheia de prédios, não eram condomínios adjacentes. Eram 16 prédios cercados por apenas uma grade, uma portaria, uma porrada de gente.
Ousseje: existem mais ou menos um trilhão de histórias envolvendo os primeiros 22 anos da minha vida até eu parar de conviver com as pessoas de lá. Meu pai ainda mora no mesmo lugar, eu sempre tô por lá, mas eu já não tenho muita paciência pra socialização e GRAÇAZADEUS muita gente já não mora mais ali.
No que diz respeito à vida social, minha infância foi uma GRANDES BOSTA.
Foram anos de bullying e de agressão pelos quais eu não tenho nenhum apreço. Agora imagina que cada apartamento tinha uma média de 2 crianças. QUINHENTOS mini idiotas confinados num ambiente cercado e uma grande trouxa pra servir de saco de pancada. Sérião, nenhum amor por esse passado.
meu prédio era o da frechinha
Tô aqui confusa onde foi que eu expliquei a dinâmica do local, mas provavelmente foi num post que ainda é rascunho.
Resumidamente: meus pais eram dos mais jovenzinhos entre os casais, e eu era a filha mais velha dos dois. Praticamente todas as outras famílias tinham dois filhos a essa altura, sendo o segundo da minha idade. Isso quer dizer que todos os meus amigos tinham pelo menos um irmão mais velho. Alguns tinham QUATRO irmãos mais velhos. Outros eram filhos de segundo casamento e os irmãos eram bem mais velhos. Tipo, quando eu tinha 5 anos, tinha toda uma geração que tinha 15 e outra que tinha 10. A vida dos mais novos era diretamente influenciada pela posição de seus irmãos mais velhos na sociedade. Se o irmão mais velho era o legalzão da galera, o irmão mais novo podia ser um abobalhado, mas seria tratado com o mesmo ~respeito~ do seu antecessor. Se uma pessoa fosse meio feinha, mas tivesse um irmão mais velho desejado, seria ela também tratada como se fosse linda. Alguém que jogasse bola muito mal, porém irmão de alguém que jogava muito bem, primeiro escolhido no time. Entendeu?
E tinha eu.
Não apenas eu não tinha irmãos mais velhos, como MEUS PAIS eram muito novos. Quando eu tinha 5, minha mãe tinha 22. Alguns desses infelizes tinham pais da idade dos meus avós.
Enquanto eu era bem pequena, a vida era razoavelmente tranquila. Embora eu nunca tivesse um irmão pra interceder nos momentos de quebra pau - como todo mundo tinha - a vida até os 10 anos não chegava a ter fortes emoções. Mas daí pra frente foi só ladeira abaixo. Eu fui desconvidada de festas, excluída de brincadeiras, ameaçada (cheguei a passar uma semana sem sair de casa pra não apanhar), apanhei de fato, nunca tinha dupla pro truco, nunca era escolhida pra jogar vôlei na quadra e sofri todo tipo de hostilização. Sem um irmão mais velho pra te colocar dentro dos esquemas, naquela idade, você tinha mais era que ficar quieto e parecer invisível.
Hoje, especificamente, eu tava pensando nisso por motivos que uma das pessoas dessa época resolveu criar um grupo no whatsapp (também conhecido como MEU MAIOR PESADELO) formado por essas pessoas todas. CENTO E CINQUENTA indivíduos, dos quais eu só suporto 5? É tipo o inception do pesadelo. Cem pessoas insuportáveis num grupo que apita de segundo em segundo com mensagem. (A razão de eu não ter saído ainda não é de suas conta.) (Até o fechamento dessa edição, informo que JÁ SAÍMOS SIM DO GRUPO, não tinha condição.)
Aí eu tava lá realizando a façanha de ser ignorada pelas mesmas pessoas duzentos anos depois, quando uma das minhas únicas amigas dessa época começou a falar comigo no privado. Confessei que deixo ali pra ver as fotos, porque no começo achei que alguém ia falar "nossa, eu lembro de como a gente era imbecil com você, foi mal", pra não chatear a pessoa que criou o grupo e que provavelmente eu vou esperar uma madrugada silenciosa pra vazar bem linda. Ela me perguntou o motivo. Eu falei que odiei crescer lá, que as pessoas eram todas horrorosas e eu não entendo as "boas memórias" que eles dizem ter. Ela respondeu "você tem boas memórias SIM". Parei 10 minutos pra pensar e poder responder que ela tinha pirado de vez, até eu lembrar da fase II da minha vida lá, dos 16 aos 20. E da fase III, dos 20 em diante.
Então a infância foi uma bosta mole mesmo. Meus pais mantiveram a gente afastado de lá por uns anos, quando eu tinha quase 13, e voltaram poucos meses antes de eu fazer 16. Milagrosamente eu não era horrorosa nessa época, de modos que alguns meninos da minha idade repararam minha existência. Outros meninos tinham se mudado na minha ausência, então nem sabiam que eu tinha sido uma criança loser. Além dos 3 ou 4 amigos que eu sempre tive, eu finalmente fiz amizades naquele lugar. Saía de casa pra conversar na rua principal todo dia, feliz e contente, cheia de gente em volta, risada e, é claro, ~paqueríneas~. Num faço a MENOR ideia de quanta boquinha jovem beijei nessa época, eu diria talvez até que todas rererere. Mas por mais que eu me desse bem com a galera da minha idade, ao longo do tempo eu ia convivendo com um pessoal cada vez mais novo. Se eu comecei essa fase com uns amigos na casa dos 20, ela acabou com amigos entre 4 e 6 anos mais novos (quando eu tinha 20). Eu tive um casinho secreto com um menino TÃO mais novo que dá até vergonha colocar as idades aqui. Eu não sabia que ele era mais novo, nem o quanto. Mas era a pessoa com quem eu tinha o melhor relacionamento da época, no geral.
*****
No começo de uma copa cujo ano vou suprimir apenas para fins de mistério, eu fui visitar a casa da minha mãe ~no interior~ e encontrei um dos meninos que é personagem de muitos posts por aqui, devido ao relacionamento que jamais aconteceu por falta de timing (e que está na minha vida até hoje, pois pessoa mais legal do mundo). E, bom, a gente se viu, nada aconteceu, feijoada. Cheguei em São Paulo bem desanimada com a minha vida e parti diretamente pra uma festa junina. De vez em quando, em grandes acontecimentos, era que eu sentia a falta de sincronia com o pessoal do condomínio. Parecia que eu não conseguia exatamente me encaixar nas conversas logo de cara, então eu sempre ia pro cantinho da introspecção observar as pessoas todas, tipo uma piscina de água gelada, que cê fica ensaiando a hora de pular de bomba - que entrar aos pouquinhos não vai dar.
Tava eu lá no canto, estacionou um menino do meu lado e começamos a conversar sobre a festa, sobre a copa, sobre várias coisas. É como eu sempre digo: fico impressionada com pessoas que iniciam diálogos saídos do mais absoluto nada, com gente que não conhecem. E ele era tããããão bonito que eu realmente não achei conveniente interromper. Em algum momento ele foi preso naquelas bosta de cadeia de festa junina e eu segui na minha missão impossível de socializar.
Durante toda aquela noite, minha amiga (a mais antiga que eu tenho) dizia que tinha uma pessoa pra me apresentar, que tinha certeza que a gente se daria bem. Depois de conhecer o menino da cadeia, eu pedi pra que ela não apresentasse, que eu já tinha me interessado por alguém. Quando ele finalmente se libertou, voltou até mim e continuamos a conversar. Em seguida, minha amiga chegou e gritou "QUEM FOI QUE APRESENTOU VOCÊS DOIS??? EU QUERIA TER APRESENTADO!" e foi assim que a gente descobriu que todo mundo já estava tentando juntar a gente antes mesmo de a gente se conhecer.
Vou dizer apenas que eles tavam bem certos em juntar os dois. Foram umas duas semanas de muita ~alegria~, até que no dia da final da copa, a gente tava com um baita dum povão amontoado no salão de festas pra assistir todo mundo junto. Logo antes de o jogo começar, ele falou:
- ah é, cê vem semana que vem? É meu aniversário!
- dou um jeito e venho sim.
(...)
- aniversário de quantos anos?
- CATORZE!
A cor desapareceu da minha cara, eu vi tudo preto. Eu tava pendurada nele tipo uma mochila e a força dos meus bracíneos desapareceu completamente. Eu tinha DEZESSETE e estava a dois meses de fazer 18.
Bom, já que a merda já estava feita, o acordo foi não contar pras nossas mamães esse pequeno detalhe. Eu me lembro do pavor que eu sentia cada vez que conversava com a mãe dele, porque eu já estava na faculdade e ele nem tinha entrado no ensino médio ainda, sabe? Felizmente todo mundo sobreviveu. O mais incrível é que eu nem consigo lembrar como o relacionamento terminou, porque foi muito suave a coisa toda, mantivemos a amizade e a gente ainda se fala de vez em quando até hoje. Deve ter durado uns dois anos, a gente era muito cabeça fresca pra ficar contando tempo e essas coisas. Cê vê, né? Provavelmente top 3 dos relacionamentos mais adultos que eu já tive e c e r t a s pessoas nem atingiram a maioridade durante o processo.
Quando eu fiz 20 anos, eu comecei a trabalhar. Os finais de semana de despreocupação no condomínio eram cada vez mais raros, mas a gente dava um jeito. Massss, eu acabei passando um tempo maior sem aparecer. Uns 6 meses, talvez. Num lugar com tanta gente, as coisas mudam MUITO nesse período de tempo. Muitos amigos mais velhos começaram a trabalhar, outros mais novos conheceram pessoas novas, gente se mudou pra lá, gente se mudou de lá... A ordem das coisas estava diferente outra vez. Enquanto eu estivesse lá, eu estaria na rua, de modos que o pessoal mais novo, da geração "posterior" à minha, era quem tinha tempo pra ficar fazendo vários nada na rua. Não demorou até que todo mundo com quem eu saía tivesse pelo menos 5 anos a menos que eu. Também não demorou pra eu conhecer outro menino que chamasse minha atenção. Só que tinha horas que eu não achava mais ele tão bonito nem tão legal. Era engraçado. Às vezes eu adorava passar um tempo com ele de tarde, de noite eu achava ele insuportável. Obviamente eram gêmeos e eu nem me dei conta até ver.os.dois.juntos. Minha inteligência me surpreende demais, cara. É incrível morar na minha cabeça.
Cêis tinham que estar lá pro momento em que eu ~compreendi~ que eram dois e canalizei meus esforços pro gêmeo correto. Logo a gente estava tendo um friends with benefits bastante vantajoso mesmo, vou ser sincera. Ninguém tava escondendo nada, mas também não tava fazendo propaganda. Só que um dia ele contou pra irmã, que já me conhecia havia um tempo e sabia quantos anos eu tinha. MAS É CLARO que ele era muito mais novo, né? Dava uns 3 anos e meio de diferença, se não me engano. O drama era ele nem ter feito 18 e eu já ter passado dos 20. Lembro de dizer pra ela "quando ele tiver 30, ninguém vai achar essa diferença assustadora!". Não que alguém achasse na época, porque não era visível, né?
A gente nunca namorou, mas a gente passou um tempão tendo a preferência um do outro. Ousseje: se a gente estivesse na mesma cidade, estaríamos juntos. Por uns 4 ou 5 anos, eu estava sempre lá e a gente sempre dava um jeito de passar um tempo junto. Minhas idas foram ficando mais espaçadas ali por 2006, mas ele sempre era (e ainda é) o primeiro a saber quando estou a caminho. E eu tava certa (heh). Agora ninguém acha mais absurdo o tanto que ele é mais novo que eu.
Eu não tenho muitos amigos do tempo da faculdade. Até tem umas 2 ou 3 pessoas com quem eu me dou bem, vejo de vez em quando, mas uma coisa bem pelo bem da social mesmo. No trabalho eu nunca cheguei a fazer amizaaAAaAAAAAaades. Nos últimos 5 anos eu conheci pessoas de quem eu gosto, com quem ocasionalmente almoço ou dou uma volta na cantina, mas são pessoas que não têm meu número de celular, por exemplo. Com quem não falo nos finais de semana. Ano passado foi a primeira vez que eu fiz uma amizade no ambiente de trabalho. Alguém que tem meu celular, com que eu falo no final de semana, de quem eu realmente gosto. Pergunta quantos anos mais novo.
Pergunta não, que não é dele que eu tô falando hoje.
Também ano passado eu entrei no mestrado. Entrei de vez, i mean, que eu tô sofrendo essa desgraça desde 2014. Mas quando eu passei a aluna regular, um dos meus primeiros pensamentos foi "eu PRECISO conhecer essas pessoas". Todo mundo sabe que é impossível passar por essa experiência acadêmica isoladamente, então era questão de sobrevivência. Pois o milagre aconteceu e hoje eu posso dizer que mais que conhecer, eu fiz amigos. E é uma sensação muito estranha de pertencimento, sabe? Quando tem uma festa ou a gente sai junto, eu não sinto como se eu fosse um anexo. Estou lá porque eu faço parte mesmo.
Sexta, quando estávamos todos comendo e rindo em um lanche da tarde que a gente faz frequentemente, eu percebi que não fico questionando minha existência e minha "posição social" no grupo. E eles são, é claro, muitos anos mais novos que eu. Uma média de 8 anos mais novos. Na maioria dos dias eu não lembro disso.
Ontem eu estava em uma festa com pessoas que eu conheço há mais de 15 anos. Inevitavelmente, toda festa atinge aquele ponto saudosista, em que todo mundo começa a lembrar do começo da amizade e coisa e tal. Essas pessoas faziam MUITAS viagens juntas e em algum momento alguém falou que não se lembrava de mim em nenhuma. "Ah, é que eu já trabalhava, então ficava quase impossível pedir pra passar a semana fora, eu nem tentava". E todo o resto podia por que? Porque ainda estava na escola. Agora é até engraçado porque todo mundo leva uma vida bem adulta, praticamente todos casados ou em vias de, quase todo mundo com filho, aquela coisa que se espera das pessoas numa certa altura da vida. E eu era a única que ainda tinha que voltar cedo pra casa pra estudar, porque tenho trabalho escolar pra entregar a semana inteira.
Aí eu fico pensando às vezes que eu sempre tô no tempo errado, sabe? Não que eu ache que a gente tá condenado a viver com pessoas que nasceram no mesmo ano que a gente, com um desvio padrão de uns 2 anos que vai aumentando quanto mais velho a gente fica.
Mas também não sei o que é apropriado, se é que a gente pode usar essa palavra pro geral das relações humanas. Até porque minhas pessoas favoritas hoje em dia nasceram uma média de DEZ ANOS depois de mim. De 10 pra mais. E eu fico questionando minha sanidade mental e o significado disso.
Eu tenho vários amigos da minha idade, é claro. Pessoas com quem eu me dou muito bem, com quem eu falo todo dia. Mas eu tenho bem mais amigos que estão na mesma fase da vida que eu, só que eles nasceram quando eu já tinha passado da oitava série. Ao mesmo tempo que não significa nada, é estranho, não é?
Sei que o preconceito está 120% dentro da minha cabeça, mas são questãs.
******
Timehop me lembrou esses dias o último relacionamento ~razoavelmente sério~ que eu tive e confesso que nem eu mema lembrava, valeo, tecnologia. Acho que são 6 anos de diferença entre mim e ele, eu mais velha. Lembrei dele me infernizando demais no meu aniversário e o tempo todo, na verdade. Aí eu fui fazer uma retrospectiva dos meus relacionamentos sem seriedade nenhuma e o mais recente foi com um jovem 8 anos mais novo (tem algum registro por aí de eu falando pra ele que estava na segunda série e ele falando "foi no ano que eu nasci"). E agora tem esse crush que parece até uma música dos Smiths, porque tem uma luz que nunca apaga e todo mundo já sabe que quando ele nasceu eu já não tinha mais idade pra ver tv colosso, se é que vocês me entendem.
Bom.
Ainda no ano passado eu conheci um rapás (conheci um trilhão de pessoas em 2015), tem histórias sobre ele por aqui também, mas jamais direi quais. Conheci, vi algumas vezes, esqueci que existia. Outro dia encontrei com ele casualmente, fui simpática, segui minha vida, etc. Uns 2 meses atrás ele me adicionou no facebook, sem razão aparente. Um mês atrás apareceu casualmente e na última semana mandou mensagem, apareceu, rimos, foi embora, mandou mensagem de novo, deixou a deixa pra encontrar de novo.
Eu ainda não sei o que esse cerumano quer comigo. Pode parecer óbvio, mas eu já aprendi que nunca é. Como eu tenho essa necessidade estúpida de saber quantos anos todo mundo tem o tempo todo, fui lá averiguar a data de nascimento.
No post que eu falei dele no ano passado, chutei que tinha uns 3 anos a menos do que eu.
TEM DEZ.
Resumidamente: meus pais eram dos mais jovenzinhos entre os casais, e eu era a filha mais velha dos dois. Praticamente todas as outras famílias tinham dois filhos a essa altura, sendo o segundo da minha idade. Isso quer dizer que todos os meus amigos tinham pelo menos um irmão mais velho. Alguns tinham QUATRO irmãos mais velhos. Outros eram filhos de segundo casamento e os irmãos eram bem mais velhos. Tipo, quando eu tinha 5 anos, tinha toda uma geração que tinha 15 e outra que tinha 10. A vida dos mais novos era diretamente influenciada pela posição de seus irmãos mais velhos na sociedade. Se o irmão mais velho era o legalzão da galera, o irmão mais novo podia ser um abobalhado, mas seria tratado com o mesmo ~respeito~ do seu antecessor. Se uma pessoa fosse meio feinha, mas tivesse um irmão mais velho desejado, seria ela também tratada como se fosse linda. Alguém que jogasse bola muito mal, porém irmão de alguém que jogava muito bem, primeiro escolhido no time. Entendeu?
E tinha eu.
Não apenas eu não tinha irmãos mais velhos, como MEUS PAIS eram muito novos. Quando eu tinha 5, minha mãe tinha 22. Alguns desses infelizes tinham pais da idade dos meus avós.
Enquanto eu era bem pequena, a vida era razoavelmente tranquila. Embora eu nunca tivesse um irmão pra interceder nos momentos de quebra pau - como todo mundo tinha - a vida até os 10 anos não chegava a ter fortes emoções. Mas daí pra frente foi só ladeira abaixo. Eu fui desconvidada de festas, excluída de brincadeiras, ameaçada (cheguei a passar uma semana sem sair de casa pra não apanhar), apanhei de fato, nunca tinha dupla pro truco, nunca era escolhida pra jogar vôlei na quadra e sofri todo tipo de hostilização. Sem um irmão mais velho pra te colocar dentro dos esquemas, naquela idade, você tinha mais era que ficar quieto e parecer invisível.
Hoje, especificamente, eu tava pensando nisso por motivos que uma das pessoas dessa época resolveu criar um grupo no whatsapp (também conhecido como MEU MAIOR PESADELO) formado por essas pessoas todas. CENTO E CINQUENTA indivíduos, dos quais eu só suporto 5? É tipo o inception do pesadelo. Cem pessoas insuportáveis num grupo que apita de segundo em segundo com mensagem. (A razão de eu não ter saído ainda não é de suas conta.) (Até o fechamento dessa edição, informo que JÁ SAÍMOS SIM DO GRUPO, não tinha condição.)
Aí eu tava lá realizando a façanha de ser ignorada pelas mesmas pessoas duzentos anos depois, quando uma das minhas únicas amigas dessa época começou a falar comigo no privado. Confessei que deixo ali pra ver as fotos, porque no começo achei que alguém ia falar "nossa, eu lembro de como a gente era imbecil com você, foi mal", pra não chatear a pessoa que criou o grupo e que provavelmente eu vou esperar uma madrugada silenciosa pra vazar bem linda. Ela me perguntou o motivo. Eu falei que odiei crescer lá, que as pessoas eram todas horrorosas e eu não entendo as "boas memórias" que eles dizem ter. Ela respondeu "você tem boas memórias SIM". Parei 10 minutos pra pensar e poder responder que ela tinha pirado de vez, até eu lembrar da fase II da minha vida lá, dos 16 aos 20. E da fase III, dos 20 em diante.
Então a infância foi uma bosta mole mesmo. Meus pais mantiveram a gente afastado de lá por uns anos, quando eu tinha quase 13, e voltaram poucos meses antes de eu fazer 16. Milagrosamente eu não era horrorosa nessa época, de modos que alguns meninos da minha idade repararam minha existência. Outros meninos tinham se mudado na minha ausência, então nem sabiam que eu tinha sido uma criança loser. Além dos 3 ou 4 amigos que eu sempre tive, eu finalmente fiz amizades naquele lugar. Saía de casa pra conversar na rua principal todo dia, feliz e contente, cheia de gente em volta, risada e, é claro, ~paqueríneas~. Num faço a MENOR ideia de quanta boquinha jovem beijei nessa época, eu diria talvez até que todas rererere. Mas por mais que eu me desse bem com a galera da minha idade, ao longo do tempo eu ia convivendo com um pessoal cada vez mais novo. Se eu comecei essa fase com uns amigos na casa dos 20, ela acabou com amigos entre 4 e 6 anos mais novos (quando eu tinha 20). Eu tive um casinho secreto com um menino TÃO mais novo que dá até vergonha colocar as idades aqui. Eu não sabia que ele era mais novo, nem o quanto. Mas era a pessoa com quem eu tinha o melhor relacionamento da época, no geral.
*****
No começo de uma copa cujo ano vou suprimir apenas para fins de mistério, eu fui visitar a casa da minha mãe ~no interior~ e encontrei um dos meninos que é personagem de muitos posts por aqui, devido ao relacionamento que jamais aconteceu por falta de timing (e que está na minha vida até hoje, pois pessoa mais legal do mundo). E, bom, a gente se viu, nada aconteceu, feijoada. Cheguei em São Paulo bem desanimada com a minha vida e parti diretamente pra uma festa junina. De vez em quando, em grandes acontecimentos, era que eu sentia a falta de sincronia com o pessoal do condomínio. Parecia que eu não conseguia exatamente me encaixar nas conversas logo de cara, então eu sempre ia pro cantinho da introspecção observar as pessoas todas, tipo uma piscina de água gelada, que cê fica ensaiando a hora de pular de bomba - que entrar aos pouquinhos não vai dar.
Tava eu lá no canto, estacionou um menino do meu lado e começamos a conversar sobre a festa, sobre a copa, sobre várias coisas. É como eu sempre digo: fico impressionada com pessoas que iniciam diálogos saídos do mais absoluto nada, com gente que não conhecem. E ele era tããããão bonito que eu realmente não achei conveniente interromper. Em algum momento ele foi preso naquelas bosta de cadeia de festa junina e eu segui na minha missão impossível de socializar.
Durante toda aquela noite, minha amiga (a mais antiga que eu tenho) dizia que tinha uma pessoa pra me apresentar, que tinha certeza que a gente se daria bem. Depois de conhecer o menino da cadeia, eu pedi pra que ela não apresentasse, que eu já tinha me interessado por alguém. Quando ele finalmente se libertou, voltou até mim e continuamos a conversar. Em seguida, minha amiga chegou e gritou "QUEM FOI QUE APRESENTOU VOCÊS DOIS??? EU QUERIA TER APRESENTADO!" e foi assim que a gente descobriu que todo mundo já estava tentando juntar a gente antes mesmo de a gente se conhecer.
Vou dizer apenas que eles tavam bem certos em juntar os dois. Foram umas duas semanas de muita ~alegria~, até que no dia da final da copa, a gente tava com um baita dum povão amontoado no salão de festas pra assistir todo mundo junto. Logo antes de o jogo começar, ele falou:
- ah é, cê vem semana que vem? É meu aniversário!
- dou um jeito e venho sim.
(...)
- aniversário de quantos anos?
- CATORZE!
A cor desapareceu da minha cara, eu vi tudo preto. Eu tava pendurada nele tipo uma mochila e a força dos meus bracíneos desapareceu completamente. Eu tinha DEZESSETE e estava a dois meses de fazer 18.
- щ(`Д´щ;)
Bom, já que a merda já estava feita, o acordo foi não contar pras nossas mamães esse pequeno detalhe. Eu me lembro do pavor que eu sentia cada vez que conversava com a mãe dele, porque eu já estava na faculdade e ele nem tinha entrado no ensino médio ainda, sabe? Felizmente todo mundo sobreviveu. O mais incrível é que eu nem consigo lembrar como o relacionamento terminou, porque foi muito suave a coisa toda, mantivemos a amizade e a gente ainda se fala de vez em quando até hoje. Deve ter durado uns dois anos, a gente era muito cabeça fresca pra ficar contando tempo e essas coisas. Cê vê, né? Provavelmente top 3 dos relacionamentos mais adultos que eu já tive e c e r t a s pessoas nem atingiram a maioridade durante o processo.
Quando eu fiz 20 anos, eu comecei a trabalhar. Os finais de semana de despreocupação no condomínio eram cada vez mais raros, mas a gente dava um jeito. Massss, eu acabei passando um tempo maior sem aparecer. Uns 6 meses, talvez. Num lugar com tanta gente, as coisas mudam MUITO nesse período de tempo. Muitos amigos mais velhos começaram a trabalhar, outros mais novos conheceram pessoas novas, gente se mudou pra lá, gente se mudou de lá... A ordem das coisas estava diferente outra vez. Enquanto eu estivesse lá, eu estaria na rua, de modos que o pessoal mais novo, da geração "posterior" à minha, era quem tinha tempo pra ficar fazendo vários nada na rua. Não demorou até que todo mundo com quem eu saía tivesse pelo menos 5 anos a menos que eu. Também não demorou pra eu conhecer outro menino que chamasse minha atenção. Só que tinha horas que eu não achava mais ele tão bonito nem tão legal. Era engraçado. Às vezes eu adorava passar um tempo com ele de tarde, de noite eu achava ele insuportável. Obviamente eram gêmeos e eu nem me dei conta até ver.os.dois.juntos. Minha inteligência me surpreende demais, cara. É incrível morar na minha cabeça.
Cêis tinham que estar lá pro momento em que eu ~compreendi~ que eram dois e canalizei meus esforços pro gêmeo correto. Logo a gente estava tendo um friends with benefits bastante vantajoso mesmo, vou ser sincera. Ninguém tava escondendo nada, mas também não tava fazendo propaganda. Só que um dia ele contou pra irmã, que já me conhecia havia um tempo e sabia quantos anos eu tinha. MAS É CLARO que ele era muito mais novo, né? Dava uns 3 anos e meio de diferença, se não me engano. O drama era ele nem ter feito 18 e eu já ter passado dos 20. Lembro de dizer pra ela "quando ele tiver 30, ninguém vai achar essa diferença assustadora!". Não que alguém achasse na época, porque não era visível, né?
A gente nunca namorou, mas a gente passou um tempão tendo a preferência um do outro. Ousseje: se a gente estivesse na mesma cidade, estaríamos juntos. Por uns 4 ou 5 anos, eu estava sempre lá e a gente sempre dava um jeito de passar um tempo junto. Minhas idas foram ficando mais espaçadas ali por 2006, mas ele sempre era (e ainda é) o primeiro a saber quando estou a caminho. E eu tava certa (heh). Agora ninguém acha mais absurdo o tanto que ele é mais novo que eu.
- ( ͡° ͜ʖ ͡°)
Eu não tenho muitos amigos do tempo da faculdade. Até tem umas 2 ou 3 pessoas com quem eu me dou bem, vejo de vez em quando, mas uma coisa bem pelo bem da social mesmo. No trabalho eu nunca cheguei a fazer amizaaAAaAAAAAaades. Nos últimos 5 anos eu conheci pessoas de quem eu gosto, com quem ocasionalmente almoço ou dou uma volta na cantina, mas são pessoas que não têm meu número de celular, por exemplo. Com quem não falo nos finais de semana. Ano passado foi a primeira vez que eu fiz uma amizade no ambiente de trabalho. Alguém que tem meu celular, com que eu falo no final de semana, de quem eu realmente gosto. Pergunta quantos anos mais novo.
Pergunta não, que não é dele que eu tô falando hoje.
Também ano passado eu entrei no mestrado. Entrei de vez, i mean, que eu tô sofrendo essa desgraça desde 2014. Mas quando eu passei a aluna regular, um dos meus primeiros pensamentos foi "eu PRECISO conhecer essas pessoas". Todo mundo sabe que é impossível passar por essa experiência acadêmica isoladamente, então era questão de sobrevivência. Pois o milagre aconteceu e hoje eu posso dizer que mais que conhecer, eu fiz amigos. E é uma sensação muito estranha de pertencimento, sabe? Quando tem uma festa ou a gente sai junto, eu não sinto como se eu fosse um anexo. Estou lá porque eu faço parte mesmo.
Sexta, quando estávamos todos comendo e rindo em um lanche da tarde que a gente faz frequentemente, eu percebi que não fico questionando minha existência e minha "posição social" no grupo. E eles são, é claro, muitos anos mais novos que eu. Uma média de 8 anos mais novos. Na maioria dos dias eu não lembro disso.
Ontem eu estava em uma festa com pessoas que eu conheço há mais de 15 anos. Inevitavelmente, toda festa atinge aquele ponto saudosista, em que todo mundo começa a lembrar do começo da amizade e coisa e tal. Essas pessoas faziam MUITAS viagens juntas e em algum momento alguém falou que não se lembrava de mim em nenhuma. "Ah, é que eu já trabalhava, então ficava quase impossível pedir pra passar a semana fora, eu nem tentava". E todo o resto podia por que? Porque ainda estava na escola. Agora é até engraçado porque todo mundo leva uma vida bem adulta, praticamente todos casados ou em vias de, quase todo mundo com filho, aquela coisa que se espera das pessoas numa certa altura da vida. E eu era a única que ainda tinha que voltar cedo pra casa pra estudar, porque tenho trabalho escolar pra entregar a semana inteira.
- ( ̄^ ̄)凸
Aí eu fico pensando às vezes que eu sempre tô no tempo errado, sabe? Não que eu ache que a gente tá condenado a viver com pessoas que nasceram no mesmo ano que a gente, com um desvio padrão de uns 2 anos que vai aumentando quanto mais velho a gente fica.
Mas também não sei o que é apropriado, se é que a gente pode usar essa palavra pro geral das relações humanas. Até porque minhas pessoas favoritas hoje em dia nasceram uma média de DEZ ANOS depois de mim. De 10 pra mais. E eu fico questionando minha sanidade mental e o significado disso.
Eu tenho vários amigos da minha idade, é claro. Pessoas com quem eu me dou muito bem, com quem eu falo todo dia. Mas eu tenho bem mais amigos que estão na mesma fase da vida que eu, só que eles nasceram quando eu já tinha passado da oitava série. Ao mesmo tempo que não significa nada, é estranho, não é?
Sei que o preconceito está 120% dentro da minha cabeça, mas são questãs.
******
Timehop me lembrou esses dias o último relacionamento ~razoavelmente sério~ que eu tive e confesso que nem eu mema lembrava, valeo, tecnologia. Acho que são 6 anos de diferença entre mim e ele, eu mais velha. Lembrei dele me infernizando demais no meu aniversário e o tempo todo, na verdade. Aí eu fui fazer uma retrospectiva dos meus relacionamentos sem seriedade nenhuma e o mais recente foi com um jovem 8 anos mais novo (tem algum registro por aí de eu falando pra ele que estava na segunda série e ele falando "foi no ano que eu nasci"). E agora tem esse crush que parece até uma música dos Smiths, porque tem uma luz que nunca apaga e todo mundo já sabe que quando ele nasceu eu já não tinha mais idade pra ver tv colosso, se é que vocês me entendem.
Bom.
Ainda no ano passado eu conheci um rapás (conheci um trilhão de pessoas em 2015), tem histórias sobre ele por aqui também, mas jamais direi quais. Conheci, vi algumas vezes, esqueci que existia. Outro dia encontrei com ele casualmente, fui simpática, segui minha vida, etc. Uns 2 meses atrás ele me adicionou no facebook, sem razão aparente. Um mês atrás apareceu casualmente e na última semana mandou mensagem, apareceu, rimos, foi embora, mandou mensagem de novo, deixou a deixa pra encontrar de novo.
Eu ainda não sei o que esse cerumano quer comigo. Pode parecer óbvio, mas eu já aprendi que nunca é. Como eu tenho essa necessidade estúpida de saber quantos anos todo mundo tem o tempo todo, fui lá averiguar a data de nascimento.
No post que eu falei dele no ano passado, chutei que tinha uns 3 anos a menos do que eu.
TEM DEZ.
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