sexta-feira, 14 de outubro de 2016

danço eu, dança você

Eu admiro o cerumano.

Não todos, não o tempo todo, mas de vez em quando eu fico realmente encantada com a capacidade que as pessoas têm de fazer coisas que eu não sei como.

No caso, eu tô falando de se relacionar amorosamente com o próximo.

Tipo, tem esse cara. 

Eu via o indivíduo frequentemente num lugar aonde eu vou quase todo dia misteryoza e não era raro verlho olhando pra minha cara F U R T I V A M E N T E. Eu sou meio devagar do tipo


mas o moço era tão insistente em me encarar que eu não pude deixar de reparar. Agora você veja só a insistência. Como é meio difícil ignorar quando alguém tá INSISTENTE na ~paquera~, então eu reparei memo na pessoa e tal. Eu tava bem de boas, 0% interessada, apenas intrigada como que uma pessoa se interessa por mim. Sério, eu queria sempre poder dizer "brigada pelo interesse, vou guardar seu currículo aqui caso abra uma vaga na sua área, mas me explica pelamor dedels o que te causou isso aí?". Quem sabe um dia. 

O que eu acho engraçado é ver a pessoa se aproximando de forma estratégica até mandar aquele "oi" corajosíssimo, que pode ser respondido com uma bela rolada de olho. Mas eu sou educada demais e respondi o cumprimento. Lasquei-me. Claro que no dia seguinte a pessoa já sabia 308 coisas da minha vida (sempre surpresa com o stalk) e veio puxando assunto e eventualmente surgindo em outros lugares que descobriu que eu frequentava e eu sempre fico 120% admirada: COMO CONSEGUE?

Claro que uma das minhas respostas é que eu sou legal +QD+. Eu não tenho instalado o driver do fora, eu sou sempre muito gente boa pra pessoa não desanimar com a vida em geral. Também não é porque eu não tô interessada que eu tenho que ser rude - desde que a pessoa não ultrapasse meus limites, obviamente. 

Mas cê vê: vaneçinha pas e amor 2016 tem feito amigos nos mais variados lugares, sendo um deles aquele em que costuma encontrar o moço em questã. Então no começo ele me cumprimentava com um aceno, depois começou a passar por mim e falar oi, depois começou a dar uns tchauzinho de longe. Mas agora que a turma 2016 tá cheia de gente & intrigas, quando eu tô por ali tem sempre alguém conversando comigo. Eu tenho uma resting bitch face que desaparece completamente quando eu vejo alguém de quem eu gosto, então eu vi que ele ficava olhando intrigado minha cara ir de


pra




cada vez que alguém vem falar comigo.

QUIQUI ELE FEIZ ONTI, NO CASO? Isso memo, atravessou o ambiente e veio conversar comigo.

Alguém poderia me explicar como a pessoa inicia um assunto saído do ÉTER com uma pessoa 98% desconhecida, não fica vermelho no processo e mantém a respiração sob controle?

Porque uma vez eu vi o crush numa festa. Eu e ele somo bff (na minha mente, pelo menos). A gente NUNCA ficou sem assunto na vida. Mas eu não conseguia ir até ele pra conversar porque eu sou extremamente bundona e tal e foi mó climão, porque COMO cê é amiga de alguém e não se aproxima pra conversar? Eu sou essa pessoa. Nem se num fosse crush, gente. Eu tô sempre parada num canto pra não incomodar. Se ninguém vem falar comigo, eu fico lá. Precisa nem regar que eu bebo água sozinha, melhor que samambaia.

Mas Anfilóquio (esse é o nome dele na minha cabeça) veio bem tranquilo na minha direção, estacionou na minha frente e ficou ali falando de coisa nenhuma enquanto eu estava embasbacada demais pra reagir. Quando eu vi fiquei 20 minutos lá dando conversinha. QUI QUI ELE FEIZ HOGY, NO CASO? Isso memo, já materializou na minha frente não uma, mas DUAS vezes (até agora e já mandou um ~te vejo de noite~, mas não vai ver não hehehe). Já forçando a clássica piada interna. Eu tô maravilhada. Não com o Anfilóquio em si, que permanece não fazendo nem um pouco meu tipo, continua tendo um total de nenhuma chance, mas a suavidade do movimento é uma coisa a ser estudada. Jogou até um verdíssimo sobre a festa da um conhecido em comum que vai acontecer em algum momento neste fim de semana, mas eu dei aquela freada que fez até barulho porque aí já era demais, não me convida pra festa não que eu perco a educação.

*****

Em notícia semi-relacionada tem a moça do avon (nem perguntem). Eu tava trabalhando e a moça do avon surgiu numa hora que eu tava 120% ocupada, atendendo uma fila de umas 8 pessoas. Um dos aleatórios presentes achou conveniente começar o seguinte diálogo:

- xi, acho que hoje você não almoça. 
- na hora não, almoço quando terminar de atender a última pessoa da fila. 
- mas aí vai ter passado muito de meio dia.
- e?
- você vai fechar a sala?
- tá aberta agora quando eu deveria estar almoçando, não tá? então eu fecho e almoço.
- eu acho um absurdo.
- você pode ficar aqui atendendo enquanto eu vou almoçar. Ou poderia ter ficado lá fora esperando se eu tivesse saído no horário e perdido o prazo, que terminaria antes de eu voltar, ué. 
- é, rererere.

Mas que delícia o funcionalismo público, o brasileiro™ gosta de reclamar até quando a situação tá favorável, pelamor. Bom, moça do avon presenciou esse diálogo maravilhoso e eu via a cara dela ficando mais sorridente a cada resposta minha. Quando chegou a vez dela de falar comigo, a primeira coisa que ela perguntou foi que horas eu ia almoçar. "Quando der", eu respondi e dei uma risadinha. A menina olhava pra mim de um jeito bastante desconfortante, se vocês querem saber. E começou a mexer em tudo na minha mesa e fazer pergunta e puxar assunto e eu não podia simplesmente mandar catar coquinhos, porque tinha que atender a indivídua enquanto ela claramente estava tentando mandar uma sedução. Felizmente a fila continuava, então não tinha desculpa pra menina continuar na minha sala quando acabei de falar com ela.

Contudo, dois dias depois, lá estava ela na porta da sala, perguntando se eu consegui almoçar no outro dia. Vou ser bem sincera, não lembrava quem ela era e não sabia do que ela tava falando. Levou uns bons 2 minutos pra eu reconectar a mente e pensar MELDELS MIN AJUDE. Ela ainda insistiu nesse negózdi almoço e eu insinuei que é bem normal eu almoçar em horários ~diferenciados~ e nunca se sabe quando estarei me alimentando. 

Cê pensa que ela desistiu? 

Já voltou mais meia dúzia de vezes, cada hora com uma desculpa diferente. Já pediu meu telefone, já mandou mensagem no uáts. Eu já fingi que não vi. Eu não sei dar fora, eu não sei ser rude. Qué dizê, claro que sei, né? Só acho que não tem necessidade. Mas o problema é que eu vou de ursinho carinhoso a coração gelado em 5 segundos e ninguém merece, né? Mas já estamos há 24 horas sem interações não solicitadas, AGORA VAI.

*****

Eu posso não estar interessada nas pessoas na maior parte do tempo, mas eu não consigo evitar me maravilhar. A coragem delas de irem atrás do que querem é uma coisa que chega a parecer mágica.

Porque assim, o inconveniente de ter me tornado uma pessoa com uns 10% de sanidade mental (uma evolução pra quem não tinha nenhuma), foi que eu descobri o ~prazer da companhia alheia~. Inconveniente, kirida? Isso mesmo. Porque eu sempre fui autossuficiente com as 97 vozes da minha cabeça e tal. Mas agora eu aprecio a companhia das pessoas mais que em pequenas doses. PIOR, parece que eu sinto falta quando não tem? Eu realmente não estou sabendo como lhe dar. Eu sempre fui meio grudenta quando se trata de pessoas que eu gosto, mas era só quando elas estavam na minha frente. Agora eu penso nas pessoas quando estou em casa, por exemplo. Eu tô vendo um filme e penso "putz, a pessoa x ia gostar disso". Eu tô na rua e vejo alguma coisa e já acho que outra pessoa ia gostar daquilo. Eu tô na rede social feicer e vejo outra coisa e PÁ, alguém ia gostar daquilo.

E tem as vezes que eu vou na padaria, no quintal, na cozinha, no trabalho, na academia, na internet e até mesmo no meu próprio sonho e sinto falta de uma única e específica pessoa, porque tudo que eu vejo é pra ele que eu quero mostrar ou contar ou falar a respeito.

Aí que dificulta a vida.

A pessoa tá presa no mesmo quilômetro quadrado que eu? Tá.
Tá interessada? Provavelmente não.
Eu consigo seguir em frente e olhar para o lado? De jeito nenhum.

Aí eu sinto um negócio que era pra mim um desconhecido: solidão.

Eu sempre vivi sozinha. Ter umas vibe mental muito diferente da população em geral te garante solidão onde quer que você esteja, até mesmo na estação da Luz, às seis da tarde. E eu digo isso com conhecimento de causa, porque eu era a mestre em esquecer da vida no museu da língua portuguesa e ter que pegar metrô lotado pra voltar pra casa. Uma vez ainda deu preguiça de dar a volta pra entrada do metrô e eu fui de trem mesmo, já que em algum momento eu teria que pegar a linha esmeralda. Fui parar num lugar chamado presidente altino (ou algo assim), em que pessoas entraram LITERALMENTE com galinhas pra colocar no bagageiro. Se cabem 100 pessoas num vagão, naquele dia tinham 300. E eu lembro de ter estado solitária naquele trem, assim como estava solitária num trem no meio do País de Gales em que só tinha mesmo eu e um clone do Ed Sheeran no vagão. Eu já estive solitária no meio da 25 de Março em véspera de natal e de madrugada na rua da minha casa. Eu já estive solitária no show do Roberto Carlos na virada cultural e na praça de alimentação vazia, quando um tiozinho aleatório tocava um piano. Eu já estive solitária na minha própria festa de aniversário, na cama do namorado enquanto ele dormia, no sábado de tarde enquanto 3 pessoas conversavam animadamente comigo sobre assuntos superficiais e eu precisava desabafar.

Sabe?

Mas a solidão sempre foi uma coisa bem normal de sentir. Vou além: era tão normal que eu nem sentia. Era o padrão da minha existência. 

Só que agora parece que a vida tá entrando num daqueles momentos de grandes mudanças e eu fiquei meio sentimental. Nunca fui tão distante da minha família expandida.;De vez em quando eu me pergunto se um dia a gente vai ficar tanto tempo sem se falar que eu vou esquecer completamente que eles existem. Meus irmãos vão sair de casa daqui até o fim do ano. (Olar stalkers dos meus irmãos que chegam aqui, favor guardarem essa informação pra vocês que ninguém tá interessado nas suas opinião a respeito, flw vlw). Meus amigos de outras cidades permanecem morando em outras cidades, permanecem fazendo parzinho e se distanciando emocionalmente de mim tanto quanto estão distantes geograficamente. Meus amigos desta cidade estão cada vez trabalhando mais, em horários mais incompatíveis com os meus. Meus amigos do mestrado estão cada um com a sua pesquisa. Parece muita gente, mas não dá 20 pessoas essa soma (mentira). Gente que tem mais o que fazer e que eu nunca quero incomodar.

E eu me sinto sozinha. Mas não aquele sozinho bom, da minha companhia divertida. Um sozinho que pesa, de não ter a OPÇÃO de dividir se eu quiser.

O desconforto é culpa desse pesinho físico no peito que insiste em dificultar que eu respire e não tem atividade no mundo que faça passar.

*****

Tem dias que eu sento num tronquinho que tem ali no lugar onde eu aprecio o ocaso e fico pensando que eu queria ser como essas pessoas que são insistentes comigo e insistir com os outros também. 

Porque se tem uma saudade ridícula, é essa que você sente da pessoa que você sabe que tá logo ali. Oito prédios pra lá durante o dia. Três quadras pra lá durante a noite. Quatro toques na tela do celular o dia inteiro. E mesmo assim, você não fala nada que é pra não incomodar.




we're just two lost souls swimming in a fishbowl
year after year