domingo, 30 de outubro de 2016

crash

Quando você sente que o crush está afundando, aí você dá chance pra outras pessoas, mas todo mundo com quem você passa seu tempo só te lembra mais como ele é a pessoa mais legal do mundo e você nunca mais vai encontrar alguém igual.

É


QUE

VOCÊ

TOMOU

NO 

CU


domingo, 23 de outubro de 2016

temporal dysplasia

Eu perdi a conta de quantos rascunhos eu tenho iniciados por uma pequena história que é a seguinte: eu cresci num condomínio em São Paulo, que tinha 256 apartamentos. É exatamente esse o número. Não eram vários prédios isolados, não era uma rua cheia de prédios, não eram condomínios adjacentes. Eram 16 prédios cercados por apenas uma grade, uma portaria, uma porrada de gente.

Ousseje: existem mais ou menos um trilhão de histórias envolvendo os primeiros 22 anos da minha vida até eu parar de conviver com as pessoas de lá. Meu pai ainda mora no mesmo lugar, eu sempre tô por lá, mas eu já não tenho muita paciência pra socialização e GRAÇAZADEUS muita gente já não mora mais ali.

No que diz respeito à vida social, minha infância foi uma GRANDES BOSTA.

Foram anos de bullying e de agressão pelos quais eu não tenho nenhum apreço. Agora imagina que cada apartamento tinha uma média de 2 crianças. QUINHENTOS mini idiotas confinados num ambiente cercado e uma grande trouxa pra servir de saco de pancada. Sérião, nenhum amor por esse passado. 

meu prédio era o da frechinha


Tô aqui confusa onde foi que eu expliquei a dinâmica do local, mas provavelmente foi num post que ainda é rascunho. 

Resumidamente: meus pais eram dos mais jovenzinhos entre os casais, e eu era a filha mais velha dos dois. Praticamente todas as outras famílias tinham dois filhos a essa altura, sendo o segundo da minha idade. Isso quer dizer que todos os meus amigos tinham pelo menos um irmão mais velho. Alguns tinham QUATRO irmãos mais velhos. Outros eram filhos de segundo casamento e os irmãos eram bem mais velhos. Tipo, quando eu tinha 5 anos, tinha toda uma geração que tinha 15 e outra que tinha 10. A vida dos mais novos era diretamente influenciada pela posição de seus irmãos mais velhos na sociedade. Se o irmão mais velho era o legalzão da galera, o irmão mais novo podia ser um abobalhado, mas seria tratado com o mesmo ~respeito~ do seu antecessor. Se uma pessoa fosse meio feinha, mas tivesse um irmão mais velho desejado, seria ela também tratada como se fosse linda. Alguém que jogasse bola muito mal, porém irmão de alguém que jogava muito bem, primeiro escolhido no time. Entendeu?

E tinha eu.

Não apenas eu não tinha irmãos mais velhos, como MEUS PAIS eram muito novos. Quando eu tinha 5, minha mãe tinha 22. Alguns desses infelizes tinham pais da idade dos meus avós. 

Enquanto eu era bem pequena, a vida era razoavelmente tranquila. Embora eu nunca tivesse um irmão pra interceder nos momentos de quebra pau - como todo mundo tinha - a vida até os 10 anos não chegava a ter fortes emoções. Mas daí pra frente foi só ladeira abaixo. Eu fui desconvidada de festas, excluída de brincadeiras, ameaçada (cheguei a passar uma semana sem sair de casa pra não apanhar), apanhei de fato, nunca tinha dupla pro truco, nunca era escolhida pra jogar vôlei na quadra e sofri todo tipo de hostilização. Sem um irmão mais velho pra te colocar dentro dos esquemas, naquela idade, você tinha mais era que ficar quieto e parecer invisível.

Hoje, especificamente, eu tava pensando nisso por motivos que uma das pessoas dessa época resolveu criar um grupo no whatsapp (também conhecido como MEU MAIOR PESADELO) formado por essas pessoas todas. CENTO E CINQUENTA indivíduos, dos quais eu só suporto 5? É tipo o inception do pesadelo. Cem pessoas insuportáveis num grupo que apita de segundo em segundo com mensagem. (A razão de eu não ter saído ainda não é de suas conta.) (Até o fechamento dessa edição, informo que JÁ SAÍMOS SIM DO GRUPO, não tinha condição.)

Aí eu tava lá realizando a façanha de ser ignorada pelas mesmas pessoas duzentos anos depois, quando uma das minhas únicas amigas dessa época começou a falar comigo no privado. Confessei que deixo ali pra ver as fotos, porque no começo achei que alguém ia falar "nossa, eu lembro de como a gente era imbecil com você, foi mal", pra não chatear a pessoa que criou o grupo e que provavelmente eu vou esperar uma madrugada silenciosa pra vazar bem linda. Ela me perguntou o motivo. Eu falei que odiei crescer lá, que as pessoas eram todas horrorosas e eu não entendo as "boas memórias" que eles dizem ter. Ela respondeu "você tem boas memórias SIM". Parei 10 minutos pra pensar e poder responder que ela tinha pirado de vez, até eu lembrar da fase II da minha vida lá, dos 16 aos 20. E da fase III, dos 20 em diante.

Então a infância foi uma bosta mole mesmo. Meus pais mantiveram a gente afastado de lá por uns anos, quando eu tinha quase 13, e voltaram poucos meses antes de eu fazer 16. Milagrosamente eu não era horrorosa nessa época, de modos que alguns meninos da minha idade repararam minha existência. Outros meninos tinham se mudado na minha ausência, então nem sabiam que eu tinha sido uma criança loser. Além dos 3 ou 4 amigos que eu sempre tive, eu finalmente fiz amizades naquele lugar. Saía de casa pra conversar na rua principal todo dia, feliz e contente, cheia de gente em volta, risada e, é claro, ~paqueríneas~. Num faço a MENOR ideia de quanta boquinha jovem beijei nessa época, eu diria talvez até que todas rererere. Mas por mais que eu me desse bem com a galera da minha idade, ao longo do tempo eu ia convivendo com um pessoal cada vez mais novo. Se eu comecei essa fase com uns amigos na casa dos 20, ela acabou com amigos entre 4 e 6 anos mais novos (quando eu tinha 20). Eu tive um casinho secreto com um menino TÃO mais novo que dá até vergonha colocar as idades aqui. Eu não sabia que ele era mais novo, nem o quanto. Mas era a pessoa com quem eu tinha o melhor relacionamento da época, no geral.

*****

No começo de uma copa cujo ano vou suprimir apenas para fins de mistério, eu fui visitar a casa da minha mãe ~no interior~ e encontrei um dos meninos que é personagem de muitos posts por aqui, devido ao relacionamento que jamais aconteceu por falta de timing (e que está na minha vida até hoje, pois pessoa mais legal do mundo). E, bom, a gente se viu, nada aconteceu, feijoada. Cheguei em São Paulo bem desanimada com a minha vida e parti diretamente pra uma festa junina. De vez em quando, em grandes acontecimentos, era que eu sentia a falta de sincronia com o pessoal do condomínio. Parecia que eu não conseguia exatamente me encaixar nas conversas logo de cara, então eu sempre ia pro cantinho da introspecção observar as pessoas todas, tipo uma piscina de água gelada, que cê fica ensaiando a hora de pular de bomba - que entrar aos pouquinhos não vai dar.

Tava eu lá no canto, estacionou um menino do meu lado e começamos a conversar sobre a festa, sobre a copa, sobre várias coisas. É como eu sempre digo: fico impressionada com pessoas que iniciam diálogos saídos do mais absoluto nada, com gente que não conhecem. E ele era tããããão bonito que eu realmente não achei conveniente interromper. Em algum momento ele foi preso naquelas bosta de cadeia de festa junina e eu segui na minha missão impossível de socializar.

Durante toda aquela noite, minha amiga (a mais antiga que eu tenho) dizia que tinha uma pessoa pra me apresentar, que tinha certeza que a gente se daria bem. Depois de conhecer o menino da cadeia, eu pedi pra que ela não apresentasse, que eu já tinha me interessado por alguém. Quando ele finalmente se libertou, voltou até mim e continuamos a conversar. Em seguida, minha amiga chegou e gritou "QUEM FOI QUE APRESENTOU VOCÊS DOIS??? EU QUERIA TER APRESENTADO!" e foi assim que a gente descobriu que todo mundo já estava tentando juntar a gente antes mesmo de a gente se conhecer. 

Vou dizer apenas que eles tavam bem certos em juntar os dois. Foram umas duas semanas de muita ~alegria~, até que no dia da final da copa, a gente tava com um baita dum povão amontoado no salão de festas pra assistir todo mundo junto. Logo antes de o jogo começar, ele falou:

- ah é, cê vem semana que vem? É meu aniversário!
- dou um jeito e venho sim.
(...)
- aniversário de quantos anos?
- CATORZE!

A cor desapareceu da minha cara, eu vi tudo preto. Eu tava pendurada nele tipo uma mochila e a força dos meus bracíneos desapareceu completamente. Eu tinha DEZESSETE e estava a dois meses de fazer 18.
  • щ(`Д´щ;)

Bom, já que a merda já estava feita, o acordo foi não contar pras nossas mamães esse pequeno detalhe. Eu me lembro do pavor que eu sentia cada vez que conversava com a mãe dele, porque eu já estava na faculdade e ele nem tinha entrado no ensino médio ainda, sabe? Felizmente todo mundo sobreviveu. O mais incrível é que eu nem consigo lembrar como o relacionamento terminou, porque foi muito suave a coisa toda, mantivemos a amizade e a gente ainda se fala de vez em quando até hoje. Deve ter durado uns dois anos, a gente era muito cabeça fresca pra ficar contando tempo e essas coisas. Cê vê, né? Provavelmente top 3 dos relacionamentos mais adultos que eu já tive e c e r t a s pessoas nem atingiram a maioridade durante o processo.

Quando eu fiz 20 anos, eu comecei a trabalhar. Os finais de semana de despreocupação no condomínio eram cada vez mais raros, mas a gente dava um jeito. Massss, eu acabei passando um tempo maior sem aparecer. Uns 6 meses, talvez. Num lugar com tanta gente, as coisas mudam MUITO nesse período de tempo. Muitos amigos mais velhos começaram a trabalhar, outros mais novos conheceram pessoas novas, gente se mudou pra lá, gente se mudou de lá... A ordem das coisas estava diferente outra vez. Enquanto eu estivesse lá, eu estaria na rua, de modos que o pessoal mais novo, da geração "posterior" à minha, era quem tinha tempo pra ficar fazendo vários nada na rua. Não demorou até que todo mundo com quem eu saía tivesse pelo menos 5 anos a menos que eu. Também não demorou pra eu conhecer outro menino que chamasse minha atenção. Só que tinha horas que eu não achava mais ele tão bonito nem tão legal. Era engraçado. Às vezes eu adorava passar um tempo com ele de tarde, de noite eu achava ele insuportável. Obviamente eram gêmeos e eu nem me dei conta até ver.os.dois.juntos. Minha inteligência me surpreende demais, cara. É incrível morar na minha cabeça.

Cêis tinham que estar lá pro momento em que eu ~compreendi~ que eram dois e canalizei meus esforços pro gêmeo correto. Logo a gente estava tendo um friends with benefits bastante vantajoso mesmo, vou ser sincera. Ninguém tava escondendo nada, mas também não tava fazendo propaganda. Só que um dia ele contou pra irmã, que já me conhecia havia um tempo e sabia quantos anos eu tinha. MAS É CLARO que ele era muito mais novo, né? Dava uns 3 anos e meio de diferença, se não me engano. O drama era ele nem ter feito 18 e eu já ter passado dos 20. Lembro de dizer pra ela "quando ele tiver 30, ninguém vai achar essa diferença assustadora!". Não que alguém achasse na época, porque não era visível, né? 

A gente nunca namorou, mas a gente passou um tempão tendo a preferência um do outro. Ousseje: se a gente estivesse na mesma cidade, estaríamos juntos. Por uns 4 ou 5 anos, eu estava sempre lá e a gente sempre dava um jeito de passar um tempo junto. Minhas idas foram ficando mais espaçadas ali por 2006, mas ele sempre era (e ainda é) o primeiro a saber quando estou a caminho. E eu tava certa (heh). Agora ninguém acha mais absurdo o tanto que ele é mais novo que eu.


  • ( ͡° ͜ʖ ͡°)

Eu não tenho muitos amigos do tempo da faculdade. Até tem umas 2 ou 3 pessoas com quem eu me dou bem, vejo de vez em quando, mas uma coisa bem pelo bem da social mesmo. No trabalho eu nunca cheguei a fazer amizaaAAaAAAAAaades. Nos últimos 5 anos eu conheci pessoas de quem eu gosto, com quem ocasionalmente almoço ou dou uma volta na cantina, mas são pessoas que não têm meu número de celular, por exemplo. Com quem não falo nos finais de semana. Ano passado foi a primeira vez que eu fiz uma amizade no ambiente de trabalho. Alguém que tem meu celular, com que eu falo no final de semana, de quem eu realmente gosto. Pergunta quantos anos mais novo.

Pergunta não, que não é dele que eu tô falando hoje.

Também ano passado eu entrei no mestrado. Entrei de vez, i mean, que eu tô sofrendo essa desgraça desde 2014. Mas quando eu passei a aluna regular, um dos meus primeiros pensamentos foi "eu PRECISO conhecer essas pessoas". Todo mundo sabe que é impossível passar por essa experiência acadêmica isoladamente, então era questão de sobrevivência. Pois o milagre aconteceu e hoje eu posso dizer que mais que conhecer, eu fiz amigos. E é uma sensação muito estranha de pertencimento, sabe? Quando tem uma festa ou a gente sai junto, eu não sinto como se eu fosse um anexo. Estou lá porque eu faço parte mesmo. 

Sexta, quando estávamos todos comendo e rindo em um lanche da tarde que a gente faz frequentemente, eu percebi que não fico questionando minha existência e minha "posição social" no grupo. E eles são, é claro, muitos anos mais novos que eu. Uma média de 8 anos mais novos. Na maioria dos dias eu não lembro disso.

Ontem eu estava em uma festa com pessoas que eu conheço há mais de 15 anos. Inevitavelmente, toda festa atinge aquele ponto saudosista, em que todo mundo começa a lembrar do começo da amizade e coisa e tal. Essas pessoas faziam MUITAS viagens juntas e em algum momento alguém falou que não se lembrava de mim em nenhuma. "Ah, é que eu já trabalhava, então ficava quase impossível pedir pra passar a semana fora, eu nem tentava". E todo o resto podia por que? Porque ainda estava na escola. Agora é até engraçado porque todo mundo leva uma vida bem adulta, praticamente todos casados ou em vias de, quase todo mundo com filho, aquela coisa que se espera das pessoas numa certa altura da vida. E eu era a única que ainda tinha que voltar cedo pra casa pra estudar, porque tenho trabalho escolar pra entregar a semana inteira.


  • ( ̄^ ̄)凸

Aí eu fico pensando às vezes que eu sempre tô no tempo errado, sabe? Não que eu ache que a gente tá condenado a viver com pessoas que nasceram no mesmo ano que a gente, com um desvio padrão de uns 2 anos que vai aumentando quanto mais velho a gente fica. 

Mas também não sei o que é apropriado, se é que a gente pode usar essa palavra pro geral das relações humanas. Até porque minhas pessoas favoritas hoje em dia nasceram uma média de DEZ ANOS depois de mim. De 10 pra mais. E eu fico questionando minha sanidade mental e o significado disso. 

Eu tenho vários amigos da minha idade, é claro. Pessoas com quem eu me dou muito bem, com quem eu falo todo dia. Mas eu tenho bem mais amigos que estão na mesma fase da vida que eu, só que eles nasceram quando eu já tinha passado da oitava série. Ao mesmo tempo que não significa nada, é estranho, não é?

Sei que o preconceito está 120% dentro da minha cabeça, mas são questãs.

******

Timehop me lembrou esses dias o último relacionamento ~razoavelmente sério~ que eu tive e confesso que nem eu mema lembrava, valeo, tecnologia. Acho que são 6 anos de diferença entre mim e ele, eu mais velha. Lembrei dele me infernizando demais no meu aniversário e o tempo todo, na verdade. Aí eu fui fazer uma retrospectiva dos meus relacionamentos sem seriedade nenhuma e o mais recente foi com um jovem 8 anos mais novo (tem algum registro por aí de eu falando pra ele que estava na segunda série e ele falando "foi no ano que eu nasci"). E agora tem esse crush que parece até uma música dos Smiths, porque tem uma luz que nunca apaga e todo mundo já sabe que quando ele nasceu eu já não tinha mais idade pra ver tv colosso, se é que vocês me entendem. 

Bom.

Ainda no ano passado eu conheci um rapás (conheci um trilhão de pessoas em 2015), tem histórias sobre ele por aqui também, mas jamais direi quais. Conheci, vi algumas vezes, esqueci que existia. Outro dia encontrei com ele casualmente, fui simpática, segui minha vida, etc. Uns 2 meses atrás ele me adicionou no facebook, sem razão aparente. Um mês atrás apareceu casualmente e na última semana mandou mensagem, apareceu, rimos, foi embora, mandou mensagem de novo, deixou a deixa pra encontrar de novo.

Eu ainda não sei o que esse cerumano quer comigo. Pode parecer óbvio, mas eu já aprendi que nunca é. Como eu tenho essa necessidade estúpida de saber quantos anos todo mundo tem o tempo todo, fui lá averiguar a data de nascimento.

No post que eu falei dele no ano passado, chutei que tinha uns 3 anos a menos do que eu. 


TEM DEZ.

  • (๑•﹏•)⋆* ⁑⋆*






terça-feira, 18 de outubro de 2016

informe

PS: O disqus está aí e tem gente achando que não dá mais pra comentar anônimo.

DÁ SIM!

Leia mais no post: INFORME de 18/10

Escreva seu comentário bem bonitinho. Aí tem "inicie sessão com" e "ou registre-se no disqus". Clique como se você fosse se registrar, na caixa onde está escrito "nome". Pode escolher o nome que quiser, pode escrever "anônimo", qualquer coisa. No campo email, qualquer coisa que tenha @, pode inventar a seu gosto "silasque@silasque.com", dá super certo. Ali no fim, marque a caixa "publicar sem iniciar sessão" e a flechinha. 

PRONTINHO.

A diferença é que, por padrão, esses comentários dependem de moderação até aparecerem. O que significa que eu preciso lembrar de olhar a página de administração do disqus. Mas todo mundo será publicado, inclusive se falar merda.

:)


**************

Estou há dias tentando colocar um sisteminha de comentários melhor aqui, mas falhando miseravelmente. Não que vocês sejam muito comentadoires, né? A maioria me manda email, mensagem no facebook, no whatsapp... mas eu gosto da ideia de caixa de comentários aqui e a do blogspot não está me satisfazendo.

Pra fazer um teste com o disqus, eu tenho que remover o sistema do blogger e pode ser que fique uns dias sem. Provavelmente ninguém vai notar, mas se alguém precisar desesperadamente se comunicar comigo e não souber como, tem a página do blog e o curious cat, onde dá pra ir anônimo.

É só isso memo. Vamos torcer :P

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

danço eu, dança você

Eu admiro o cerumano.

Não todos, não o tempo todo, mas de vez em quando eu fico realmente encantada com a capacidade que as pessoas têm de fazer coisas que eu não sei como.

No caso, eu tô falando de se relacionar amorosamente com o próximo.

Tipo, tem esse cara. 

Eu via o indivíduo frequentemente num lugar aonde eu vou quase todo dia misteryoza e não era raro verlho olhando pra minha cara F U R T I V A M E N T E. Eu sou meio devagar do tipo


mas o moço era tão insistente em me encarar que eu não pude deixar de reparar. Agora você veja só a insistência. Como é meio difícil ignorar quando alguém tá INSISTENTE na ~paquera~, então eu reparei memo na pessoa e tal. Eu tava bem de boas, 0% interessada, apenas intrigada como que uma pessoa se interessa por mim. Sério, eu queria sempre poder dizer "brigada pelo interesse, vou guardar seu currículo aqui caso abra uma vaga na sua área, mas me explica pelamor dedels o que te causou isso aí?". Quem sabe um dia. 

O que eu acho engraçado é ver a pessoa se aproximando de forma estratégica até mandar aquele "oi" corajosíssimo, que pode ser respondido com uma bela rolada de olho. Mas eu sou educada demais e respondi o cumprimento. Lasquei-me. Claro que no dia seguinte a pessoa já sabia 308 coisas da minha vida (sempre surpresa com o stalk) e veio puxando assunto e eventualmente surgindo em outros lugares que descobriu que eu frequentava e eu sempre fico 120% admirada: COMO CONSEGUE?

Claro que uma das minhas respostas é que eu sou legal +QD+. Eu não tenho instalado o driver do fora, eu sou sempre muito gente boa pra pessoa não desanimar com a vida em geral. Também não é porque eu não tô interessada que eu tenho que ser rude - desde que a pessoa não ultrapasse meus limites, obviamente. 

Mas cê vê: vaneçinha pas e amor 2016 tem feito amigos nos mais variados lugares, sendo um deles aquele em que costuma encontrar o moço em questã. Então no começo ele me cumprimentava com um aceno, depois começou a passar por mim e falar oi, depois começou a dar uns tchauzinho de longe. Mas agora que a turma 2016 tá cheia de gente & intrigas, quando eu tô por ali tem sempre alguém conversando comigo. Eu tenho uma resting bitch face que desaparece completamente quando eu vejo alguém de quem eu gosto, então eu vi que ele ficava olhando intrigado minha cara ir de


pra




cada vez que alguém vem falar comigo.

QUIQUI ELE FEIZ ONTI, NO CASO? Isso memo, atravessou o ambiente e veio conversar comigo.

Alguém poderia me explicar como a pessoa inicia um assunto saído do ÉTER com uma pessoa 98% desconhecida, não fica vermelho no processo e mantém a respiração sob controle?

Porque uma vez eu vi o crush numa festa. Eu e ele somo bff (na minha mente, pelo menos). A gente NUNCA ficou sem assunto na vida. Mas eu não conseguia ir até ele pra conversar porque eu sou extremamente bundona e tal e foi mó climão, porque COMO cê é amiga de alguém e não se aproxima pra conversar? Eu sou essa pessoa. Nem se num fosse crush, gente. Eu tô sempre parada num canto pra não incomodar. Se ninguém vem falar comigo, eu fico lá. Precisa nem regar que eu bebo água sozinha, melhor que samambaia.

Mas Anfilóquio (esse é o nome dele na minha cabeça) veio bem tranquilo na minha direção, estacionou na minha frente e ficou ali falando de coisa nenhuma enquanto eu estava embasbacada demais pra reagir. Quando eu vi fiquei 20 minutos lá dando conversinha. QUI QUI ELE FEIZ HOGY, NO CASO? Isso memo, já materializou na minha frente não uma, mas DUAS vezes (até agora e já mandou um ~te vejo de noite~, mas não vai ver não hehehe). Já forçando a clássica piada interna. Eu tô maravilhada. Não com o Anfilóquio em si, que permanece não fazendo nem um pouco meu tipo, continua tendo um total de nenhuma chance, mas a suavidade do movimento é uma coisa a ser estudada. Jogou até um verdíssimo sobre a festa da um conhecido em comum que vai acontecer em algum momento neste fim de semana, mas eu dei aquela freada que fez até barulho porque aí já era demais, não me convida pra festa não que eu perco a educação.

*****

Em notícia semi-relacionada tem a moça do avon (nem perguntem). Eu tava trabalhando e a moça do avon surgiu numa hora que eu tava 120% ocupada, atendendo uma fila de umas 8 pessoas. Um dos aleatórios presentes achou conveniente começar o seguinte diálogo:

- xi, acho que hoje você não almoça. 
- na hora não, almoço quando terminar de atender a última pessoa da fila. 
- mas aí vai ter passado muito de meio dia.
- e?
- você vai fechar a sala?
- tá aberta agora quando eu deveria estar almoçando, não tá? então eu fecho e almoço.
- eu acho um absurdo.
- você pode ficar aqui atendendo enquanto eu vou almoçar. Ou poderia ter ficado lá fora esperando se eu tivesse saído no horário e perdido o prazo, que terminaria antes de eu voltar, ué. 
- é, rererere.

Mas que delícia o funcionalismo público, o brasileiro™ gosta de reclamar até quando a situação tá favorável, pelamor. Bom, moça do avon presenciou esse diálogo maravilhoso e eu via a cara dela ficando mais sorridente a cada resposta minha. Quando chegou a vez dela de falar comigo, a primeira coisa que ela perguntou foi que horas eu ia almoçar. "Quando der", eu respondi e dei uma risadinha. A menina olhava pra mim de um jeito bastante desconfortante, se vocês querem saber. E começou a mexer em tudo na minha mesa e fazer pergunta e puxar assunto e eu não podia simplesmente mandar catar coquinhos, porque tinha que atender a indivídua enquanto ela claramente estava tentando mandar uma sedução. Felizmente a fila continuava, então não tinha desculpa pra menina continuar na minha sala quando acabei de falar com ela.

Contudo, dois dias depois, lá estava ela na porta da sala, perguntando se eu consegui almoçar no outro dia. Vou ser bem sincera, não lembrava quem ela era e não sabia do que ela tava falando. Levou uns bons 2 minutos pra eu reconectar a mente e pensar MELDELS MIN AJUDE. Ela ainda insistiu nesse negózdi almoço e eu insinuei que é bem normal eu almoçar em horários ~diferenciados~ e nunca se sabe quando estarei me alimentando. 

Cê pensa que ela desistiu? 

Já voltou mais meia dúzia de vezes, cada hora com uma desculpa diferente. Já pediu meu telefone, já mandou mensagem no uáts. Eu já fingi que não vi. Eu não sei dar fora, eu não sei ser rude. Qué dizê, claro que sei, né? Só acho que não tem necessidade. Mas o problema é que eu vou de ursinho carinhoso a coração gelado em 5 segundos e ninguém merece, né? Mas já estamos há 24 horas sem interações não solicitadas, AGORA VAI.

*****

Eu posso não estar interessada nas pessoas na maior parte do tempo, mas eu não consigo evitar me maravilhar. A coragem delas de irem atrás do que querem é uma coisa que chega a parecer mágica.

Porque assim, o inconveniente de ter me tornado uma pessoa com uns 10% de sanidade mental (uma evolução pra quem não tinha nenhuma), foi que eu descobri o ~prazer da companhia alheia~. Inconveniente, kirida? Isso mesmo. Porque eu sempre fui autossuficiente com as 97 vozes da minha cabeça e tal. Mas agora eu aprecio a companhia das pessoas mais que em pequenas doses. PIOR, parece que eu sinto falta quando não tem? Eu realmente não estou sabendo como lhe dar. Eu sempre fui meio grudenta quando se trata de pessoas que eu gosto, mas era só quando elas estavam na minha frente. Agora eu penso nas pessoas quando estou em casa, por exemplo. Eu tô vendo um filme e penso "putz, a pessoa x ia gostar disso". Eu tô na rua e vejo alguma coisa e já acho que outra pessoa ia gostar daquilo. Eu tô na rede social feicer e vejo outra coisa e PÁ, alguém ia gostar daquilo.

E tem as vezes que eu vou na padaria, no quintal, na cozinha, no trabalho, na academia, na internet e até mesmo no meu próprio sonho e sinto falta de uma única e específica pessoa, porque tudo que eu vejo é pra ele que eu quero mostrar ou contar ou falar a respeito.

Aí que dificulta a vida.

A pessoa tá presa no mesmo quilômetro quadrado que eu? Tá.
Tá interessada? Provavelmente não.
Eu consigo seguir em frente e olhar para o lado? De jeito nenhum.

Aí eu sinto um negócio que era pra mim um desconhecido: solidão.

Eu sempre vivi sozinha. Ter umas vibe mental muito diferente da população em geral te garante solidão onde quer que você esteja, até mesmo na estação da Luz, às seis da tarde. E eu digo isso com conhecimento de causa, porque eu era a mestre em esquecer da vida no museu da língua portuguesa e ter que pegar metrô lotado pra voltar pra casa. Uma vez ainda deu preguiça de dar a volta pra entrada do metrô e eu fui de trem mesmo, já que em algum momento eu teria que pegar a linha esmeralda. Fui parar num lugar chamado presidente altino (ou algo assim), em que pessoas entraram LITERALMENTE com galinhas pra colocar no bagageiro. Se cabem 100 pessoas num vagão, naquele dia tinham 300. E eu lembro de ter estado solitária naquele trem, assim como estava solitária num trem no meio do País de Gales em que só tinha mesmo eu e um clone do Ed Sheeran no vagão. Eu já estive solitária no meio da 25 de Março em véspera de natal e de madrugada na rua da minha casa. Eu já estive solitária no show do Roberto Carlos na virada cultural e na praça de alimentação vazia, quando um tiozinho aleatório tocava um piano. Eu já estive solitária na minha própria festa de aniversário, na cama do namorado enquanto ele dormia, no sábado de tarde enquanto 3 pessoas conversavam animadamente comigo sobre assuntos superficiais e eu precisava desabafar.

Sabe?

Mas a solidão sempre foi uma coisa bem normal de sentir. Vou além: era tão normal que eu nem sentia. Era o padrão da minha existência. 

Só que agora parece que a vida tá entrando num daqueles momentos de grandes mudanças e eu fiquei meio sentimental. Nunca fui tão distante da minha família expandida.;De vez em quando eu me pergunto se um dia a gente vai ficar tanto tempo sem se falar que eu vou esquecer completamente que eles existem. Meus irmãos vão sair de casa daqui até o fim do ano. (Olar stalkers dos meus irmãos que chegam aqui, favor guardarem essa informação pra vocês que ninguém tá interessado nas suas opinião a respeito, flw vlw). Meus amigos de outras cidades permanecem morando em outras cidades, permanecem fazendo parzinho e se distanciando emocionalmente de mim tanto quanto estão distantes geograficamente. Meus amigos desta cidade estão cada vez trabalhando mais, em horários mais incompatíveis com os meus. Meus amigos do mestrado estão cada um com a sua pesquisa. Parece muita gente, mas não dá 20 pessoas essa soma (mentira). Gente que tem mais o que fazer e que eu nunca quero incomodar.

E eu me sinto sozinha. Mas não aquele sozinho bom, da minha companhia divertida. Um sozinho que pesa, de não ter a OPÇÃO de dividir se eu quiser.

O desconforto é culpa desse pesinho físico no peito que insiste em dificultar que eu respire e não tem atividade no mundo que faça passar.

*****

Tem dias que eu sento num tronquinho que tem ali no lugar onde eu aprecio o ocaso e fico pensando que eu queria ser como essas pessoas que são insistentes comigo e insistir com os outros também. 

Porque se tem uma saudade ridícula, é essa que você sente da pessoa que você sabe que tá logo ali. Oito prédios pra lá durante o dia. Três quadras pra lá durante a noite. Quatro toques na tela do celular o dia inteiro. E mesmo assim, você não fala nada que é pra não incomodar.




we're just two lost souls swimming in a fishbowl
year after year

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

conto

A manhã tinha sido ruim. Planos desfeitos, almoço improvisado. Escolheu o local pra comer baseando-se apenas em dois critérios: a possibilidade de batata frita e de olhar de forma infrutífera o mesmo moço que senta na mesa ao lado há anos e com quem nunca trocou palavra.

Preferiu o prato de macarrão com frango à milanesa, porque se o dia estava desafiando a programação pré estabelecida, não se prenderia nem mesmo à sua vontade de comer batata.

Avistou o moço de sempre na fila do restaurante ao lado.

Sentaram-se em mesas adjacentes, como sempre.

Ruborizaram - porque a esse ponto as presenças são mutuamente percebidas - mas não se olharam.

Perdeu-se em pensamentos sobre o ridículo da situação, quando foi interrompida por uma voz grave, que saía de trás de uma bandeja de praça de alimentação:

- você me dá licença de sentar aqui?

Aquiesceu.

O dono da voz era um senhor velhinho, vestido como um senhor velhinho em dia de folga - a calça e a camisa sociais, (des)combinadas com uma jaqueta esportiva. O traje condizia com a formalidade ao pedir pra dividir a mesa. Nos dias de hoje, é demais esperar qualquer "tem alguém sentado aqui?" antes que a pessoa invada aquele microcosmos de duas-mesas-quatro-cadeiras. Nas mãos, o senhor trazia na bandeja amarela um prato de fetuccine ao sugo, acompanhado de uma garrafinha de cabernet sauvignon.

Não pode deixar de notar a graça do contraste do prato com a bandeja. Da garrafa de vinho de rótulo bonito com a tacinha de plástico característica das melhores praças de alimentação.

Tem alguma coisa sobre pessoas que ingerem álcool nessas praças. É um pouco triste vê-las em posse de copos de meio litro de cerveja em pleno horário de almoço, na companhia de um prato de linguiça com batata frita. Contudo, há um certo fascínio na imagem de um bom vinho harmonizado com o prato de comida. Mais ainda se são escolhas de um senhor velhinho. Que histórias estão por trás desse momento? Que tipo de vida tem uma pessoa que compra um prato de fetuccine e acompanha de um cabernet sauvignon em um início de tarde chuvosa, numa quinta-feira à tarde, no meio de outubro?

A essa altura, percebeu que se esquecera do moço da mesa ao lado. Mas quem é que se importa com a beleza alheia quando se está na presença de uma pessoa que deve ter uma infinidade de boas histórias pra contar?

Indagou-se qual seria a etiqueta para mesas compartilhadas. Será que poderia iniciar um colóquio. E, em caso afirmativo, como começar? O que perguntar? Parecia angustiante a inércia diante de tamanha oportunidade.

Arrependeu-se antecipadamente da atitude que não tomaria.

Lastimou sua própria história, não ter tido esse avô. Esse senhor especificamente ou outro com a mesma configuração. Entristeceu-se. Pensou em seus próprios avós e agradeceu tê-los (mesmo já não os tendo mais). Reconheceu que graças a eles chegara até ali. Perguntou-se quanto do que se é vem a ser produto do que veio antes. Seria aceitável lamentar sua história? Seria a mesma, não fosse o que a levou até ali? Como se tornara a pessoa que era hoje e não se reconhecia naqueles que viveram antes?

Pensou por um momento que a toda pessoa deveria ser designado um avô extra: um avô filosófico. Nem sempre o indivíduo se identifica com as pessoas de quem ele vem. Todos deveriam ter a oportunidade de desfrutar da companhia de um avô que fosse um baú de histórias e referências, independentes de posicionamento julgamento religioso, político, filosófico, alimentar e sexual de seus netos. Um avô que tivesse histórias frutos de uma vida vivida, em vez de uma vida lutando pra sobreviver. Um avô com quem se pudesse conversar sobre livros, filmes, quadros, músicas e acontecimentos. Sobre harmonização de molhos e vinhos. Sobre tardes de chuva e a vida antes dos tantos prédios, carros, internet e da companhia que os smartfones nos fazem na hora da refeição.

Sentia o olhar curioso do senhor velhinho. Estaria evidente o afã de interagir? Mesmo assim, não desviava os olhos do próprio prato. Do macarrão com molho de queijo acompanhado de refrigerante, que nem de longe teve o mesmo cuidado na escolha de sua combinação. Percebia o olhar interessado do moço da mesa ao lado. Talvez devessem todos se soltar das amarras sociais, sorrirem uns para os outros, convidarem-se para dividir a mesa. Perguntariam os nomes dos convivas, o que os levara até ali. Ririam. Os mais jovens impressionar-se-iam com a sabedoria do mais velho. Ficariam todos com as almas mais leves ao participar desse pequeno momento, de forma casual, inesperadamente. Alguém olharia o relógio e exclamaria o adiantado da hora. Levantariam-se sorridentes, caminhariam juntos até a saída, desejando um dia produtivo, um bom restante de semana. Alguém diria que deviam repetir esse encontro, talvez na semana seguinte, quem sabe. Seguiriam seus dias, cada um com dois novos amigos.
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Emergiu dos próprios pensamentos. Estava de volta à realidade. Aquela em que não se moveu, que não arriscou, que nada fez. Era incontestavelmente observada por dois homens, um jovem, outro velhinho. Pediu licença ao senhor para retirar-se da mesa. Ele pareceu satisfeito em encontrar uma jovem que ainda se importa em devolver a cortesia com que foi tratada. Passou pelas mesas, bandeja em punho, com destino ao depósito de pratos usados. Foi acompanhada pelos olhos do moço da mesa ao lado, que também pareceu arrancado do breve momento de entretenimento.

Seguiu para a saída. Solitária. Tomou a chuva torrencial que caía lá fora. Aproveitou as gotas que corriam sobre seu rosto para chorar disfarçadamente pelas oportunidades que não aproveita, pessoas que não conhece e riscos que não corre.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

pir-lim-pim-pim



Mereço uma estrelinha por resistir à tentação de fazer referência àquele texto bostíssimo não usando um título contendo as palavras "desculpe" e "transtorno". Mas é bem essa a vibe de hoje.

Hoje vamo falar de hipersensibilidade, essa desconhecida.

Sob a minha perspectiva pessoal, é claro, mas a ideia é essa mesmo, porque eu sou o centro do universo e etc.

A gente mora num país tropical supostamente abençoado por dels e etc. Não sei que tipo de pessoa se considera abençoada quando tem que viver no calor, mas não é como se Jorge Ben Jor fosse o caminho, a verdade e a vida. PQP, minha vó vai encomendar minha excomunhão. 

FOCO. 

O que eu quero dizer é que é um eterno ~passar calor~ a vida neste lugar, certo? Quem convive comigo já cansou de me ver me abanando, reclamando, debaixo do ventilador, borrifando água na minha cara, procurando a saída do arco de sonado, me jogando na piscina sem nem testar a temperatura da água previamente. Aí passa o tempo, chega maio, bate um vento e nóis tá como?

#encapotada

E não é apenas isso! É embrulhada em 4 camadas de roupa, cobertinha, aquecedor, luva e tudo mais. Aí a pessoa me vê e pergunta: cê tá com frio?

MAS É CLARO QUE NÃO. 

É justamente pra isso que eu me encho de pano, kirido.

Só que ninguém entende mais nada. Ué, cê não tava reclamando do calor? Achei que estaria só de camisetínea nesse frio e tal. ACHOU ERRADO.

Quando as pessoas tentavam usar essa lógica comigo, eu sempre respondia a mesma coisa: eu acho que tenho pele hiperativa - se tá calor eu tô derretendo, se tá frio eu tô congelando. Não tem meio termo. Não tem conforto.

E isso, mores, é ser uma pessoa hipersensível.

Hipersensibilidade é uma condição psicológica sim, mas é física e fisiológica também. É geral, é em tudo o tempo todo. É como se a gente fosse um fio desencapado E um sistema operacional sem firewall ao mesmo tempo. É um pesadelo, resumindo.

Agora pensa você nascer no meio de uma família de gente bruta.

HAHAHAHAHAHHAHAHA 

Sinceramente, que karma eu vim pagar nesta existência terrena, eu me pergunto.

Tipo, se você me olhar feio, eu vou sentir ~dor emocional~. Se você me encostar com um pouco mais de força, eu vou sentir ~dor física~. As pessoas pensam que eu tenho fibromialgia, porque eu sempre tô falando que alguma coisa dói. E eu nasci no meio de pessoas que têm úlceras e descobrem porque estão com um pouco de tosse (TRUE STORY) ou que assistem desgraças na tv enquanto conversam sobre orquídea. Eu lá segurando no semblante pra não chorar em 15 das 16 horas que eu passo acordada e as pessoas parecendo que tão 120% nem aí pra ~tudo em geral~. Não compreendo, mas aceito (que dói menos).

Quando eu digo família, neste caso, é a família expandida. Eu não conseguia engolir nenhum tipo de comprimido quando era criança - e isso também faz parte dos problema tudo - e sempre preferia tomar injeção. Mas minha pressão caía nesse momento, então eu precisava que alguém ficasse perto só pra eu não cair da cadeira. Até hoje é assim: odeio comprimido, mim dá injeçón, mas eu já me seguro sozinha na hora do desespero. Só que quando eu era criança, essa lógica não fazia sentido e todo mundo me largava sozinha na injeção, já que eu era tão corajosona. E tão aí no meu cérebro impressas diversas memórias de mim mesma sozinha em salas de laboratório, porque se eu não conseguia engolir comprimido, eu tinha mais é que me lascar.

Todo mundo me chamava pelo carinhoso apelido de pozinho, diziam que eu parecia feita de poeira e que qualquer coisa me desmanchava. Faziam piada por eu ser chorona e fracote e sensível. O.TEMPO.TODO.

Eu cresci achando que tinha mesmo alguma coisa errada comigo, que não era possível que todo mundo vivesse em tanto desconforto e conseguisse manter a calma. Demorou muito pra eu entender que pra minoria das pessoas aquilo acontecia.

Eu não consigo usar sapato de qualquer tipo sem meia, por exemplo. Desde criança. Eu usava qualquer coisa com meia. Quando me proibiram de usar meia com sandália, eu parei de usar sandália. Ahhhh, mermão... PRA QUÊ? Parece que ofendi a matriarca do clã dos Negão, porque era cada quebra pau por esse motivo que não tem explicação. E eles me obrigavam a sair de sandália e eu sentia uma dor horrível na minha pele e choraaaava. Se tivesse calor era pior ainda. Aonde quer que a gente estivesse indo, eu ia andar o mínimo possível e chorar o tempo todo, porque eu sentia minha pele queimando. Muitas vezes, chegava em casa com o pé ensanguentado e todo marcado das tiras. Tinha que ouvir que eu era feita de pozinho, que era só uma sandália, que o problema era eu.

HOJE EM DIA CÊ TEM SANDÁLIA, MEUA MÔ? Nem eu. Quero que essas merda se explodam. Ah, mas o que cê usa no verão? TÊNIS E MEIA. E na praia? TÊNIS E MEIA. E em festa? TÊNIS E MEIA. E quando não pode? TÊNIS E MEIA.

OU eu não vou OU eu uso sapato fechado, que comporte meia. Eu estarei de meia 100% do tempo da minha vida enquanto estiver calçada, mesmo quando você tiver absoluta certeza de que eu não estou usando meia. ESTOU SEMPRE DE MEIA, PORQUE AGORA NINGUÉM MAIS MANDA EM MIM :)

Pessoas hipersensíveis têm problema com textura e com o, como direi, "apoio" do sapato. Quando eu comecei a ler a respeito e tinha "pessoas com essa característica costumam ter 10 pares de sapato iguais", eu chorei. De verdade, eu chorei com a sensação de que existe uma explicação pros meus 23 pares de all star. Todo sapato que eu tenho é de baciada e toda vez que eu tento trocar de um pro outro eu preciso de uns dias de adaptação. Então são dias de all star, depois dias de adidas (porque as solas são bem diferentes), depois dias de alpargata e assim vamos. Coisa mais difícil que tem é eu intercalar marcas e modelos, porque machuca (fisicamente) e incomoda (psicologicamente). 

Tipo, faz uma semana que tô escrevendo esse post (ligêra) e em algum momento fui à manicure. Onde eu não ia fazia quase um ano. Porque é um SO-FRI-MEN-TO fazer as unhas. Dói, dá aflição, eu sinto como se fosse uma dor no dente e na alma. Eu preciso que a manicure me conheça e tenha duas horas livres. Aí tem essa perto do trabalho que de vez em quando eu tento. Lembrei pra ela todas as recomendações e, ainda assim, saí com a mão ensanguentada do salão. ENSANGUENTADA. Parecendo que houve crime. A mulher desesperada, falando que nem algodão ela trata com tanta delicadeza, mas não tem jeito: minha pele é de papel de seda, ué. 

A pessoa me encosta: marca. A roupa me encosta: marca. Eu encosto em algum lugar: MARCA. Anéis, pulseiras, colares, brincos. Tudo. Tem dias que MEU CABELO me dá alergia e marca meu maxilar e meu pescoço. Tipo hoje, que eu tô aqui parecendo que sofri uma tentativa de enforcamento porque não queria andar de cabelo preso pela rua. Fui ali rapidão tomar um banho e minhas pernas estavam QUEIMADAS da calça jeans. E não é porque tá justa ou porque eu tenho coxas de panicat. É porque é um tecido áspero que forma dobras. Cada ruguinha do jeans é um queimado diferente nas minhas pernas. Uma delícia! "Ahhh, mas por que você não usa legging?" Porque jeans pelo menos é predominantemente algodão, então o dano é mínimo. Mas aquele tecido PODRE sintético de que são feitas as leggings me destrói a pele. Naquelas 3 horinhas de academia eu até consigo, embora as costuras se tatuem no meu eu. Mas passar um dia inteiro com essa desgraça me abraçando, nem morta.

AO MESMO TEMPO, ontem eu tava conversando com o meu irmão sobre a 43ª terceira tatuagem dele e pedindo pra ele me levar ao estúdio na próxima, porque eu quero entrar no the heart project de uma forma definitiva com um coraçãozinho cor de rosa. No meu caso, é pra lembrar que isso tá aí, é pra sempre, mas eu posso parar e respirar, etc. Fui tentar falar pra ele do que se tratava, mas eu chorei por meia hora. BÃO, NÉ? E isso é bem normal, a coisa toda acontece (ou nem acontece) dentro da minha cabeça e eu começo a choraAAaAaAAAAar e nunca mais eu consigo parar. Também começo a rir, como no dia do caso da chinela voadera. É tudo sem razão e sem limite. Tipo segunda passada à noite que eu vi uma coisa que eu de fato vi, mas que não era o que eu tava pensando. E foi uma choradeira que não tinha mais fim, não consegui comer, não consegui dormir em paz, não conseguia nem tomar banho direito, porque ficar sozinha ali com os meus pensamentos estava me torturando.

Resumindo: sabe a princesa da ervilha? Aquela que procura abrigo numa casa durante a chuva e a família quer testar se é princesa mesmo, de modos que faz a única coisa que poderia fazer: empilha VINTE colchões e coloca UMA ervilha embaixo. Só uma princesa verdadeira seria capaz de se incomodar com esse calombinho (e ser grossa o suficiente pra reclamar). Pois eu sou a princesa da ervilha. 


 "a literary fairy tale about a young woman whose royal identity is established by a test of her physical sensitivity"



Eterna princesinha da ervilhinha especialzona. Quando li essa história eu ainda era criança e SEMPRE ACHEI que essa princesa era eu.



*****

Quando você encontra o estudo mais proeminente sobre HSP, que é a sigla em inglês para Highly Sensitive Person, você se depara com as seguintes questãs:


- você se sente oprimido por coisas tipo luzes brilhantes, cheiros fortes, tecidos ásperos ou sirenes?
- você fica perturbado quando tem muita coisa pra fazer em pouco tempo?
- você evita veementemente filmes e programas de tv violentos?
- você precisa se recolher em dias em que muita coisa acontece, ficar na cama ou num quarto escuro ou em algum lugar onde você tenha privacidade e possa se recuperar?
- você tem como prioridade na sua vida evitar aborrecimentos e situações pesadas?
- você nota e gosta de perfumes, gostos, sons e obras de arte delicados?
- você tem uma imaginação rica e complexa?
- quando você era criança, sua família achava que você era sensível ou tímido?


MAS MEU AMOR, GABARITAMO, NÉ?

Eu já gastei 8 mesadas em óculos escuros ou daqueles com lentes transparentes pra filtrar a luz em ambientes internos ou à noite, no trânsito. Meu maior pavor era não poder dirigir à noite, porque a luz me DERROTA. Ontem mesmo eu não saí de carro, porque estava ~em crise~ e sabia que não conseguiria andar 12 quilômetros encarando faróis e semáforos, especialmente na garoa, que faz tudo brilhar um trilhão de vezes mais. Se eu estiver sozinha em casa, não terá luzes acesas. Nenhuma. Eu ando pela casa, pelo quintal, pelos lugares todos sem luz nenhuma, eu faço tudo de luz apagada. Eu tenho ÓDIO quando as pessoas acendem a luz de manhã depois que o sol já saiu. É tão inútil que ninguém lembra de apagar. Só que meu olho é extra incomodado por luz artificial, então antes de acordar eu já percebo que as luzes TODAS da casa estão acesa. Saio do meu quarto descendo a porrada nos interruptores e amaldiçoando os infelizes que estão gastando recursos naturais inutilmente. Às vezes, um deles até mesmo está em casa ainda. O que é ótimo, porque NÃO TEM NECESSIDADE DE ACENDER 8 LÂMPADAS DIFERENTES ÀS 7 DA MANHÃ. Em assunto relacionado, odeio o sol. E, colateralmente, gente que adora o sol.

Em algumas cenas de grey's anatomy, por exemplo, eu minimizo a tela e só ouço o que está acontecendo, porque não consigo ver os closes em cirurgias. Agora você calcule se eu vejo coisas em que pessoas se machucam. Não vejo. Qué dizê, cê tá lá vendo um filme e a pessoa se corta, leva um tiro, cai a mão. Eu dou pause, respiro, penso em coisas felizes e decido se é possível continuar. Filmes com animais: NÃO VEJO. Em hipótese nenhuma. Este site é um dos meus melhores amigos no mundo. Se um filme tem um cachorro casual, eu sempre vou lá conferir se alguma coisa acontecerá com ele antes de prosseguir.

Semana passada foi uma semana ~daquelas~. Eu fiquei na universidade mais de 12 horas em todos os dias da semana, minha rotina foi drasticamente alterada, eu tive que conviver com pessoas novas, socializar, resolver problemas. O que aconteceu sábado? SHUT DOWN. Meu cérebro simplesmente apagou. Não é que eu tenha decidido, eu encostei ali 5 minutinhos e apaguei por umas 10 horas. A última coisa que eu lembro de ter feito foi responder uma mensagem (♥) depois do almoso e POF, fim. Sabia nem quem eu era na hora que eu acordei.

Eu gosto de apreciar de entretenimento cultural sozinha, porque eu choro. Orquestra, exposição, palestra. EU.CHORO. Me deixa chorar, cara. É a vida, se eu estiver consumindo arte, eu estarei chorando. Não tô triste nem nada, é só uma coisa que acontece no meu eu interior, que não me incomoda e sob a qual eu não tenho controle e eu adoraria se ninguém comentasse e me deixasse quieta. 

Uma das coisas que mais me desestabiliza é textura. Quando eu estou numa loja provando roupa, eu vou afofar a roupa toda, vou CHEIRAR a roupa, vou provar OITO VEZES, vou testar com outra por baixo. Tem alguns materiais que eu não encosto em nenhuma hipótese, tem outros que não encosto de certas formas, outros que eu começo a gritar se alguém encosta ou se ~manipula~ de certas maneiras. Da mesma forma que alguns sons me destroem, algumas palavras tiram minha sanidade mental e não tem muita coisa que eu possa fazer pra mudar as reações que essas coisas me causam (e foi esse traço específico da coisa toda que me fez acreditar que eu era autista no começo). 

Eu percebo se as vibe das pessoas mudam. Tem uma pessoa no trabalho que eu DETESTO e é bizarro: eu nem preciso entrar no prédio pra saber que o cerumaninho não foi trabalhar. Sério, é uma energia erradíssima que a pessoa emana e que simplesmente não está lá de forma perceptível. E meu humor é igualmente sensível. Se eu tô num lugar good vibes, eu fico excelente vibes. Se eu tô num lugar bad vibes, eu fico TREVAS. É bem difícil, porque tem dias que eu tô na merda e nem sei o motivo. E tem dias que eu tô na merda e sei o motivo e vejo alguém que eu gosto e o humor se recupera em 37 segundos. Toda uma sanidade mental.

Outras coisas imbecis que pessoas hipersensíveis podem ter e eu tenho:

- hipersensibilidade à cafeína. Sério, cê nem quer saber o que isso significa de forma prática - sendo que no meu caso, ela NÃO tira o sono. Inclusive muito pelo contrário. De falar 8 vezes mais rápido a precisar ir 50 vezes ao banheiro em 20 minutos, coisas estranhas acontecem quando eu tomo café. Quando pior a qualidade do café, piores os efeitos.

- enlouquecimento causado por barulhos altos e repetitivos. Tem gente que nem escuta alarmes disparados. Minha vida fica pausada até o barulho parar. PAUSADA. Meu cérebro entra em tela azul e não tem control alt del que resolva enquanto o barulho não parar. A única coisa que eu visualizo é um porrete na minha mão e a sirene sendo atacada ferozmente até calar a boca pra sempre. Meu sonho é estudar engenharias específicas para criar um alarme que CONSUMA a bateria do carro ou da casa em questã de minutos. Se deu 5 minutos e cê não foi ver a razão de seu carro ou casa estarem berrando, não vai ser deixando essa bosta disparada por 14 horas que vai fazer diferença. Também não vai espantar os meliantes nem resolver coisa nenhuma. Por alarmes que calem a boca bem rapidinho ou derretam o objeto em que estão contidos. Lá em casa, por exemplo, a sirene é silenciosa e os ~malandro~ nem vão saber que a cavalaria está chegando. HEH. Ó QUE MODERNO QUE NÓIS É. Ó QUE BONS VIZINHO. Mas pode ser até música: se algum versinho ou acorde se repete demais, cê vai me ouvir gritando É TELETUBBIES ESSA BOSTA? OS FÃ NÃO SABE LIDAR COM MAIS INFORMAÇÃO? Bem equilibrada mesmo.

- muita gente falando comigo ao mesmo tempo quase sempre tem um grito como resposta. Não é nem por mal, é reflexo. E eu sei que eu faço um gesto com as mãos e uma coisa com os olhos, que é tipo CÊIS TÃO ME DEIXANDO TONTA, favor sincronizar.

- EU NÃO VEJO FILME DE TERROR, EU NÃO VEJO FILME QUE PESSOAS ARRANQUEM PARTES DE SI MESMAS, CRIMES VIOLENTOS, SAI DAQUI COM ESSAS BOSTA, VAI VER LONGE DE MIM.

- não lido bem com crítica. Não posso fazer nada, se vira pra falar de um jeito que pareça bom ou aceita. É super bom esse traço na vida acadêmica, porque eu penso em me rasgar com uma certa frequência, mas seria muito incrível um atestado médico dizendo que as pessoas têm que me dizer onde eu errei COM EDUCAÇÃO, de preferência por escrito. E que minha aparência não é de suas contas etc, não estou num concurso de miss, FICA A LEMBRANÇA. 

Daí tipo, eu sou surda, né? Meus celulares antes do aifone todos tinham que ter acessibilidade ~visual~, ousseje, não apenas acender quando tocava, mas ter um sinal também luminoso pra quando eu perdesse ligação e mensagens. Quando eu comprei o aifone, eu adquiri também aquele tique nervoso de acender a tela em intervalos regulares de tempo, pra ver as notificações. Acho isso um pesadelo, até mesmo porque eu esqueço. Hihihi. Mas sabendo que rola altas acessibilidade, um  dia eu descobri que dá sim pro iphone piscar inteiro quando alguém liga. GEeeeeeeeeEEEeente do céu. Durou umas duas horas. Porque assim, nos bons tempos do nokia, 3 pessoas te ligavam durante a semana e cê recebia uns 50 sms, se fosse muito sociável, né? HOJE, você recebe uma base de 400 mensagens no whatsapp numa tarde e o troço fica parecendo uma discoteca [/gíria idosa], é insuportável. Eu nem consegui reparar se ele mantém o sinal enquanto você não nota que alguém falou com você, porque não sei se É POSSÍVEL não notar que alguém falou com você. Esses dias incrusível eu tava do lado de uma pessoa com um celular assim e deu pra ver o susto que todo mundo tomou quando a desgraça desatou a """tocar""". É violento, sabe? Já não basta a pessoa estar te enchendo o saco, o celular fatia sua retina. Não deu.

Das pessoas que a gente gosta, o FEELING avisa que tem notificação, eu sei pelo cheiro do celular quando c e r t o s b o y m a g y a fala comigo. É impressionante. HEH.

Todos os LEDs à minha volta vivem escondidos (rainha da fita isolante). O monitor do meu computador tem uma configuração de iluminação que leva em conta duas coisas: a luz atrapalhando meu olho AND o som da frequência que aquele tanto de luz faz. SIM, É REAL.

Eu não deixo relógios de pulso no meu quarto, eu seguro a mão de gente que fica batendo ritmadamente nas coisas, tipo talheres e potes da cozinha, eu sempre grito que todo mundo tem que ter seus próprios fones de ouvido pra não infernizar o amiguinho, eu me desestabilizo mesmo com sons que não escolhi escutar.

Eu sei quando o ar tá seco, eu praticamente consigo dizer com exatidão a porcentagem de umidade relativa. Costumo acertar quando um tecido é sintético, sempre compro sapato maior do que meu pé pra nada ficar encostando, sou a louca da loja de roupas ~íntimas~, porque ninguém compreende quando eu pego numa meia e sei que ela tem menos de 85% de algodão mesmo que a vendedora tente me enganar. 

Sabe?

É como se rolasse todo um sentido aranha pra coisas absolutamente inúteis.

Porque também funciona pra coisas relevantes, tipo: decorar o guarda-roupa inteiro das pessoas. Das que trabalham comigo, especialmente. Se elas repetem roupa, se elas compram roupa nova, se elas deixam de usar alguma coisa. Veja bem: tenho zero interesse nessas pessoas, eu não estou reparando porque eu quero. É só uma coisa que meu cérebro faz. Minha mãe é professora e eu tento organizar o guarda-roupa dela, porque eu falo "se você tiver um aluno como eu, ele não vai prestar atenção na aula, fazendo cálculos de quantas vezes você já usou isso aí". Até sequência de barbeamento das pessoas eu sei. Queria saber? NÃO.

Padrões que ninguém mais percebe, eu percebo todos. Eu sei que horas meus vizinhos tomam banho, cara. Sabe? É um desperdício de informação no cérebro. Tem dias que eu me dou conta que sei a disposição de carros no estacionamento do trabalho e eu NEM CONHEÇO SEUS DONOS.

O bom é que, ao reconhecer a hipersensibilidade, a gente pode criar técnicas de abafamento mental pra coisas inúteis. E é nisso que eu estou trabalhando comigo mesma, em me tornar uma pessoa que presta menos atenção. 

Até porque é IMPOSSÍVEL conversar com as pessoas. Elas vão me contar as coisas e eu quase sempre já notei, então rola todo um teatro pra fazer "ah é, e como é isso?" e ficar escutando a pessoa me contar o que eu já percebi sozinha, porque eu pareço BIRUTA se falar "ahhh, eu vi você fazendo a coisa x outro dia e concluí que era isso e dei uma olhadinha no seu facebook e já tô bem inteirada de tudo". Tipo hoje que me convidaram pra uma festa que eu já tava pensando se ia ou não há dias. Aí pensei: verdade, eu teoricamente nem deveria saber da existência disso aí, mas vi quando tava procurando um nome pra colocar numa lista e já internalizei a informação.

Sério, eu preciso desse espacinho extra na minha mente.


*****

Eu tava dando uma olhadinha nas novis no que diz respeito a HSP e vi que a autora do estudo está fazendo um crowdfunding pra estudar e escrever um livro sobre "pessoas hipersensíveis e o amor".

Sendo bem honesta, tivesse eu lido isso até uns meses atrás, me perguntaria se uma pessoa hipersensível tem CONDIÇÃO de amar. Agora, enquanto pessoa apaixonadinha, eu quero doar o valor total do livro. QUIDIS GRAÇA que é se relacionar amorosamente com essa condição (+ ansiedade + introversão).

Porque você analisa até a respiração da outra pessoa. Outro dia o infelizo falou uma frase no whatsapp por escrito. Ousseje, não tinha entonação, não tinha nada. Não tinha emoji também. Era só um "vejo depois, agora não posso". Mas meu dels do céu, fiquei CINCO DIAS sem falar com ele de novo. Ele provavelmente nem notou, porque apareceu na minha frente lindo e sorridente cinco dias depois, o que me fez compreender que nada tinha acontecido, além de dentro da minha cabeça, mais conhecido como NO MUNDO REAL. E eu vou aprendendo com ele (e ele nem sabe, né, ryzoz) que as coisas não funcionam como eu achava que funcionavam, as pessoas não seguem meu script e eu tenho que ir me adaptando com o que eu tenho disponível. Estou tendo que aprender a me expressar, porque é vários "não entendir" por dia, quando eu achava que meu raciocínio estava claríssimo. Mas o emocionante mesmo é passar 23 horas analisando um emoji ou um olhar e depois numa conversa aleatória me dar conta que nem tinha necessidade de gastar tanto tempo surtando em vez de VIVENDO.

Obviamente ainda estou engatinhando nesse quesito, mas, sei lá, se ninguém me mandou à merda ainda, é porque tá indo.

*****

A mensagem que eu queria passar pra vocês aqui é: escutem seus corazón, escutem o amiguinho. Muita gente nem sabe que é hipersensível. Muita gente sabe que não opera no mesmo sistema que a humanidade e fica se culpando, se achando errado, sofrendo por não pertencer. Eu já fui essa pessoa, sabe? E é muito sofrido. A gente já sofre demais porque sente tudo demais, vamo diminuir essa carga de sofrimento. 

E, o mais importante:

O mais provável é que você não seja hipersensível, então que tal empatia? Vamos evitar apelidinhos pra pessoas que choram, sentem dor e desconforto? Vamos evitar julgar o amiguinho que tá sempre com uma dor, um incômodo? Vamos parar de perguntar "melhorou?" "hoje você tá bem?", porque não melhora, não tá TUDO bem nunca, a gente geralmente guarda pra gente pra poder viver e se divertir e não encher o saco, então se organizar direitinho, todo mundo aproveita a vida.