Eu
vou contar de novo, porque parece que as pessoas não captam muito bem a ideia.
Eu vivo num mundo onde, além de leitura dinâmica, as pessoas fazem audição
dinâmica. Só que não.
Eu
sou surda, gente. Não tenho vergonha de dizer “repete tudaê que você falou que
não entendi nada” e facilita muito a vida, em vez de sorrir e acenar, sabe?
Quando
eu digo que sofro os horrores do sono, eu não estou dizendo que passo as noites
em claro porque não consigo dormir ou porque estou fazendo alguma coisa mais
interessante. Eu não tenho absolutamente nenhum problema pra dormir, sono leve,
insônia em qualquer nível. Eu tenho sônia. Eu durmo 14 horas e continuo com
sono. Eu durmo cedo e continuo com sono. Eu acordo tarde e continuo com sono.
Eu durmo 20 de 24 horas e.continuo.com.sono.
Parece
engraçado, mas não é.
Vocês
não estão entendendo. Eu posso dormir as horas todas necessárias pra um
cerumano viver tranquilamente e, durante o período que eu passar acordada, eu
tenho que derreter meu cérebro com informações e atividades se não quiser cair
de cara na superfície mais próxima.
Veja
só: a coisa fica um pouco mais triste quando você suspeita que tem narcolepsia,
vai procurar informações a respeito e descobre que tem 78% dos sintomas.
Por
exemplo.
Eu
durmo no banho.
Num
é assim que eu deite na banheira, coloque velas, música, aqueles pozinho de
gente fresca (cujo nome esqueci e não quero procurar risos), deite
confortavelmente e durma. Eu ligo o chuveiro, tô lá de pé, lavando lindos
cabelo, fecho o zóio pra não cair shampoo, BOOOM, tô sonhando. Desculpa,
sociedade.
Continuando
na finesse do mesmo cômodo, quantos xixi já não foram adiados por meia hora
porque eu sentei ali no troninho e... DORMI? Ok se fosse apenas no meio da
noite, mas não, às vezes tô aí vivendo, vou no banheiro, acordo meia hora
depois sem saber quem estou, onde sou, aé, xixi.
Semana
passada eu tinha 15 minutos de completo ócio entre estar pronta pra ir pra
academia e a hora de sair pra ir pra academia. Quiqui eu pensei? Vou colocar o
celular pra despertar, no caso de eu me distrair. Pois a distração atendeu pelo
nome de: sono profundo, e eu fiquei com ÓDIOOOO de ter acordado a tempo de ir
pro pilates de Schrödinger (a aula que eu quero fazer, mas não quero fazer), e
teria ficado com o mesmo ódio se não tivesse acordado. Talvez seja o sono de
Schrödinger também.
Cansei
(oh wait) de dormir no trabalho enquanto estava trabalhando. Tipo agora assim,
mó compenetrada aqui escrevendo essas bem traçadas linhas computadorizadas, eu
tava digitando alegremente no Excel. Acordei mais de cinco mil caracteres
depois, porque eu sou multi-task e digito dormindo. Uma vez eu estava jogando
um joguinho de cubos (uma pena ter esquecido o nome do jogo, eu amava) e
acordei quando tinha impossibilitado o fim da fase por ter enchido a tela de
cubinhos (uns 50). CALCULE O TEMPO QUE EU DURMO ~~~produtivamente~~~.
Eu
odeio falar no telefone, isso já é uma coisa que todo mundo sabe. Aí eu tinha
um namorado que curtia esse instrumento maligno e me ligava quando eu estava
com sono (sempre) e eu não podia usar uma forma de distração, porque acabava
não ouvindo uma palavra interessante só que não que ele dizia. De
modos que, invariavelmente, a ligação acabava comigo numa linda soneca. Às
vezes eu acordava e dizia coisas sem sentido pra fingir que tava ali
interessadona o tempo todo. Às vezes eu acordava 6 horas depois com uma linda
mensagem de amor “me avisa se não tiver morrido”. Certeza esperando que a
resposta fosse “morri”, mas ninguém mandou. Um dia, eu tava bem linda dormindo
na minha cama, sonhei que tinha dormido no telefone e comecei a tagarelar DO
NADA com a parede. Terminei o relacionamento.
Eu
durmo quando as pessoas me contam histórias longas, eu durmo se eu paro pra
pensar só um minutinho e fecho o olho por um segundo além do necessário. Eu
tenho medo de dormir quando o farol fecha.
Nesse
tópico, teve um momento LINDO da minha vida, na fase pré embalofamento. Meu
peso começou a subir, minha mãe me levou até no curandeiro pra ajudar. Um
nutrólogo veio com um remedinho revolucionário chamado FLUOXETINA, dizendo que
a gente nem pegava a receita, muito moderno, só pegava na farmácia e ficava
magra. Ok. Eu tomava APENAS 40mg duas vezes ao dia, o que é tipos o dobro do
máximo recomendado, mas quem se importa, né? Eu não fui olhar o gúgol pra não
morrer de efeito colateral e tava vivendo tranquilamente, até que a gêmea má se
apoderou de mim e eu fiquei muito, mas muuuuuuito pior do que eu sou
normalmente. Foi nessa época que eu aboli o “bom dia” da minha vida [e ele
nunca mais voltou].
Pois
estava eu lá no terceiro mês do tratamento, em fúria com o universo como um
todo enquanto ambiente que me irritava apenas por existir, mais gorda, mais
feia e com mais sono que o normal, praticamente walking dead. Aí eu apenas
trabalhava e dormia. Saí do trabalho rumo ao meu lar, no meu carrinho, com
soninho, e achei que não tinha nenhum probleminha tirar apenas uma sonequinha.
Dormi
por uma quadra e meia até meus neurônios fazerem uma sinapse. Jesus pôs a mão,
sabe? Pra ninguém cruzar as ruas que eu ignorei as preferenciais. Aí eu
acordei, cheguei em casa, bati o carro na parede, larguei a porta aberta,
entrei em casa e caí. Fiquei no mesmo lugar pelas horas seguintes, até minha
mãe chegar e notar minha falta, me catar ali do chão da sala e levar pro médico
descobrir num life changing plot twist (tô lendo RSFD demais) que eu não só
tinha alergia a fluoxetina, mas essa porcaria não era remédio pra emagrecer.
Aí
eu parei de tomar essa dose singela abruptamente e virei Cristiane F. com crise
de abstinência, num é legal? Não sei o que dá mais sono. Dorgas ou abstinência.
Ou viver, simplesmente.
*****
Antes
de esse horror se abater na minha vida, numa época em que a gente não se
preocupa nem dorme mal por obra e graça de trabalho feat faculdade feat contas,
eu já dormi no banco da praça, porém com dignidade.
Pra
ser sincera, de onde eu via os fatos, foi assim.
Aquela
sensação que me é muito familiar de “aimeldels, dormi onde não devia”. Cêis têm
isso? Eu tenho.
Aí
acorda o ouvido primeiro, enquanto o olho ainda tira uma sonequinha. Meu ouvido
ouvia risadas e frases bonitas, tipo “mas tá dormindo? Dormindo mesmo? Passa a
mão na frente da cara dela! HAHAHAHAHHAHAHAHAHAHA. Não é possível. Acorda
ela!”. Aí meu olho acordou e eu fui cegada pela luz do sol antes de colocar
tudo em foco e olhar pro lado, pra ver umas 5 meninas enfileiradas no resto do
banco, que eu ocupava a ponta. Foi só aí que eu lembrei que tava alegremente
batendo um papinho de tarde cazamiga e, quando o assunto mudou pra alguma coisa
que me desinteressava lindamente, eu.simples.mente.dor.mi.
No
meio da tarde, na praça.
Compreende
a gravidade da situaçã?
*****
Recapitulando:
Num
dia normal do meio da semana eu vou dormir lá pelas meia noite. Passo sete
horas ininterruptas dormindo. Não tem luz da rua, não tem barulho, tem colchão
fofinho, não durmo de TV ligada, não tem nada atrapalhando. É o mais puro
soninho de beleza. 7 horas da madrugada, o despertador começa a tocar. E tocam
dois intercalados, de 5 em 5 minutos até 7:30h. Alegria é quando eu já
despertei ao som do último. Tristeza é quando tangerino me manda mensagem de
bom dia lá pelas 8:30 e eu ainda tava dormindo HAHAHAHAHA.
Aí
eu vou trabalhar e lá pelas 10h eu acho que vou morrer, porque nenhum esforço é
capaz de manter meu cérebro alerta e eu cochilo com um olho, depois o outro,
levanto, tomo água gelada, como maçã, cheiro café, dou 37 pulinhos, lavo o
rosto, volto pra minha mesa e durmo de novo. Com muita desenvoltura, como posso
comprovar pelo fato de ainda ter trabalho.
Depois
eu almoço e lá pelas 15:30/14h é o teste final. Cêis não tão entendendo. Não há
sudoku que resolva. Não há má condição climática que me detenha. Eu começo a
passar mal de sono, porque chega a doer os ossos e dar enjoo e irritação
extreme e ódio do universo e POR.FAVOR.EU.SÓ.QUERO.DORMIR.
Passada
essa barreira, 17:30 eu chego na academia. Teve um tempo que eu ficava lá dormindo
no chão AHHAHAHAHAHAHA (juro) até umas 18:20 e me perguntava por que eu não ia
pra casa de uma vez? Já que minha casa vem a ser do lado, né? Agora eu entro na
primeira aula que eu vejo, que vem a ser pilates. E quando a dor tá muito
séria, eu fecho o olho pra me concentrar e durmo. Ali, fazendo os movimentos. Depois
vou pro alongamento. E durmo. Aí vou fazer abdominais. E durmo. Parei de fazer
ioga porque se é pra dormir 100% da aula, prefiro fazer isso em casa. É sensacional.
Aí
eu vou pra casa e durmo no banho, durmo na novela e durmo de vez e repeat.
No
fim de semana eu durmo todas essas vezes que dá sono, sem dó. Normalmente dou
uma banana pra vida social e fico apenas dormindo mesmo. Problema meu, não pedi
opinião.
*****
Teve
uma vez que minha família viajou e eu fiquei sozinha em casa. Não que isso seja
pouco comum, mas dessa vez aí foi especial. Peguei o carro e comprei
suprimentos pra encher um bunker. Reservei. Quando todos saiu, fui dormir. Acordei
umas 10h da manhã, tomei café, fui ver desenho (tenho 8 anos) e dormi. Acordei umas
15h, fiz almoço, almocei, tomei dois dedo de álcool, fiquei zonza, dormi. Acordei
umas 21h horas, tomei um lanche, dormi. Acordei no dia seguinte umas 10h de
novo e repeti.
No
terceiro dia eu não queria mais viver. Deixei carta de despedida pra sociedade
e voltei pra cama, de onde não pretendia sair nem pra comer. Num breve lampejo
de lucidez, coloquei Ricky Martin pra tocar e fui fazer faxina. Se não fizesse
isso, tava dormindo até agora.
*****
Não
posso mais sair de carro à noite, não posso mais socializar com eficiência
depois das 22h, não leio mais, não faço mais nada. Até banho tá arriscado. Vai que
eu não acordo a tempo pro condicionador? 01 sonho (posso sonhar muito nessazora
toda): vida social acontecendo enquanto há luz no céu. Não tá fácio não.
Ontem
mesmo, quando eu estava escrevendo esse post pela magya da inspiração do sono,
eu tive que parar no meio porque
asçkdngffdhghçsdkfjaghsdkfjgadhlfkgjsdfnsldkrtsedkrjthserkjthekrjerhakjrhtrg
Favor
acordar com jeitinho, que eu tenho compromisso mais tarde.
****UPDATE****
Winspirro bocó HAHAHAHAHAHAHAHA