quarta-feira, 22 de agosto de 2012

a case of bad timing



título alternativo: senta, que lá vem história

Parte I

Eu sei que canso as pessoas com a história de que não tenho coração. Mas é importante. Toda hora eu vejo um coração ser quebrado, um olhinho desiludido, uma pessoa estragada for life e não quero ser responsável por isso. Quando vejo um amiguinho tentando me juntar com outro amiguinho, sempre me apavoro, porque na hora que eu enjoo, as consequências são desastrosas. Sou ótima friend with benefits, sou péssima for going steady [/vó].

Mas se tem um tipo de amor em que eu acredito, esse é o platônico.

Não precisa ser tão platônico assim, tipo Junior, cuja voz nem sei qual é ou tipo Chris Evans, que jamais saberá que eu existo. Geralmente eu friendzono alguém com tanta força, que quando eu mudo de ideia, é irreversível.

Eu tive dois amor na vida. Um sobre o qual eu sou proibida de falar, pelas ordens superiores de babã, que sempre vem comentar me dando bronca se eu quebro a regra.

E outro, para efeitos de privacidade, por se tratar de nome *famoso*, será chamado doravante de Fidel Castro.

Um parêntese: Fidel não tem esse “““““nome””””” por ser velho, pançudo e barbudo. LONGE DISSO, deurmelivre. É por razões que a razão de vocês desconhecerá. Vos digo: Fidel era lindo, magro, alto e de cara lisinha 12 anos atrás, Fidel permanece lindo, alto, magro e de cara lisinha neste exato momento.

Parte II

Eu sempre fui meio tapada, sabe? Mas quando o assunto é relacionamento *amoroso*, eu fico douze miu vezes mais tapada ainda.

Se eu acho que nego tá caído de amor por mim, eu levo um mega fora não requisitado (“Você e eu? Nunca vai acontecer, beibe.” Quem nunca?). Quando eu acho que nego é meu amigo de fé, irmão camarada, vem uma declaração de amor benloca, quando todos na festa resolvem fazer silêncio, inclusivemente seu namorado e uma pessoa aleatória na platéia que já declarou amor por você uns tempos antes.

Eu sou a rainha de deixar os aleatórios entendendo errado e os amor da vida na friendzone. Kill me, kill me now.

Quando eu conheci Fidel, eu tinha acabado de terminar um relacionamento não amoroso doente, com um cara possessivo. Pra acabar ca vida dele, eu tava pegando um, pegando geral, pegano até omosequiçual (quei nunca) e tava lá amando o cerumano não identificado que não nasceu pra mim. Dei nem bola pro Fidel, porque, entre outras coisas, nego era lindo, magro, alto, rico e cheio de mulher em volta. Num tinha razão lógica pra olhar pra minha pessoa. (Eu conseguia ser mais feia com 20kg a menos, eu era mágica.)

Acontece que numa festa, Fidel achou sensacional o fato de que eu não estava interessada em álcool. Ou cigarro. Ou dorgas. Ou comida (tudo tinha carne, ew). Fidel me achou enigmática e diferente e meu cabelo não tinha chapinha e eu não tinha celular, muito exótica.

Aí vem o fio e me diz que precisa de ajuda em uma matéria aleatória na faculdade (virge, nos idos de 2000) e que sempre quis pedir ajuda, mas tinha vergonha e agora a gente era amigo e bláblábláblá, vamo estudar todo dia no fim da tarde.

Gente, quem que seduz na biblioteca? Eu não sabia que Fidel tava me amando, ué. Nem quando ele insistia pra que a gente fosse tomar um lanche no McDonald’s, mas tinha que ser de braço dado, porque a rua era perigosa e mocinhas indefesas tinham que ser sempre protegidas por um cavalheiro. Como eu podia adivinhar que Fidel estava me amando, quando pedia milhões de batatas fritas extras, só porque eu praticamente só me alimentava de batatas? Quando eu relacionaria o fato de na casa de Fidel sempre ter minha sobremesa favorita, feita pela própria mamãe dele, quando eu ia lá com os sentimentos que Fidel nutria por mim? Quem perceberia um gesto amoroso ao receber uma ligação no meio da tarde perguntando “quer chocolate?” e responder “quero um de cada” e dali 20 minutos Fidel estar na portaria do seu trabalho, com um pacote contendo 23 variedades de barrinhas? Muito difícil.

Até que Fidel inventou de estudar aos sábados. E eu, essa pessoa esperta e inteligente, não conseguia me tocar que o celular dele tocava bilhões de vezes, enquanto ele dizia “claro que não vou sair, vou ficar aqui estudando com você”. E tudo que eu fazia? Estudar.

Fidel me buscava em casa, me buscava no clube, me buscava no raioqueoparta e depois me levava de volta, no sábado, e eu achando que ele queria estudar.

Um dia, Fidel cansou de estudar lá pelas 10 da noite. Me chamou pra dar uma volta de carro. Alguém me ligou e avisou que estaria na pizzaria whatevs. Falei pro Fidel me deixar lá (??????) e ele me deu um OU TE MATO. Eu não entendi porque alguém ficaria tão bravo por uma simples carona à pizzaria. Antes de eu descer do carro, Fidel ainda tentou, desesperado. “É isso que você quer, Vanessa? Tem certeza? Se você descer desse carro, não tem volta.”

Não entendi nada, dei um beijinho na bochecha e desci do carro.

OITO.ANOS.DEPOIS. (mais conhecido como quatro anos atrás) eu me dei conta do que tinha acontecido naquele momento, ao passar por um estabelecimento na rua, ver Fidel lá dentro e sentir uma pontada no coração.

Parte III

Eu tenho um cabelo fino que é um horror. E, segundo profissionais da área, muito suscetível a intempéries: ou seja, chove e ele vai pros pés, dos anjos, lá no alto do céu.

Acontece que nesse dia em cueshtã, ele estava mais feio do que nunca.

Meu cabelo precisa secar sem vento, sem secador, sem nada. Eu tenho que ficar imóvel por 4 horas, enquanto ele assenta na cabeça. Depois eu tenho que dormir em cima dele, pra dar aquela amassadinha e acordar apresentável no dia seguinte, de modos que 3 passadas de chapinha fazem parecer que eu sei me pentear.

Nesse dia eu resolvi ir pra academia, mesmo sabendo que teria compromisso depois. E resolvi tomar banho lá. E não levei secador, nem elástico pra prender, nem pente. Saí do banho, entrei no carro, abri os vidros e deixei a gadelha secar ao vento. HHAHAHAHAHAHAHAHHAHA parabéns, fiquei tipo a medusa.

Acontece que também eu levei uma roupa medonha, porque ah, é rápido, quem vai me ver? Pra quê me arrumar? Maquilage, então, passou longe. Sério, tava a visão do pavor, o esquadrão da moda me levaria presa sem julgamento. E foi assim que eu fui pro meu compromisso estúpido, nas adjacências da rua mais bonita que tem nesta cidade.


Parte IV

Tem uma rua muito linda nesta cidade.
Eu conheci a rua linda quando o menino lindo inventou que era legal passear ali de braços dados, porque as senhorinhas e criancinhas passeando com seus cachorros eram muito perigosos.

O menino gostava muito dessa rua, porque era onde seu avô tinha um estabelecimento comercial muito famoso na cidade e ele cresceu andando por ali. O que ferra muito minha vida, porque sempre que eu passo pela rua linda e pelo estabelecimento que não vem mais a ser da família e pelo estabelecimento que vem a ser do menino, eu penso “ai que burra, putaqueopario”.

E eu passo nessa rua com muita frequência, porque fica no caminho de tudo que eu gosto. Sempre ando do outro lado da rua, ou de manhã, porque é quando não tem chance de passar pelo amado Fidel. Os anos não foram bonzinhos comigo e eu não quero que as pessoas da faculdade descubram o quanto eu embaranguei, muito menos as lindas. Muito menos quando meus cabelos estão do avesso e eu estou vestida de mendiga.

Mas semana passada eu tive que passar por lá no fim da tarde. E enquanto eu atravessava a rua, eu ouvi o som da risada de propaganda de salada que Fidel dava do outro lado da rua (mano, era numa esquina, eram quatro esquinas, tem esquina pra cacete nessa história).

Eu em uma, Fidel na outra, um posto de gasolina na outra e uma esquina que não está na história.

Ouvi Fidel e paralisei.

“Não vou lá nem a pau.”

Mas aí eu vou me arrepender e passar o resto da vida pensando aimeldelsaimeldelsaimeldels, como eu pude perder essa oportunidade, deve fazer uns 10 anos que não falo com ele e mimimimimi.

“Vou lá agora acabar com a palhaçada.”

Mas aí ele não vai lembrar quem sou eu e vai ser o maior mico da história e eu vou ter que me matar em seguida sem nem ter escrito uma carta de despedida.

Enquanto isso, eu não percebia que minhas pernas estavam cravadas no chão, sem possibilidade de me mover. Eu.não.conseguia.sair.do.lugar.

Fidel atravessou a rua até o posto e eu pensei “atravessa também! Vai casualmente comprar uma água no posto, ó que romântico. FAZ ALGUMA COISA!!!”. Mas a perna não mexia. Fidel atravessou a rua de volta e eu lá, plantada. Fidel adentrou o recinto de seu estabelecimento comercial e eu lá, plantada. Tive um ataque histérico dentro de uma lojinha aleatória, de onde eu olhava Fidel ***discretamente*** e quase achei que estavam cogitando me chamar uma ambulância. Me conformei (só que não) com o fato de que tinha perdido o timing, mas tava hiperventilando tanto que tive que, de fato, comprar uma água. No posto.

Passei pela esquina que não estava na história, entrei no posto, comprei a água e esbravejei contra o universo. Quando fui atravessar a rua de volta, o farol de pedestre fechou. Desafiei o cosmos:

- se essa porcaria de vida faz algum sentido, quando eu passar na porta, Fidel vai sair de lá de dentro.

QUERIDO LEITOR. Eu passei na porta e... Fidel SAIU de lá de dentro. Começou até a tocar musinha de comédia romântica na minha cabeça.

Mas ele saiu de costas pra mim e em menos de 3 segundos, pessoas se aglomeraram pra falar com ele. Abaixei a cabeça em sinal de derrota, quando, a 10 centímetros da colisão, Fidel se virou pra mim e POF, colidimos.

(Eu poderia escrever um livro ruim tipo Nicholas Sparks com a minha vida, vôticontá.)

Fidel obviamente lembrou da vaca que deu um fora nele por ser burra demais, mas foi educado mesmo assim. Me abraçou, me deu uma beijoca, falou de amenidades, convidou pra tomar um café. Outra hora. Não pediu meu telefone haahhahahahahahhaa. Ok, eu estava HORRÍVEL, mas né? Eu tinha esperanças.

Mas eu não sou inconveniente. Não quer, não quer, beijo, tchau, passo aí qualquer hora pra colocar o papo em dia (só que nem pensar).

Continuei pela rua amaldiçoando o meu eu estúpido do passado, que poderia ter um marido lindo hoje em dia, ou não, meu cabelo, minha cara, minhas banha, a vida.

Parte V

Uma semana se passou e eu estava ali tomando café cos amigue, porque a vida não para. Conversa vai, conversa vem, eu conto da catástrofe sobre Fidel e que vai levar outra vida pra eu superar de novo e de quem foi a ideia estapafúrdia de escolher um café a quatro quadras da casa dele e OH WAIT OMG OLHA ALI NA JANELA!!!oneone11

Fidel passou lindo e fitness, correndo pela janelinha do café, fazendo um jogging dos rico na noite curitibana.

Cê fica sossegado 10 anos da sua vida sem ter notícia de um cerumano e em uma semana ele consegue arruinar dois dias perfeitamente tranquilos sem nem se dar conta disso.

Estou aqui no aguardo do próximo encontro casual e do fim de livro romântico, sem que ninguém tenha que morrer ou casar ou ter doença terminal ou whatever. Porque nos livros homens lindos sempre ficam com a moça baranga (taí Bridget Jones que não me deixa mentir) e eu não vejo uma razão pra não acontecer comigo.

Parte VI

Aí eu fico uma hora inteira escrevendo bobagens que ninguém vai ler, saio pra pegar um copinho de água e fico pensando.

E SE Fidel tivesse pedido meu telefone? Tem aquela comoçãozinha de começo de relacionamento, mais ainda por ser uma coisa de milhões de anos de expectativa. Aí tem aquele mês em que todo mundo se esforça e deixa alguma coisas de lado. Depois vem o mês em que um entra na rotina do outro. E tem os amigos dele e os meus amigos. E minhas idas a museus com exposições estúpidas e cafés no centro e o amor dele pela praia (credo) e pelas baladas que tiram fotos suas e colocam em sites, porque seu nome faz as pessoas irem até a balada supracitada. E o trabalho dele em horas estúpidas e o meu cheio de burocracia e vamos casar? Vamos ter filhos? Vamos viajar pra onde nas próximas férias? Vamos pra floripa no feriado? AI MEU DEUS FAZ PARAR.

Eu me dou conta de que não nasci pra esse negózdi crescer-reproduzir-morrer, acho muito ótimo que eu não vá estragar Fidel Castro com as minhas maluquices e vou dormir bem tranquila, enquanto a TV passa esquadrão da moda.

Meu cérebro tá estragado e não tem volta.

Fim.

(E nos episódios anteriores, achei o relato superior sobre Fidel (na época, com outro nome fictício, aqui)