terça-feira, 12 de setembro de 2017

3+1

Título alternativo: quatro séries maravilhosas que você deve ver imediatamente, sendo que uma é horrível e as outras não :P

Bom.

Vamos começar pela série horrível-bad-vibes-porém-importante.


THE HANDMAID'S TALE





Se você é terráqueo, você provavelmente ouviu alguém dizendo que você deveria ver The Handmaid's Tale. Mesmo eu, que ninguém manda em mim, fui lá ver qual era e não me arrependi. É ASSUSTADOR.

Na época em que ela estava passando, minha mãe me proibiu de falar a respeito, porque eu não tinha outro assunto. O problema é que a história é um futuro distópico, que não parece nem tão futuro nem tão distópico assim. A gente vê as coisas acontecendo e se pergunta se não poderia ser a gente, em cinco anos, cinco meses. 

Eu convido inclusive os boy a assistir com os olhos de uma mulher. Toda vez que estiver assistindo, pense que você estaria ali naquela sociedade num papel feminino. Não pensa que é sua mãe, sua irmã, sua vó, a mulher da sua vida. PENSA QUE É VOCÊ. Agora sente o pavor. 

Caso algum de vocês tenha estado debaixo de uma pedra (ou tido mais o que fazer) nos últimos meses, a série trata de um ~momento social~ em que as mulheres perderam absolutamente todos os seus direitos. E quando eu digo TODOS, eu digo que elas perderam até seus nomes. As mulheres "mais importantes" da sociedades são nomeadas de acordo com seus DONOS. Véio, tem noção do absurdo que é isso? Inclusive, tem gente que demora 8 episódios pra entender a ~sutileza~ da denominação das mulheres, o que é incompreensível.

Elas são divididas em categorias, é o sonho realizado do "pra comer ou pra casar", fora o "pra limpar a casa" e "pra manter as outras trôxa na linha". Tem mais categorias, mas aí resume bem a situêixon. As mulheres não são mulheres, elas são A PRÓPRIA CATEGORIA. É uma desgraça, gente. Uma desgraça.

O curioso, pra mim, é que é uma série em que quase o tempo todo tem só mulheres em cena, ou uma maioria de mulheres. Obviamente passa no Teste de Bechdel. É uma contradição que provavelmente foi proposital, não sei. Nunca li nada oficial sobre a série. Só sei que ela é baseada em um livro escrito há uns 30 (40?) anos e é surpreendentemente atual.

Eu acho bom quando mulheres assistem, porque vem aquele ÓDIO INTERIOR de deixar o patriarcado e a "religião" lascando a nossa vida e lembra que temos que manter a mente alerta O. TEMPO. TODO.

Homens o que tenho a ver eu mal vejo comentando. Eu não sei se é porque eles não assistem, não aguentam, pensam que "nem todo homem", acham que é frescura/delírio/exagero, ou se eles assistem com esse gostoso sentimento de que poderia ser com seus fiofó.

Só sei que se vocês não viram, deveriam ver.


AGOOOOOOOOOORA

Depois de ver essa desgraça e perder completamente a fé na humanidade, no amor e em tudo mais, recuperemlhos assistindo às 3 séries seguintes:

* SUPERSTORE

* JANE THE VIRGIN

* CRAZY EX GIRLFRIEND

Eu tinha começado a falar delas uma de cada vez, mas quando eu me perguntei aqui qual era a razão de eu ter me apaixonado TANTO por essas séries, eu percebi que (pra mim) todas têm uma coisa em comum: as protagonistas parecem gente como a gente. Em Superstore e Jane the Virgin, as mulheres - Amy e Jane - são latinas e não seguem aquele padrão loira-magra-alta. A Rebecca de Crazy ex-Girfriend ainda é ~branca de olho azul~, mas é uma mulher... normal. Na série ela se chama de gorda com uma certa frequência, mas é só uma mulher não-magra no meio de atrizes de hollywood. As três são pessoas com quem a gente consegue se relacionar muito facilmente. E o curioso, na minha opinião, é que o cara bonito-padrão (e praticamente todos os homens da série) se interessa por essa mulher, que é obviamente a mulher menos arrumada, com o psicológico mais perturbado, com a vida mais ordinária. 

Essas séries me fazem pensar que eu sou normal e que tá tudo bem com isso. E que não é por isso que eu sou MENOS, ou desinteressante ou sei lá se vocês estão acompanhando o raciocínio.

Vamos aos spoilers:



SUPERSTORE



É uma série que acontece dentro de um supermercado, umas vibe wal-mart. Eu comecei a assistir por motivos de America Ferrera (sdds Ugly Betty) e já tava fisgada no fim do primeiro episódio. É uma história sobre a vida, sei lá. A graça é que os personagens principais não são o que a gente costuma esperar de personagens principais: uma mulher latina, uma mulher ~grande~ e masculinizada (porém hétero), um cadeirante, um homem banana, um gay filipino, uma velhinha e por aí vai. É sobre essa coisa de criar uma família entre as pessoas que estão à nossa volta, sabe? Uma daquelas comedinhas de meia hora, mas que têm aquele tantinho de drama que deixa a coisa um pouco mais real. 

Por enquanto são só duas temporadas, mas este mês ela já volta pra terceira. 

Se você ainda não está convencido, imagine que acontecem vários episódios com o sonho de princesa pobre de todos nós: ficar preso em um supermercado por qualquer razão que seja.

É aquele tipo de série simprona, bobinha, que a gente vê pra passar o tempo e ser feliz. Então pode ir sem medo. E sem critério também, pois 120% biruta.


JANE THE VIRGIN



Eu lia sempre a sinopse e pensava que não tinha como ser boa. Uma jovem de vinte e tantos anos, literalmente virgem, que de repente surgia grávida. Toda puxada pra uma vibe novelón mexicano, com falas mescladas de inglês e espanhol, língua que eu detestava até uns 4 dias atrás kkkk. De novo, uma série que pega a gente já no primeiro episódio, composta de personagens ~visualmente~ normais, de dramas do dia a dia. Nós, enquanto latinos, conseguimos uma certa identificação com a ideia de morar com a mãe e a vó, de ver a religião das véia tendo um baita impacto na nossa vida, de ter que trabalhar pra pagar a faculdade, essas coisas todas que todo latino já passou na vida e não vê exatamente contempladas em seriados americanos. 

Os personagens são maravilhosos (quase todos, já que eu O D E I O o Michael) e eu adoro o fato de que a gente odeia a pessoa por 5 episódios, depois ama, depois odeia, depois ama odiar e assim vamos. 

Fora que tem o melhor personagem do mundo, ROGELIO DE LA VEGA, um ator real oficial de novelas mexicanas (em A Feia Mais Bela ele era o personagem principal) e é maravilhouser assistir entrevistas com ele em português, porque o homi é poliglota e fala nossa amada linguinha fluentemente. Coisa mais fofa do mundo. Não tem como não amar.

Obviamente outra série biruta, as pessoas DELIRAM, é maravilhosa. Até o narrador causa amor no cerumano. Pode ver sem medo de ser feliz.



CRAZY EX-GIRLFRIEND



Essa série, gente. Essa série desgraçou demais minha cabeça. Mas de um jeito bom, viu? Nos primeiros dias depois que eu dei o pé nos ~estudos~, eu tava cansada. Não, eu tava EXAUSTA, mais que Luciana Gimenez. Foi no fim de julho, eu tava de "férias", então acordava cedo (y), resolvia problemas e, quando chegava umas 15h, eu tava imprestável. Aí eu desmontava na frente da tv e deixava essa série passando. Escolhi porque um amigo meu disse que era ótima APESAR DE SER MUSICAL. Eu odeio musical, eu só não queria deixarlho triste por nem tentar assistir. Mas botei lá, achei o primeiro episódio MUITO CHATO, porém o controle remoto tava longe e a netflix vai passando sem parar, né? Eu tava acoplada ao sofá e apenas deixei continuar. Quando eu vi, tava absolutamente pega pela história da mulher que não lida muito bem com relacionamentos, só faz merda, tem sérios problemas de timing e pra perceber o que tá DEBAIXO DO NARIZINHO. A criatura que fica apegada ao namoradinho de quando tinha 15 anos e não consegue superar, faz umas coisa idiota aí pra tentar ressuscitar relacionamento morto e não cansa de passar vergonha em geral.


Guardadas as proporções entre ficção e realidade, eu vi muito de mim na Rebecca, sabe? Imaturidade emocional, vontade de agradar todo mundo a qualquer custo, problemas psicológicos MIU, as amizades que não fazem nenhum sentido, a girl squad que de repente se forma do nada.

E os boy, né?

Rebecca julgando os boy por critérios socialmente """adequados""" e perdendo pessoas maravilhosas em sua vida, só por ser meio babaca.

E existe alguém mais babaca que eu?

- não.

E, o mais incrível, foi que acabei o binge watch num dia, menos de uma semana depois minha vida deu uma virada nos eventos que tamo aqui hoje tentando ser menos babaca e aproveitar as gente bonita que deus manda no nosso caminho.

*****

É isso. Eu gosto de série assim: que não tem muita pretensão de mudar o mundo, mas que acaba falando com a gente num nível pessoal e fazendo a gente pensar.

E pra quem é mulher e acha que falta entretenimento que respeite a gente como cerumano, eu acho que tudo isso aí é um bom começo.

HAPPY WATCHING!