condições de existência do meu fiofó em chamas
Primeiramente, vou explicar uma coisa (que talvez nem precise de explicação): eu não sei vocês, mas não tem nada no mundo escolar ou acadêmico que eu odeie mais que ~apresentação~ de trabalho.
ODEIO.
ODEIO.
Veja bem: eu sei que uns 87,4% da população também odeiam e isso não vem a ser um (des)privilégio da minha pessoa. Eu só quero dizer que pra minha pessoa isso é o pior pesadelo que pode acontecer enquanto estou acordada.
Quando eu resolvi fazer mestrado, eu esqueci dessa desgraça. ESQUECI COMPLETAMENTE. As pessoas ficam "ai, estudar fim de semana", "ai, cálculos", "ai, artigos", "ai, ler até cair o olho". Algumas dessas coisas são chatas sim, porque o retorno demora. Mas nada grave. Desespero mesmo eu senti no momento em que disseram que tinha que eventualmente apresentar coisas na frente de todo mundo. NUM É ENGENHARIA ESSA MERDA???? Me dá uma calculadora e uma integral e me deixa ser feliz, cara. Que saco que ninguém inventou uma coisa menos imbecil que eu ficar falando como uma panaca, de um assunto que eu não domino, na frente de um monte de gente que não vai entender nada e vai gastar todo seu tempo analisando minha roupa, meu cabelo, minha forma física, meu jeito de falar, as palavras que eu repito sem perceber, os movimentos que eu faço pra confortar minha mente, ISSO quando se derem ao trabalho de olhar pra mim.
Cara, adoro.
Quando a autoridade máxima da sala fala "aula que vem, apresentação", eu escuto "aula que vem você oferecerá sua mãe em sacrifício, que você mesmo performará de acordo com o tratado internacional de crueldade".
Assim, bem suave.
eu, super desenvolta, em dia de apresentação de trabalho
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Aí tem a autoridade máxima da sala, né? Você sabe o nome científico de quem eu estou falando, mas NÃO VAI USAR nem nos comentários, sob pena de ter seu comentarinho tão bonito deletado. Eu vou me referir a essa pessoa, para fins didáticos, como toupeira.
Toupeira é um cerumano como eu e você, que teve tempo e paciência pra vencer obstáculos acadêmicos e ganhou um título de mestre, doutor, pós doutor imaginário (heh), sei lá, e acha que deus em pessoa desceu na terra e falou "cara, fica aqui com o meu posto, porque agora cê merece mais que eu". Mas como o próprio nome técnico diz, é apenas uma toupeira.
Falando em toupeira, migas, xô dar uma dica: se você fez uma especialização, um mba, um aperfeiçoamento ou qualquer pentelhação lato sensu, pelo amor, cara, não fala "ai, eu fiz uma pós". TUDO QUE VEM DEPOIS DA GRADUAÇÃO CHAMA PÓS, AMOR. Num é um choque? Aí a pessoa tá lá no mestrado e me vem "ai, na minha pós não era assim". ESTA.É.SUA.PÓS. Para de repetir bobagem, amiguinho. Ou cê fala que fez uma especialização, um aperfeiçoamento, um mba, ou cê cala a boquinha, né?
Bom.
Foco.
Aí tem um monte de PhD. Toupeira no mundo, porque não precisa ter inteligência pra conseguir um negócio desses, ao contrário da crença popular. Tem um desses em tudo que é profissão. E às vezes escapa uma dessas pra comandar uma sala de aula, if you know what I mean. E dela vai depender uma leva de outras toupeirinhas (entre elas eu) pra conseguir um título qualquer de pós.
E aí qqCfas? Usa a inteligência? MÁ É NUNCA. Cê usa a diplomacia e a capacidade de seguir instruções. Foi pra isso que você leu tanto manual de instrução de brinquedo na vida. Foi unicamente pra esse momento. Pra ler aquela bosta de slide da primeira aula, contendo cronograma e critério de avaliação e fingir que é um joguinho que você tem que chegar no final vitorioso.
E você tá no mestrado, né? PhD. Toupeira diz "vocês têm que apresentar na frente da sala porque vocês serão todos professores".
MIGA, XÔ USAR AQUI RODRIGO AMARANTE PRA TE DAR UM RECADO:
NÃO
PORQUE
NEM
SEMPRE
Eu, por exemplo, quero dar ao longo da minha vida um total de ZERO aulas enquanto eu viver. Eu estudo porque eu gosto de aprender coisas (o que é um FAIL sem fim no mestrado), porque eu gosto de me sentir inteligente, porque eu quero ir pra Suécia e isso facilitaria, porque eu quero ganhar mais dinheiro, porque eu queria conhecer gente nova com um QI melhorzinho, sei lá, mil coisas. Eu não estudo pra dar aula, porque eu odeio gente e quero que todo mundo exploda.
A gente devia ter o poder de falar que não quer dar aula não, que vai só ficar ali fingindo que absorve conhecimento dos coleguinhas que passam meia hora lendo slide, que eu poderia ter lido sozinha em casa em 20 minutos economizado tempo e minha parte eu quero em prova no fim do trimestre, pode ser? Tranquilo? Fora que meus pensamentos sobre aulas com apresentação, essencialmente, são:
- PhD Toupeira numa preguiça brava de dar aula, bota os outros pra fazerem isso pra ele e finge que suas interrupções estratégicas são suficientes pra estabilizar o conteúdo;
- PhD Toupeira tá sem ideia pra atualizar o material, então bota os outros pra ficarem lá brincando com o power point, de modos que ele simplesmente vai pegar os melhores (menos piores) slides e incorporar na sua matéria da graduação, onde ele tem que fingir que ensina com um pouco mais de esforço.
(Miga, manda seus arquivos em pdf. Em pdf não editável HAHAHAHHAHAHA. Sua nota pode ser menor, mas alegria no coração é CAMPEÃ.)
E é só isso mesmo. A coisa benevolente da didática e desenvoltura é só a desculpinha esfarrapada, já que nas aulas de continhas não têm essas babaquice e a gente aprende até melhor.
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Eu curto uma dificuldade, então o que eu fiz? Uma faculdade de 5 anos, que pra todo o resto das pessoas, levaria 4. E não é que eu seja burra ou preguiçosa, a faculdade levava MESMO 5 anos, não dependia da minha vontade. E o que eu fiz em seguida? Duas pós especializações. Porque minha faculdade era numa área que tava pra ter um filhinho, então eu fui me especializando na área da outra metade do DNA, pra chegar bem preparadinha pra essa porcaria de mestrado que eu levei 10 anos pra fazer. Ao todo, foram 7 anos estudando (mais 10 enrolando, porém ainda dentro do mundo acadêmico de uma forma ou de outra), em que basicamente a gente aprende as mesmas coisas sobre como evoluir com graça em aulas de matação de tempo apresentação de trabalho.
Só que no seu caminho está a PhD Toupeira Suprema, que fala lindas coisa como "você não deu um tema pra mim estudar" ou "houveram erros de português na sua apresentação" ou "as palavras chaves estão mal escolhidas". Se você não consegue identificar o erro nessas frases eu espero MUITO que você não seja brasileiro. Mas eu, do alto da minha esculhambação portuguesística, lhos juro: TÁ ERRADÍSSIMO. E se Doctor Toupeira quer dizer que aquele é um ambiente formal, que a gente tem que falar como se tivesse sido corretamente catequizado, pois que se lembre que a regra vale pra todos.
Aí cê vai lá pro altar, oferecer sua mãe em sacrifício, na frente de 30 pessoas, que metade cê gosta, metade cê daria de comida no zoológico, fala uma frase e Doctor Toupeira te interrompe pra corrigir. Errado. Cê pensa "que dia horrível pra ser inteligente", mas o que você não sabe é que os próximos 20 minutos serão exatamente iguais: você fala, a pessoa te interrompe e fala uma asneira. Você agradece pela iluminação alcançada, fala errado porque dá menos trabalho que discutir com a pessoa que recebeu o cargo diretamente das mãos de deus e ela te interrompe de novo pra falar que tava errado e o looping eterno da desgraça te suga e você pensa MÁ QUE CARAMELOS EU TÔ FAZENDO AQUI QUANDO PODERIA MUITO BEM ESTAR EM CASA ASSISTINDO SENSE8 E COMENDO COOKIES TODDY?????
Depois de 20 minutos de TÁ ERRADO! BRIGADA! COMO EU IA DIZENDO... TÁ ERRADO, BRIGADA, ETC ad eternum, a pessoa diz "vamo parar de perder seu tempo e o meu, chega de falar, vai pro seu cantinho".
Porque é assim o nível de profissionalismo do pós-graduado brasileiro. Tão inteligente que não deu tempo de aprender a língua pátria, o assunto da aula e educação one-o-one, já que os neurônios tavam ocupados com informações mais importantes.
E cê faz o que?
( ) chora
( ) se demite dessa merda, você não precisa disso
( ) usa seus poderes sobrenaturais da era de aquário pra desejar o bem (ryzo) (e funciona)
( ) tenta recuperar sua vida sugada por PhDementador
( ) segue em frente tem outros trimestre
Ou faz tudo isso e vem reclamar no blog, né? Porque se fosse pra agradecer, ia pra Aparecida.
Migas, se você já tem dinheiros, um bom trabalho ou felicidade na vida, jamais se iluda com essa bobagem acadêmica. Sério. Fica aí sendo feliz e deixa isso pros pobres de juízo e de habilidades em geral.
Depois não digam que não avisei.