título alternativo: sorrindo com o cabelo
Eu fico
aí dizendo que eu não acredito em amor, mas a essa altura da minha vida, eu tô
chegando a duas conclusões relacionadas:
1- Meu
problema é que meus amores tendem a durar 25 anos, aí não tem exatamente espaço
na minha vida pra outras pessoas;
2- Meus
amores só duram tanto porque são platônicos. E, pra ser sincera, essa é
basicamente a única modalidade de amor em que eu acredito de fato.
*****
Eu tive
uns 48 primeiros amores. Teve o japonezinho com quem eu me casei na primeira
série, o menino com quem aceitei namorar na segunda série, apesar de gostar
mesmo do melhor amigo dele (eu tinha minhas razões e eu tinha SETE ANOS, me
deixa), o menino que carregava minha mochila na escola quando eu tinha
terríveis cólicas de rim, o menino que eu não quis beijar na salada mista por
motivo de nojinho de baba, o surfista precoce e o primo do surfista precoce, de
beleza irretocável. Mas o primeiro menino que me tirou o sono, que me fez
escrever milhões de páginas sofridas de diários, que me fez escrever cartas e
me declarar ao vivo, só porque ele precisava saber, é alguém com quem eu
mantenho contato até hoje.
Ele mora
num país ~exótico~, de modos que a comunicação acontece pela internet mesmo,
mas a gente sempre se fala. No ano passado quase conseguimos nos ver em
Londres, mas a vida é toda enrolada e não deu. Alguns dias depois, o facebook
me avisou que era aniversário dele, um dia antes da data que eu guardei por
todos esse milhões de anos. Mandei uma mensagem que dizia “ainda bem que hoje
existe o facebook, nem acredito em quantas cartinhas te mandei no dia errado”.
E ele respondeu “eu adorava aquelas cartas”.
Cê tá
entendendo? O amor nunca aconteceu. Ele nunca me deu bola. Mas essa frase aí
resolveu todo o sofrimento pré-aborrescente. Se eu me relacionaria amorosamente
com esse moço hoje? Provavelmente não. Mas é alguém que é proprietário
vitalício de um lote no meu coração.
*****
E foi
assim com os outros 3 ou 4 amores que eu tive.
*****
O caso é
que hoje meu sono está sendo figurativamente tirado por uma pessoa que eu
conheço há uns 20 anos. Figurativamente porque NADA me tira o sono e eu só fico
sem dormir se tenho crises hecatômbicas de alergia aloar cadê foco?
Ah é:
obviamente, o objeto do meu amor não faz a mínima ideia do que está acontecendo
dentro do meu cabeção descompensado.
Vinte
anos atrás eu caí de amores por esse indivíduo enquanto tentava conseguir a
aprovação da sociedade na modalidade “já beijei na boca, sim” com a ajuda do
irmão dele. Que não poderia estar menos interessado na minha pessoa. Eu também
não estava exatamente interessada nele, mas se você lê este blog há algum
tempo, já sabe que desde o começo dos tempos, meu critério amoroso mais
importante era inteligência muito antes de qualquer outra coisa e o irmão do
meu futuro marido reloaded (kkkkkkk) era apenas a pessoa mais inteligente de todo o
universo e adjacências. Até eu conhecer o irmão dele. RISOS.
O
problema: ele vai se reconhecer se por acaso for desocupado o suficiente pra
achar esse blog ele é mais novo que eu. Mais novo quanto?, você me pergunta.
NOVE MESES, eu te respondo. Hahahahahahaha. Aos 14 anos, quando vocês estão em
séries diferentes na escola, isso faz MUITA diferença. E quanto mais
inteligente é o moço, mais impossível eu vou achar que ele corresponda os meus
~sentimentos~, e ele é lindo além de inteligente, OUSSEJE.
A certa
altura dos acontecimentos, nós vivíamos grudados. Não sei se foi insistência
nossa ou sorte mesmo, mas nossa escola que queria criar mini gênios da
matemática e promovia 4 mil eventos com esse tema ao longo do ano, resolveu
juntar séries diferentes na feira daquele ano. E eu e o meu mini gênio favorito
pudemos incrusivemente ficar no mesmo grupo pra uma atividade escolar ♥♥♥♥♥.
Não vou dizer que tenho até hoje os cubinhos que eram a nossa especialidade,
porque eles desmoronaram na minha última mudança e acho que minha mãe jogou
fora hahaha.
Nessa
época minha alergia começou a dar sinais de que iria me matar em breve. Num
desses dias de clima extremo que fazia naquele lugar, a umidade estava mínima e
eu não conseguia respirar, então tive que deixar a diversão do intervalo de
lado, pra ficar quieta num degrau da arquibancada, respirando em modo manual.
Fiquei de zóio no mini gênio (mini é modo de dizer, porque nego já tinha uns
dois metros e meio de altura aos 13 anos) e a mentalização toda deve ter tido
algum efeito, porque ele foi lá sentar do meu ladinho. Não lembro que
catástrofe seguiu o intervalo pra que nossas duas salas tivessem aulas vagas, e
passamos o restante do tempo no mesmo degrau, falando dos assuntos mais
estúpidos possíveis – até pra dois pirralhos antes dos 15 – e eu tinha certeza
de que tinha encontrado o amor da minha vida.
Insisti
no assunto principal daquele dia até além do limite do bom senso (que foi
atingido uns dois anos atrás ahhahaahah), mas nunca senti que o fofo estava
me dando condições pra ir além da amizade. E um dia a gente tem que superar,
né? Superei o novinho com um moço 10 anos mais velho, no dia errado. No dia em
que o novinho ganhou uma competição de sei lá o que e me deu a camiseta que estava
usando. E essa sim, tenho até hoje. Desbotada e estraçalhada de tantas mil
vezes em que eu usei pensando “e se?”.
*****
Maizomenos
um ano atrás esse menino voltou pra minha vida. A gente nunca chegou a
exatamente perder o contato, mas nunca mais tivemos contato de fato. Depois de
eu pegar a camisa de um e sair do ginásio com outro, a gente nunca mais se
falou - mesmo minha amizade com o irmão tendo continuado e eu tentando até aparecer de surpresa na casa deles de vez em quando. Até recentemente quando, sabe-se lá a razão, o facebook resolveu enfiar
um goela abaixo do outro. Eu estava lá só me divertindo na stalkeação moderada,
quando os sentimentos do passado voltaram todos. Nos comentários espirituosos
de uma foto, na mensagem que ele manda pra alguém e o facebook enfia no meio da
minha timeline por alguma razão desconhecida. Por alguma bobagem que eu falo
pensando exclusivamente nele e ele curte alguns minutos depois. Alguma bobagem que eu acho que vai passar batida e não passa. Pelo jeito como ele vê (ou parece ver) as coisas, sabe? É doente, eu
sei.
Eu nem conheço mais essa pessoa, eu conheço um eco de 20 anos atrás. Eu sei
como é a cara dele pelas fotos, apesar de ter mudado muito pouco além dos
outros 40 centímetros que o infeliz cresceu. Eu tenho muita certeza que a
gente não combina em nada, porque ele curte uns barato saudáveis e sociais e culturais e artísticos que não são muito a minha vibe. Pra sustentar um relacionamento com uma pessoa assim, você precisa ter alguma coisa interessante pra oferecer e eu não tenho. Eu sou uma patricinha falida e fútil, que lê livros bobocas e derrete o cérebro com seriados e jogos em flash além do limite do saudável. Eu sou a pessoa que dirige 8 quadras pra ir trabalhar. E ele, além de inteligente, engraçado, educado, lindo e
alto, é talentoso e artístico, ecologicamente correto e engajado e meu, tem mais ou menos umas 97 qualidades num total de 100 existentes e, sabe, eu não tenho a menor chance?
Além da
quarta lei da física: se você quer alguém, essa pessoa vai morar a um trilhão
de quilômetros de distância de você. Ok, São Paulo é logo ali, mas you know
what I mean.
Então fico
aqui apenas acalmando meu cérebro, dizendo que logo ele já larga essa obsessão
e encontra outra, é só olhar pro teto e esperar passar. Enquanto isso, eu só
preciso parar de me constranger nas rede social, o que está sendo no melhor
estilo AA, um dia de cada vez.
E hoje eu não ganhei minha ficha. RISOS.
Se
você estiver lendo isso e tiver dúvida de que eu estou falando de você, eu não
estou falando de você. HEH. Se você estiver lendo isso com a certeza de que eu
estou falando de você, não, não é de você. Não me bloqueie no facebook, porque
eu prometo que vou me comportar. Você provavelmente não está lendo isso e eu só queria que você soubesse que você é lindo, muito mais do que por causa da sua cara, que muito me agrada. E minha opinião
conta, porque faz 20 anos que ela é a mesma :)