terça-feira, 17 de maio de 2011

Friday, Friday, gotta get down on Friday


Aí eu fui no bobódromo, né?

Bobódromo é o tipo de experiência que você acha que só vai ter em cidades do interior, aí você vira adultinho e percebe que bobódromo tem em tudo que é lugar.

Se você cresceu num prédio (ou, sei lá, numa megalópole e sem vó no interior) e não sabe o que é bobódromo, é o que também é conhecido como açougue em algumas cidades: aquela avenida com alta concentração de estabelecimentos de funcionamento noturno, pra onde todas as meninas vão se exibir (açougue) e tudo os bobo vão ficar girando com seus automóvel compatível com o PIB do local, até decidir onde entrar de acordo com o público que se exibe na porta.

O cerumano básico só considera o bobódromo como alternativa de diversão até virar adulto. Mas todos sabe que fazer 18 anos (ou 21, ou 25 ou 30) não garante nada. Outra coisa: ainda que haja algo do interesse de uma pessoa adultinha por ali, o fluxo de velhos costuma acontecer mais cedo. Umas 19h (18h, até, dependendo da qualidade do double drink OU do double food), os dinossauros sociais já estão localizados no bobódromo. De modo que por volta de 23h, já não há mais o que fazer por ali e todos vão pra casa (ou pra algum lugar melhor. Porque ir ao bobódromo parece mesmo muito com morrer, eu acho).

O bobódromo padrão tem quatro tipos básicos de estabelecimentos: baladas, bares, diners e posto de gasolina.

Baladas são aqueles lugares onde a pessoa chega depois das 23h, sendo, portanto, incompatíveis com a vida do cerumano adulto. Eu acho que a última vez em que eu estive numa balada (kkk) foi lá por 2001, e eu ainda tinha 20 anos. Porque eu adultei tarde (acho que não adultei ainda, pra ser sincera, mas nesse quesito aí eu venci). Geralmente as meninas usam saias pequenas e saltos grandes, todos os cabelos são compridos, lisos e com luzes, sandálias brancas são um item de vestuário aceito e os perfis dos orkuts dessas pessoas contam com comunidades “eu sou pra casar” ou “deus me disse: desce e arrasa”. Os meninos usam sapatênis e camisa de listinhas verticais, geralmente a única que eles têm da pólo, da lacoste ou da Tommy para vantagem competitiva e entre suas comunidades do Orkut está “solteiro sim, sozinho nunca” ou “o dia é dos namorados, a noite é dos solteiros”.

Os bares têm a vantagem competitiva (ou não) do double: uma forma de atrair babaca bêbado o cidadão de bem, num horário mais cedo. Não sei vocês, mas depois que a gente cresce deixa de ser aceitável ficar numa fila maior que a vida pra entrar num lugar lotado, em que eu vou continuar em pé, usando um salto maior que o pipi de muita gente a space needle. Outro dia, eu tava ali na rota do bobódromo, mas num lugar de gente velha – como se deve ser – com vista privilegiada pra um desses bares. Menos dezoito graus em Curitiba e as piriguete tudo com calor, montadas nos seus saltos, ao lado dos calega cas camisa de listinha e casaco de couro falso, dobrando a esquina na fila. E o lugar lotado. TRÊIZORA da madrugs. Tenho paciência não. A última vez que visitei um bar de bobódromo foi lá por 1997, quando eu ainda tinha 16 anos.

Diners são vida. Primeiro: os babaca juvenil não vão em diner, porque comer é caro e consome o dinheiro da Skol engorda. O que essa gente não sabe é que até as 20h tem double de COMIDA. Comida boa. (Comida boa as in sanduíches maiores que minha cabeça, batata frita e refrigerante). Pra minha vida ficar melhor, é só incluírem bebidas não alcoólicas no double de bebida e eu declaro amor eterno. A gente pode ir lá vestido de hipster e camuflar na decoração. Ou seja: all star no pé, casaco, cachecol e óculos de coração. Nada de dor pra andar, nada de passar frio. É mágico. O único problema desses lugares é a localização mesmo. Obviamente, era lá onde eu estava.

E posto de gasolina. Bom, aí é onde ficam os usuários de celular sem fone no ônibus. Durante a semana eles te irritam no meio de transporte coletivo, com um celular podre, comprado em nove mil prestações. No final de semana eles te perturbam com o Chevette tunado estacionado no posto de gasolina do bobódromo, onde eles sentam na calçada, na mureta, ou onde sobrar espaço, abrem suas latas de nova schin quentes compradas no supermercado e colocam música ruim pelas ruas da cidade. Passei perto de um desses em 1995, eu me lembro. Porque o menininho de quem eu gostava estava enfiado no carro de um amigo adepto. Cabô o amor em 23 segundos, foi incrível.

*****

Só dels sabe o que eu passo.

Pois eu estava lá no bobódromo fazia horas, já estava começando a ficar incompatível com a paisagem pelo horário de migração de piriguetes, tinha mais o que fazer e ia de taxi. Quiqui eu fiz? Uma coisa que eu já disse pro amiguinho de casa nunca fazer. Em vez de ligar pra minha empresa favorita, fui até o ponto. BEM FEITO.

Sabe, o senhor não gosta de gente burra. Aí ele pune os babaca que dão tanto mole pro azar num dia só: freqüentar bobódromo e usar taxi de ponto de rua te fazem experimentar um pedacinho do inferno na terra. Agora, se você for ao ponto de taxi e o primeiro deles já aceitar cartão, meua migo, you’ve been punk’d.

Aí eu entrei no taxi e disse o nome da rua pra onde estava indo. E vos digo: uma rua bem famosa, todos conhece. Aí vira o taxista:

- comequié a rua?

Eu repito.

- nossa, não sei nem falar o nome dissaê.

- então tá bom. Eu desço e pego outro taxi, beijomeliga.

- não! Eu tenho GPS. Fica, vai ter bolo, tudo vai dar certo.

Eu fico.

O cara começa a dirigir na direção certa, eu acredito. Aí ele olha no retrovisor e eu sei que o horror está apenas começando.

- já tá indo embora?

- já.

- mas por que tão cedo? Ta bêbada?

- não.

- por causa do frio?

- não, porque eu sou velha.

- velha quanto? 21? 20?

- trinta.

- QQQQQQQQQ???//11

- pois é. Trinta.

Silêncio.

Não dura.

- o bom é que eu vou saber onde você mora, né? Cê é bonita. E simpática.

Simpática. Eu juro que ele falou simpática.

- não vai saber não, que eu não tô indo pra casa.

- tá indo pra onde?

- pra uma festa.

- posso ir juntAAAAAAAAAHhhhhhhhrgGGGGGGGGGhghhhhh

Isso aí foi um grito.

O moço gritou porque no meio do caminho tinha um cemitério, tinha um cemitério no meio do caminho.

- QUE FOI, MOÇO, PELAMORDEDEUS?

- o cemitério, moça. Se eu andar mais perto, as alma pode me pegar.

CÊ JURA. CÊ.JURA.

Aí, numa rua de três faixas, o babaca anda na de estacionamento. Porque quanto mais longe, mais seguro.

Nesse momento, quando eu acho que nada mais pode piorar, quiqui ele faz? Vira pro lado errado da rua.

- moço, não é por aí que vai onde eu tô indo.

- mas o GPS disse que é.

- mas eu tô dizendo que não é. Dá a volta por favor.

Ele dá a volta e se perde. Onde que a gente sai? Na rua de trás do cemitério, onde um caminhão da prefeitura está parado, com funcionários podando as árvores por cima do muro. O motorista entra em surto, dizendo que as almas vão pegar os pobres cortadores de árvores, DÁ RÉ, e se recusa a andar por aquela rua, porque é muito estreita e fica perto demais do cemitério.

Como eu acredito que babaquice tem limite, nessa hora eu achei que a) ele estava querendo me extorquir ou b) abusar da minha pessoa. Mas ele continuava dizendo que estava perdido e rodando como Berenice pelas ruas. E eu, revirando minha bolsa inteira atrás de alguma coisa que pudesse usar como arma. A única coisa em que eu consegui pensar foi quebrar as cartelas de comprimido (parabéns) pra usar de faca. NÃO É FÁCIO.

Depois de três voltas inúteis e de nunca achar a rua, com GPS e tudo, eu mandei ele parar. PARAQUIAGORAQUEUVOUDESCER. Se ele não parasse, eu ia me jogar do carro em movimento, cêis não tão entendendo. Aí ele parou e eu desci. No meio de um bairro que não é exatamente user friendly, sem a menor noção de onde eu estava, ONZE HORA DA NOITE. Porque todo castigo pra bobo é pouco e esse foi o meu.

Nessa hora eu fiz o que toda pessoa sensata faria: chorei. E aí procurei civilização. Entre um tubo e um posto de gasolina, parei no tubo. Mandei 2394857 mensagens de texto me despedindo dos entes queridos e dei aqueles lindo telefonema de resgate. Aí a cavalaria veio, me buscou e todos passa bem.

Menos o taxista, eu espero. Que se minhas praga pegaram, em plena sexta feira 13, o infeliz deve ter sido carregado pelas almas atormentadas do cemitério.

Ou pelo Jason, tanto faz. (E ficaria até bonito no contexto.)