sexta-feira, 10 de setembro de 2010

filosofando e cantando e zzzzzz

Desde criança, eu sempre achei que era muito boa em projetar o (meu) futuro. Eu sabia que ia ter algum trabalho chato e burocrático, por exemplo. Porque, veja bem, não é igualsonhar ser bailarina, querer ser astronauta. Ninguém quer ser funcionário público, no máximo a gente acha legal ser patinadora do Carrefour. Por isso que eu digo que já sabia: eu reunia 3 ou 4 meninas, espalhava blocos, réguas e canetas, sentava no lugar mais alto da escada e saía mandando todo mundo preencher planilhas, escrever relatórios, fazer ligações. Na minha frente, uma máquina de escrever imaginária (dá um desconto que isso foi lá por 88) e um telefone com 738 botões, em que eu colocava as pessoas na espera. Uma profetiza, praticamente.

Além do trabalho BO-RING, eu já previa como seria meu outfit (boring também, né?), o corte do meu cabelo, o apego eterno aos tênis (por que eles não podem ser sapatos sociais também, hein?) e esse tipo de bobagem. Mas, assustador mesmo, era visualizar meu futuro num apartamento de janelas altas e enormes, quase futurista de tão clean e esterilizado, com uma samambaia e um aquário. E o peixe daqueles de plástico, pra não correr o risco de morrer de tristeza e abandono. E fim.

Resumindo: eu sempre achei que em algum ponto da vida eu acabaria sozinha. Mas assim, SUPER sozinha.

Que coisa amarga, não? Ou realista, sei lá.
(Mas triste eu nunca achei.)

Porque eu tenho um problema sério de egoísmo, sabe? [cê jura?]

Uns tempos atrás eu tava filosofando com o meu eu - única maneira válida de filosofar, pra que ninguém discorde de mim - e pensando no quanto é difícil viver quando absolutamente tudo tem que ter um significado na minha vida. E acaba que importa só o que eu penso sobre as coisas.

Outro dia, eu tava lendo um post que dizia:

“eu sou muito autocentrada, não no sentido de egoísta (esse também, claro), mas de ficar sempre tentando captar a sensação que aquele momento, fato, parque, música, filme, homem bonito desperta em mim.

sabe?

eu nunca tô "aqui". tem o aqui e eu tô perdendo ele (o aqui), olhando pra dentro. eu não me lembro dos filmes porque fico cada fala tentando pensar se eu sei aquela situação retratada, se eu já passei ou falei algo parecido.

enfim: é sempre all about me.
é um inferno.”

E eu fiquei primeiro triste, porque não fui eu a escrever isso assim, tão simples. E depois fiquei mais triste ainda, porque é exatamente como eu penso. Veja só que desde aquele dia (que já faz quase dois meses), eu tento escrever sobre o assunto e não consigo. Tamo aqui praticamente no quadragésimo oitavo parágrafo e eu não disse o que tinha pra dizer.


*****

Uma parte do meu comentário pra esse post dizia que eu acabo achando mais graça no meu reflexo no olho do outro do que no outro em si. Do que o outro provoca em mim do que o que o outro é. Eu deveria estar internada, pelamor.


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Outro dia estava atrapalhando fazendo companhia pra alguém que precisava trabalhar. De modo que, pra me distrair, fui até uma estante cheia de livros procurar por um cuja capa de trás (oi?) tinha uma citação que eu adoro, mas tinha perdido fazia muito tempo. Na mesma prateleira, meus olhos já tinham passado pelo título “o amor a solidão” várias vezes. Então eu peguei esse também e levei comigo.

Acontece que na manhã daquele mesmo dia, eu estava justamente pensando nessas questãs da vida.

(Não vou dizer que era porque a companhia em que eu estava é daquelas tão boas que fazem a gente querer ter certeza de que está aproveitando tudo direito, que é pra não assustar ninguém.)

E aí, ao tirar o livro da prateleira e virar ao contrário pra ler a capa de trás, o que eu vejo? Vejo alguém que resumiu ainda melhor o que eu estava pensando:

“nós somos prisioneiros do futuro e de nossos sonhos: de tanto esperar amanhãs que cantem, perdemos o único caminho real, que é o de hoje. No entanto é preciso viver e lutar: partir para o assalto ao céu, mesmo que esse céu não exista. Precisamos inventar uma sabedoria para o nosso tempo.”

Resumiu tanto minha vida que ó, nem preciso mais de ajuda psicológica.

Parar de pensar no daqui a pouco, comofas? Manter o foco no agora, absolutamente agora, não em daqui um segundo... é possível? Parar de planejar, de procurar causas e efeitos, de onde viemos, pra onde vamos e pensar só no que está acontecendo agora. Me pergunto se alguém é capaz. Eu adoraria.


*****

Eu fico numas de pirar com tanto egoísmo, porque rola todo um medo de ser impossível ser feliz sozinho, né? Mas sozinho não as in SEM MARIDO. Sozinho as in sem vida social. Tava aqui com esse post pela metade, quando me surge uma reportagem que quem enche a cara vive mais. Poxa vida, universo. ATÉ POR ISSO vou ser castigada? Eu não sou uma sóbria chata, eu juro. Os outros é que têm que beber pra que eu possa agir naturalmente.
Mas aí, no meio da minha leitura dinâmica, passei por um parágrafo que dizia que quem bebe socializa mais e, isso sim, é muito importante pra manutenção da vida: vida social.

Minha sorte é que eu faço amigos até bebendo leite (e morrendo de alergia pelos sete dias subseqüentes).

OH WAIT. Nesse caso, talvez seja realmente válido encher a cara, se a intenção é viver mais.

*****

Sabe, eu sempre tive problemas não só em acreditar em amor, mas em aceitar amor.

Mas eu não tô com vontade de explicar isso agora.

O caso é que eu sempre achei um absurdo a fusão de pessoas, perda de personalidade, abdicação da individualidade (ui, me perdi RISOS).

Mas como seu André Comte-Sponville me convenceu a ler o que ele tinha a dizer, mesmo que o céu não exista, eu continuei a folhear o livro. Cheguemo num ponto em que ele falava de solidão E amor (cê jura? Má não era justamente esse o título do livro, inteligentona? Era.).

E ele disse:

“Assim, solidão não é a rejeição do outro, ao contrário: aceitar o outro é aceita-lo como outro (e não como um apêndice, um instrumento ou um objeto de si), e é nisso que o amor, em sua verdade, é solidão.

O amor não é o contrário da solidão: é a solidão compartilhada, habitada, iluminada - e, às vezes, ensombrecida - pela solidão do outro. O amor é solidão sempre; não que toda solidão seja amante, longe disso, mas porque todo amor é solitário. Ninguém pode amar em nosso lugar, nem em nós, nem como nós. Esse deserto, em torno de si ou do objeto amado, é o próprio amor.

Quantos fogem da solidão (...) e são incapazes de um verdadeiro encontro? Quem não sabe viver consigo, como saberia viver com outrem? Quem não sabe morar na própria solidão, como saberia atravessar a dos outros?”.

E olha, eu costumo é fugir dos outros, de viver comigo eu entendo.
Não é incrível que, de acordo com esse ponto de vista, eu seja assim uma pessoa super preparada pro amor? Como diria Maria da Graça, só basta acreditar.
Melhor que cartomante.


Tudo que tiver que ser, será.

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Mas será que não dava pra eu ter um trabalho menos chato nos próximos 20 anos? Perguntar não ofende, né?

(Tava em dúvida se colocava isso no tumblr ou no blog. Ninguém vai ler mesmo, vou colocar nos dois.)