sexta-feira, 31 de outubro de 2014

mãe de quatro filhos

Eu cresci em apartamento, morei neles até os 12 anos. Assim que minha família se mudou pra uma casa, minha mãe achou que tinha chegado a hora de introduzir bichinhos na nossa vida, o que muito me causou pânico, porque eu sempre tive pavor de qualquer coisa do reino animal. Tenho mais de mil histórias pra contar, mas sempre lembram do dia em que subi na cama da mãe do meu amigo de tênis e tudo e comecei a sapatear, porque o cachorro dele escapou do quarto. Não lembro a raça, mas nada muito maior que poodle. Tem também o dia que eu me joguei de uma janela de pavor de uma pincher de uns 10 anos. Sim, eu literalmente me joguei da janela. Felizmente era uma janela baixa e eu só torci o tornozelo, mas eu tinha PA-VOR de bichos. A gente teve um caso bem mal sucedido sobre o qual eu não vou falar e aí, lá por novembro de 1993, chegava em casa a Kitty.



Foi a única época da minha vida que eu dormi de porta fechada. Ela queria deitar na minha cama, queria deitar em cima de mim, fazer ronrom, dar aquela amassadinha (tem gente que chama de massaginha) e eu tinha muito, mas muuuuuito medo. Então eu vivia de porta fechada, assistia tv em pé, de medo de ela vir no meu colo, fazia de tudo pra ficar longe. Atéééé o dia em que ela sumiu. A gente não tinha NENHUMA noção de adoção responsável, a casa vivia aberta e a gente não se incomodava se ela fosse passear. Aí ela sumiu e eu passei a tarde sentada no chão da sala chorando loucamente. Saímos pra procurar, nada. Reviramos a casa e nada. Achamos a fiadamãe umas horas depois, deitada no bujão de gás, enroladinha, dormindo com os anjos. Fazia um mês mais ou menos que ela estava em casa e foi aí que eu descobri que era amor. Eu virei a louca dos gatos. O lugar dela era oficialmente amontoada em mim e foi assim pelos 18 anos que ela viveu. A gente se mudou de casa quatro vezes antes de eu conseguir convencer minha família que lugar de gato é DENTRO de casa, 100% do tempo, SEM exceção. Ela devia estar com 8 anos a última vez que "sumiu", indo passear na chaminé do vizinho. Dali pra frente acabou. Telamos a casa toda, substituímos grades por portas de vidro, colocamos plantinhas pra dentro e assim foi. A única vez que ela saiu de casa depois disso, foi quando arrombaram minha casa durante a noite enquanto a gente dormia (sim) e ela ficou sentadinha na frente da porta até eu acordar e ir guardar. Quase morri do coração. 

A gente acha que ela só não viveu até os vinte ou mais por causa daqueles 8 anos de vida bandida. Foram muitos perrengues antes do lar seguro, não gosto de lembrar, de contar, de nada. Mas hoje em dia isso não acontece mais.

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Kitty devia estar com uns dois anos quando chegou o Holly.


Holly foi o único da ninhada que nasceu sem a presença do veterinário certificado e ficou sem pedigree. Quando a gente foi comprar um cachorro (eu sei, gente, mas isso era o meio dos anos 90 e eu tinha 14 anos), nem ofereceram o Holly. Mas ele veio correndo meio mongolóids até a gente, um cachorro de dois meses, mas imenso e desengonçado. O moço se referiu a ele como meio bobalhão e eu olhei pra minha mãe e falei "É ESSE". Foi quase de graça, porque era grande, bobo, desengonçado e sem pedigree. MELHOR CACHORRO, só digo isso. Holly salvou minha vida LITERALMENTE pelo menos duas vezes. Ele ficou imenso, não tinha nenhuma pessoa que chegasse na minha casa e não se assustasse. 

Minha maior tristeza é saber que esses dois morreram antes de conhecer a casa onde a gente mora hoje, que seria um lugar muito feliz pra eles. Masss, eu tenho certeza que a gente deu pra eles a melhor vida que podíamos e os dois morreram de velhos, de um dia pro outro, sem sofrer. Graças a eles, eu posso conviver com qualquer animal no mundo sem medo - já enfiei a mão em casa com pitbulls, pra passar a mão. Eu sou a louca dos gatos e dos cachorros, agora. E foi só por causa da presença dos dois em casa que eu consegui sobreviver à alergia de cachorros e gatos, por incrível que pareça. Se eu vivesse sem eles quando a alergia apareceu, seria muito mais difícil amenizar os efeitos dela.

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Os dias de hoje

Eu tentei gravar um vídeo, mas MEU DEUS como minha voz é fanha. Eu não me aguento falando, não sei como os outros conseguem. De modos que vai rolar um monte de foto mesmo.

O Holly tinha morrido havia pouco tempo quando entraram na minha casa e a Kitty morreu um pouco depois. Mas como era impossível continuar em paz naquela casa, minha mãe se mudou pra onde moramos hoje. Levou com ela primeiro o Joca. Depois, quando viu que era o único jeito de tirar o resto de nós da outra casa, levou a Mimi.

Primeiro veio a Mimi.



Estava chovendo muito quando minha mãe saiu pra trabalhar. Viu uma bolinha cinza rolando na enxurrada. Era a Mimizinha que vinha ali, bebê, e minha mãe não conseguiu ignorar. Era pra deixar em casa só pra se secar e arranjar alguém pra adotar, mas a gente não conseguiu achar ninguém que se comprometesse com janelas teladas, adoção responsável e tudo mais. Na última tentativa desistimos, demos nome e aceitamos pra sempre. Levou um tempinho pra Kitty aceitar que tinha que dividir a casa e as caminhas, mas acabou cedendo. Choro aqui um pouquinho de ter perdido as poucas fotos que tinha das duas dormindo juntas, porque era MUITO raro. Nunca fizeram bolinho de gato, mas não se estranhavam. Pra gente, tava ótimo.

Quando chegou o Joca, 



o Holly já tinha morrido. Minha mãe, pra variar, saindo pra trabalhar, viu uma coisa rolando debaixo do ônibus (viva). A gente imagina que ele tinha dias de vida, porque era MUITO pequenininho e quase não tinha pelo ainda. Minha mãe ainda tentou uns dois dias procurar o dono que pudesse ter perdido o auau, mas a gente não quis cometer o mesmo erro que cometeu com a Mimi. Demos nome, botamos roupinha, aceitamos na família. Pra sorte dele e nosso desespero, Joca tem um problema bem sério na coluna. Se não tivesse sido resgatado, não andaria. Nas primeiras vezes que levamos no hospital, mandaram que a gente se informasse sobre cadeirinha de rodas. Entre outras coisas, mudar de uma casa com escada (a do arrombamento) pra uma casa sem escadas mudou a vida dele. Raramente tem crises e hoje corre pra cima e pra baixo, sem medo de ser feliz. Ainda precisa de cuidados especiais, vitaminas, só pode tomar banho em casa, não vai no colo, tem ajudinhas pra subir e descer de lugares, mas leva uma vida feliz e saudável.

Pra vida deles ser tranquila e feliz, minha casa atual tem tela nas janelas frontais, no portão interno frontal e grades presas em mãos francesas nos muros internos. À prova de gatinhos e cachorrinhos. Então eles podem passear o tempo todo, inclusive sozinhos, no quintal interno. Tem sol, grama, terra, árvore, flor, pássaro, borboleta, tudo que distrai os pequenininhos. É a melhor coisa ver bichinhos que viviam guardados como em apartamento (porque a casa anterior era LACRADA) e hoje em dia podem deitar na grama e tomar um solzinho.

Ou seja: minha casa é térrea e tem tela na janela. Parece ridículo? Pode ser. Aqui ninguém se importa. A tela da mão francesa era horrível e hoje em dia estamos colocando trepadeiras e tá ficando tudo mais bonito. Mesmo que ficasse feio, pela segurança dos bichinhos, vale tudo.

Além disso, temos esquemas familiares pra minimizar o tempo que eles passam sozinhos em casa, viajamos em revezamento, pra que sempre tenha alguém com eles em casa. Se engana quem pensa que é só por causa do cachorro: gatos simplesmente NÃO COMEM sem os donos em casa. As minhas não comiam. Não bebiam água, ficam totalmente baixo astral. 

Então tem esse outro lado também, o lado que dá trabalho. Sabe quando uma mãe de bebê fala "acabei de trocar, fez cocô"? Pois é. Acabei de limpar o chão, os dois vomitam. Troco a roupa de cama, vomitam na cama. Troco móveis de lugar, tem xixi de cachorro. Passo a tarde fora de casa, a gata derruba alguma coisa quebrável do lugar. Tá calor e um quer dormir no seu pescoço e outro nas suas costas. Os dois querem a mesma caminha ao mesmo tempo. Os dois querem brincar de pega-pega 3 horas da manhã. Os dois se apavoram com fogos de artifício. Os dois lambem o iogurte que você deixou em cima da mesa. Assim vai. Fazem zona, brigam com as crianças que vêm em casa, enchem o saco da visita, estragam coisas... Igual filho. A diferença é que passam 10 anos e eles ainda não vão saber dizer onde dói e não vão aprender que a cama amarela é de um e a cinza é do outro. E você vai querer botar todo mundo de castigo e vai querer morrer de rir nos mesmos cinco minutos. E é a melhor coisa que existe. Principalmente quando você chega em casa arrasada, sofrida e tem lá duas criaturas olhando pra você como se fosse a melhor coisa do mundo você estar ali.














A maior preocupação que esses bonitinhos têm hoje em dia é escolher onde dormir. Cada cômodo da casa tem uma caminha ou uma poltrona com cobertinhas pra eles escolherem. Também podem dormir nas camas com as pessoas ou no quintal, no solzinho. O sonho da minha vida é ter um lugar bem grande, onde eu possa encher de cachorro e gato. Na verdade, o sonho mesmo é bem mais complexo, tem todo um plano, mas todo mundo que escuta me enche o saco o resto da vida falando que não vai dar certo, então eu guardo pra mim. Porque I HAVE A DREAM que um dia todo animalzinho vai ter uma casa e uma família amorosa.

Porque eu não tenho dúvidas: eles são anjinhos que caem na nossa vida.



““Esta blogagem coletiva faz parte do projeto Abraçando Patinhas, uma iniciativa do Rotaroots em parceria com a marca de ração Max – da fabricante Total Alimentos (http://www.maxtotalalimentos.com.br/). Esta iniciativa reverterá na doação de 1 tonelada de ração para a ABEAC (http://www.abeac.org.br/), ONG responsável pelo bem estar de cerca de 1100 cães. Saiba mais sobre o projeto no site do Abraçando Patinhas (http://rotaroots.blog.br/abracandopatinhas/) ou participando do grupo do Rotaroots no Facebook (https://www.facebook.com/groups/rotarootsblogs/).”