Acho injusto eu ter que ser adulta só porque eu sou velha. Cêis num acha? Eu acho. E o inconveniente de trocar de faixa etária é ficar com aquelas crises mongol advanced “oh my god, oncotô, proncovô?”.
Por exemplo. Eu achei que seria doutora antes dos 30. Formada aos 22 e com 3 especializações antes dos 25, quem não acharia? Mas aí, eu vanessei e enjoei das logística. E fui olhar o tempo passar.
Porque não é como se eu tivesse sonhado estudar administração. Nem eu consigo ser assim tão boring. No segundo ano do ensino médio eu fiz tudo que era vestibular que você pode imaginar, só pra provar que era inteligente. Cheguei a passar em quarto lugar em medicina, veja só você. Não era burrice, era falta de vocação mesmo.
No fim do ensino médio tudo desandou, até direito eu pensei em fazer – só o Senhor sabe como eu me manteria acordada nos cinco anos seguintes – e tudo deu errado, só que ao contrário. Administração pra mim foi nas vibe de casamento indiano: você faz porque a família manda pede, adiciona umas pitadinhas de boa vontade e vai deixando pra garrar amor no processo. No fim você tá acreditando que os astros convergiram pra você ter uma vida auspiciosa e tudo é lindo, tudo é amor, nothing hurts.
Mentira.
O encanto passou depois de dois anos que eu estava formada, quando eu virei funcionária pública. Fim.
Mentira.
Todo ano eu penso em seguir meus sonhos I believe I can flyyyy, começo o processo pra fazer mestrado em letras (só maluco pensa em fazer outra faculdade depois dos 30. OI, MÃE.), mas essa gente das arte não tem amor no coração. É muito difícil ser aceito quando se veio não só das social apricada, mas de uma blublublu business school mlémlémlé. Aí eu desisto e tento no ano que vem de novo e repete. Ad eternum.
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Minha vida social ecsiste na mesma proporção em que eu me submeto à vontade alheia. Impressionante. Isso meique é um problema da pessoa solteira aos 30. Da pessoa solteira SEM pretensões amorosas. Da pessoa solteira, SEM pretensões amorosas e que não acha ““““balada”””” uma coisa válida na vida. Porque aí você está entre suas amigas piriguetes que ainda aceitam o mundo onde você passa por bolos de pessoas e babacas pegam no seu derriê na sua mão como se não houvesse amanhã. E do outro lado estão todos os casais do mundo, que automaticamente passam a ter 90 anos e só querem fazer coisas de gente velha. AND que inclua necessariamente a outra metade do seu ser. Não dá pra sair só com as meninas, não dá pra sair só com os meninos. Onde já se viu deixar meu chuchuzinho em casa?
Credo.
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Vida amorosa aos 30 é uma coisa chamada limbo. Porque ou você já achou o velhinho de 90 anos pra chamar de seu ou você está em uma cilada, bino. A faixa aceitável está num desvio padrão de cinco pra menos e dez pra mais. Pros menores de 25 eu não tinha paciência nem quando estava lá. Os maiores de 40 eu ainda não estou preparada pra encarar.
Nessa faixa bonita de idade estão todos os homens comprometidos do universo. Os que não são comprometidos, são gays (e comprometidos). Os que sobram são os pretensos Charlie Harper, que arrotam (e sonham que têm) cabelo bom, modelos, casa na praia e dinheiro. Mas na verdade estão carecas, barrigudos, pegando vadia no bar da Brahma e se atracando com ela por lá mesmo, ou no quarto-e-sala numa vizinhança duvidosa. E se vestindo mal.
Todos são feios.
Gente, como homem nessa idade é feio, Jesus amado.
Se você achar um boy magia e achar que ele tem 30, ou ele tem 25 e tá acabado, ou ele tem 40 e, amiga, cê acertou o jackpot. CORRE.
Cê vê. Entre os cafuçu magya que eu conheço tem Creiço. Vintenove anos, casado, usa barba e bermuda bad boy. Com esse figurino e esse nome, eu não teria coragem de apresentar pra ninguém, de qualquer forma. Mas Creiço é casado e há boatos de que a marida observa de perto.
Mr. E., trintequatro anos, bofe xucro, de QI imenso e total falta de cultura (como diz Katylene, como isso é possível? A ciência explica? Veja hoje no globo repórter), feio que é um susto no meio da noite, taí, noivo. Noiva de qualidade duvidosa, é verdade, mas é mais um bofe de aliança no dedo.
E a última opção, mais recente, um boy sem magia, trinteum anos, de voz mansa e cílios que possuem vento próprio e eu tenho certeza que neste exato momento estão causando um furacão na Nova Zelândia, da noite pro dia, aparece de aliança. Já era casado, mas ela tava quebrada, estragada, polindo, sei lá. Fiquei tão em choque quando descobri que o cafuçu em questã era comprometido, que perdi um pouco mais da audição e capacidade cognitiva.
Mais do que despeito, a mensagem aqui é: até os feios estão ocupados, amiga dona de casa. Se não sobram nem os feios, sobra o que?
Babaca.
Babaca tá cheio. Prefiro ficar sozinha.
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Falando em ficar sozinha, nem pra sair de casa eu tenho competência. Pensei nisso umas oitocentas e vinte e doze vezes neste ano, mas sempre acho um argumento que me impede.
E o primeiro bocó que vier falando “claaaaaro, comida pronta, casa limpa, cama arrumada e cuidadinho da mamãe, até eu” vai levar um grampeador nas fuça. Porque quem faz tudo issaê sou eu. Lavo, não passo, porque não sou obrigada, se na minha casa tem ferro e [pausa pra perguntar pro irmãozinho como chama aquela mesa de armar onde bota a roupa] tábua de passar, eu não sei onde eles moram, cozinho marabidjosamente bem, passo aspirador, esfrego, tiro pó, e tudo mais que você possa imaginar.
É que eu sou jovem demais pra morar sozinha.
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Finalmente, o álcool. A última alternativa da pessoa desesperada. Não bebo, não gosto e não gosto de quem bebe.
:)
Se você é do time que diz que do gosto ninguém gosta, que o bom é o efeito, então, né? Babaca.
E aí eu vou semana após semana pro bar, ficar olhando todo mundo encher a cara. E aí eu faço festa e tenho que morrer de pobreza, pra pagar birita pros outros. Eu quero ir num lugar aleatório e a primeira pergunta que me fazem é “qual é a cerveja que tem lá?”. Meua migo, eu só quero saber se lá tem coca ou Pepsi, cê tá entendendo? Eu quero saber se o suco de abacaxi é de fruta mesmo ou aquelas polpinhas congeladas. Eu quero saber se a bolinha de aipim tem recheio de queijo ou carne seca.
Porque olha, além de tudo, eu não como carne.
I regret nothing.