terça-feira, 21 de dezembro de 2010

na madrugada tomando um red blues pra instalá o zóio


Se tem uma coisa pra qual eu tenho talento, essa coisa é viver em negação. Eu mando dona Elisabeth tomar no seu Kübler-Ross e não chego à aceitação nem se me oferecerem barras de ouro que valem mais do que dinheiro. Tudo bem que eu tento me adaptar aos pequenos cantos do bode às pequenas tragédias da vida, mas aceitar, JAMAIS.

Por exemplo:

- tragédia: ter 30 anos.

- negação: agir como se tivesse 17 anos americanos (em que a gente pode dirigir e tal. Beber nem me gusta, tá de bom tamanho).

- aceitação (impossível): o título de jovem senhora.

- adaptação: andar de taxi.

Porque chega um dia na vida que você reconhece que mesmo tendo tenros 17 anos americanos imaginários, não é justo chamar a mamãe pra ir buscar na casa do amiguinho às 6 horas da manhã, depois de virar a noite. (Tenho vontade de dizer que não é aceitável andar de ônibus também, mas não quero ninguém me chamando de esnobe.)

Não vamos entrar aqui no mérito da cueshtã “por que você não compra um carro?”, que eu não quero falar sobre isso. E minha mamis sempre disse que preferia ir buscar a me deixar dirigir pelas noites blábláblá. Acabei me acostumando com a idéia de motorista particular e agora tamos aí, angariando histórias.

A gente vê no Jô um taxista engraçadão contando a vida e eu não vejo mérito nenhum. Essa gente fala pelos cotovelos, comé que não vai ter história bizarra pra contar? Agora tô eu, quieta e com sono, minding my own business, e começa sempre um show de horror diferente. Vamos aos fatos.

O recorde de taxista biruta é meu e ninguém barra.

Acho que a primeira vez que andei de taxi por conta própria na vida foi nos idos de 2003, no natal. Já contei essa história, a do taxista slash rei momo. Outro dia contei na mesa do bar e *alguém* chegou a descobrir que, ÓLIA SÓ, já morreu. Mas devo confessar que fico aliviada, porque quem achou que ia morrer naquele taxi fui eu. Não desejo pra ninguém.

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Passei bons anos tentando evitar esse tipo de sofrimento até que, neste ano, voltei a dar uma chance pra esse tão belo meio de transporte. Menos de 12 meses de experiência e eu já estou considerando jurar amor eterno ao fusc... PEGADINHA, estou considerando encontrar um carro pra chamar de meu.

Outro dia, peguei um taxista repetido. Foi engraçado, porque o tiozinho tinha um nome bem aliterado, de modo que guardei na minha cabeça. Aí, quando ele reconheceu a frente da minha casa e disse “acho que eu já vim aqui”, eu dei a ficha completa da última corrida e ele ficou completamente shocks com os detalhes. Mas gente, eu mando ficar enchendo minhas orelha de abobrinha? Justamente as minhas, conectadas ao meu cérebro com incrível poder de retenção? Não mando.

***

Alguns finais de semana atrás, estava eu voltando da casa dos amiguinhos no digno horário da alvorada. Ousseje, o tio me buscou numa casa e me deixou numa casa. Achei muito deselegante quando ele perguntou em qual das duas eu morava e por que não tinha ninguém me esperando em nenhuma delas.

***

Teve também o mês da vanessa louca, em que eu fui a quinhentos mil bares em menos de 20 dias. E cada vez que saía de um deles, era recebida por um taxista perguntando se o bar era bom, que música tocava, se as outras mulheres presentes eram tão bonitas quanto eu (às 4h da madrugs, aham.) e se no *insira um dia da semana em que ocorreria a folga do cidadão* eu seria encontrada naquele lugar.

Meu medo é que essa gente sempre sabe onde a gente mora, né?

/paranóia.

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Bom. Aí que sábado eu precisei de serviços motorísticos duas vezes no dia. Eu raramente ando de taxi com sol no céu (ainda que sobre as nuvens hahah... ok), mas é sempre tão mais tranqüilo... taxistas silenciosos, viagens serenas. Cheguei em casa em paz e alegria, tudo calmo, tudo bonito. Mas veio o ocaso, uma nova necessidade, um novo taxista.

Meua migo, que que foi aquilo?

Mal entrei no automóvel e fui atingida pela declaração de que “a noite rendeu hoje, hein?”. Muito me pergunto de onde veio isso, uma vez que eu tava com a maquiLAGE borrada de rir casamiga e só. O normal de todo sábado.

Mesmo vendo que eu não tava assim muito em condição de conversar, o tio veio me contar que tava com sono e que eu fui um grande azar na noite dele. Porque ele morava no bairro ao lado de onde eu tava, do lado oposto de onde eu moro. “Tava aqui encerrando a noite e agora vou ter que ir lá no fim do mundo antes de ir pra casa”. Muito fino.

E EU COM ISSO?

Aí falou que ia precisar de um red bush pra instalá o zóio. E riu da própria piada. Depois começou a falar mal de vegetarianos (só não me pergunte o motivo ou a conexão, eu não sei). E perguntou pra mim, PRA MIIIIIIIM, se tinha alguma coisa melhor que uma carninha.

- tem, tio. Azeitona.

Ele não entendeu (cê jura) e eu expliquei muito pacientemente (aham) que eu não como carne vermelha.

- ah, qué dizê que cê é daquele povo que acha que tudo que é verde faz bem? Bróco, alface, uma ervinha pra acalmá de veiz em quano...

Cê perdeu tempo explicando pra ele que tem alergia level extreme à erva que acalma? Eu também não. Eu só ri. Porque às 3h da madrugs, é tudo que a gente pode fazer.

Pois então ele achou interessante falar do clima, uma vez que era o primeiro dia de sol (à noite hahaha tô hilária hoje) depois de um milhão de dias de chuva.

- a rua fica até cheia, né? Parece tudo largata que tava fechada e saiu pra tomá um arzinho. Eu memo amanhã tomo minhas pinga.

JESUS AMADO, TÁ CHEGANDO A MINHA CASA?

***

Em algum momento o tio entendeu que eu estava em modo silencioso e parou de falar. Até chegar bem perto da minha casa e ver algumas mulheres carregando algumas tralhas de uma casa até outra.

- nossa, que bonito essas muié trabaiadêra. Eu tô sortero, quero uma muié trabaiadêra assim pra mim.

O que ele não sabia é que as muié trabaia é na zona de baixo meretrício que tem ali do ladinho de casa.

- e você, vanessa (num guento essa mania de taxista de chamar a gente pelo nome, criando laços de intimidade instantânea), é sortêra?

VÔ FALÁ QUE SÔ? NUM VÔ.

- não sou, moço. Eu tenho um relacionamento estável.

***

Aí eu entro em casa e prometo pra mim mesma que semana que vem eu vou adquirir um automóvel, botar fim nessa palhaçada. Só que semana que vem tem uma coisa imperdível na qual eu acabo indo, e aí eu volto tarde e aí eu pego outro taxi e...

FIM.

(Todos nós sabemos que é brinks.)