senta, que lá vem história
Outro dia teve virada cultural. Sabe, eu sempre tive muita inveja dos habitantes de são paulo, meus conterrâneos, que têm essas oportunidades culturais com freqüência. Tá certo que não iria ao anhangabaú ver o Rappa nem a pau, mas né? Você me entende, não entende, diário? Eu muito sinto falta do museu da língua portuguesa, da pinacoteca, do masp, do ibirapuera e essas coisas.
Mas aqui a gente tem o paço da liberdade, que meique compensa muita coisa.
O caso é que eu queria ir ao show do Pato Fu e, por curiosidade, ficar pro seguinte, do Charme Chulo. Bem simples, dois showzinhos no mesmo palco, da meia noite às 3 da manhã, coisa leve, né? Não.
Porque íamos em 4 e cada uma queria ver uma coisa. Paulinho da Viola, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, meu ovo. Aí eu me vesti de mendiga, me enchi de protetor solar e saí de casa pronta pro primeiro show, 13h da tarde, debaixo dum sol do congo (num dos únicos 8 dias em que faz sol em curitola) e fui.
Sozinha.
13h
A muierada deu os cano e lá fui eu encarar Paulinho da Viola, muito achando que tinha me metido numa roubada.
Mas gente, foi lindo.
Foi MUITO lindo.
Eu tenho umas pira errada de tentar contextualizar as coisas e o show do Seu Little Paul foi meique uma visita ao oráculo, sabe?
“Trama em segredo teus planos
Parte sem dizer adeus
Nem lembra dos meus desenganos”
Isso tinha acontecido uma vez numa palestra do fofinho vovozinho Ariano Suassuna. De a pessoa ir falando e eu ir concordando e parecer até meio mongolóide, porque né? Tá todo mundo absorvendo cultura e eu procurando o sentido da vida.
Mas lhes digo: Paulinho da Viola tocou meu coração duma forma, que eu prometi pra mim mesma passar 24h seguindo cultura. Provavelmente sairia do show do seu Erasmo (o último, no dia seguinte) carregada direto pro hospital, mas tava disposta. Juro.
15h
Acompanhada dos pais mais legais da galáxia, saí do show de seu Paulinho rumo à apresentação que eu realmente não conseguia prever: Hermeto Pascoal e Orquestra Sinfônica. Realmente, foi musga on drugs, mas eu adorei. Sério, todo mundo (que gosta de musga, obviamente) deveria ver um show desse velhinho um dia. Que coisa mais biruta, meldels. O cerumano que juntou ele com a Sinfônica tava muito de brinks. ADOREI.
Fiz amigos na platéia, super devo fazer oficina de piano popular em janeiro, entrar pra uma banda de chorinho e largar o funcionalismo público pela boemia. Já tô recebendo convites (juro). ME AGUARDEM.
17h
Empolguei e voltei correndo pro lugar do primeiro show (sério, gente. Uns 5km de distância) pra ver Sandra de Sá.
Mas né? Alérgica em plena crise, sem remédios, sem café da manhã, sem almoço, sem água. Vi a morte umas 7 vezes no caminho. Tosse, falta de ar, hipoglicemia, descompasso cardíaco. Tive de tudo.
Marquei o lugar onde os parente iam ver o show e corri até a vendinha.
- moço, me dá uma coxinha COM CATUPIRY(go), uma garrafa de água e 4 cocas.
O moço quase morreu de rir. Entendi quando olhei no espelho: minhas fuça tava da cor de tomate maduro. Mezzo sol, mezzo esforço físico, eu parecia muito sofredora de sede. Saí me atracando com a coxinha, a água e uma das cocas, uma coisa bem fina. Mas tava todo mundo olhando pro palco, ninguém reparou.
Ainda vi dona Sandra de pertchinho, gritei o nome dela, ela acenou de volta. Uma maravilha da tietagem inventada.
Mas ó. Que show MARAVILHOSO, minha gente. Fiquei loca, pulei desgovernada (comé que uma coxinha, uma coca e meio litro de água não se revoltaram nessa hora, não sei).
Porque, vejem, ela cantou soul de verão. E isso era muito importante pra mim. Sei nem como não perdi a voz.
19:30h
Sandra cantou mais do que devia e FERRÔ minha programação. Porque eu tinha que estar meia hora antes do fim desse show no shopping, meio do caminho pro show do Robertão, que começaria às 20h. Saí correndo desgovernada, já sem meus pais e cheguei no shopping PODRE.
Mas podre em todos os sentidos. Urubus me perseguiram no caminho.
O plano: adquirir uma garrafa de 5 litros de água, algo pra comer, uma blusa nova, uma lavagem facial no banheiro e, se possível, escova no salão.
Entrei na farmácia e pedi água. E, com os cabelos descabelados, a cara num tom inexplicável de vermelho, a blusa branca imunda por ter tido um pequeno incidente de falta de saúde e capotado no chão da praça, o atendente ainda me vem com a seguinte pergunta:
- tá seguindo a virada, é? Onde eu te encontro perto da meia noite? *seduz*
Sô obrigada? Num sô. Mandei ir no show do Pato Fu. Se ele foi, tá me procurando até agora. UM BEIJO, MOÇO DA FARMÁCIA!
Aí corri pra cya, comprei lindas (not) blusa, lavei a cara, tomei 30 litros de água e segui, agora em companhia de lindas amiga, pro show do Rei. (kkkk risos)
A pessoa me diz que ganhou convite vip, mas só dois. Éramos seis três, de modo que entendi que ela tinha RECUSADO os convites. E fomo nóis lá pro meio do bolo, donde não se via nada, se ouvia mal e se era muito esmagado. Briguei com bombeiros, puliças, civis. Num momento de picuinha, berrei com toda a força dos meus pulmão “Roberto, casa comiiiiigo” e um vovozinho duns 150 anos me repreendeu: “mas minha filha, ele é velho!”.
Xinguei muito no twitter e acabei descobrindo que minhas lindas amiga ainda estavam em posse de suas pulseiras vip. De modo que, ao som de “o cabelo dela parece até bombril de arear panela”, arrastei as duas pelo meio do que deveria ser um trilhão de pessoas até o camarote.
Como eu tarra NEI AÍ pro show, botei as duas pra dentro e sentei na sarjeta e chorei abraçada no meu barril de água.
Lá longe eu ouvia os acordes de “Jesus Cristo, eu estou aqui”, gritei junto, o resgate veio, o show acabou, os fogos de artifício estouraram no céu e, AÍ SIM, eu vivi um momento lindo porque o show acabou, né, minha gente.
Uma lata de coca-cola desintegrada depois, juntamo-nos os 4 mosqueteiros (repare o personagem adicional na história), rumo à COMIIIIIIDA! E ao show do Pato Fuuuuu.
23h
Fazia só 10 horas que eu estava perambulando pela cidade. Eu colocaria um mapa aqui pra dar a noção exata do quanto eu andei, mas meus pés ainda não se recuperaram e não querem se lembrar. Desculpa.
Paramos numa linda barraquinha de prensado (o legítimo point pra comer um pão com vina) e pedimos 3 motumbos e um sem salsicha. Eu pedi também um guaraná com batata palha, porque tava precisando muito de energia. Mil e duas horas depois, estávamos todos alimentados, entupidos e pregados. Mas vamo lá, que já passa da meia noite e os shows têm atrasado uma meia horinha, vamos chegar em cima da hora e...
Mano. Sério. Todo mundo que tava no show do Robertão foi pra lá. Não tinha condição. Eu via o palco praticamente no universo paralelo, de tão longe. E, atrás de mim, UMA RAVE A CÉU ABERTO. Ousseje: eu via a roupa laranja medonha de fernanda takai, mas ouvia um tuntch tuntch firmeza. E naquelas alturas, NENHUMA ALMA queria subir comigo a rua, rumo ao palco. NÃO PERDOO. Passei por tudo aquilo no show do RC e ninguém segurou na minha mão? Não aceito.
Concentrei, fiz cara de intelectual e ouvi pelo menos as minhas musgas favoritas e o melô do egoísta (aka minha música): EU.
01h
Gente com frio, gente cansada, gente querendo ir embora, gente querendo outras festas. TODO MUNDO querendo me abandonar. Acho injusto. Faltava um showzinho só (mentira, se eu tivesse tido coragem, depois desse iria pra outro e outro e outro e outro e estaria até agora vagando pelas ruas ou tomando soro numa UTI. Nunca se sabe.).
Mas aí tudo deu certo e eu não quero mais contar nada porque eu não lembro. Meu cérebro tava em coma desde a meia noite.
Só sei que acordei no dia seguinte com a sensação de ter levado uma surra. Tentei levantar da cama e meus pés se recusavam a sustentar o peso do meu eu. Foi lindo. E eu vos digo: se eu estivesse conseguindo respirar um pouquinho que fosse, ainda fazia a loca e ia ver martinália (me processa) e Erasmão. Não fui porque... não lembro, devo ter voltado ao coma.
Mas olha, vou dizer uma coisa: no ano que vem, eu vou usar meus tênis de cadimia, vou levar 4 mudas de roupa na mochila e vou deixar o celular programado pra me avisar que eu tenho que beber água, repassar protetor solar, parar de pular. E vou contratar alguém que tenha disposição e habilidadj (crééééu) pra me acompanhar. Porque ou eu viro as 24h ou saio de lá numa ambulância.
Me aguardem.