Eu sou uma pessoa preconceituosa. E não, não acho bonito admitir isso. Mas acho importante que as pessoas saibam que, pelo menos, eu não vou tentar disfarçar.
Eu (acho) que só tenho um tipo de preconceito: patológico.
(Não consegui o humor que eu pretendia.)
O negócio é o seguinte: eu tenho preconceito com doença. Mas ó, não tô falando de gente gripada, de gente com catapora, de gente hospitalizada por 8 meses, mas que depois sai saudável. Eu tô falando dessas “bobagens” crônicas, tipo hipertensão, diabetes, colesterol alto, alergia, reumatismo, lordose. Essa coisa que, no matter what, vai estar lá, de mãozinhas dadas com você, até o fim da sua existência.
Exemplo? Mister Esquistossomose. Muito simpatiquinho, muito inteligentinho, muito educadinho. Tínhamos conversas rápidas e sem sentido, mas eu planejava uma estratégia de aproximação. Até o dia que ele ficou desaparecido e voltou contando que passou sei lá quantas horas no hospital, controlando uma crise de pressão alta.
Ok, ninguém escolhe ser estragado, né? Maomeno. Mister Esquistossomose almoça no Mcdonalds 4 dias na semana, feijoada no quinto e churrasco nos dois que sobram. Posso fazer nada, tenho preconceito. Aí eu faço o que? Me apego emocionalmente e depois viro babá de doente? Ou, PIOR, nego morre na minha gestão. Ah, não sou capaz. Melhor cortar o mal pela raiz e deixar Mr. E. e seu barrigão disponíveis no mercado.
(Anos se passaram e a barriga não para de crescer.)
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Esse preconceito não é assim, sem motivo. Porque eu sou uma pessoa podre. Uma criatura que tem entre as primeiras memórias várias visitas ao hospital.
Não tinha nem 8 anos ainda num dia que meu pé simplesmente quadruplicou de tamanho. Minha mãe me levou à emergência ortopédica, onde fui submetida a milhões de raios-x e... nada. O médico foi enlouquecendo, porque tinha que ter uma fratura ali em algum lugar, mas não conseguia encontrar.
Fiquei proibida de pisar no chão por dias. Quando o inchaço começou a diminuir e eu voltei ao médico, acharam a causa: uma picadinha pequenininha de algum bichinho insignificantezinho, mas que, pra mim, era demais. Cê vê. Até o médico ficou chocado. Quem não ficaria?
Eu também já tive um tipo de pneumonia que tem “atípica” até no nome. Do tipo que o médico chama o E.R. todo pra ver, porque né, nunca vi, nem comi, só tinha ouvido falar.
De modo que eu sei que não quero me juntar com outro visitante assíduo do hospital. Imagina a vibe de se relacionar amorosamente em ambiente esterilizado. Quero não.
Só que eu tenho uma mania muito doente de reverter a situação: ousseje, não consigo entender uma pessoa que
Nesta última semana mesmo, tive certeza de que ia morrer. Peguei meu celular pra começar a mandar mensagens de despedida, mas a febre entrou em modo delírio antes que eu pudesse começar. Acordei meia hora depois, com o celular caído dum lado, o termômetro do outro e a bolsinha de gelo derretida na testa. Percebi logo que não tinha ido pro céu e tava aí, vivona (em condições precárias, mas viva).
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Por culpa dessas minhas crises intermináveis, as pessoas à minha volta ficam tentando achar explicações e soluções pra facilitar minha vida. Uma experiência de quase morte em janeiro fez a galera apelar pra explicações metafísicas. E ó, melhor que horóscopo.
“No âmbito metafísico, toda alergia está relacionada a um estado de alerta às situações que se relacionam ao fator alérgeno. No caso da rinite alérgica, revela-se uma mania de perseguição que desencadeia na pessoa um constante estado de alerta ao que pode acontecer à sua volta. Toda a sua capacidade para solucionar prováveis contratempos é negada. Desse modo, os conflitos internos sobrepõem seu poder de agir diante das situações, fazendo-a sentir-se impotente. Algumas características de comportamentos que você vem alimentando intensificam sua vulnerabilidade à manifestação da rinite alérgica, tais como: manter suas emoções bloqueadas, não expressar livremente o que sente, ficar retraído perante os outros e agir contrariamente às suas idéias.”
CÊ JURA?
Pergunta pros meus companheiros de bar qqELESachäo dessa afirmação. Sociedade: pare de me reprimir.
E assim, ultimamente, é ter uma crise pequenininha e ficar rouca, muito rouca e muda. Lombardi, quiqui a metafísica diz sobre isso?
“Os problemas nas cordas vocais afetam as pessoas reprimidas, que castram seu direito de expressão. Não se sentem em condições de defender-se e de expor seu ponto de vista. Mostram-se tímidas, mas na verdade são oprimidas.”
Mas isso não é metafísica, é ORÁCULO, minha gente. Me deixa falaaaaaaaar, eu quero falaaaaaaaar.
Não, não pode.
E como uma pessoa que sofre de rinite, a metafísica diz que eu sou mimada. Não vou negar.
“Dentro de uma visão metafísica, a rinite está relacionada com o fato de a pessoa se abalar pela atmosfera do ambiente em que vive. Ela se irrita facilmente por qualquer coisa que acontece à sua volta, principalmente com a forma de os outros pensarem e agirem.”
É isso aí. Só serei saudável quando instaurar a vanessalândia.
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Eu convivo com a minha própria alergia do universo enquanto ambiente no qual eu estou inserida desde sempre. Mas só esta semana descobri o nome da minha condição pior: polinose. Porque eu tenho uns 38 tipos diferentes de alergia, mas a polinose é o mais complicado de se conviver.
E de posse dessa valiosa informação, minha médica super me mandou fazer uma pesquisa científica e as descobertas foram surpreendentes!
ciência
Eu sempre disse que me sentia melhor em ambientes com ar condicionado. Sempre fui repreendida por isso, obviamente. Quiqui o folheto de polinóticos (inventei) diz? Mantenha as janelas fechadas e use ar condicionado sempre que possível.
HAHAHHAHAHAHAHHAHA segura essa, sociedade. Não é frescura, é ne-ces-si-da-de. Tô quase me inscrevendo pro extreme makeover home edition, pra ver se ganho um ar condicionado central pro meu lar. Ninguém me segura.
geografia
Alguém super tinha que ter me dado esse folheto 12 anos atrás, antes de eu girar o globo terrestre e colocar o dedo num ponto aleatório e decidir me mudar pra Curitiba. Pior localização pra pessoa com polinose: latitudes maiores de 25º. S, com altitudes próximas ou superiores a
(Ou fica aqui aquela oferta de mudança de cidade, tipo pra alguma da Espanha. Hahaha ok.)
moda
Todo mundo tem uma mania duzinfernos de reclamar que eu vivo de óculos escuros, mesmo quando não tem sol. Mas a recomendação médica da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia diz (além de tudo isso aí pra trás) que eu não devo ficar andando pelas ruas com os zólhos desprotegidos. Que devo perambular com óculos escuros SEMPRE. Leave Vanessa’s Sun glasses alooooone.
família
A minha sempre torrou minha paciência, reclamando dos meus banhos noturnos, envolvendo lavamento de cabelo. Pois dona ASBAI diz que é isso mesmo que eu tenho que fazer, uma vez que só assim posso ter uma noite tranqüila de sono, sem pólen no travesseiro. TÁ VENDO, MÃE?
psicologia
Todo mundo sempre me chamou de Quarta-Feira Adams pelo meu desgosto em dias de sol. Todo mundo olha feio quando eu digo que fico mal humorada nas manhãs em que abro os olhos e vejo tudo iluminado por amarelo e céu azul. Pois a ASBAI diz que eu não sou depressiva nem emburrada. É só que dias de sol e calor PODEM ME MATAR. “Os dias de chuva ou neblina são de alegria para os sofredores da doença polínica, pois não existem condições favoráveis dos pólens circularem no ar”.
Pois eu EXIJO que ninguém mais perturbe minha paciência quando eu fizer cara de desgosto e choramingar “nhé, sol...”.
experimentação
A única informação que me causou desgosto foi a que explica que PRAIA - isso mesmo, aquele lugar cheio de areia, sal e gente feia e mal vestida – é capaz de fazer com que eu me sinta melhor. Não tô botando muita fé, mas tô toda comprometida com uma melhor capacidade respiratória. Então vos digo: tô com as malinhas quase prontas e o próximo final de semana eu passo é no Guarujá.
Bgos!