quinta-feira, 14 de outubro de 2021

guia prátic(amente inútil)o para assistir doramas!

 



Título alternativo: tudo que eu queria ter aprendido antes de dar play numa série coreana pela primeira vez.

DISCLAIMERS:

Eu sei que não deveria ter necessidade, mas aqui é a internet, então:

1 — este texto é baseado única e exclusivamente na minha realidade. Se a sua realidade é outra, se você discorda, escreve lá seu guia e boa sorte!

2 — esta autora (kkkk) acredita no uso do português freestyle, de modos que se você cogitar corrigir, talvez seja mais adequado apenas parar de ler :)

3 — este post está sendo escrito lentamente desde maio de 2021, então ele não nasceu por conta de Squid Game (ou Round 6), eu só notei que talvez ele fosse interessante pra quem chegou nesse tipo de série agora e estou adaptando pros comentários que eu vi por aí.

4 — e, pra efeitos de economia de caractere, quando eu falar Coreia, obviamente estou falando da Coreia do Sul, antes que surja um palestrinha.

Bora.

Eu sei que muita gente acabou assistindo Parasita em 2019 pra não ficar de fora da rodinha de conversa, eu sei também que muita gente identificou os mesmos problemas sociais que a gente enfrenta no Brasil, blábláblá, o pessoal de repente se sentiu especialista em cultura coreana. Mas se o povo do sudeste já fica chocado com o linguajar de brasileiros de Belém do Pará ou de Porto Alegre, não dá pra achar que tá fluente em coreano depois de um filme e um dorama, não é mesmo?

Primeiro: dorama é o nome que se dá pra séries produzidas num pedaço da Ásia. Serviços de streaming especializados ou sites de fãs geralmente separam em K-drama (Coreia do sul), C-drama (China), T-drama (Tailândia) e J-drama (Japão). Alguns ainda incluem dramas indianos, e de Hong Kong como uma categoria separada dos outros dramas chineses. Eu só gosto dos K-dramas mesmo e vou falar exclusivamente sobre eles.

A dificuldade mais óbvia ao se assistir um dorama é a língua. Aí você já tá gritando um “não me diga” aí da sua casa, mas eu vos digo que vai muito além de simplesmente não compreender as palavrinha. A gente sabe que muita gente acompanha entretenimento advindo dos estados unidos com um conhecimento bem parco de vocabulário e gramática, mas consegue acompanhar tanto pela certa semelhança cultural do ocidente, como pela inércia de tantas palavras já incluídas no nosso vocabulário, seja pelos chatos da faria lima, pelas músicas do rádio, pelos filmes que estamos assistindo desde os anos 80, ou pelas aulas mequetrefe do ensino fundamental e médio.

Mas o coreano é uma língua com uma estrutura completamente diferente da nossa, e eu falo isso como uma estudante de nível iniciante. O primeiro desespero era ver uma pessoa chamando a outra na série, supostamente pelo nome, a legenda escrevendo o nome e o som que saía da boca do ator era alguma coisa ininteligível. No caso do meu primeiro dorama, a personagem principal chamava o chefe "pelo nome", que era Ji-Seok, mas o som que eu ouvia não era nem remotamente parecido com isso e eu comecei a achar que meu cérebro tinha derretido. Então a primeira coisa que eu queria que alguém tivesse me explicado: honoríficos.

HONORÍFICOS

Coreanos acham chatão quando alguém usa o nome deles. Pra gente parece meio absurdo, mas lá eles precisam de um grau de intimidade extremo pra chamar alguém pelo nome. E, olha só que chique: mesmo entre irmãos não rola a intimidade necessária kkkkk. Eita nóis. Mais pra frente a gente vai falar de formalidade, mas eu entendo que nome é a coisa mais importante que um cerumano tem, então nada me choca mais que não poder usar o nome de ninguém, a não ser que a pessoa autorize expressamente. Chique demais. ENTÃO COMO É QUE FAZ?

Cada pessoa vai ser chamada de uma maneira diferente, dependendo de quem tá falando com ela naquele momento. Quando você conhece um coreano, você começa do grau máximo de formalidade e vai diminuindo conforme o relacionamento (de qualquer espécie) evolui e a pessoa com mais idade, poder, ranking, dinheiro ou o que quer que seja é quem decide o grau de formalidade entre as duas.

Então ali na série que eu estava assistindo, a personagem era subordinada a um colega, que não era exatamente o chefe dela, por isso a palavra que ela usava era sunbae. Sunbae significa veterano e é usado no trabalho e na escola, principalmente. Qualquer pessoa que tenha chegado antes de você é seu sunbae. A legenda da Netflix frequentemente vai usar o nome da pessoa como vocativo no lugar de qualquer honorífico, mas no viki, no fansubs, no kissasians e em outros sites já é mais comum que a legenda use o honorífico romanizado (romanização também vai ser assunto mais pra frente). Tá, mas é só isso? NÃO.

Então vamos por partes. O nome das pessoas na coreia começa pelo sobrenome, que é o mesmo que o do pai (pelo que eu vi, mulheres não mudam de sobrenome com o casamento) e a maioria tem uma combinação de dois nomes. O nome completo da maioria deles tem três sílabas, como Seong Gi-Hun e alguns podem ter só duas, como Gong Yoo, mas é menos comum. Sendo que a primeira é sempre o sobrenome e mesmo a mãe do cerumaninho usa todas essas sílabas pra chamar o indivíduo, na maioria dos casos.

Mas quando é que a gente pode falar o nome de um coreano? Geralmente, quando ele é seu filho kkkkk. Pais, em geral, usam o nome das quiança. Mas sabe aquela coisa brasileira de se chamar Mariana, atender sempre por Mari e saber que a mãe vai te matar quando ela te chama de Mariana Letícia? Pois é, quando a mãe ou um irmão mais velho tá conversando de boa com a pessoa, vai colocar um ah ou ya no final. É a forma mais pessoal de dizer um nome. Tipo ali em cima, ficaria Seong Gi-Hunah (ou só gi-hunah) ou Gong Yooya, pra pessoas muito íntimas.

No entanto, seu irmão mais velho pode falar seu nome, mas não é muito chique falar o nome dele não. Aí começa a ficar gostoso! Porque se você for mulher, você vai chamar sua irmã mais velha de unni e seu irmão mais velho de oppa. Mas se você for homem, sua irmã mais velha será chamada de noona e seu irmão mais velho de hyung. Você pode usar essa mesma lógica pros seus amigos super próximos, e quando eu digo pode, na verdade eu tô dizendo que você deve. É normalzão na coreia perguntar o quantos anos você chama já de cara, pra saber quenhe que vai chamar o outro de que jeito. Só amigos muito íntimos, geralmente que estudam juntos na mesma sala e cujas datas de nascimento não são muito distantes vão se chamar pelo nome (com ah ou ya no final, senão é porque tá bravo).

MAS PUTA MERDA EU ACABEI DE CONHECER ESSE CERUMANO E NÃO SEI NADA DELE COMO QUE EU FAÇO

Bom, se você não sabe nem o nome da pessoa, tem alternativas:

Se é um homem adulto, você chama de ahjussi (ssi tem som de shi). Isso quer dizer maizomeno “senhor”. Mas se for um homem claramente idoso tipo com idade pra ser seu vô, você chama de haraboji, que literalmente quer dizer “avô”, e esse é o jeito educado e formal de falar com um senhorzinho mesmo.

Se for uma mulher, aí você tá LASCADO. Porque assim, a palavra “senhora” seria ahjumma. Só que você meique tá chamando a mulher de velha, porque é a mesma palavra pra “tia”, aí você pode tomar uma porrada nesse momento. Se você chama uma mulher jovem (menos de 40) (oh no) de ahjumma, você tá ofendendo mesmo. Aí o caso seria chamar de agassi (agashi), que é “moça”. Mas se a moça for casada, aí tem que chamar de ahjumma mesmo. Boa sorte! Mas como ser mulher é gostoso em qualquer parte do planeta terra, se ela for um tiquinho mais véia mas ainda não exatamente uma vó, aí você chama de ahjumeoni. Aí se ela for véinha mesmo é halmoni, que aí é vó. Facinho! (Tem série em que o boy chama a namorada de ahjumma do começo ao fim e a legenda vai botar o nome da bonita lá e você que lute).

Tá, mas aí você conheceu a pessoa e vocês não têm nenhuma relação óbvia de hierarquia (idade, dinheiro, trabalho, profissão), e agora vocês sabem o nome um do outro. Você pode até usar o nome da pessoa, mas com um ssi (shi) no final, que é o equivalente a senhora fulana, senhor fulano. Lee Byung-Hun-ssi, Jung Ho-Yeon-ssi. É raro, mas acontece muito.

Porque assim, se você conhece a outra pessoa em virtude da profissão dela, qualquer que seja, você vai chamar pela profissão. Médico, advogado, engenheiro, ator, escritor, diretor, CEO. E não é só você, é qualquer pessoa. Até a mãe do indivíduo vai se referir a ele pela profissão. E não é só isso!!!111!!!!!111 (baba). Se você falar só a profissão, você tá sendo rude, então você tem que colocar outro adicional no final pra mostrar respeito. Nesse caso é o nim. Em Chicaco Typewriter, o personagem central é um escritor famoso, de modos que ABSOLUTAMENTE TODO MUNDO se refere a ele como jakkanim, senhor escritor. Até a mãe dele, vaneça? SIM, ATÉ A MÃE. Advogados são sempre byeonhosanim, professor é seonsaengnim. E é assim tanto pra homens quanto mulheres, o coreano é uma língua neutra. Às vezes você tá lá assistindo à série, vê dois personagens se aproximando, começando a namorar, passando a noite na casa do cerumano amado E AINDA CHAMANDO DE SENHOR ADEVOGADO. Mas que caraio, quando é que a pessoa para com isso???? Bom, no momento que o SENHOR ADEVOGADO fala “então, pode me chamar aí de um negócio menos formal e tal”. Aí os dois entram num acordo como é que vai ser dali pra frente.

E temos aqui UM PROBLEMINHA. Oppa, a palavrinha pra irmão mais velho ou amigo-mais-velho-tipo-irmão, também é usada pra forçar ali uma intimidade com o boy que cê tá afim. Pelo que eu entendi, foi muito usada como vocativo de namorado por um tempo e hoje é CRINGE, mas toda menina que quer dar a entender pro cara que tá interessada nele manda logo um OPPA. Freud ia curtir.

E NO JOGO DA LULA? E NO PT? E EM ROUND 6?
1 — Vocês lembram da personagem que tentou fazer parzinho com o bandido da tatuagem de cobra? Ela chama ele de oppa várias vezes pra forçar intimidade. Claramente não são namorados, né mesmo, mas é um jeito de demonstrar a intenção. Nas séries que eu vejo, só a CHATA chama os boy de oppa e isso acaba sendo piada com muita frequência entre os casais. A moça de squid game confirma a teoria.
2 — Vocês chegaram a ver a treta OH MEU DEUS O RACISMO no twitter? Teve um dia que foi impossível acompanhar 5 minutos a discussão “o racismo com o Ali”. Se você não viu, eu explico: as pessoas estavam reclamando que a única pessoa ~racializada~ (pyta que parol) da série era a única ~subserviente~, chamando todo mundo de sajangnim, que é outra palavra pra “senhor” ou “chefe”. Bom, meu anjo, se você chegou até aqui, você notou que é uma sociedade extremamente formal. Se você não gosta, inventa seu país, sua língua e fala lá do jeito que cê achar melhor. Eu acho que precisa essa frescura toda? Eu não, eu não chamo ninguém nem de senhor, nem mia vó. Mas lá é assim, ué. Ali não chamava todo mundo de senhor porque ele era negro (não era). E nem porque ele era indiano, o que também não era. Ali era paquistanês, estrangeiro, pobre, subempregado. Ele provavelmente aprendeu que TODO MUNDO era senhor. Mais fácil chamar de senhor e ficar em paz que ignorar a formalidade e tomar uma chamada. “Ah, mas os outros coreanos não se chamavam de senhor entre si”. Sim, meu anjo, porque aí a pessoa tá em casa e sabe que ali tá todo mundo na merda, nem o nome dos coleguinha eles sabiam. “Ah, mas a norte coreana não chamava ninguém de senhor”. MESMA COISA: tava “em casa” e sabia muito bem que a língua é uma forma de demonstrar respeito e claramente não respeitava ninguém ali. Se o Ali fosse um imigrante quase escravizado de qualquer outra etnia do planeta terra, se desse o azar de ser, sei lá, um norueguês viking louro caucasiano que tivesse virado um imigrante pobre em subemprego, ele ia chamar todo mundo de senhor também. Tanto que a gente vê o arrombado do Cho Sang-Woo ficando desconfortável com isso eventualmente e mandando chamar de hyung que, como a gente já viu, é tipo irmão mais velho. Cê vê que ele nem disse “ô, me chama de sang-wooya (como o Seong Gi-Hun chamava), parça”, ele ainda deixa uma pequena formalidade entre eles. Porque sang-woo, antes de tudo, é um pau no cu, e quem discorda favor discordar em sua casa.

Porra, já acabou, jéssica? Mais ou menos. Acabou até você dar play numa série de época ou que retrate algum tipo de monarquia. Aí boa sorte pra você, porque tem três bilhão de honorífico novo pra você surtar, enquanto a legenda usa o nome do personagem (que nunca é pronunciado), ou alteza, majestade, senhora.

Alguns links pra quem quiser saber mais:

entendendo honoríficos

korean honorifics

styles and titles — joseon disnasty

HANGUL

Hangul é o nome da língua coreana em coreano e também é o nome do sistema de escrita. Sei lá se pode chamar de alfabeto um sistema não grego ou romano, mas também não me importo.

Como eu falei antes, a língua tem uma estrutura COMPLETAMENTE diferente da nossa. Mas esse é o menor dos problemas. Eu também disse que estou beeem no começo dos meus estudos, então pode ser que eu explique de um jeito inadequado (e fale bosta, sempre possível), mas no geral vai dar pra entender. Eu acho. Mas se não der também aí é com vocês. E, pelo amor de deus, não vem me explicar nada que eu não quero.

Tá.

A primeira coisa é que é uma língua com pelo menos três níveis de formalidade (que eu identifiquei até agora): parça, sério, chique (juro que é assim os nome kkkkk). Quando você começa a aprender, é sempre do mais formal pro menos formal. Porque suas interações vão seguir esse caminho também: você vai começar a falar sempre da forma mais formal possível. Mesmo se eu for jovem e lindo e estiver falando com outro jovem e lindo? SIM, ISSO MESMO. Com o tempo, dependendo do tipo de frase, até a gente completamente analfabeta consegue perceber no geral o nível de formalidade de um diálogo.

Isso porque o coreano meique funciona com ~partículas~ (eu não sou linguista, eu tô usando as palavras que meu coração manda) pra formar as frases & termina praticamente todas as frases com verbo. CALMA, ME PERDI!!!!!!!111

Por exemplo: se você quer dizer “o gato e o cachorro vão juntos pra escola” (alor, frases doida duolingo style), você vai dizer

Cachorro-o — gato-e — escola-para — junto — vão/estudam

Entendeu? O verbo é a última palavra da frase. E é no verbo que você usa os pedacinhos de palavra que indicam a formalidade. Então você vai ouvir muito bnidá no fim das frases do discurso formal, muito yo no discurso polido e nada disso no informal. Masssss, isso no presente. E na afirmação. Se for pergunta, vai ser bnikka no lugar de bnida, mas o yo fica do mesmo jeito. No negativo é opso. Ou não. Até onde eu cheguei em gramática e até onde meu ouvido aprendeu a identificar na fala. Agora imagina uma pessoa falando “Eu vou lá. Eu falo com ele. Eu vejo a casa. Eu peço desconto”. SEI LÁ. Agora imagina que os verbos estarão todos no fim da frase e com a indicação de que a conversa é formal. Cê vai escutar um sem-fim de bnida bnida bnida bnida. É gostoso, é fácil demais diferenciar os verbos (não), o cérebro derrete um pouquinho cada vez que você tenta aprender essa linguinha gostosa suave. Também pode ser que você escute uma infinidade de palavra terminada em yo (ou yô, com um som de oxítona,a língua é predominantemente oxítona na cadência), o que faz com que meu irmão, por exemplo, passe o dia imitando a gente tal qual um pokemon falando pocoyo pocoyo pocoyo porque é o que ele escuta quando a gente assiste dorama ou imita os coreanos.

Ainda no tópico da formalidade, se você for agradecer alguém, a palavra “obrigad-” (o gênero é sempre neutro) vai desde kumaô (brother), passando por kumaoiô (sério) e chegando em kumaoptá (chique). Se for FORMALISSÍSSIMO mesmo, vai trocar pra kamsamhabnidá. Só aí vocês reflita. Os cara têm um som pra dar ordem com educação, é um som meio shpshiô, que geralmente só se usa falando com alguém muito mais importante que você. Por isso acontece muito de a legenda parecer doida, tipo, a pessoa falar uma única palavra “né” (que literalmente significa sim) e você ler “sim, senhor”. É porque toda a conversa anterior aconteceu com discurso formal, então obviamente aquele sim ali também é. Eles só têm outra forma de mostrar isso.

Falando em legenda, algumas coisas a gente começa a entender que são escolhas do tradutor pra resolver o problema de as frases serem montadas invertidas. Eu tô vendo uma série que se passa num intervalo de mil anos (sim) então uma das personagens usa a palavra oraboni pra se referir ao irmão mais velho, porque é a palavra que usavam 100 anos atrás. Mas por causa da construção do diálogo, num dado momento em que uma pessoa fala só “oraboni” e mais nada, a legenda acaba mostrando “irmãzinha fofinha” nessa hora. E é por causa desse tipo de coisa que eu gosto de estudar a língua e saber que não foi exatamente isso que foi dito, embora não tenha prejuízo nenhum pra compreensão da história.

Tá, agora o alfabeto. A respeito dele mesmo propriamente em si, eu não sei muita coisa. O que eu sei: que ele foi criado pra ser LINDO (e de fato é), simétrico, fonético, simples e eficiente. De modos que as sílabas formam sempre um quadradinho com uma, duas, três ou quatro letras. AH TÁ BOM QUE É FACIL LER RISQUINHO BOLINHA QUADRADINHO. É sim. Depois que a gente alfabetiza, vai que vai, não tem mistério os som. Quer dizer, um dia você descobre o que é batchim e dá um pouco de vontade de morrer, mas nada que supere a fonética das nossas belas línguas ocidentais. Eu sei que no período da monarquia eles usavam um dos alfabetos chineses, que particularmente eu acho um pesadelo, e aí um nobre (rei? Rico? Não sei) foi lá e criou o hangul, chiquérrimo, simplesinho, honesto. Aí veio o Japão e tentou estragar, felizmente não conseguiu e hoje o hangul é o sistema de escrita oficial. Eu, de minha parte, não aguentava mais ver uma tela de celular com ligação tocando, uma fachada, um documento focalizado com música de tensão ao fundo e pensar AJUDA NÓIS QUE É ANALFABETO, EU NÃO ENTENDI POR QUE É PRA EMOCIONAR COM ESSA CENA e fui lá me alfabetizar. Recomendo.

ROMANIZAÇÃO

A romanização nada mais é que o uso do alfabeto romano pra expressar os sons do hangul pra nóis que é anarfa. Ela é linda e cheirosa quando você tá começando a aprender e depois que você aprende a ler as bolinha você NUNCA MAIS QUER VER UMA ROMANIZAÇÃO NA FRENTE. Isso porque ela faz a gente de trouxa. Mas estou me adiantando.

A primeira coisa que você precisa saber é que a romanização é baseada no inglês. É uma forma OFICIAL de escrever os fonemas, mas só funciona direito se você for fluente em inglês. Todos os professores brasileiros de hangul dão um jeito de abrasileirar a romanização e pra mim foi um INFERNO começar a aprender inglês-coreano misturado com aulas em português-coreano, porque a representação dos sons dá um nó gostoso na cabeça. Por exemplo: o som da letra ㅓpra nós seria ó, mas a romanização é eo. A letra ㅗ tem som de ô, mas a romanização é o oo de blood. A letra ㅠ tem som de û (é tipo um u bem fechado com biquinho), mas a romanização é oo também, só que em cool. E a letra ㅡ tem um som entre o u e o i, mas a romanização é eu. Aí é deus no comando, né? Eu acho que a pessoa tem que descobrir o que funciona pra ela na hora de ler pra aprender a cantar as belas canção do BTS, ou de aprender mesmo a língua, e seguir em frente do jeito que dá. A única coisa que eu posso dizer é: vai ser sofrido, mas depois melhora. Mas não muito. Especialmente se você for idoso, como eu. Ahjumma é sua vó. Não, péra.

Mas piora, por exemplo, se você não sabe que o K, numa sílaba no meio da palavra, tem som de G. Pra ter som de K mesmo, só no começo da palavra. Mas pode ser também que não. Massss, se no meio da palavra ele for duplo, aí tem som de K mesmo. Ooooou se ele vier precedido de outra consoante forte, como N ou S (meu deus do céu como caralhos eu sei o que é uma consoante forte????). Mas se for precedido de L, aí ele continua com som de G. O L, se for no começo da palavra ou estiver sozinho, tem som de R. mas se for a última letra da palavra, tem som de L no dente, aquele L de véio. Mas se ele for duplo no meio da palavra, aí tem som de L mesmo. É FÁCIL SIM, CONFIA.

Por isso que a romanização me atrapalha: de repente cê vê um k no meio da palavra e faz o som de k quando era g, aí cê tá lendo correndo e era k mesmo porque tinha dois e o outro tava na sílaba de trás e aí numa hora tem um L seguido de B e você sente seu olho se liquefazendo e caindo da cara enquanto você tenta ler uma palavrinha de duas sílabas e pensa em desistir de tudo e voltar a se comunicar por grunhidos, como nossos antepassados.

Às vezes uma palavra vai ter 3 S (sssim) e você vai pensar MEU SENHOR JESUS, SEGURE EM MINHA MÃO E ME MOSTRE O CAMINHO, porque um deles vai ter som de um T seco e mudo no dente e vai deixar os dois S seguintes mais fortes (?). De modos que fica muito mais fácil (kkkkkk) ver isso escrito com o próprio hangul, que aí você se acostuma que naquela posição é aquele som e só aceita dentro do seu coração e imita tanto quanto for possível amém.

(Inclusive fica aí a dica pro pessoal que ama mandar um preconceito com a fala do amiguinho e imita absolutamente todo oriental falando “pastel de flango”: o coreano leria esse L aí como R e falaria um FRANGO bem bonito no meio da sua cara, porque eles têm os dois fonemas. A diferença é que eles usam a mesma letra pra representar sons diferentes e você que lute.)

TÁ, MAS E OS DORAMA

Como eu já falei lá em cima, dorama é só uma série asiática (sim, estou generalizando, e você que é feio?), não é sinônimo de romance. Tem dorama de tudo quanto é gênero e, como você pode imaginar, Round 6 é um deles.

Eu gosto de ver ficção científica e as deles costumam ser muito interessantes, tipo Sisyphus — the myth. Também gosto de policial, de mistério, fantasia, históricas e as absolutamente birutas. Eu gosto muito mais de como eles fazem isso do que o geral das séries dos estados unidos. ALÉM DISSO, muita série de lá foi copiada das coreanas, tipo the good doctor (a coreana é só good doctor).

A maioria esmagadora das séries coreanas (as outras o que tenho a ver) costuma ter só uma temporada. Ocasionalmente uma delas ganha uma segunda temporada, mas nos casos que eu vi, a segunda “não faria falta”. Geralmente a história já tá fechada na primeira. Aí cê cai na besteira de assistir Memories of the Allambra, por exemplo, e me fala “mano, cê jura que não vai ter segunda temporada? É isso aí mesmo?” e é isso aí mesmo. Geralmente elas vão ao ar quando já estão gravadas e editadas, então a chance de você ficar preso numa bosta por 17 temporadas (olar, greiza nato) é impossível. Eu tô vendo uma série véia e horrível infinita e ela teve 50 episódios, mas é a única que eu achei. Quanto ao número de episódios, praticamente tudo que eu já vi até hoje tem 10, 16 ou 20. As da última década (ou as mais famosinhers), pelo menos, não costumam fugir desse padrão.

Ah! E a maioria dos episódios tem uma hora de duração. Em alguns casos, os 6 primeiros duram uma hora e depois vai aumentando, até o último capítulo ter tipo uma hora e vinte. Vareia. Mas menos de uma hora eu nunca vi.

E NO JOGO DA LULA? E NO PT? E EM ROUND 6?
Eu já vi reportagem dizendo que o cara escreveu fechada pra 9 episódios, eu já vi gente jurando ferrenhamente que vai ter segunda temporada. O que sabemos: é uma série coreana, sim, mas é produzida para a Netflix, que quer convencer o planeta inteiro a assistir. Ousseje, ela não é assim ~puro entretenimento coreano~. Não faço a mais remota ideia do que vai ser dessa série, mas ela foi feita pra pegar você, coleguinha que aperta play em qualquer coisa que tá todo mundo vendo. Seeee vocêêêê for ver séries coreanas da tvn, jtbc ou algum outro canal grande, provavelmente vai ver o esquema que eu expliquei aqui.

CONTATO FÍSICO (HEH)

Tanto faz o gênero que você gosta de assistir, pode se preparar pra passar nervoso na qüestão do contato físico, ele é praticamente inexistente. O povo se cumprimenta de longe, não encosta nem na mãe. Porra, mas até nos romance? ESPECIALMENTE NOS ROMANCE, MEU ANJO. Na coreia o povo todo passa uma imagem muito recatada da porta de casa pra fora e ela meique se reflete nas séries. Levou um tempo pra eu entender que não tava subentendido o contato físico entre o casal principal do romance, ele de fato não tinha acontecido.

Nas séries que eu costumo assistir, o casal protagonista costuma ter 30+ anos de idade. Já começa que o romance progride MUITO L E N T A M E N T E. Mas quando eu digo lentamente, você tem que acreditar em mim. Às vezes as pessoas chegam a dividir um teto por várias razões, quando elas já são obviamente um casal, e elas não.se.encostam. Nem um beijinho. Inclusive, tá lá o romance nascendo e, como eu disse, as pessoas tão se tratando de um jeito formal, decidindo burocraticamente como chamar o relacionamento, aí uma encosta no braço da outra e a câmera focaliza a mão, o susto no olhar, o desespero pra afastar. Se for assim na vida real, é devagar até pra mim, que sou uma lesma em matéria de relacionamento kkkkkkkkkk. Mas é isso, num romance vai ter mais ou menos uns 4 beijo, sendo o primeiro deles com uma das pessoas de olho aberto em absoluto choque. Os outros três vão ser igual você dava no seu crush da terceira série C. Eu tô vendo um agora que a primeira vez que o casal se beija FAZ UM ANO QUE ELES TÃO NAMORANDO KKKKKKKKKKKK. E eles já ficaram sozinhos várias vezes, inclusive em viagens pra outras cidades e/ou países. Não tá subentendido, se não tá na tela, não aconteceu. Beijo parecido com o normal eu vi em Goblin, por exemplo. PARECIDO, porém muito longe da nossa realidade.

Nesse tópico, então, eu posso LES DIZER, que cena de sëx é lenda. Em Ethernal Monarch teve uma cena super saidinha que foi um beijo na cama, com as pessoas MEIQUE tombando em direção ao supracitado móvel, mas isso é raríssimo. Uma novela das seis, um capítulo de malhação, talvez até mesmo um episódio da TV Colosso tem muito mais emoção física que a maioria das séries. Aí assim, se a série não for romance, pode esquecer qualquer tipo de pegação. Aqui no ocidente a gente vê um james bond, sei lá, não vai ter amor, mas vai ter sexo. Lá não vai. Váááárias séries policiais criam uma tensão sexual entre os protagonistas, você jura que em algum momento eles pelo menos vão indicar que aconteceu alguma coisa ali, mas não acontece. A gente literalmente watch it for the plot. Algumas séries mais novas (agora memo, no ano do senhor de 2021) estão dando pequenos passinhos na direção de mostrar relacionamentos mais normais, mas tá bem longe do que a gente tá acostumado a ver.

A Netflix usa a classificação indicativa do lugar onde a série passa, mas se você vir a classificação original, já vai saber o que esperar. Pra ter beijos emocionados, a classificação vai ser 19+. Deu play e viu um 15 gigante antes de começar? Pode esquecer, vai ter só os beijinho casto mesmo e deus no comando.

E NO JOGO DA LULA? E NO PT? E EM ROUND 6?
Bom, todo mundo viu aquela cena muito chique entre os trambiqueiro. De novo: a série foi pra passar no ocidente, né? A coreia tem 3 habitante, não ia dar pra Netflix fazer o carnaval que fez no que tange à audiência se não convencesse os bonito da metade de cá de greenwich a assistir. Mas toda dorameira ficou 120% chocada em ver cena explícita de sex & peitos. No entanto, é visível que isso aconteceu entre dois personagens que não estavam entre os bonzinhos (se é que tinha alguém bonzinho ali, mas vós me entendestes). Além disso, a pobre da atriz que protagonizou aquele momento não deve ter aspirações de ser mocinha de nenhuma série, porque a coreia não aceita muito bem não. O coleguinha de cena é assassino ou bandido em todos os doramas que aparece, então também provavelmente já entregou a carreira pra jesus. Os queridinho da população, campeões de salário, followers e contratos com patrocinadores JAMAIS vão aparecer desnudos ou em cenas explícitas. Não dá pra sonhar com a visão de Lee Min-Ho descamisado e esmagando alguém no box, não adianta chorar.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA

Eu falei antes que séries com qualquer classificação diferente de 19+ não vão ter muita coisa explícita. Entre essas coisas, está a violência. Aliás, a maioria das séries que eu vejo com classificação 19+ mostram muito mais violência gráfica que contatos físicos. O que isso quer dizer? Se a série foi policial, por exemplo, e for classificação 15, objetos usados como arma, ferimentos, sangue, gente morta, os caraio, serão borrados. A coreia tem uma lei super rígida com relação a armas de fogo, elas são terminantemente proibidas. Então crimes raramente são praticados com revólveres. De modos que tá lá a pessoa cortando uma cebola, a faca aparecendo normalmente. Aí ela olha pro coleguinha e resolve dar uma facada: imediatamente a faca aparece borrada kkkkkkkkk. Deu a facada? Mostrou o morto na chon? Onde tiver o corte e o sangue vai estar borrado. Mataro um cachorro (DESGRAÇADOS TOMARA QUE MORRA)? Só o borrão na tela. Quebrou um dedo e ficou do avesso? Borrado. Tem horas que é até difícil entender o que tá conte seno porque tá tudo borrado na tela. Eu acho ótimo, porque eu sofro de hipersensibilidade extrema, mas não deixa de ser engraçado ver uma faca de vó de frozinha toda borrada, só porque o indivíduo resolveu matar o amiguinho.

Uma das piadas internas recorrentes nos seriados é com relação a tiros. Em uma, a mãe liga pra filha pra fazer chantagem emocional e diz que o pai levou um tiro. A resposta: tiro? E a gente tá nos estados unidos por acaso? Série médica, tá lá os doutor recebendo instruções “hoje vamos aprender uma cirurgia pra remoção de bala”, todo mundo se olha e kkkkkkkkkkkkkkkkkk “ai ai, por um momento me senti um médico nos estados unidos”. Tá as véia na reunião de moradores. Alguém fala que a vizinhança tá perigosa, tão com medo de tiro. Cai todo mundo na risada em seguida. É nesse nível. Tem série com polícia que a arma é um taser. Daí cêis calcula.

E NO JOGO DA LULA? E NO PT? E EM ROUND 6?
Mermão, acho que a essa altura eu nem preciso dizer mais pra QUE TIPO DE PÚBLICO foi feita essa série do capeta, preciso? Aliás, a quantidade de inglês que se fala nela já dá uma dica. E mais ainda: fora o dono do jogo, os véio tudo estrangeiro, porque claramente é os doente mental do ocidente que vê graça naquela carnificina. Mas pode ver que as brincadeiras não envolvem tiro e tal. Até as arminha têm hierarquia.

PRODUTOS IVONE & PLÁSTICA NATURAL ELOÍSA MEDINA

Absolutamente todo coreano é bonito e se você discorda é caso de ir ao oftalmologista. Eu não sei como que com gente nascida com aquela cara o planeta cai nessa palhaçada de ideal caucasiano, vou ser sincera. Mas mais que bonitos, eles são bem cuidados. Toda série vai ter publi de cosmético e se você não gosta, deita na BR. Nenhum poro será visto em nenhum protagonista, a menos que ele esteja à beira da morte. Os cabelos estão sempre limpíssimos, todo mundo bem vestido, com roupa de corte bom, na paleta que favorece. Qué dizê, a menos que seja o vilão pobre. Eu recomendo fazer terapia enquanto assiste, porque é um padrão de beleza inalcançável. As pessoas são extremamente magras e vivem de dieta mesmo assim. TODO MUNDO estará visivelmente maquiado, incluindo os homens. Não tem um lábio desidratado, uma boca sem cor. Para a sorte das coreanas, todo mundo acha barba um troço horrível, então os mocinhos terão peles mais lisas que a de um bebê recém-nascido. Ficou 8 dias em cativeiro? Sairá de lá parecendo o fim de uma propaganda da gilette. Tem barba? Ou o cara vai passar por uma transformação pra ficar bonito (HAHAHAHAHA JURO) ou ele é o antagonista, o bandido, o lascado da história. O cabelo de todo mundo é impecavelmente bem cortado, hidratado, brilhante e esvoaçante. De vez em quando eu leio a respeito da indústria de cosmético da coreia e dou gostosas gaitadas. Eu não sobreviveria uma tarde lá.

Além da pele flawless, eles também sofrem com padrões biruta de beleza e com o inferno do ideal branco. A gente costuma dizer que o asiático tem a pele amarela, mas a verdade é que na coreia eles também têm uma infinidade de tons de pele que vão desde os realmente brancos até alguns bem mais escuros. Muitos usam maquiagem pra clarear a pele e não é incomum ver alguém se gabando por ter a pele de um tom muito claro ou elogiando alguém pelo mesmo motivo. É uma merda, mas esse é o planeta em que a gente mora.

E NO JOGO DA LULA? E NO PT? E EM ROUND SIzzzzzZzzZzZzz? PELO AMOR DE DEUS
TÁ TODO MUNDO FUDIDO, POBRE, JOGOS VORAZES DO SERASA, VOCÊ ACHA MEMO QUE ESSE POVO TEM DINHEIRO PRO HINODE??? QUE ELES TÃO PREOCUPADOS? Eu diria que até isso é de propósito, que aquela gente feia tudo é a escória da humanidade. Tanto que bonito só o poliça (bonzinho, claro), o moço de terno (discorde em sua casa e em silêncio) e o host do jogo. Até porque se tiver alguém disposto a chamar Byung-Hun de feio na minha presença, eu quero ver se tá pronto pra ter 4 dente arrancado no soco.

Brigada por vir ao meu ted talk.

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Em tudo dando certo, em breve eu volto com indicação de algumas séries que eu gosto, dos gêneros que eu costumo assistir. Mas pode ser que nunca aconteça, vai depender do alinhamento astral.

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TL;DR: coreanos são extremamente formais e isso se reflete na língua e até nos vocativos; o alfabeto coreano não é o romano e você que lute; os cara não curte demonstração de contato físico de nenhuma espécie; violência é o que tem a classificação indicativa mais alta e todo mundo é bonito, rebocado ou as duas coisas.