fale isso três vezes rápido q
título alternativo: pendância extreme.
Desde quando eu era criança, eu sempre soube que meu cérebro não funcionava do mesmo jeito que os das outras pessoas. Não estou de forma alguma querendo dizer que o meu funcione melhor mas estou sim, porque eu não acho que seja esse o caso. Mas eu estou querendo dizer que eu normalmente entendo o que a pessoa quis dizer, mesmo que ela diga tudo torto e normalmente ninguém entende o que eu estou falando, mesmo que eu reformule 38 vezes, devagar e com desenhos.
Chego a perder o bom humor com o quanto as pessoas perdem o foco do que eu disse. Cêis nem imaginam o quanto o facebook é um exercício de paciência pra mim, que posto alguma coisa, tipo "o céu é azul", pra fins de falar sobre a cor azul. 97 comentários depois, tem gente falando que daltônicos veem o céu laranja e nem por isso é menos bonito e MEU AMIGO, não é isso o objetivo da minha discussão, compreende?
É assim com tudo. Com o assunto em casa no café da tarde, com os posts relevantíssimos do facebook, com este blog.
Um.grande.exercício.de.paciência.
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Vocês também sentem que as pessoas não estão mais aptas a responderem perguntas simples? Que sim, não, um número, um endereço NÃO EXISTEM MAIS?
- Você vai lá hoje no jantar?
- Então, é que meu irmão tá com meu carro e eu queria comer pizza, mas amanhã tem um almoço de trabalho e hoje eu tinha academia e...
PELAMORDEDELS, MEU FILHO, NÃO PODE SÓ DIZER NÃO?
- Que horas são?
- Ah, é que meu relógio tinha entrado água e eu deixei meu celular dentro da bolsa que eu acabei nem trazendo e aqui no computador tá com uns cinco minutos de erro e...
Um simples "10 horas, mas pode ser 5 pras 10" ou "NÃO.SEI." seriam mais do que suficientes.
- Onde cê mora?
- Sabe aquela ponte que fica depois da curva da rápida sentido bairro depois da trincheira que fica do lado daquela Cassol?
NÃO, AMIGÃO, NÃO SEI. Rua Anfilóquio Eustáquio, número 438 super me ajudaria bem mais que esses seus pontos de referência lunáticos aí.
- Que dia você sai de férias?
- É que eu tinha um casamento pra ir no dia 29, mas aí a pessoa mudou pro dia 14 e eu quero aproveitar pra dar uma passada em Buenos Aires, aí...
Gente. GENTE. Sério, gente. SIM, NÃO, NÚMEROS, ENDEREÇOS.
Se sua historinha for relevante, cê conta ela depois, eu aceito, mas será que é muito difícil responder diretamente qualquer coisa?
- Tá com frio?
- Eu tava de blusa, aí tirei, aí bateu um vento, aí eu coloquei a blusa, aí fez sol, aí eu tirei, mas o vento ainda tava gelaajksdhfkjsdkjfhkdjfhsk
SAI.
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Outro dia eu tava fazendo um balanço da minha vida nômade e me dei conta que guardei da high school apenas 01 número de 6 amigos. De todas as 135 escolas em que eu estudei.
A última delas é aquela da turma com quem você "se forma", hahhaha, acho que ninguém usa mais essa expressão estúpida nos dias de hoje, acho que as pessoas dizem que acabaram o ensino médio, né? Uma coisa que faz muito mais sentido, até.
Masss, no ano do senhor de 1500, quando eu terminei o que chamava ainda segundo grau, houve uma formatura, como sempre havia. Outro dia alguém no facebook achou algumas fotos desse maravilhoso evento (não) e de todos os outros naquele ano. Eu, que passei esses anos todos sem nem lembrar que aquelas pessoas existiam, não só publiquei as fotos dos meus álbuns, como disse tudo que vinha à minha mente.
"A fulana da extrema esquerda não valia nada, prometeu ~saliência~ pro menino que eu amava na minha frente, só pra ele não dançar comigo". "A infeliz de blusa rosa deu um ataque num dia que obrigaram a gente a ir na igreja dela [que era quem mantinha a escola] e numa festa em que a gente tinha que dançar em parzinhos, o fulano decidiu dançar comigo em vez de dançar com ela". E assim foi, comentários com muito amor no coração, sobre todo mundo cuja cara eu lembrava (dos nomes não lembrava nenhum).
Até que um marcou uma pessoa... que marcou outra... que marcou outra... E meia hora depois a escola inteira estava marcada em todas as fotos.
Por 38 segundos até me preocupei. Visualizei gente vindo tirar satisfação porque eu disse que seus namorados eram lindos, que seus pais eram ignorantes, que seus cabelos eram feios, que seus cérebros eram inúteis. NINGUÉM veio. Nem uma pessoa. Zero. Todos me adicionaram como amiga (os ofendidos e os nem citados), todos me mandaram mensagens amorosas e pediram meu celular (que obviamente não dei), todos pareciam genuinamente felizes em interagir.
Donde eu concluo que ninguém se deu ao trabalho de LER o que eu escrevi.
Parei de ser estúpida e permaneci apenas naquela interação básica, no analfabetês que todo mundo já conhece e adora (não), até que eu percebi que as outras pessoas não estavam brincando, estavam escrevendo a sério. Pessoas com quem eu estudei numa escola de certo prestígio, gente cujas notas nem eram assim horríveis, que simplesmente não sabem mais escrever. Isso se souberam algum dia, não é?
Como muitos deles ficaram na mesma cidade ou nas cidades num raio de 50km, começaram a surgir planos de encontro. Como quase todo mundo me adicionou, eu comecei a ver o que eles escutam, assistem, frequentam e gostam. Como eu nunca tive nada a ver com essas pessoas, nem naquele tempo, muito menos agora, eu comecei a me perguntar como a gente vira o que a gente é. A gente vira o que a gente é? Ou a gente é assim e só... aflora?
Lembro que uma vez estávamos num grupo de meninas sentadas na rua principal da escola (sim, DENTRO da escola), conversando sobre viagens. Meio dos anos 90, pessoas que não eram especialmente ricas não viajavam constantemente pro exterior, o que era nosso caso. Então o assunto era viagens nacionais, mesmo.
Meu avô sempre achou importante que conhecêssemos o Brasil e sempre enfiou todo mundo num carro - ou num comboio de carros - e saiu carregando por aí. Pro extremo sul, o sudeste todo, centro-oeste, os países em volta nas fronteiras: já vi. Pro norte e nordeste não teve quem me convencesse a entrar num carro E NEM TERÁ, porque se viajar por 14 horas já me deixa com ódio no coração, imagina o dobro. Em todo caso, até aquela altura da minha vida, eu já tinha passado por mais de 10 estados e inúmeras cidades.
Eu realmente não sabia que isso era muito mais do que a maioria das pessoas, não tinha nenhuma intenção de me vangloriar. Eu achava que viajar era normal e pra isso que serviam as férias. No meio da conversa, uma das meninas disse que nunca tinha saído da cidade.
A cidade em questão era daquelas que nem ônibus circular tinha, de tão pequena. Com a minha bicicleta eu não levava mais que 20 minutos pra atravessar de um lado a outro, em qualquer sentido. Minha casa ficava num extremo, do lado do aeroporto (eu já disse essa parte, né?) e o clube ficava no extremo oposto. Quando eu não estava com vontade de pedalar, ia a pé, sem medo de perder o dia. Uma cidade MUITO pequena mesmo.
Naquele pedaço do interior de São Paulo, muitas cidades pequenas estão muito próximas. É mais rápido ir de uma a outra do que daqui de onde eu estou até o centro de Curitiba, o que é MUITO perto. Então as pessoas se acostumam a ir pra outra cidade por causa de restaurantes, pontos turísticos, casas de amigos, baladas, eventos sociais, supermercado melhor, loja de roupa, qualquer coisa. Os pais levavam as quiança pra aprender a dirigir nas estradas. A gente saía da cidade toda hora.
Mas aquela menina disse "eu nunca saí daqui" e a gente achou que era ali daquele círculo de umas 20 cidades num raio de 100km. E ela disse "não, eu nunca coloquei o pé pra fora daqui desta cidade, incluindo ir no ~evento~ que tem na outra cidade logo ali".
A pessoa tinha 16 anos e nunca tinha pisado fora dum raio de 30 km (e eu tô aqui chutando alto).
O que me traz à pergunta: eu viajo porque sou esse tipo de pessoa? Eu viajo porque minha família é desse ~tipo~? Ela não viaja porque é ela? Porque a família dela é assim? Porque as pessoas em volta dela são assim? Por que eu sou assim?
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Quando eu estava no segundo grau [/véia], eu dormia MUITO cedo. Eu odeio acordar cedo com toda a força do meu eu, sempre odiei. Mas também não gosto de acordar tarde e perder o dia (milarga). Só que todo o ritual de ir pra escola às 7 horas da manhã dava uma boa desestabilizada no pouquíssimo bom humor que eu tenho.
Nessa época, minha mãe resolveu criar o amor entre os povos (só que ao contrário) e construiu uma casa gigante com apenas dois quartos: o dos meus pais e o que eu dividia com os meus irmãos. Não era um quarto pequeno, veja bem. Cada um tinha seu conjuntinho de cama e armário, tinha uma prancheta, um sofá de três lugares, várias prateleiras e um piano. Espaço, tinha. O que não tinha era como deixar felizes três criaturas de idades e gostos tão diferentes dentro de 20 metros quadrados. De modos que nas manhãs de dias úteis, era sempre um pesadelo. Cada um precisava de um tanto de tempo pra ficar pronto, o primeiro sempre queria acender a luz, o armário de alguém sempre fazia muito barulho, alguém sempre levava tempo demais no banheiro etc etc etc.
Qual foi a solução da minha mãe? Acordar a gente com música. Mas com música que a gente gostasse? De jeito nenhum. Estando a família numa cidade do interior, o que fazia sucesso era a maravilhosa música sertaneja. Minha mãe se dava ao trabalho de ligar na rádio e pedir pra tocar Gian e Giovane lá pelas 10 pras 6 da madrugada. Deixava o rádio ligado. De repente, a gente só ouvia invadindo nossos sonhos "pros filhos da dona J., que estão acordando pra ir pra escola, sua mãe deseja booooom djiaaannnnnn". ♬ OLHAMORRRR, A SAUDADE DÓI DEMAAAAIS♪
PFV.APENAS.PARE.
Também nessa época, a vida social não era fácio. Cê vê: em casa eu ouvia rock clássico. Supertramp, Deep Purplo, Iron Maiden, Pink Floyd. Nos bares só tocava pagode. E era isso ou mofar sozinho em casa. Tinha também a especialíssima época de rodeios ou exposições agropecuárias, em que artistas que todos amam, como Beth Guzzo ou Rita Cadillac, faziam shows. Ou o clube, o único da cidade, que tinha um lago e uma ilha (sério), e promovia shows daqueles infinitos grupos de pagode dos anos 90.
Qual era a alternativa? Eu tinha amigos que iam pro posto (sim, de gasolina), com o porta-malas aberto, tocando as músicas que a gente realmente gostava e meia dúzia de latas de cerveja quente pra cada um. Tinha gente que ficava em casa, gente que fazia churrascos, gente que ia acampar. Eu não gosto de NADA disso. E entre todas as alternativas, eu preferia ir pro clube dançar a noite inteira ao som de Negritude Junior.
E eu sei que sou o tipo de bocó que consegue se divertir em praticamente qualquer tipo de festa com praticamente qualquer tipo de som (tamo nem chamando tudo de música aqui). Mas se você olhar na minha ecletíssima (q) pasta de música, cê não vai achar pagode lá - talvez ache uma lista que eu fiz pra um aniversário do meu irmão, que supostamente tinha como tema irônico churrasco e pagode. Também não acha sertanejo, porque Victor e Léo pode ser qualquer coisa, mas sertanejo é que aquilo não é. Música hipster, pedante, indie, folk e pretensiosa de vários tipos, você vai achar. E ninguém na minha família nem no meu ~meio~ escuta isso.
Por que eu gosto?
Será que se eu tivesse ficado pra sempre em São Paulo, com aquela visão limitada de criancinha paulistana - não que eu esteja generalizando, mas eu me encaixava MUITO no estereótipo - eu seria diferente? Meus amigos que cresceram comigo e ainda são meus amigos têm visões de mundo completamente diferentes das minhas. E gostos e costumes e atitudes. Meus amigos do interior também não têm nada a ver comigo. Meus amigos da faculdade (se é que dá pra botar no plural isso aí) não poderiam tem menos a ver comigo se eles tivessem vindo de outro planeta. Meus amigos de hoje em dia eu poderia dividir em tantas categorias que não terminaria nesta vida.
E eu? O que me faz ser o que eu sou? Quem eu sou?
Passei uma grande parte da minha vida acreditando que eu era adotada. Quando meus pais se chatearam de verdade com essa história, eu comecei a achar que tinha sido trocada na maternidade. Infernizei um número enorme de pessoas com essa história, até me confirmarem que eu fui o único bebê nascido naquele dia, naquela maternidade.
Então qual é a causa dessa completa falta de identificação? Nesse caso, intelectual, física, comportamental, geral. Às vezes gasto todo o período de uma refeição escutando a opinião das pessoas que moram na mesma casa que eu, só me perguntando como é que pode eles pensarem desse jeito se a gente foi criado tudo igual (ou POR eles). Não entendo. Não sei responder.
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Uma das maiores aflições que eu tenho na vida é fila de self-service.
Primeiro eu fico nervosa quando a pessoa simplesmente entra na fila, sem olhar antes as opções. COMO essa pessoa vai escolher o que comer sem saber o que tem no rechô depois da curva? É muita falta de critério com o que ingere. Depois eu fico nervosa com a combinação dos pratos alheios. Gente, tem tomate, milho, brócolis e broto de alfafa, o que leva a pessoa a comer pepino, cenoura ralada, alface lisa e palmito? Tem risoto de limão siciliano, pra que gastar seu almoço com arroz comum e feijão preto? Que horror. Tem quiche, batata assada, falafel, bolinho de mandioquinha com queijo, frango à milanesa, abobrinha refogada. E a pessoa vai e pega panqueca de presunto e queijo, bife com bacon, couve. Por favor, gente. Vamo fazer uns pratinhos mais delícia?
Depois de muitas filas na vida, comecei a acreditar que essa bobagem diz muito sobre mim. Eu não consigo me conectar com as escolhas alheias, não consigo entender e, no fundo do meu eu, não consigo respeitar. Eu não vou lá virar o prato de ninguém e mandar tomar vergonha, mas dentro da minha cabeça, estou pensando "se era pra comer essa porcaria aí, era mais fácil ter feito em casa e trazido marmita pra esquentar no micro-ondas". E isso é uma grande ofensa mental, porque eu acho que não tem coisa mais horrível pra um ser humano que comida esquentada no micro-ondas. Essa porcaria tem 01 propósito apenas: estourar pipoca.
Depois de 8 dias escrevendo essa bobagem toda que não faz sentido nenhum, me dei conta que também não tem propósito.
Serviu apenas pra me deprimir ao lembrar da única pessoa no mundo capaz de me servir comida no prato de uma forma que parecesse que o prato foi feito por mim.
Porque eu não sei se vocês sabem, mas eu acho que cozinhar é a maior liberdade que o indivíduo pode alcançar. Quando você cozinha, você está 100% no controle. Do que você come, do que você dá pro outro comer. Quando você cozinha, você decide. O que quer, como quer, quanto quer, que horas quer.
E eu também acho que a maior demonstração de idiotice possível é esperar que alguém faça seu prato por você. Em que universo outra pessoa sabe EXATAMENTE o que você quer comer? Também me irrita gente que não escolhe o que pedir no restaurante, porque na minha cabeça, é a mesma coisa. Deixar nas mãos de outra pessoa uma das decisões mais importantes pra si mesmo.
Aí um dia uma pessoa simplesmente levantou da mesa no meio do almoço, sem dizer nada, e voltou com um prato que não tinha absolutamente nada do que ela gostava. Pois o prato era pra mim. E não poderia estar mais perfeito, nem se eu tivesse escolhido cada coisa por mim mesma.
Como é que isso acontece? E por que essas pessoas são sempre as que vão embora?
Não sei, não quero saber e fim.