quarta-feira, 17 de agosto de 2016

manic pixie dream girl

título alternativo: unlovable



(I'm feeling) unlovable, unlovable

Eu tinha uns 10 anos e era encantada por um menino unanimidade, sabe? Na minha casa a gente chama essas pessoas de Jade, por causa de uma novela (O Clone?) em que TODO MUNDO era apaixonado pela mesma pessoa - a Jade. B. era ~modelo infantil~, fazia propaganda do Tang, tinha os olhinhos verdes e longos cabelos loiros, do tipo que só os anos 90 poderiam proporcionar. B. nunca me deu bola. Um dia, eu soube pelo jornal que ele estava namorando uma das meninas do condomínio. O Estadão estava fazendo uma matéria sobre namoros precoces e reconheci a piscina no fundo da foto antes de me dar conta de que se tratava de B. beijando uma menina. Uns 8 anos depois, a gente tava sentado num banquinho conversando sobre a vida, quando ele me disse "você deveria ter insistido mais, tinha chance". Olhei com a maior cara de ÃHN???? da minha vida, mas ele logo completou "não tinha não".

Eu tinha uns 12 anos e só conseguia pensar em R., um menino que era baixinho, gordinho e com um monte de cabelo rebelde na cabeça. Todo mundo era apaixonada pelo S., o surfista loiro, alto e de cabelos compridos (anos 90, né?). Não que eu não tivesse minha cota de encantamento pelo S., mas depois de ouvir repetidas vezes a pessoa me chamando de horrorosinha, eu tinha que deixar pra lá. R. também não tinha nenhum interesse na minha pessoa, mas adorava se juntar com as amigas pra rir da minha cara. Uns 4 anos atrás, no meio de uma conversa, eu fui pedir desculpa pelo inconveniente. R. disse que adorava até as cartas coloridas que eu mandava.

Eu tinha uns 15 anos quando conheci F. na escola. Ele estava duas séries pra frente, então a gente só conversava em eventos e no intervalo da aula, mas ele me seguia aonde quer que eu fosse. Um dia, uma amiga e o namorado dela me convidaram pra sair e, quando eu cheguei, F. estava lá. Foi levado especialmente pra me ~entreter~. A gente achou divertido que combinávamos tanto que até nossos amigos que nunca tinham nos visto junto quiseram nos juntar. Um dia, num desses passeios, F. apareceu com uma menina que eu já conhecia - sem aviso prévio. Essa menina era uma péssima criatura, com quem minha mãe (e muitas outras mães) proibiu a amizade. Pois F. acabou assumindo o namoro com ELA. A menina era realmente uma criatura horrível e F. se lascou catastroficamente do tipo ir preso e tal (eu acho é pouco), mas o pior foi estragar um monte de amizade no caminho.

Eu tinha 16 quando conheci P.. Eu ouvia quase exclusivamente rock de véio - Deep Purple, Pink Floyd, Dire Straits, Eagles, Supertramp, Scorpions e por aí vai - e não apenas não conhecia ninguém que ouvisse essas bandas, mas também não conhecia ninguém que SOUBESSE que essas bandas existiam. Pois P. conhecia. E pegava o violão e tocava Hotel California pra mim, quantas vezes eu quisesse. A gente ria e se divertia e eu achava muito legal me relacionar com um cara que usava 16 brincos e calça rasgada, mas resgatava gatinhos em dias de inverno e escrevia letras românticas pra sua futura banda. Mas P. um dia apareceu também com uma namorada que ia na igreja e não podia sair de casa depois das oito da noite, porque esse é o tipo de menina que se namora, não aquela que vai no show de rock com você e sabe cantar a letra inteira de Living Wreck

Não foi muito tempo depois que eu conheci R.. Eu nem gostei dele, pois pedantíssimo. Porém fomos a um show do - se preparem - Negritude Júnior e R. era a única pessoa que sabia dançar um sambinha de parzinho, era extremamente inteligente (porém horrível, rolou intervenção por causa da feiúra do cerumano) e uma coisa levou a outra. R. me levava na casa da vó pra comer doce de abóbora, eu conhecia pai, mãe, irmão, participei do trote quando ele passou na USP e tudo mais. Um dia ele falou pra todo mundo que eu era grudenta e delirei todo o relacionamento (segundo ele, aconteceu apenas na minha imaginação) e surgiu namorando uma menina da minha escola que tinha um total de zero amigos, porque era a pessoa mais chata a já habitar o planeta Terra. 

Eu tinha 17 e conhecia H. fazia muitos anos já, da escola dominical. A gente sempre se via na escola, mas raramente conversava, porque H. era uma série antes da minha, por ser uns 6 meses mais novo. Um dia, percebemos que sempre éramos os únicos enfiados na biblioteca da escola, deu-se um estalo, a gente olhou um pra cara do outro e lá mesmo começou o ~relacionamento~. Um dia a mãe dele falou que achava um absurdo uma menina mais velha como eu se aproveitar da inocência do filhinho dela e ele simplesmente pediu uma menina da sala dele em namoro. 

Eu tinha 18 e era a única pessoa que falava educadamente com L.G.. Ele obviamente estava no grupo errado de pessoas, assim como eu, mas a gente não tinha lá muita escolha. Apesar de escolhas questionáveis de moda, cabelo e vida, L.G. era muito bonito (e rico) e acabou chamando a atenção de meninas desejadas do grupinho. Ele detestava a companhia delas, a conversa delas, os lugares onde elas iam, os carros que elas dirigiam e tudo que elas representavam, mas L.G. era homem e não podia recusar os avanços das meninas mais disputadas do ambiente. Alguns anos depois, no meio de uma conversa com muito chororô, eu e ele fizemos as pazes um dia antes de ele se mudar pra San Diego. Passamos o ano inteiro torrando fortunas em ligações internacionais e mandando longos emails. Quando L.G. voltou, uma das meninas supracitadas também reapareceu e ele escolheu ela.

Eu tinha 20 anos e me apaixonei por F.F., um homem casado. Eu escolhi respeitar o relacionamento, mesmo sabendo que o sentimento era recíproco. Mas com a convivência, a gente vai perdendo os parâmetros, até que um dia você esquece completamente que a outra pessoa tem uma esposa, porque é tanto tempo que vocês passam juntos que parece até inacreditável que exista mais alguém. Você sabe que ele já não gosta mais dela e, num mundo normal, já teria tomado providências para que vocês pudessem ficar juntos. Só que a religião dele não vê separações matrimoniais com muito bons olhos, então em nome de Jesus é com ela que ele fica.

Eu tinha 25 anos e conheci V.. Ele era a pessoa mais legal do mundo, entendia minhas piadas idiotas e meu gosto estragado pras coisas e a gente vivia rindo e falando bobagem. V. tinha uma namorada bem desequilibrada, de quem ele não gostava mais, mas eu não me meti e mantive distância. Quando ele finalmente terminou com ela - sem nenhuma influência minha - a gente saiu pra passear, como dois amigos, nada além disso. A menina descobriu e simulou uma tentativa de suicídio. V. voltou pra ela e finalizou a amizade comigo.



*****

Então eu passei anos sozinha, porque chega um ponto na vida que a gente cansa de ser a menina que não é pra namorar. Quando literalmente QUALQUER pessoa é melhor do que você, por qualquer razão que seja. Eu nunca acreditei em amor, muito menos em amor eterno, então achei que era pro bem de todo mundo que as coisas aconteciam dessa maneira. Não valia a pena o esforço de passar mais tempo com esses caras, se dali 2 anos eu mesma já não teria paciência pra nenhum deles.


*****

Mas um dia, eu conheci C.. Era até um pouco irritante o quanto C. era "perfeito", porque ele era engraçado, inteligente e bonito. Obviamente, não me dava a menor bola. Eu permanecia aceitando a graça de ter alguém como ele no círculo de amigos, mesmo vendo ele com uma menina diferente por semana. Um dia, sei lá que raio atingiu a cabeça desse moço (na verdade o raio chama eu com outro, em outra cidade) e ele surgiu num rolet que eu estava. Deixou bem claro que trocou turno no trabalho pra poder estar ali naquela hora e que foi exclusivamente por minha causa sim. Passamos muito tempo juntos em um relacionamento bem disfuncional. Eu dizia que não queria mudar status em rede social nem andar de mão dada e ele entendia que eu queria dar pra todo mundo. Eu dizia pra cada um seguir seu rumo e ele dizia que ia parar de ter ciúme. Ele me via conversando com amigos e enxergava traição. Um dia eu disse que a gente podia seguir como amigos ou que a gente podia assumir aquela palhaçada de vez, se ele fosse se sentir mais calmo. Ele disse que eu tava maluca e que ele nunca me prometeu nada. Segui minha vida e ele não aceitou bem, me agredindo sempre que houvesse oportunidade e falando coisas ruins a meu respeito pra todo mundo.

Depois de muito tempo surgiu D. A gente foi com a cara um do outro imediatamente. Nada romântico, a gente só ria das mesmas idiotices. Mas D. era casado e, mesmo toda a interação acontecendo na frente de sua queridíssima esposa, de forma inocente, ela proibiu que ele falasse comigo. Não sei quanto tempo se passou até que ele surgisse na minha frente, 100% divorciado. Foram meses de convivência até que eu descobrisse a mais de 10 mil km de distância que estava interessada por ele. Voltei pro Brasil e nada acontecia, porque D. é do tipo que casa e não lidava bem com o fato de que eu tenho 0% de intenção de casar. Um dia apareceu com uma menina que ninguém sabe de onde surgiu e obviamente foram morar juntos meia hora depois, casaram-se e estão felizes, desde que eu não apareça no mesmo evento social.

Um tempo atrás apareceu N.. A família vem de um país ~exótico~ e o pai falava comigo como se ele fosse meu prometido. O rapaz era, de fato, muito bonito. Também era razoavelmente interessante. Depois da resistência à aproximação resultante de tanta gente empurrando um pro outro, quando finalmente tivemos tempo de conversar por nossa própria conta nos demos muito bem. Estávamos sempre juntos e se o grupo de pessoas fosse grande, ele sempre vinha andar do meu lado, sentar do meu lado, comer do meu lado. Tudo parecia bastante promissor, até que uma fofoca intrincada de uma pessoa de sanidade mental questionável abalou o esquema todo. Eu, que sou mais inteligente, não dei ouvidos. Ele cortou relações comigo sem nem dizer adeus.


*****

Às vezes eu me sinto como Chuck em Good Luck Chuck. Ou como a Manic Pixie Dream Girl.  

Ou o cara não está minimamente interessado em mim.
Ou o cara passa um tempo comigo pra, em seguida, encontrar o amor da sua vida.
Ou o cara passa um tempo comigo porque é um homem de alma pura, que precisa aprender a enxergar as aventuras e mistérios da vida.

Eu sempre fui aquela menina que é a melhor amiga da pessoa, que é um dos bróder (que título bosta), que todo mundo adora, acha engraçada, chama pro bar, mesmo que eu não ingira uma única gota de álcool em nenhuma situação. 

Todo mundo sempre acha minha vida muito curiosa, minha companhia é sempre muito divertida, eu sempre tenho as melhores histórias, sempre estou junto com a pessoa nos dias mais loucos que ela já teve.

Eu sou a pessoa com quem dá pra ir ver um filme idiota, escutar música ruim, jogar videogame, correr na rua de madrugada, falar tanta bobagem no bar que todo mundo junta a mesa na minha, até desconhecidos.

Eu sou a pessoa com quem vão rir até a barriga doer, andar de bicicleta a 30km/h na rodovia, pular de bomba na piscina, dançar tango no meio de um lugar lotado de gente - onde não está tocando música nenhuma.

Eu vou ficar pronta pra sair pra passear no meio da madrugada, vou andar 50km atrás do sorvete perfeito, com a cabeça pra fora da janela do carro, gritando que esse é o dia mais legal da minha vida. E vou dividir um hambúrguer do tamanho de uma bola de basquete e jurar que nunca mais vou comer na vida. Vou andar de bicicleta do seu lado, usando uma mão só, porque na outra tem uma garrafinha de Coca de vidro, porque eu sou corajosa assim.

Eu vou te dar a mão na bebedeira (sua, não minha), vou com você procurar um pedaço de terra pra plantar o último pedaço de pizza e regar com cerveja, pra ver se conseguimos pizza infinita por meio de plantação.

Eu vou pegar na sua mão e vamos fugir pelas escadas do prédio, pra ninguém perceber que a gente saiu. A gente vai soltar bolinha de sabão (porque eu carrego um pote de bolinha de sabão na bolsa) e deixar as velhinhas todas nervosas porque estão manchando todas as janelas. E a gente vai rir por não ser velho, por poder ser ridículo e soltar bolinha de sabão num sábado de sol.

E eu vou te levar num cemitério pra você ver as esculturas e a gente vai inventar histórias pras pessoas que já morreram. E a gente vai inventar histórias pras pessoas da foto da exposição, pras pessoas nadando na piscina no clube, pra velhinha sentada debaixo do guarda-sol, pro nosso amigo que tá com vergonha do tanto que a gente tá rindo e resolveu andar 20 passos na frente, pra fingir que não conhece.

Vamos andar 40 quadras atrás de um bolo vegano, porque você acha que eu queria e eu acho que quem queria era você. E nenhum dos dois queria. E eu vou subir numa mureta pra te abraçar melhor, porque você é muito maior que eu. E vou andar me equilibrando e você vai me dar a mão, porque tem medo que eu caia e quebre metade dos ossos do meu corpo, porque eu também resolvi dançar.

Eu vou viajar pra outro continente sozinha, deixando você confuso quanto às minhas intenções. E vou falar com absolutamente todo mundo que cruzar meu caminho e fazer as amizades mais birutas e conversar sobre Dom Casmurro com um alemão bastante confuso e sair pra jantar sozinha e passar horas na beira de um laguinho falando com você no celular, porque na Europa é bem baratinho pra ligar pra outro país. Mas você vai achar que é só porque eu acho você importante que eu me dou a essas estravagâncias.

Mas se eu descobrir que não te amo, eu serei sempre a vaca desgraçada que destruiu seu coração.

E se eu descobrir que te amo e você precisar me assumir, andar de mão dada e apresentar pra mãe, você vai achar que não vale a pena, porque como é que se explica uma pessoa como eu pra sua mãe? Não foi pra isso que ela te criou. E você vai seguir em frente e conhecer a moça boa, que merece ser levada pra casa, segurar na sua mão e levar seu sobrenome.

Eu não sei se é a falta de beleza ou se é porque no fundo eu sou insuportável. Mas eu vejo todo tipo de pessoa arrumando parzinho e de vez em quando eu não consigo compreender a razão de estar sempre sozinha, a minha vida inteira.

*****

Eu tinha prometido pra mim mesma que ia ficar pra sempre sem ninguém, mas aí veio a vida e tacou L. na minha frente. Quando eu paro pra pensar nele, conteúdo e embalagem, eu acho que é tipo aquele filme Weird Science, feito no computador, a partir de especificações. É aquela pessoa que é boa demais pra ser verdade. A pessoa parece que lê meu pensamento e às vezes eu tenho a impressão que nunca mais vou conhecer alguém tão legal e tão intelectualmente compatível com a minha própria pessoa.E eu tenho um pouco de medo.

Obviamente, o potencial pra catástrofe tá todo ali, pior do que nunca.

Desde que ele não apareça semana que vem namorando uma moça boa e adequada, vai ficar tudo bem.

Vamos todos fazer uma prece pra que seja verdade aquele ditado, né?





NÃO, PÉRA