segunda-feira, 21 de setembro de 2015

vanessa virginiensis

antes

Quando eu me mudei pra casa onde eu moro hoje, a coisa que eu mais detestei foi o banheiro. O espelho é grande demais e não tem como fugir dele, em lugar nenhum. Então imagina a alegria de tirar toda a roupa pra tomar banho e se deparar com a imagem de você mesma, todo dia, sem ter pra onde correr. Ver onde tem banha, onde a banha dobra, onde a pele é feia, onde não tem beleza (tudo)... Uma alegria.

Aí um dia eu resolvi encarar o bendito espelho, porque vou fazer o quê? Vou ficar mais magra e bonita, caso não olhe essa imagem assustadora que eu tenho hoje? Não. Então vamo olhar, né? Porque é o que sobra. 

Nesse mesmo dia, eu tinha postado no feicy uma foto de 10 anos atrás. Uma amiga que chegou bem depois disso comentou "miga, você tinha cachos no cabelo!" e foi aí que eu me dei conta de tudo que mudou nos últimos 10 anos.

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Uma vez eu tive que ir num psicólogo e ele me disse que meu problema é ser muito revoltada e assumiu que o ~motivo da revolta~ era justamente por eu ter perdido um rim. Fiquei olhando pra ele com cara de q, mas em casa eu refleti que eu realmente tenho uma revolta interior por não ser saudável. Mas o rim não tem nada a ver com isso, eu sempre fui muito revoltada por ser alérgica. Fora que foi por causa da alergia que eu tive uma metamorfose na minha vida.

E ela foi muito mais profunda do que eu conseguia perceber até semana passada.

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A pessoa alérgica é uma pessoa com cortisol no organismo. Se ela não está ingerindo, está produzindo. Se a pessoa é estressada... adivinha. CORTISOL. O que quer dizer que ali pelos 24 anos (10 anos atrás), eu tava que era puro cortisol. 

Além disso, eu não sabia o que era um remédio corticoide, o que ele fazia e os vários nomes sob os quais ele se disfarça. Teve um tempo da minha vida que eu achei que tava imune, só não tomar nada terminado em "sona" - dexametasona, prednisona, mometasona. Aí eu descobri que nomes inocentes como decadron escondem essa desgraça na sua composição. 

Como todo mundo sabe, num dia eu fui dormir com 50kg e no outro acordei com 84.

Esse é o efeito óbvio e cruel da cortisona.

Porque a sociedade médica-caga-regra em que a gente vive não tem dó ao dar o veredito de que você é gorda de relaxo, de preguiça, de encher a cara de doce.

Então tá.

Agora cê reflita aqui comigo que o ~engordamento~ por corticoide é mais um inchaço por retenção de líquido. Aí entra a informação de que eu tenho um rim solitário e, sei lá, de repente o amor no seu coração reaja e você pare de me chamar de gorda, porque eu tenho líquidos que não me pertencem e que não consigo expelir, de modos que NÃO.TEM.DIETA. que me emagreça. A não ser que eu fique sem comer, como fiquei por 14 meses entre 2012 e 2013, fazendo uma dieta de 500 calorias diárias. Aí emagrece sim, perde os músculos, perde a saúde e um pouquinho da inteligência, já que o cérebro precisa de energia pra funcionar adequadamente.

Mas isso todo mundo consegue ver claramente. Quem me conheceu em 84, 94, 04 ou 14: vaneça é gorda.

O que nem todo mundo consegue ver são outros detalhes.

Minha pele mudou.

A textura da minha pele mudou completamente nos últimos 10 anos. Uma das razões pra isso é a dermatite, que faz com que ela fique seca e áspera. Mas acontece uma pereba ocasional, que todo mundo curte apontar e chamar de espinha, mas não é (meu deus do céu, por que as pessoas comentam coisas que a gente pode ver no espelho e não perguntou pra ninguém????). É direto aparecendo uma pereba ou outra e alguém me falando "ih, tua cara tá virada numa erupção estranha". Tem umas que somem como vieram e tem outras que ficam por meses. Tipo uma no meu maxilar, que é causada por, SE PREPAREM, contato com cabelo. Eu vivo de cabelo preso, porque se eu solto e ele fica passando pelo osso do rosto, PÁ, pereba. Hoje mesmo minha mãe veio "AI MEU DEUS TEU OLHO" e eu achando que tava com alergia dentro do globo ocular (acontece e é horrível), mas era só uma dessas pelotas vermelhas que se materializam na minha cara de um minuto pro outro.

O formato do meu corpinho mudou.

Antes eu era uma táuba. Tem um episódio muito marcante da minha vida, aos 14 anos. Fomos todas as meninas pra casa de alguém que tinha piscina. Várias meninas na frente do espelho, comparando seus biquínis. Todas com menos de um metro e meio de altura, tronco pequeno, cinturinha e bundão. Eu, destoando da multidão, com a altura que eu tenho hoje (14 centímetros a mais que elas), magra como um graveto, sem curva nenhuma, a não ser os peitos imensos. Nem uma cinturinha pra contar a história, do ombro ao joelho na mesma largura. Além da maior perna que o cerumano já viu. (Eu não chego a 1,65 de altura e não é raro não encontrar calça que chegue até meu tornozelo).

Quando a banha veio chegando, fui ganhando bumbum, fui ganhando braço, fui ganhando coxa. Nos últimos 5 anos apareceu uma curva de cintura, o que é muito útil quando você está gorda e não usa roupas justas. Mas o mais triste foi mais ou menos um ano atrás que eu adquiri uma banhinha pançal nunca antes vista neste corpo. Eu sempre tive a barriga reta, mais protuberante logo abaixo dos peitos, ali onde tá cheio de costela e mais funda ali perto do botão da calça jeans. Não estou sabendo lidar com essa bola que surgiu pra baixo das costelas. E nem é bem uma bola, que eu tenho aquele músculo de jogador de futebol que faz uma flechinha pra dentro da calça, então a banha segue esse desenho, é lindíssimo e reconfortante. Primeira vez na vida que eu sento e vaza carne tipo topo de muffin, não consigo aceitar. Diz meu médico que isso é um sinal claro de abuso de corticoide (essa banha baixa na barriga) e eu tive que fazer uma deliciosa desintoxicação. Estou começando a melhorar, porém a banha ainda não deu sinais de que vai abandonar este corpo que não lhe pertence.

Todos os cabelos do meu corpo mudaram (que nojo).

Rola uns índio na família e a gente nasceu meio pelada. Parte boa: num tinha pelo na perna e no braço. Parte ruim: não tinha cílio também. Nem cabelo na cabeça.

Sério, eu passei a vida sem me preocupar se tava frio ou calor, era só botar uma saia, uma bermuda e sair saltitando pela vida. Aí nesse momento eu tenho que gastar milhões com depilação a laser, porque não suporto esse pesadelo de decidir a roupa com base na configuração da minha perna. A moça que faz esse serviço sempre ri da minha reclamação, porque ainda é muito menos pelo que o normal, mas eu não sou obrigada. E quando eu reclamo de pelo no braço geralmente levo um soco, porque só eu enxergo. MAS ANTES NÃO TINHA NENHUM.

(midesgupi a imagem mental)

Aí tem o cílio, né? Antes eu nem gastava com rímel, era jogar dinheiro fora. Hoje tenho curvex e 4 maybellines diferentes no estojinho. Meu cílio ainda é muito ralo e fino, precisa de muita ajuda pra aparecer, mas hoje já consigo um certo efeito de beleza na cara, caso faça um esforço. Só na parte de cima do olho, a de baixo eu já me conformei que não vai estar rolando.

E, por fim o cabelo.

Gente, o cabelo.

Antes eu juntava um rabo na cabeça e tinha que dar 48 voltas no elástico. Além de pouco, o cabelo era cacheado e cheio de frizz. Dez anos atrás o cachinho era um tóinóinóin violento, que não tinha secador com chapinha que esticasse. Não que eu quisesse, eu tava diboa com os cachinhos. Inclusive eu era a única habitante de Curitiba com aquele cabelo e incomodava todo mundo que convivia comigo.

Três anos atrás, no fundo do poço, meu cabelo estava L I S O. Cê não tá entendendo. Não é que estivesse assim, acalmado. Tava LISO. Escorrido. Permanecia fino, mas praticamente não tinha frizz e não fazia nem onda. Uma coisa de louco. Aí o que eu fiz? Isso mesmo, uma progressiva atrás da outra, porque nunca era liso suficiente.

meio

Hoje ele meique estabilizou. Tem ondinhas em dias normais, fica liso em dias super secos e não faz mais cachos. Também tenho o triplo de cabelo na cabeça e até hoje não acertei fazer um rabo decente, já que nunca sei quantas voltas dar no elástico, pra não ficar nem caindo, nem Elza Soares involuntária.

Hoje a vida oscila entre amor e ódio pela imagem no espelho, entre tristeza e frustração de horas de academia e uma vida de alimentação saudável não refletirem em uma imagem exterior aceitável socialmente e chati-ada com esse desperdício de genes bons.

Mas o que se há de fazer, né?

Um post pro blog, reclamando, obviamente.

E um conselho: quianças, nunca tomem corticóide. :)

fim