segunda-feira, 28 de setembro de 2015

amor é outra coisa

(esse post começou a ser escrito na quarta passada e vejam só vocês como tá fácil a vida - explicando pois DATAS SEM SENTIDO)

tomando no cu

Não foi a primeira vez que aconteceu, mas quando eu estava escrevendo o último post, eu ficava pensando "esse post tá com cara de que tô dando satisfação". Mas satisfação de quê? Satisfação pra quem?

Aí eu me dei conta que minha vida é baseada em me explicar pras pessoas o tempo todo. Minha dúvida é:

- isso acontece porque sou EU?
- isso acontece porque sou mulher?
- isso acontece porque não tenho o peso aprovado pela organização internacional das pessoas que acham que todo mundo deve usar 38 e pesar entre 50 e 55kg?

Realmente não sei.

Mas vejem só vocês.

Fiquei 40 dias sem ir pra academia, por motivos de quebrei o fiofó lá em agosto (cêis lembram, né?). Eu perguntei pro médico quanto era o mínimo possível de repouso e ele disse 30 dias. Eu falei que nem morta, ele falou que pelo menos 15 e depois meu corpo me mostraria se eu tava pronta pra voltar ou não.

Muito que bem, até semana passada eu não conseguia andar, porque uma perna não ia pra frente da outra. Correr era um ato de desespero e dor. Sentar é uma coisa que ainda me aflige e deitar de barriga pra cima é choro certo. Sim, ainda hoje. 

Semana passada eu precisei ir num profissional que usa maca e chorei pra deitar, chorei pra ficar deitada, chorei pra levantar.

Mas como eu sou brasileira, segunda eu voltei pra academia, expliquei pra todo mundo o que aconteceu e estou fazendo os movimentos que minha coluna permite (uns 80%, já tá bom).

Tinha ficado todo esse tempo sem usar as roupas da academia, de modos que foi botar o top e a calça de lycra pra sentir que tudo estava largo. Chegando na academia, vi que tive que mudar as posições de alguns aparelhos, porque eu estava ocupando menos espaço. Juntando isso ao fato de que minhas calças jeans estavam sobrando, concluí: perdi peso.

Atentem para o fato de que não disse que emagreci, porque não é o caso. Eu sei que o que eu perdi foi massa muscular. Mas foi bem incrível compreender que eu não sou uma pessoa ~que engorda~, meu peso é uma coisa bem estável (infelizmente, se eu pensar que queria que fosse menor; felizmente se pensar que não sobe nem se eu passar 40 dias sobre minha bunda, na frente da tv). 

Considerei parar de ir pra academia, só não paro por motivos de saúde.

Cheguei em casa e fui fazer piada no feici, né? Quem é meu amigo lá já conhece que não levo internet a sério. Escrevi "em 40 dias sem academia perdi: peso".

Nisso começa uma conversa entre meninas que sofrem do mesmo mal - ter a vida fiscalizada pela forma física - e todo mundo rindo e levando na brincadeira, quando (1) um homem (2) da educação física (3) que me conhece pouco, (4) mas sabe da minha rotina de exercícios, se mete na conversa. Eu escrevi que não entendia como entrei na academia 16 anos atrás com 49kg e todo esse tempo depois só tinha aumentado de peso. O que ele respondeu? "Podemos mudar isso".

Fiquei um pouco desconfiada, porque, uéééé, se dava pra mudar, dava pra ter me falado isso 3 anos atrás, quando me conheceu? Perguntei o que dava pra fazer e a resposta foi:

SÓ TER VONTADE QUE CONSEGUIMOS QUALQUER COISA.

Ai, mas vai pro raio que o parta?

Vamos analisar alguns erros nessa frase?

Primeiro ele dá a entender que eu não me esforço, que se eu quisesse, estaria magra. E com isso, ele dá a entender que não me exercito (o que ele SABE que não é verdade) ou que eu como demais? E, tudo bem, se eu estivesse falando que QUERO emagrecer e NÃO QUERO fazer dieta, podia até levar esse puxão de orelha. Mas eu tô quieta, sabendo da minha alimentação bonitinha, ninguém pergunta e sai supondo. Quero morrer de catapora.

Outra coisa é o "só ter vontade". É MEMO? Parece esse povo da meritocracia, que diz que todo mundo tem oportunidades iguais. CÊ SABE O QUE EU PASSEI? Sabe da minha vida? Não vem com  querer, meu amor. Não é assim não.

E, pra ficar só nisso, a intromissão, né? Pedi alguma coisa? Pedi opinião? Então guarda pra você, caceta.

*****

Menos de 24 horas depois, uma amiga postou (no facebook também) um texto que resumidamente era:

Toda vez que vejo meu pai, ele diz que engordei mesmo que meu peso não tenha mudado e não tenho mais vontade de encontrar com ele.


Acho que alguns de vocês podem se lembrar de um post em que eu dizia que não visito mais minha família pelo mesmo motivo. Ninguém aguenta essa fiscalização. Pois qual era o conteúdo dos (muitos) comentários dos amigos dessa menina pra ela? 

- conversa com ele;
- explica pra ele;
- é pro seu bem;
- é uma forma de amor;
- ACEITA.

PUTA QUE LOS PARMITO!!!!!!!!!!!!!

Empatia, cadê?

Não tem que explicar, não é amor, não é pro meu bem e eu aceito minha mão na sua cara.

*****

Esse não é exatamente um post sobre feminismo, porém

Sábado passado eu estava num grupo de pessoas e todas as meninas que não eram magras, estavam sentadas abraçadas numa almofada, numa blusa, numa bolsa. Todos os meninos gordos estavam orgulhosamente alisando suas barrigonas.

No fim, eu acho que tudo se resume a isso. Ninguém se importa - de verdade - com a forma física masculina. Eu nunca vi um homem falando "pego ninguém porque sou gordo". Já vi muito homem reclamando que não pega ninguém porque não tem carro ou porque tem um trabalho meio desmerecido pela sociedade, porque não tem trabalho, porque ainda mora com a mãe. Isso eu vejo. Mas homem sofrendo "sou gordo, ninguém me quer"? Jamais.

Outro dia passou um rapaz acima do peso por um grupo em que eu estava e alguém disse que era bonito e eu disse (de verdade e de sacanagem) DEUS ME LIVRE DE GORDO. As pessoas todas ficaram chocadíssimas e tive que ouvir lições de moral. Mas 10 minutos antes, todo mundo falava com pena de uma menina, cujo defeito era estar acima do peso.

Sabe?

Tem uma palavra que eu não falo. Essa palavra é um verbo e se alguém me diz no imperativo, eu simplesmente viro as costas e deixo essa pessoa falando sozinha. Eu não escrevo essa palavra, eu não conjugo esse verbo, eu não me relaciono com isso. Vou escrever aqui as letrinhas separadamente e o primeiro filho de chocadeira que vier escrever isso nos comentários será deletado feat. banido.

r

e
l


a
x

a
r

PUTAMERDA QUE PALAVRA HORRÍVEL.

Claro que eu já fui tentar descobrir o que estava errado com a minha cabeça, porque eu simplesmente não posso com essa palavra do inferno e as pessoas insistem em ficar pronunciando e conjugando E NO IMPERATIVO. Enfia aí esse desejo nos seus cus.

Bom, há boatos de que meu problema com essa palavra venha da época em que eu ouvia isso como adjetivo ligado à minha própria pessoa, enquanto menina do sexo feminino que não tinha muita paciência pra pentear o cabelo, usar saia, sandália, maquiagem, perfume, esmalte e essas coisas que se espera da boa moça. Porque eu gosto de sentar de qualquer jeito (perna aberta), falo palavrão, uso maquiagem 10 vezes no ano e meu cabelo aponta pra onde sentir vontade. Isso porque agora sou adulta e responsável COOOOOF, imagina quando tinha 10 anos e me obrigaram a botar sutiã.

E ai de quem resolve que não quer ser a menininha que a mãe sonhou, né?

Não uso salto nem pra ganhar dinheiro, não estico meu cabelo, não uso base, não vou no salão semanalmente, não pinto cabelo branco, não estou.nem.aí.

Mas, infelizmente, a sociedade não me deixa em paz.





Então eu acho que é por isso que a gente se explica.

Se eu tenho inveja de quem se aceita e se acha bonita sendo do jeito que é? Tenho muita. As pessoas assumem seus corpos, seus cabelos, suas alturas, seus narigões, seus joelhos tortos, suas preguiças e eu acho isso mágico.

Só que eu não evoluí esse tanto ainda na minha vida e não sou capaz.

Que pena.