terça-feira, 20 de janeiro de 2015

all star amarelo



Alguns de vocês não vão nem saber do que eu tô falando, mas garrei desgosto do meu ~blog de moda~ depois de uma série de infortúnios com relação ao propósito para o qual ele foi criado.

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Calmo.

Então a história era a seguinte: meu melhor amigo pediu a namorada em casamento. A namorada, durante o relacionamento, se tornou uma das minhas amigas mais próximas. De modos que era o casamento dos sonhos, pra mim (aquelas), já que eu poderia dar todos os palpites que quisesse. Era o casamento do amor.

Os dois queriam um casamento estilo americano em todos os detalhes: cerimônia e recepção ao ar livre, cadeiras brancas, luzinhas, maid of honor, best man, bridesmades, roupas da mesma cor, o circo todo. A ideia toda parecia muito incrível e tal, mas todo mundo sabe que eu tenho dificuldades com roupas de adulto, especialmente quando envolve ornar com sapato de adulto, mais ainda se houver salto.

Desde muito pequena eu entendi que não gosto de sofrer além do absolutamente necessário, de modos que não não visto tecidos que me deem alergia, sapatos que machuquem minha pele ou meus músculos e ossos, maquiagem em geral, bijuteria ruim demais, essas coisas. Não sou obrigada. Aí veio aquele momento, em que eu fui escolhida como maid of honor: "fia, cê vai usar sapato?".

Considerando que não sou aborígene nem tão sem noção assim, mas é claro ¬¬. Apenas disse que curtiria muito mais se depois do frufru dramático da cerimônia eu pudesse trocar o salto pelo all star nosso de todo dia e vi uma luzinha acendendo no fundo do zóio dos noivos.

Ficou resolvido que todo mundo usaria all star. Especialmente os homens do altar (noivo, best man e os acompanhantes das outras madrinhas e pais. Mães só se quisessem, noiva e madrinhas depois da cerimônia). Os convidados meninos seriam encorajados a complementarem seus ternos com lindos converse e as meninas que se sentissem à vontade também, por que não? Mas que plano maravilhoso.

Só deu aquele errinho na matrix quando a noiva decidiu finalmente as cores do casamento: cinza e amarelo. Você pode pensar "mas dá pra ser mais fácil que isso?", mas naquele longínquo ano, não apenas essas coisas não estavam na moda, como eram impossíveis de encontrar. De Curitiba a São Paulo, passando pelas amigas que viajaram pro exterior, pedi pelamordedels um all star amarelo número 36. Não tinha. Não. Tinha. 

Também não tinha vestido cinza compatível com uma idade menor que 95 anos. No fim das contas, das 3 madrinhas, uma a gente nunca tinha visto na vida, então eu e minha amiga-madrinha reviramos o mundo atrás de vestidos cinza (e naquela época também tinham que ser plus size, porque a gente tava um pouquinho acima do peso de loja comum) e não era possível encontrar.

Pra evitar enlouquecer a noiva, mudar o esquema todo de cores e etc, achamos a solução perfeita: fazer sob medida numa costureira o vestido - e desistir de all star amarelo e comprar qualquer coisa amarela de colocar no pé, talvez até mesmo crocs.

Eu tenho poucos vestidos, mas todos com modelos que gosto muito. Achei que seria bem simples pegar um desses vestidos, levar pra moça ver, comprar o tecido, ela transformar o tecido em réplica do vestido e TCHARAM.

Eu não poderia estar mais enganada.

A fia era estilista ~chique~, de modos que depois que eu deixei meu vestido com ela, recebi 3 croquis. Isso mesmo, nem eu tava compreendendo a situação, já que tava bem claro o que eu queria: um vestido com decote envelope, em V, mangas soltas até o cotovelo, onde teria um punho. Cintura marcada no lugar e saia godê. Até você aí que tá lendo e não viu o vestido, entendeu, né?



provavelmente a única foto que eu tenho usando o vestidinho e não dá pra entender como ele é \o/


Aí eu nem sei onde tão esses croquis, porque provavelmente usei pra limpar o fiofó de tanta alegria. Nenhum deles expressava nem remotamente o que eu queria pra um vestido. Porque tinha 3 coisas que eu não abria mão: mangas até o cotovelo, cintura marcada no lugar, saia godê.

Um pequeno parêntese sobre o comprimento.

Se um dia eu casasse e alguém aparecesse trajando qualquer coisa em que seja possível ver o desenho das pernas, teria um segurança na porta barrando. Aqueles tubinhos HORROROSOS que tão na moda pra ir em casamento, proibidos. Constaria no convite e avisos orais que NÃO PODE. Pra cima do joelho? Não pode. No meio da coxa? Cê tá pensando que tá naonde? Pra cima da canela? EU.DISSE.NÃO. Não sabe se vestir, fica em casa, não vem comer de graça minha comida.

Massss, quando o casamento é dozotro e a regra é dozotro e ozotro quer todo mundo de vestido cinza, sapato amarelo e saias que vão apenas até o joelho, a gente aceita (pra ser aceito).

Então eu tava bem de boa com a ideia em geral, sabe? Não queria nada muito complicado. Ela insistia em mudar um detalhe e eu pedia pra voltar ao que tava antes. No fim, parecia que tínhamos nos entendido, fomos comprar tecido.

Eu queria uma coisa mais pesada, porque não gosto de esvoaçantes. Além disso, tenho alergia a tecido poroso. Resolvi que acrescentaria um detalhe de renda pra ficar mais fino - naquele tempo ainda não tava rolando a renda crazyness, tava bem possível - e era só isso mesmo. Saímos da loja com uma renda de DUZENTOS REAIS O METRO e crepe de seda, que é o tecido que eu mais odeio no mundo. Caí no conto de que ficaria mais bonito pro desenho do vestido, visualizei a coisa toda pronta e aceitei, achando que doeria menos.

Fomos pro ateliê, onde ela tirou minhas medidas. Apesar de eu estar com módicos 80kg, meu peso não estava flutuando, as medidas estavam estáveis fazia quase seis meses. Na primeira prova, o forro do vestido não me serviu. Não fechava nem por um decreto. Tive um ataque de choro na sala de provas, em cima daquele queijinho. Achei que tinha inchado mais ainda, que ia explodir, que tava morrendo. Pedi que ela aumentasse o vestido (e foi só nisso que eu me concentrei). Saí de lá direto pra farmácia, me pesei e não entendi nada. Medi com fita métrica e tava certa: mesmo corpo.

U. É.

Uns dias depois fui fazer outra prova e, novamente, o vestido não fechava. Ela dizia que era só o forro e eu dizia que se o forro não fecha, vai fechar o que? Pedi pra aumentar e, pela primeira vez, reparei que o modelo estava errado. Ela justificava que aquele era só o forro. 

Faltando um mês pro casamento, o vestido já com um pouco mais de cara de vestido e eu ainda não entrando nele. Sem aumentar peso ou medidas, eu simplesmente não entrava no vestido. Ele não tinha mangas, a cintura estava no lugar errado - império, putaquelosparmito, mania de botar império pra peituda - e a saia parecia muito ser tulipa, o modelo mais horrível de saia existente no planeta. Ela dizia que estava inacabado, que tudo daria certo.

Dez dias antes do casamento e o vestido pronto: decote fechado, sem mangas, cintura império, fecho de botão (quando eu pedi expressamente de zíper, inclusive COMPREI o zíper imenso pra isso, já que botão e peitão não são amigos), saia tulipa. Outra crise de choro, desespero, já que NÃO ME SERVIA, além de tudo. Não entrava. E não tinha o que fazer, porque tava em cima da hora. Ela disse pra deixar com ela, que consertaria. Cê acreditou? Nem eu. Mas tava pago, custou uma fortuna, não tinha plano B.

A única diferença no dia que busquei o vestido de vez: tinha uma manguinha sem vergonha que machucava meu braço. 

Reflita a crise de choro. Minha amiga, a madrinha número 2, também teve seu vestido feito de forma completamente desrespeitosa. Além de, claro, não ser o que ela queria, foi costurado torto e ela não ficou 5 minutos sem ter que se arrumar toda. A madrinha número 3 será mencionada só lá na frente, porque a gente só viu a menina na hora da cerimônia e foi a cereja de cocô no bolo.

*****

Achei que o sofrimento tinha acabado. Afinal, era aquele vestido que tinha e fim. Que tolinha.

Na manhã do dia do casamento fomos todas pro salão que tinha sido reservado pra realeza do casamento: noiva, mães, irmãs, madrinhas, amigas próximas. Umas 10 mulheres. Eu pedi pra ficar por último porque significaria menos tempo de maquiagem na cara (alergias). O dia foi um desespero sem fim e quando fui tentar tomar o banho que me prometeram, era mentira, não tinha banho. Eu estava horrorosa e suja. Meia hora depois, horrorosa, suja e maquiada. Mas nada poderia ter me preparado pra catástrofe capilar.

Mandei a imagem do cabelo que eu queria, pra garantir que fosse possível de executar:



Depois de construir e desmanchar mais ou menos 8 vezes meu penteado, até o limite do tempo que a gente tinha, eu fiquei assim:


amish

Vai ter foto de banheiro sim, se reclamar vai ter duas.

Não tinha trancinha na frente, mas tinha esse coque de trança das mocinhas de colégio interno. Tacaram uns brilhinhos pra dizer que tava moderno e eu chorei por dentro e fui pro quarto que tava funcionando de closet.

E pra entrar num vestido que não me servia, que não tinha zíper, sem desmanchar essa bosta de coque e a maquiagem tombada? Apenas cinco mulheres foram necessárias. Eu ajoelhei no chão enquanto elas passaram o vestido pelos meus braços e pescoço, intervim quando tive que passar pelos peitos (que foram arranhados e machucados além do aceitável) e depois todo mundo precisou ajudar a abotoar e fazer apontar pra baixo. Uma alegria sem fim.

Fomos todas apertadas pro lugar da cerimônia, onde cheguei amassada e triste, pra ver um ex desesperado pra reatar, enquanto eu só pensava em parar de sofrer fisicamente. Como eu era moça largada, o padrinho ~designado~ pra entrar comigo era o best man, uma pessoa INSUPORTÁVEL além de mais baixo do que eu (não sou obrigada), que ficou me infernizando o caminho todo e se recusando a me encostar na hora das fotos oficiais HAHAHAHAHAHHA. Pensa num dia feliz.

Em um certo ponto do processo, as sogras resolveram se manifestar, sem saber que eu sou uma pessoa eternamente sóbria. O bonito é que elas me pediram pra não tentar roubar o noivo e ir procurar outro homem pra mim (mal sabiam que tinha uns 8 lá tentando e nem eles, nem o noivo, ninguém tinha chance). Aquela finesse eterna de aglomerações familiares.

Acabei a festa com um all star cinzinha, sendo julgada pelas meninas bonitas (só que nunca) que tavam se achando muito lindas por estarem nos seus saltos, sem saberem que isso significava que não tavam por dentro da piada interna e consequentemente fora do círculo de melhores amigos.


eu, a noiva e a madrinha número 2

Ah, e a terceira madrinha? chegou num longo MARROM, horroroso, completamente fora do contexto. Eu e a outra quase desmaiamos de desespero.

No fim da festa, meu ex barraqueiro ligou pra uma menina horrorosa que ele pegava de vez em quando, convidou pra furar a festa e me deu um ultimato na porta do banheiro. Tô pra responder pra ele faz quase 4 anos, será se ele já entendeu?

*****

No fim das contas, o blog era pra provar que all star ornava com tudo e ter uma série de fotos lindas das meninas com seus vestidos e tênis e o registro todo é essas porcaria toda aí que vocês viram e fuén. Gorda é que não combina mesmo com nada.

Não contei? A costureira de luxo falou muito calmamente no fim da história que os vestidos menores eram uma DIQUINHA AMIGA de que eu precisava emagrecer.

Poxa, fia, brigada mesmo. 


chorrindo


o vestido mais feio que existe

PS: Do lado esquerdo da foto, a madrinha whatever e seu vestido marrom.