segunda-feira, 4 de março de 2013

I'm lonely in London, London is lovely so


Quando minha mãe comprou essas partituras de música popular, diferente das pilhas e pilhas de músicas eruditas que sempre habitaram minha casa, essa foi a que mais me chamou a atenção. Não sei se foi a cor da capa, a foto, a letra "looking for flying saucers in the sky" e a ideia de que as pessoas tinham contato com discos voadores na Europa, o relógio. Também não foi uma coisa tipo "um dia eu vou pra esse lugar. Só sei que quando eu botei o pé no London City Airport, eu só conseguia pensar nessa canção. Com o Paulo Ricardo, obviamente, que melhorou o batuque sem noção do Caetano. Suck it up, sociedade.


Paulo Ricardo, Caetano Veloso, minha mãe: todos se mata com essa versão

*****

O caso foi que eu me preparei pra passear por Londres sozinha. Como moradoira de cidade turística, sei que não é só porque alguém veio te visitar que você adquire instantaneamente vontade de ir pela quadragésima oitava vez no Jardim Botânico. E meu amigo ainda estava começando um trabalho novo, de modos que eu pensei: não vou encher o saco. Pra minha sorte, eu tenho os melhores amigos do mundo. Como eu já disse, mal cheguei e Winspirro me levou pro tour da madrugada, coisa mais linda que eu já vi. Me prometeu o pacote turista pro dia seguinte, me ensinou como chegar no metrô, que linhas pegar, como trocar, como lembrar de Southbound, Northbound, Westbound, Eastbound, bem maneiro pra quem não sabe nem pra onde o nariz aponta.

Então acordei CEDO, pra ficar tranquila com o fator ~vou me perder, não há escapatória~, acreditei no meu cérebro e fui.

Quatro quadras pra chegar na estação, 3 viradas de esquina. E eu acertei todas, UHU. Acertei o lado pra onde deveria ir também, ó que magia. O trem chegou e eu sentei do lado de uma velhinha muito inglesa mesmo que, por alguma razão, resolveu falar comigo.

- você é turista?
- aham!
- você entende o que falam no auto-falante?
- entendo.
- pois a mensagem é mentira. Não existe a linha preta Northern Line. 

ADIVINHA ONDE EU IA FAZER CONEXÃO.

Achei que a véinha tava doida, né? Tinha falado na noite anterior com o Guilherme, comé que não ia ter a linha. Fiquei lá falando com a velhinha e pensando na peninha da confusão dela e mimimi, chegou minha estação, desci e KD LINHA PRETA?

Num tinha.

Aí fui orando pra Jesus pra entender o sotaque do trabalhador do local e perguntei como raios eu ia chegar em Embankment. Felizmente Harry Potter e Doctor me ajudaram o suficiente e eu descobri comofas. Quando cheguei no lugar combinado, Guilherme estava ansiosíssimo na catraca, preocupado com a minha possível passagem por um portal, porque tinha descoberto a linha preta adormecida e não sabia como me ajudar hahaha. Agradecemos os dois ao plantão do meu anjo da guarda e seguimos pro nosso programa turístico à beira do Tâmisa.

Num é poético?



Começamos o dia na fila pra London Eye e eu quero neste momento dedicar amor a todos que me acompanharam na EuroTour pela paciência em passear comigo. Sério. Eu tinha 98574 mapas, mas não teria me divertido um décimo sem a companhia dessas pessoas incríveis.



O acordo era o seguinte: Gui iria comigo no passeio mais boring do mundo, que vinha a ser a London Eye, e eu iria com ele na Star Flyer. Concordei, né? A altura do negócio lá debaixo era surreal e eu acreditei que ele desistiria a qualquer momento.









Melhor coisa do mundo foi aceitar a London Eye na vida. Todo mundo diz que é caro, que é chato, demorado, sem graça. Nenhuma dessas pessoas fez o passeio. É sensacional. É lindo. É incrível. Você vê na televisão uma câmera filmando lá do alto, você vê foto. Aí você está lá vendo com seus próprios olhos e é lindo e vale cada libra exorbitante que custa.



De lá, fomos direto pro parquinho da alegria, parecendo dois bobocas, porque a ideia de ir naquele chapéu mexicano era muito divertida.



Gente. Sério. Depois do primeiro minuto tentando parar de sentir pavor de cair, de sair voando pelo efeito de força centrífuga, de gorfar no parque inteiro lá embaixo, de meus óculos descolarem da minha cara, foi a melhor coisa que eu fiz. Nunca vou esquecer o jeito que o sol batia no meu meu rosto, o vento no cabelo, o barulho das pessoas lá embaixo, a London Eye, o Tâmisa. Lindo lindo lindo. A gente deveria ter dado a segunda volta quando deu vontade.

De lá, fomos andando pro resto da minha lista de lugares pra visitar. Incluindo as lojas de roupa, porque eu ainda estava naquela vibe "compra hoje pra vestir amanhã". E ó, tão de parabéns as paciências dos meus amigos pra me esperar provar a loja inteira.








Passamos numa H&M a caminho da St Peter's Cathedral, gigantesca e linda, onde preferi não entrar. Atravessamos a Millenium Bridge, Globe Theatre, Hay's Galleria, Southwark Cathedral.

Perto da Catedral tinha uma feira com os melhores cheiros de comida do universo, mas podia ser também só a fome que a gente estava sentindo, depois de horas andando. Só sei que eu peguei duas samosas, esquecendo lindamente que tudo que arde no Brasil, arde um milhão de vezes mais na Europa. Vi a morte, mas tava ali na frente da igreja mesmo, comendo sentadinha no chão, na maior vibe convescote, em Londres. Morreria feliz.



De lá, fomos pro meu novo lugar favorito no mundo: London Bridge. 

MEODEOSDOCÉU.





Acho que nem na Disney eu ficaria tão abalada psicologicamente. Lugar mais lindo, parece coisa de filme de princesa. Se da família real eu fosse, lá eu moraria. Não tem como explicar a beleza desse lugar, as luzinhas, o resto dos aros olímpicos fazendo figuração ainda (vou levar um ano contando essa viagem). Tão lindo que tinha até a noiva lá, dando um VRÁÁÁÁ na cara da sociedade.



Na margem do Rio Tâmisa eu sentei e não chorei. Ficou Guilherme olhando o horizonte e pensando na vida e fiquei eu olhando a ponte e querendo ser princesa, londrina e rica. De repente, enquanto Guilherme se comunicava com o mundo exterior pelo seu próprio celular, eu comecei a gritar e ter um ataque e forgot how to words, porque a ponte estava abrindo. Eu não apenas vi a ponte, vi a ponte ABRIR weeeeeeeeeee! E se a gente imaginou que vinha um transatlântico rio abaixo (ou acima, vai saber), veio uma mini jangada com um mastro que ia até o céu HAHAHHAHAHA. Melhor cena. Fiquei tão atordoada que acho que nem fotografei.








Passamos por uns caminhozinhos por cima da água, achamos o barquinho do mastro overcompensating, continuamos andando, passamos pela London Tower onde Jonathan Rhys Meyers decapitou Ana Bolena e fizemos o trajeto de volta, rumo ao metrô, pra Camdem Town.


Eu sou a louca das feiras, fiquei *estubefata* com Camdem Market e não quis nem saber de tirar foto, que era pra não precisar parar de olhar em volta. Se não fosse a mais completa falta de notas de libras, se aquelas barraquinhas passassem cartão, eu teria falido completamente. ALOCA do souvenir. Até coxinha vendia lá, meuzamigo. Pastel. 

Só me arrependo de não ter fotografado o restaurrã cujas cadeiras são motinhas kkk e a Police Box, que não era azul, mas era uma freaking.police.box. e basicamente a razão por eu ter ficado fissurada por essa região do mapa. Fica aí a desculpa pra voltar.

Felizmente o lar do Gui ficava perto de lá, porque eu já não tinha mais estrutura emocional ou física pra me locomover. Ficamos semi mortos no sofá por mais ou menos uma hora, até decidir se íamos ou não pra uma festa (adivinha), saímos de novo pra jantar a pizza mais apimentada que minhas papilas gustativas já comeram e eu, bem adultinha, voltei sozinha pro hotel, de metrô. Sou muito coordenada, nem me perdi!



Chegando em Queensway, me deparei com a fila infinita do elevador. Porque o trem chega praticamente no núcleo da Terra, de tão fundo que fica. Na entrada pras escadas, uma plaquinha: 123 degraus, sem parada, sem volta. Pelamordedels, só suba se acreditar que pode chegar no topo. Quiqui eu fiz? Isso mesmo, subi de escada. Má é nunca que eu ia ficar 3 dias e 3 noites esperando o elevador. Desse momento em diante, só entrei no elevador UMA vez (e ó que eu andei pra lá e pra cá mais ou menos um milhão de vezes) e não me arrependo. Cheguei no Brasil muitos quilos mais leve.

Pra meu total espanto, considerando ser a madrugada de um sábado, o comércio de rua estava aberto. Lojas aleatórias, supermercados (que são tudo mini, como esse povo vive?), lanchonetes locais e multinacionais. TU DO A BER TO. Igualzinho Curitiba AHHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHHAA. 

Pensei em tomar alguma coisa no Starbucks, comer mais alguma tralha no Burger King, entrar na igreja, sei lá. Mas meus pés se recusavam a dar mais um passo. De modos que fui calmamente pro hotel, sem medo de morrer, ser assaltada ou violentada de qualquer forma, não sem antes entrar na loja de souvenir e comprar 25 chaveiros de cabine telefônica (dos quais não fiquei com nenhum e não entendo como aconteceu). 

Fui pro meu quarto Harry Potter under the stairs, tomei um banhinho delícia, liguei pra casa - onde ainda mal era hora do jantar - e desmaiei. Já sabia que o dia seguinte começaria cedo porque, ao contrário do braziu, as lojas de rua abrem lindas no domingo e eu ia me acabar na Primark da Oxford Street assim que abrisse, onde eu provavelmente terminaria a missão de me vestir pelo resto da viagem.

Deitei bem linda sob o edredão, peguei no soninho e quase morri do coração umas três horas depois, quando o alarme de incêndio... desparou. Jesus amado, o.maior.pavor.da.minha.vida. Eu não tinha pijamas e langerrís de dormir, de modos que eu estava de regata e calçola. Acontece que meu cérebro ainda opera em modo: gorda e eu comprei a maior regata da loja, que cabia aproximadamente umas 4 vanessas, deixando indecente a aparição em público. Eu não sabia se corria pra fazer xixi, se botava uma calça jeans e um casaco, se salvava as minhas tralhas favoritas recém adquiridas, se chorava e chamava minha mãe. Fiz xixi, me vesti e subi descabelada até a recepção onde uma indiana bubblehead pedia desculpas por ter esquecido de colocar o aviso pros quartos dos andares mais baixos de que naquela noite os alarmes de incêndio seriam testados.

FUEEEEEEEEEEEEEEEEEEN.

Pelo menos nada pegou fogo e eu pude dormir até a manhã seguinte em paz.

Não foi dessa vez, inimigas.

Fim do capítulo.