Tenho
impressão de que eu fui a penúltima pessoa no mundo a prestar atenção no post
secret. Não da nem pra dizer *conhecer*, porque obviamente eu já tinha ouvido
falar. Só nunca tinha visto a graça.
Aí
recentemente eu me peguei com uns pensamentos aqui na minha cabeça, dentro do
meu cérebro, enquanto pessoa e me dei conta de que tem algumas coisas que,
ditas em voz alta, me fariam morrer sozinha.
De
modos que eu fiz aqui um postal e mandei pro post secret.
Sei
lá quanto tempo demora uma carta pra chegar nos estadozunido, sei lá se o tio
vai achar relevante pra ser postada, mas nem adianta que jamais revelarei esse
segredo.
Uma
coisa eu posso dizer: realmente parece muito bocó o que me aflige quando vejo o
desabafo de pessoas atormentadas, feridas, drogadas, abandonadas e birutas que
tem lá. Inclusive eu acho aquele site super baixo astral. Mas só na hora em que
eu saí da agência dos Correios, depois de passar um dia inteiro fazendo a
“arte” (RISOS) do meu postal foi que eu entendi. O alívio que dá por pra fora.
Foi tão incrível que fiquei uma semana sem nem pensar no assunto e só me dei
conta hoje, quando vi os lápis de cor na gaveta. Recomendo a todos.
Fora
a sensação poliânica de se alegrar com o próprio quintal, depois de ver o
quintal alheio todo esburacado. Enquanto tem gente ali com problemas sérios, eu
só tenho um problema na vida: me irritar com os outros. Não acho que meu
problema valha menos por causa disso, mas é melhor que a ideia de, sei lá,
querer morrer.
***
Chegar
ao ponto de escrever pro post secret é um marco tão óbvio na minha vida que
chega a ser engraçado. Eu guardo tanta coisa pra mim que dá até um pavorzinho
de morrer e imaginar as pessoas revirando minhas coisas e pensando “má desde
quando, minha gente?”. Ou então eu virando notícia e as galere comentando “sério
que ela estava passando por isso e ninguém tava sabendo?”. Eu tinha um amigo
que sempre me dizia que eu deveria escrever um diário. Que quando (veja bem,
“quando”, nunca “se”) acontecesse alguma coisa comigo, as pessoas saberiam a
razão. Hahaha.
Comprei
diários, comprei cadernos, me apavorei com a ideia de alguém lendo isso e pof,
não escrevi nenhuma linha até hoje.
Aí
tem o blog e a tagarelice, que fazem as pessoas acharem que sabem muito sobre a
minha vida e é até bonitinho, porque aí elas falam das vidas delas e parece que
é tudo muito normal. Mas toda vez que eu tento contar alguma coisa realmente
importante ou séria, vem um “stop the drama, bitch” e aí fim. Porque depois que
eu cremo um assunto, não tem como desenterrar. Então não pergunte :)
***
Aí
eu tinha esse relacionamento amoroso. Sei lá, não é amoroso porque não tinha
amor. Um relacionamento romântico sem romance, um friends with benefits. Quase
na concepção de Sheldon Cooper, porque apesar de ninguém pagar plano de saúde
pra ninguém, resgates em hospitais, farmácias e locais de bebedeira foram
providenciados.
Esse
relacionamento está na história recente da minha vida e, num primeiro momento,
eu achei que tinha sido o mais bem sucedido. Primeiro porque eu não acredito
nesses negózdi amor e forever and ever e ninguém me pediu isso, oremos. Segundo
porque eu não acredito em um mais um dá um e eu pude manter minha
individualidade, meus pensamentos e minhas decisões. Incrusível, a outra parte
concordou com a minha maluquice (e especialidade) em manter o negócio em particular. Eu sou
ninja na arte do hidden-date, a sociedade só descobre quando acabou (às vezes
nem assim). E por último, como se tratava de um BFF, eu achava que estávamos
imunes àquela dinâmica idiota de relacionamento “comum”, de ciuminhos e
cobrancinhas e todo o inho que acaba com a alegria de uma boa companhia.
Acontece
que eu estava enganada. A outra parte achou que era amor e eu achei que era
cilada. Acabou.
A
vantagem do relacionamento não amoroso é que ninguém chora quando acaba. É meio
complicado readaptar pro modo amizade sem benefícios, mas depois de um tempo
tudo se ajeita. E com a maravilha do relacionamento sem propaganda, ninguém te
faz perguntas idiotas, tipo “ué, quiqui aconteceu com o fulano?” e tudo fica
bem. E eu achei que seríamos amigos pela vida toda e um dia eu iria ao
casamento dele, só pra rir e dizer SIFERRÔ.
Mas
eu estava enganada de novo, porque nada é simples quando envolve amor, mesmo
que não seja amor. O indivíduo um dia quis relembrar o passado, eu não achei
boa ideia e aí ele fez a única coisa - a ÚNICA - que sabia que poderia me
magoar.
E
fim.
Vez
em quando vem algum desavisado me dar notícias não requisitadas – mas como a
pessoa adivinharia, não é? Raramente alguma coisa que importe. E, como eu acredito
que era o elo entre esse indivíduo e a sociedade (sou muito importante), todos
foram se esquecendo, até que um dia o nome nunca mais foi dito.
Eu
tenho uma facilidade incrível em deletar pessoas do meu eu, mesmo que tenha
sido a pessoa mais importante de um período da minha vida, mesmo que meu amor
amizadístico tenha sido profundo, intenso e fruto de admiração. A pessoa
simplesmente some.
Até
esta madrugada, quando meu cérebro resolveu sonhar com isso. Aliás, no meu
mundo de sonhos tão alucinantes em que eu sempre sei que estou dormindo, o de
hoje fez questão de parecer bem real.
O
cerumano se desculpou pela bobagem, eu aceitei, iniciamos um lindo namoro (que
palavra baixo astral que é essa), com direito a mãozinha dada (hahaha
quequéisso, cérebro) e apresentação pra família.
Até
aí tudo bem, muito fácil psicologuear e entender. Mas o mais engraçado é que o
sonho inteiro eu olhava pras fuça do infeliz e pensava “se eu nem gosto dele,
se ele é capaz de dar uma facada no meu coração, POR QUE RAIOS eu estou fazendo
isso?”.
Acordei
antes de achar a resposta. Estou procurando até agora. Foi pior que pesadelo de
casamento, em que eu nunca consigo entender a razão de cometer um ato de
tamanha insanidade.
No
meu cérebro acordado eu sei que não aconteceria um namorinho nem em um milhão
de anos, mas eu acordei mesmo muito chateada em lembrar que alguém que eu
gostava muito simplesmente estragou tudo, virou as costas e nunca olhou por
cima do ombro pra ver a destruição. Não voltou até hoje pra pedir desculpas. E
provavelmente nem se importa.
Mais
uma história que ninguém nunca vai saber e com a qual eu tenho que lidar
sozinha. Entender porque acabou é fácil, difícil é mergulhar nas coisas que me
fizeram cair na conversinha mole e deixar tudo começar in the first place.
Amizade
é o tipo mais cruel de amor que existe, vou te contar. Não vai existir um
divórcio nesse mundo que doa tanto quando um amigo partido (infelizmente, não
ao meio).
Acho
que vou mandar mais um postal pro post secret.
*este
assunto acaba de ser cremado*