segunda-feira, 9 de maio de 2011

so don't forget to breathe tonight



Não é fácil morar em Curitiba, sabe?

Eu poderia enumerar uns quinhentos motivos aqui, mas eles só serviriam pros mais fanáticos ufanistas virem aqui com sua xenofobia (porque o sul é seus país, né?) me mandarem de volta pra minha terra, TÁ FAZENO O QUE AQUI, SUA PAULISTA MOCORONGA DUZINFERNO?

As if fosse assim tão simples.

E eu sei que eles viriam, porque já aconteceu. Experimenta falar que “penal” não significa estojo neste país procê ver. (Experimenta entrar lá no Houaiss e procurar penal, meus amô.) Nessas hora o que aparece de polícia surpresa me mandando voltar pro buraco de onde eu vim... cêis nem sabe.

Mas divago.

Devo dizer que nunca morei numa cidade perfeita, sabe? E que eu se eu moro aqui, é porque é o menos pior. Mas gente, esta cidade não é perfeita, ué. Whatever. Neste momento, o que mais me irrita em curitola é esse clima.

Na verdade, o que uma pessoa como eu, que tem a saúde completamente afetada pelo clima, vem fazer em curitola... eu não sei. O inverno é lindo, sejemo franco. Mas o verão tem um calor senegalês para o qual ninguém tem ar condicionado suficiente. “Porque aqui é frio, sabe?” Frio meu ovo. Frio no inverno. E o clima é tão indigno que me rendeu uma asma sazonal. Passei 3 meses atracada numa bombinha daquelas que identifica o loser na multidão.

Mas nada, NADA se compara ao outono e a primavera. Uma seca de dar inveja no sertão num dia, uma chuva de dar inveja nas água de março no outro. Ou de repente os climas passam a semana revezando. Ou então tá 5 graus no café da manhã, 35 no almoço e 15 no jantar.

Meu problema mesmo é quando tá seco, tipo a semana passada toda. Minhas alergias todas ficam muito alegres de virem ver o mundo. De modo que eu achei que ia morrer, pela 6571ª vez.

ME DEIXA.

*****

A metafísica outro dia me contou que os problema respiratório tudo vêm de descontentamento com o ambiente e eu nem discuto mais. Só que não só de alergia vive a minha falta de ar. As pessoas me contrariam, eu estresso e pof, não respiro mais.

Quando compretô quatro dias em que botar ar pra dentro e pra fora exigia tanta força que às vezes eu tinha que parar atividades normais periodicamente e me isolar num cantinho com foco total na respiração de modo a manter a vida, eu decidi que era hora de procurar ajuda.

(A frase anterior foi uma tentativa de vos causar falta de ar, admito.)

E isso é um pouco complicado porque eu acho que existem três coisas que não se pede na vida: afeto, opinião e ajuda.

Afeto PORQUE NÉ?

Opinião porque não tô interessada mesmo, nem vou tentar vos enganar-lhes.

E ajuda porque eu acho que sou a xirra e não preciso.

Quase nunca, pelo menos. Quando eu preciso, eu peço. E eu não sei vocês, mas quando eu peço ajuda, eu me deixo ajudar (eu acho).

E quando nada mais em que você acredita funciona, quiqui cê faz? Apela. Eu apelei. Não só tava lá toda trabalhada na leitura crítica do livro de metafísica, como atentei para o detalhe que dizia que técnicas hindus de respiração ajudam e blábláblá. Fui então procurar a pessoa mais especializada em respiração hindu que eu conheço, né? Socorro, moça, eu não consigo respirar.

É ca-la-ro que eu sabia que não ia ser uma coisa simples. Até eu chegar no objetivo, eu tinha que passar por duas fases de meditação. Gente, nem peço mais pras pessoas não rirem, porque eu não rio mais. Qué rir, ri, gente. Este país é livre.

Pois na primeira fase de meditação, sem que eu tenha contado pra ela meu drama com estações do ano e o que me afligia o coração de pedra naquele instante, eu tinha que visualizar uma parada, numa vibe escola de samba, promovida pelos meus amigos primavera, verão, outono e inverno. Cada um com a sua caravana, cada um trazendo um presente. Aí depois eu tinha que contar o que eles me deram de presente.

O verão deu uma bola colorida, ó que meigo. A primavera me deu uma tulipinha vermelha, nada demais também. Aí o inverno me deu um cachecol azul e eu super descobri que azul é a cor do chakra da garganta e que isso super representava a minha necessidade de trabalhar esse chakra, metafisicamente (o que, convenhamos, eu já sabia). Aí o outono me deu a coisa que eu menos entendi. Uma concha e uma pérola. Tá ligado a concha da pequena sereia? Uma dessas cor de marfim e uma pérola gigante dentro. A moça me disse que isso significava que eu tinha perdido alguma coisa importante, mas estava prestes a achar um tesouro. Oremos.

Depois veio a segunda parte da meditação. E eu aceitei deitar no chão, num colchão mais fino que a Glória Kalil, descalça, de barriga pra cima, luz apagada, com as mãos no meu coração estraçalhado e visualizar uma luz cor de rosa. Acontece que deitar sempre piora minha asfixia (que justamente por isso não tinha me deixado dormir na noite anterior). Acontece que eu deitei e, pela primeira vez em quatro dias, consegui respirar como se tivesse nascido sabendo. Botei fé na luz rosa e fui.

Depois de sei lá quantos minutos, eu tive que fazer a posição do feto. E ali, naquela sala escura e fria, em que eu deitava sem sapato (é muito difícil passar por esta vida sem sapato) e em posição fetal, eu senti alívio, eu senti o ar, eu não senti nada e eu senti uma sensação muito conhecida pra minha própria pessoa.

Solidão.

*****

Meu livro “o amor a solidão” me ensina muito sobre esse estado que me acompanha desde sempre. Mas não vem ao caso agora.

Porque minha solidão não é familiar. Eu fui um bebê apertado. Minha família é grudenta. Às vezes eu chego a achar que eu e minha irmã fomos siamesas numa vida passada de tantos que a gente vive grudada nesta. Sabe? A pessoa que tem 30 anos e um trabalho, mas não sai de casa, é porque gosta de ficar lá, né? Dessa solidão eu não sofro.

De solidão amizadística eu também não sofro. Não com pessoas na minha vida como Bergamoto Tangerino, que quase se rasga quando descobre que eu caí no choro pelas ruas da vida e não liguei pra ele pra pedir socorro. Que me manda mensagens o tempo todo, só pra ter certeza de que tá tudo bem, mesmo quando eu não falo nada. Não com amigos como *********, cuja identidade eu super acho melhor preservar, que me manda mensagem pra dizer “não te liguei porque sei como você odeia falar no telefone, mas posso te ligar pra ouvir sua voz?”. Não com amigos como ela, ele e ele, que eu nem vou tentar explicar. Não com o support group dos emeios diários, cheios de maluquice e convite pra comer. Em uns OITO estados diferentes. Até pro acre eu posso ir, que vai ter alguém me esperando pra tomar lanche. Não é essa solidão também.

Solidão amorosa é uma coisa sobre a qual eu não vou falar, porque pra acreditar em solidão amorosa a pessoa tem que acreditar primeiro em amor. Ficamos devendo.

Ou, de repente, a solidão é mesmo essa aí.

A completa falta de fé na capacidade de apreciar incondicionalmente a companhia de outro cerumano, a ponto de assinar um contrato, dividir uma casa, um quarto, uma cama e um cobertor.

Não tenho, não quero, mas tenho impressão de que deveria ter e querer.

Porque cada dia mais amigos insistem e formar parzinhos e inviabilizar a vida social de quem não tem um. E eu não estou falando de cair na balada e pegação, que essas coisas nunca fizeram meu tipo. Mas um simples jantar numa mesa fica todo torto se o número de pessoas é ímpar. E ninguém me convida mais, pra configuração não ficar feia.


Agora eu tenho impressão de ser o último dos ímpares.


E eu vou parar de falar disso, porque não faz nem 48 horas que eu tô respirando direito, não vamos estragar.


*****

Quando alguém te sugere o eHarmony, é porque seu poço não tem muito mais pra onde cavar.