terça-feira, 17 de maio de 2011

Friday, Friday, gotta get down on Friday


Aí eu fui no bobódromo, né?

Bobódromo é o tipo de experiência que você acha que só vai ter em cidades do interior, aí você vira adultinho e percebe que bobódromo tem em tudo que é lugar.

Se você cresceu num prédio (ou, sei lá, numa megalópole e sem vó no interior) e não sabe o que é bobódromo, é o que também é conhecido como açougue em algumas cidades: aquela avenida com alta concentração de estabelecimentos de funcionamento noturno, pra onde todas as meninas vão se exibir (açougue) e tudo os bobo vão ficar girando com seus automóvel compatível com o PIB do local, até decidir onde entrar de acordo com o público que se exibe na porta.

O cerumano básico só considera o bobódromo como alternativa de diversão até virar adulto. Mas todos sabe que fazer 18 anos (ou 21, ou 25 ou 30) não garante nada. Outra coisa: ainda que haja algo do interesse de uma pessoa adultinha por ali, o fluxo de velhos costuma acontecer mais cedo. Umas 19h (18h, até, dependendo da qualidade do double drink OU do double food), os dinossauros sociais já estão localizados no bobódromo. De modo que por volta de 23h, já não há mais o que fazer por ali e todos vão pra casa (ou pra algum lugar melhor. Porque ir ao bobódromo parece mesmo muito com morrer, eu acho).

O bobódromo padrão tem quatro tipos básicos de estabelecimentos: baladas, bares, diners e posto de gasolina.

Baladas são aqueles lugares onde a pessoa chega depois das 23h, sendo, portanto, incompatíveis com a vida do cerumano adulto. Eu acho que a última vez em que eu estive numa balada (kkk) foi lá por 2001, e eu ainda tinha 20 anos. Porque eu adultei tarde (acho que não adultei ainda, pra ser sincera, mas nesse quesito aí eu venci). Geralmente as meninas usam saias pequenas e saltos grandes, todos os cabelos são compridos, lisos e com luzes, sandálias brancas são um item de vestuário aceito e os perfis dos orkuts dessas pessoas contam com comunidades “eu sou pra casar” ou “deus me disse: desce e arrasa”. Os meninos usam sapatênis e camisa de listinhas verticais, geralmente a única que eles têm da pólo, da lacoste ou da Tommy para vantagem competitiva e entre suas comunidades do Orkut está “solteiro sim, sozinho nunca” ou “o dia é dos namorados, a noite é dos solteiros”.

Os bares têm a vantagem competitiva (ou não) do double: uma forma de atrair babaca bêbado o cidadão de bem, num horário mais cedo. Não sei vocês, mas depois que a gente cresce deixa de ser aceitável ficar numa fila maior que a vida pra entrar num lugar lotado, em que eu vou continuar em pé, usando um salto maior que o pipi de muita gente a space needle. Outro dia, eu tava ali na rota do bobódromo, mas num lugar de gente velha – como se deve ser – com vista privilegiada pra um desses bares. Menos dezoito graus em Curitiba e as piriguete tudo com calor, montadas nos seus saltos, ao lado dos calega cas camisa de listinha e casaco de couro falso, dobrando a esquina na fila. E o lugar lotado. TRÊIZORA da madrugs. Tenho paciência não. A última vez que visitei um bar de bobódromo foi lá por 1997, quando eu ainda tinha 16 anos.

Diners são vida. Primeiro: os babaca juvenil não vão em diner, porque comer é caro e consome o dinheiro da Skol engorda. O que essa gente não sabe é que até as 20h tem double de COMIDA. Comida boa. (Comida boa as in sanduíches maiores que minha cabeça, batata frita e refrigerante). Pra minha vida ficar melhor, é só incluírem bebidas não alcoólicas no double de bebida e eu declaro amor eterno. A gente pode ir lá vestido de hipster e camuflar na decoração. Ou seja: all star no pé, casaco, cachecol e óculos de coração. Nada de dor pra andar, nada de passar frio. É mágico. O único problema desses lugares é a localização mesmo. Obviamente, era lá onde eu estava.

E posto de gasolina. Bom, aí é onde ficam os usuários de celular sem fone no ônibus. Durante a semana eles te irritam no meio de transporte coletivo, com um celular podre, comprado em nove mil prestações. No final de semana eles te perturbam com o Chevette tunado estacionado no posto de gasolina do bobódromo, onde eles sentam na calçada, na mureta, ou onde sobrar espaço, abrem suas latas de nova schin quentes compradas no supermercado e colocam música ruim pelas ruas da cidade. Passei perto de um desses em 1995, eu me lembro. Porque o menininho de quem eu gostava estava enfiado no carro de um amigo adepto. Cabô o amor em 23 segundos, foi incrível.

*****

Só dels sabe o que eu passo.

Pois eu estava lá no bobódromo fazia horas, já estava começando a ficar incompatível com a paisagem pelo horário de migração de piriguetes, tinha mais o que fazer e ia de taxi. Quiqui eu fiz? Uma coisa que eu já disse pro amiguinho de casa nunca fazer. Em vez de ligar pra minha empresa favorita, fui até o ponto. BEM FEITO.

Sabe, o senhor não gosta de gente burra. Aí ele pune os babaca que dão tanto mole pro azar num dia só: freqüentar bobódromo e usar taxi de ponto de rua te fazem experimentar um pedacinho do inferno na terra. Agora, se você for ao ponto de taxi e o primeiro deles já aceitar cartão, meua migo, you’ve been punk’d.

Aí eu entrei no taxi e disse o nome da rua pra onde estava indo. E vos digo: uma rua bem famosa, todos conhece. Aí vira o taxista:

- comequié a rua?

Eu repito.

- nossa, não sei nem falar o nome dissaê.

- então tá bom. Eu desço e pego outro taxi, beijomeliga.

- não! Eu tenho GPS. Fica, vai ter bolo, tudo vai dar certo.

Eu fico.

O cara começa a dirigir na direção certa, eu acredito. Aí ele olha no retrovisor e eu sei que o horror está apenas começando.

- já tá indo embora?

- já.

- mas por que tão cedo? Ta bêbada?

- não.

- por causa do frio?

- não, porque eu sou velha.

- velha quanto? 21? 20?

- trinta.

- QQQQQQQQQ???//11

- pois é. Trinta.

Silêncio.

Não dura.

- o bom é que eu vou saber onde você mora, né? Cê é bonita. E simpática.

Simpática. Eu juro que ele falou simpática.

- não vai saber não, que eu não tô indo pra casa.

- tá indo pra onde?

- pra uma festa.

- posso ir juntAAAAAAAAAHhhhhhhhrgGGGGGGGGGhghhhhh

Isso aí foi um grito.

O moço gritou porque no meio do caminho tinha um cemitério, tinha um cemitério no meio do caminho.

- QUE FOI, MOÇO, PELAMORDEDEUS?

- o cemitério, moça. Se eu andar mais perto, as alma pode me pegar.

CÊ JURA. CÊ.JURA.

Aí, numa rua de três faixas, o babaca anda na de estacionamento. Porque quanto mais longe, mais seguro.

Nesse momento, quando eu acho que nada mais pode piorar, quiqui ele faz? Vira pro lado errado da rua.

- moço, não é por aí que vai onde eu tô indo.

- mas o GPS disse que é.

- mas eu tô dizendo que não é. Dá a volta por favor.

Ele dá a volta e se perde. Onde que a gente sai? Na rua de trás do cemitério, onde um caminhão da prefeitura está parado, com funcionários podando as árvores por cima do muro. O motorista entra em surto, dizendo que as almas vão pegar os pobres cortadores de árvores, DÁ RÉ, e se recusa a andar por aquela rua, porque é muito estreita e fica perto demais do cemitério.

Como eu acredito que babaquice tem limite, nessa hora eu achei que a) ele estava querendo me extorquir ou b) abusar da minha pessoa. Mas ele continuava dizendo que estava perdido e rodando como Berenice pelas ruas. E eu, revirando minha bolsa inteira atrás de alguma coisa que pudesse usar como arma. A única coisa em que eu consegui pensar foi quebrar as cartelas de comprimido (parabéns) pra usar de faca. NÃO É FÁCIO.

Depois de três voltas inúteis e de nunca achar a rua, com GPS e tudo, eu mandei ele parar. PARAQUIAGORAQUEUVOUDESCER. Se ele não parasse, eu ia me jogar do carro em movimento, cêis não tão entendendo. Aí ele parou e eu desci. No meio de um bairro que não é exatamente user friendly, sem a menor noção de onde eu estava, ONZE HORA DA NOITE. Porque todo castigo pra bobo é pouco e esse foi o meu.

Nessa hora eu fiz o que toda pessoa sensata faria: chorei. E aí procurei civilização. Entre um tubo e um posto de gasolina, parei no tubo. Mandei 2394857 mensagens de texto me despedindo dos entes queridos e dei aqueles lindo telefonema de resgate. Aí a cavalaria veio, me buscou e todos passa bem.

Menos o taxista, eu espero. Que se minhas praga pegaram, em plena sexta feira 13, o infeliz deve ter sido carregado pelas almas atormentadas do cemitério.

Ou pelo Jason, tanto faz. (E ficaria até bonito no contexto.)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

so don't forget to breathe tonight



Não é fácil morar em Curitiba, sabe?

Eu poderia enumerar uns quinhentos motivos aqui, mas eles só serviriam pros mais fanáticos ufanistas virem aqui com sua xenofobia (porque o sul é seus país, né?) me mandarem de volta pra minha terra, TÁ FAZENO O QUE AQUI, SUA PAULISTA MOCORONGA DUZINFERNO?

As if fosse assim tão simples.

E eu sei que eles viriam, porque já aconteceu. Experimenta falar que “penal” não significa estojo neste país procê ver. (Experimenta entrar lá no Houaiss e procurar penal, meus amô.) Nessas hora o que aparece de polícia surpresa me mandando voltar pro buraco de onde eu vim... cêis nem sabe.

Mas divago.

Devo dizer que nunca morei numa cidade perfeita, sabe? E que eu se eu moro aqui, é porque é o menos pior. Mas gente, esta cidade não é perfeita, ué. Whatever. Neste momento, o que mais me irrita em curitola é esse clima.

Na verdade, o que uma pessoa como eu, que tem a saúde completamente afetada pelo clima, vem fazer em curitola... eu não sei. O inverno é lindo, sejemo franco. Mas o verão tem um calor senegalês para o qual ninguém tem ar condicionado suficiente. “Porque aqui é frio, sabe?” Frio meu ovo. Frio no inverno. E o clima é tão indigno que me rendeu uma asma sazonal. Passei 3 meses atracada numa bombinha daquelas que identifica o loser na multidão.

Mas nada, NADA se compara ao outono e a primavera. Uma seca de dar inveja no sertão num dia, uma chuva de dar inveja nas água de março no outro. Ou de repente os climas passam a semana revezando. Ou então tá 5 graus no café da manhã, 35 no almoço e 15 no jantar.

Meu problema mesmo é quando tá seco, tipo a semana passada toda. Minhas alergias todas ficam muito alegres de virem ver o mundo. De modo que eu achei que ia morrer, pela 6571ª vez.

ME DEIXA.

*****

A metafísica outro dia me contou que os problema respiratório tudo vêm de descontentamento com o ambiente e eu nem discuto mais. Só que não só de alergia vive a minha falta de ar. As pessoas me contrariam, eu estresso e pof, não respiro mais.

Quando compretô quatro dias em que botar ar pra dentro e pra fora exigia tanta força que às vezes eu tinha que parar atividades normais periodicamente e me isolar num cantinho com foco total na respiração de modo a manter a vida, eu decidi que era hora de procurar ajuda.

(A frase anterior foi uma tentativa de vos causar falta de ar, admito.)

E isso é um pouco complicado porque eu acho que existem três coisas que não se pede na vida: afeto, opinião e ajuda.

Afeto PORQUE NÉ?

Opinião porque não tô interessada mesmo, nem vou tentar vos enganar-lhes.

E ajuda porque eu acho que sou a xirra e não preciso.

Quase nunca, pelo menos. Quando eu preciso, eu peço. E eu não sei vocês, mas quando eu peço ajuda, eu me deixo ajudar (eu acho).

E quando nada mais em que você acredita funciona, quiqui cê faz? Apela. Eu apelei. Não só tava lá toda trabalhada na leitura crítica do livro de metafísica, como atentei para o detalhe que dizia que técnicas hindus de respiração ajudam e blábláblá. Fui então procurar a pessoa mais especializada em respiração hindu que eu conheço, né? Socorro, moça, eu não consigo respirar.

É ca-la-ro que eu sabia que não ia ser uma coisa simples. Até eu chegar no objetivo, eu tinha que passar por duas fases de meditação. Gente, nem peço mais pras pessoas não rirem, porque eu não rio mais. Qué rir, ri, gente. Este país é livre.

Pois na primeira fase de meditação, sem que eu tenha contado pra ela meu drama com estações do ano e o que me afligia o coração de pedra naquele instante, eu tinha que visualizar uma parada, numa vibe escola de samba, promovida pelos meus amigos primavera, verão, outono e inverno. Cada um com a sua caravana, cada um trazendo um presente. Aí depois eu tinha que contar o que eles me deram de presente.

O verão deu uma bola colorida, ó que meigo. A primavera me deu uma tulipinha vermelha, nada demais também. Aí o inverno me deu um cachecol azul e eu super descobri que azul é a cor do chakra da garganta e que isso super representava a minha necessidade de trabalhar esse chakra, metafisicamente (o que, convenhamos, eu já sabia). Aí o outono me deu a coisa que eu menos entendi. Uma concha e uma pérola. Tá ligado a concha da pequena sereia? Uma dessas cor de marfim e uma pérola gigante dentro. A moça me disse que isso significava que eu tinha perdido alguma coisa importante, mas estava prestes a achar um tesouro. Oremos.

Depois veio a segunda parte da meditação. E eu aceitei deitar no chão, num colchão mais fino que a Glória Kalil, descalça, de barriga pra cima, luz apagada, com as mãos no meu coração estraçalhado e visualizar uma luz cor de rosa. Acontece que deitar sempre piora minha asfixia (que justamente por isso não tinha me deixado dormir na noite anterior). Acontece que eu deitei e, pela primeira vez em quatro dias, consegui respirar como se tivesse nascido sabendo. Botei fé na luz rosa e fui.

Depois de sei lá quantos minutos, eu tive que fazer a posição do feto. E ali, naquela sala escura e fria, em que eu deitava sem sapato (é muito difícil passar por esta vida sem sapato) e em posição fetal, eu senti alívio, eu senti o ar, eu não senti nada e eu senti uma sensação muito conhecida pra minha própria pessoa.

Solidão.

*****

Meu livro “o amor a solidão” me ensina muito sobre esse estado que me acompanha desde sempre. Mas não vem ao caso agora.

Porque minha solidão não é familiar. Eu fui um bebê apertado. Minha família é grudenta. Às vezes eu chego a achar que eu e minha irmã fomos siamesas numa vida passada de tantos que a gente vive grudada nesta. Sabe? A pessoa que tem 30 anos e um trabalho, mas não sai de casa, é porque gosta de ficar lá, né? Dessa solidão eu não sofro.

De solidão amizadística eu também não sofro. Não com pessoas na minha vida como Bergamoto Tangerino, que quase se rasga quando descobre que eu caí no choro pelas ruas da vida e não liguei pra ele pra pedir socorro. Que me manda mensagens o tempo todo, só pra ter certeza de que tá tudo bem, mesmo quando eu não falo nada. Não com amigos como *********, cuja identidade eu super acho melhor preservar, que me manda mensagem pra dizer “não te liguei porque sei como você odeia falar no telefone, mas posso te ligar pra ouvir sua voz?”. Não com amigos como ela, ele e ele, que eu nem vou tentar explicar. Não com o support group dos emeios diários, cheios de maluquice e convite pra comer. Em uns OITO estados diferentes. Até pro acre eu posso ir, que vai ter alguém me esperando pra tomar lanche. Não é essa solidão também.

Solidão amorosa é uma coisa sobre a qual eu não vou falar, porque pra acreditar em solidão amorosa a pessoa tem que acreditar primeiro em amor. Ficamos devendo.

Ou, de repente, a solidão é mesmo essa aí.

A completa falta de fé na capacidade de apreciar incondicionalmente a companhia de outro cerumano, a ponto de assinar um contrato, dividir uma casa, um quarto, uma cama e um cobertor.

Não tenho, não quero, mas tenho impressão de que deveria ter e querer.

Porque cada dia mais amigos insistem e formar parzinhos e inviabilizar a vida social de quem não tem um. E eu não estou falando de cair na balada e pegação, que essas coisas nunca fizeram meu tipo. Mas um simples jantar numa mesa fica todo torto se o número de pessoas é ímpar. E ninguém me convida mais, pra configuração não ficar feia.


Agora eu tenho impressão de ser o último dos ímpares.


E eu vou parar de falar disso, porque não faz nem 48 horas que eu tô respirando direito, não vamos estragar.


*****

Quando alguém te sugere o eHarmony, é porque seu poço não tem muito mais pra onde cavar.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Pierre Cardin, o senhor só pode estar de sacanagi



Quando John Frederick Spinks escreveu “Your Love”, aposto que ele não imaginou a ironia dos versos...

So many things that I wanna say

You know I like my girls a little bit older

I just wanna use your love tonight

I don't wanna lose your love tonight

…tocando aleatoriamente no rádio, num domingo à noite, quase 30 anos depois.

Aliás, de todas as pessoas que por acaso estavam ouvindo aquela mesma rádio, naquela mesma hora (inclusive do meu lado), eu muito acho que só eu prestei atenção na música. E na ironia.

*****

Quisera eu que Your Love fosse a única canção em looping na minha cabeça neste dia. Ela disse adeus vai revezando com ela enquanto o dia passa. Vou abrir o youtube e botar um gayatri mantra, porque não tá fácio pra ninguém.

*****

Essa semana, as in período de sete dias patrasmente, foi muito estranha. Eu tive que abrir mão de duas coisas que eu não queria. Sabe quando parece que você está num filme e está naquele momento em que tudo dá errado antes de acabar? Pois então. Eu espero que o poço não seja mais fundo que isso (desculpa, dona Maria do Bairro, mas djô sofro mutcho) e daqui pra frente minha história se encaminhe pra alegria da mocinha. Eu, no caso. Vamos torcer.

*****

Disk psicologicamente o ato de ser capaz de arrumar o próprio armário é muito revelador a respeito da pessoa humana, enquanto indivíduo mentalmente saudável.

Eu provavelmente adquiri essa sabedoria em alguma das minhas revistas Capricho compradas no meio dos anos 90. Também pode ter sido numa daquelas Nova que minha mãe empilhava e onde eu descobri também muitos segredos sobre sëx muito antes de saber o que era, pra que servia e com quem fazia, mas vamos assumir que tenha algum fundo de verdade. Aquela pregs de procurar no Google.

Pois então, qualquer que tenha sido a fonte desse incrível fato psicológico, dizia que se a pessoa é capaz de arrumar o próprio armário, isso significa que ela é capaz de adaptar a vida às adversidades e contrariedades do caminho. E se, além de arrumar, é capaz de jogar coisas fora, isso significa muita aptidão pra ir em frente depois dos tropicão figurado que essa vida nos dá em forma de rasteira.

Olha, se isso for verdade, eu e minha irmã samo as campeã mundial intergaláctica de recuperação e adaptação. Nunca vi dois cerumano mais arrumador de armário na vida. E eu sou a senhora saco de lixo. Cada arrumação é vinte litro de coisa que vai embora. Desde lixo de verdade até coisa que super presta, mas eu não uso mais, vai tudo embora. Sou muito adaptável. Tchau, camiseta de coraçõezinhos número 427, tchau bota preta de sola grossa, tchau casaquinho multi colorido, tchau caixa da máquina fotográfica analógica, tchau agenda 1998. Sacoé? Notei a presença, não tava usando, vai embora. Fim. Sem amor no coração.

*****

Eu não classifico a minha própria pessoa como consumista. Eu gosto de agendas, eu gosto de livros, eu gosto de DVDs, eu gosto de bijuteria, eu gosto de roupas, eu gosto de tralhas fotográficas. DVDs, livros, bijus, filmes, lentes, negativos, fotos e coisas do tipo eu não jogo fora. Mas agenda, roupa e tudo que não se encaixa nas categorias anteriores só fica no armário o tempo que for útil. E eu tenho a lei da compensação das meninas mongolóids gravada no coraçón: uma roupa nova entra, uma roupa velha sai.

Fiquei feliz ao encontrar lindos casaco no xópem, porque tinha dado alguns pra minha mãe dias antes e tava com crédito de armário. Mesmo assim, o casaco era muito grande e eu precisava de espaço. Abri a porta do armário onde queria que ele ficasse e me dei conta de onde estava sendo gasto o espaço.

*****

Eu tenho uma mania estúpida, que não tem como evitar e eu não vou, porque você não manda em miiiim: eu compro presentes. O tempo todo, enlouquecidamente, pra todo mundo. Pra todo mundo que eu gosto, obviamente. De modo que uma parte meio grande do meu armário está comprometida, porque eu tento não assustar as pessoas. Assim, gente que eu sei que vai compreender a minha maluquice ganha as coisas assim que eu compro. Mas tem gente que não compreende bem como isso funciona dentro da minha cabeça, então eu tenho que deixar algumas coisas reservadas pra datas dignas de presenteação ou pra que passe um período de tempo que garanta que eu não seja vista como biruta (É memo, é? Não.)

Aí fica lá meu armário entupido de tranqueira.

Se esse post tivesse sido escrito na sexta, por exemplo, eu reclamaria de uma leva de presentes adquiridos no natal que ainda não tinham ido morar na casa do verdadeiro dono e estavam só atrapalhando, mas tá tudo bem agora. Só que tem várias categorias de tranqueira lá: coisas que eu só estou esperando um encontrinho com o dono, coisas que eu comprei, lembro pra quem foi, mas não lembro a razão e não tem como entregar simplesmente (Tipo um jacaré de pelúcia. Eu deveria ter escrito uma note to self e pregado nele, simplesmente não lembro o contexto e não dá pra tacar um jacaré na cara da pessoa sem explicar a piada.), coisas que são extremamente específicas pro ganhador e não podem ser aproveitadas de nenhuma outra forma.

Essa última categoria acaba sendo um problema. Porque eu tenho a tendência a me afeiçoar a gente que não vale nada e acabo com um playmobil astronauta comprado no mercado livre, depois que já não tenho mais nenhum amigo astronauta, ou um manual de como se relacionar com um iguana, apesar de não ter mais nenhum amigo possuidor de iguana, ou uma réplica de um quadro da Frida Kahlo, apesar de não ter mais nenhum amigo apreciador da arte dela. Tô cheia de presente que eu comprei pra babaca e que ficou sem destino, quando eu recuperei minha capacidade de raciocínio.

Agora se eu contar que fiz um novo amigo astronauta e ele achou o máximo ganhar o playmobil, você acredita? Se eu contar que um outro comprou um iguana, assim, do nada, parece absurdo? E se eu disser que um adorador da Frida acabou por despencar na minha frente? Pois é. Aí rolou toda uma reciclagem de presentes e tal. O bom é que alivia o armário e faz os otro feliz ao mesmo tempo.

Só que tem lá ainda toda uma caixa gigante com coisas que não vão ter destino. Tipo quinhentos mil personagens d’A Era do Gelo. Acho simpático, mas não o suficiente pra pegar pra mim. E tem o jacaré de pelúcia, que ocupa um espaço infinito. E copinhos de caipirinha (que que EU vou fazer com isso?). Umas tralha dos Star Wars (me processa). Uns talheres com carinhas (mas esse eu mereço. Comprei igual pra 98 pessoas, tem mais uns 8 lá em casa, acho que eles estão se multiplicando na caixa bendita.). Uma toalha super colorida com o Taz desenhado. E isso não é nem metade da tralha que mora lá. Toda vez que eu esqueço do aniversário de alguém, eu vou lá remexer a caixa mágica, ver se eu acho alguma coisa que entre no contexto e me libere espaço.

Agora, a coisa mais imbecil que eu já comprei na vida e que não tem ninguém de quem eu desgoste o suficiente pra dar é o livro Doutor Jivago. Porque assim: se o filme que é filme é o mais chato da história, você imagina o livro.

Qué dizê, não sejemo injusto. O filme mais chato da história são dois: o piano e moulin rouge. Duas únicas vezes na vida que eu parei de ver um filme no meio e fui viver. O piano eu larguei mão sem dó. Moulin rouge eu ainda tentei passar acelerado pra ver como acabava aquela tortura, mas nem assim foi possível. Espero que todos tenham morrido de dor de barriga.

O segundo filme mais chato da história é closer. Cêis vai me perdoar, mas eu tenho DÓ de quem se identifica com esse filme. Sério. Tenho mais dó ainda de quem acha que ele é a representação fiel da dinâmica amorosa do universo. Eu posso não ter coração, mas até eu sei que aquilo ali é a extrema porquice. Se cêis acha válido, favor lavar a mão e passar álcool quando quiserem encostar em mim. Ou, sei lá, terminemo nossa amizade por aqui mesmo, que não vamo chegar em lugar nenhum. Meu consolo é que nesse filme todos morre de DST.

E aí vem Doutor Jivago. Aquele lixo infinito, em que o tema de Lara toca uma base dumas 738 vezes, nos levando a pensar que direitos de musga nessa época deviam custar a hora da morte, porque NADA justifica que uma música se aplique a todos os momentos musicais de um troço que leva quase quatro horas pra acabar! E se você não gosta de spoiler, ficaqui meu tchau, porque eu vos digo: depois de toda essa tortura, o fidumaronquifuça do Yuri me faz o favor de morrer A CINCO FUCKING PASSOS DA LARA. Só que nas costas dela. E ela não vê. E ela nunca via saber que o Yuri dos inferno foi atrás dela no final.

Se eu odeio final infeliz, esse é o mais infeliz dos finais infelizes da infelizlândia.

Não há quem possa, em sã consciência, querer esse livro.

O filme eu já dei pra minha vó, super faz sentido ela gostar. Mas o livro tá lacrado, ocupando espaço na minha estante. Se você quiser, favor colocar endereço completo nos comentários e eu te mando, junto com meus mais sinceros votos de que você sobreviva.

*****

Eu quase morri essa noite (literalmente). Depois de meses longe de uma E.R., eu considerei seriamente a necessidade de ir a uma delas lá pelas 3:30h da madrugs, lá pelo décimo oitavo asfixiamento da noite. Se eu já não tivesse passado uma semana alergicamente maligna, eu atribuiria isso à contrariedade da vida e à necessidade de arrumar meu armário (ahá, você não imaginava que essa baboseira toda estivesse conectada, não é mesmo, meua migo?).

Mas o caso é que todos os presentes que valiam a pena esperar pra ser entregues já foram, todas as roupas que mereciam ser doadas já foram, todo o lixo já foi jogado fora. Resta agora eu lembrar como é que se respira de forma involuntária.

Eu vou lá recuperar meu livro de metafísica e ver o que significa quando a gente não consegue respirar. Disk as parada hinduísta ajuda nesse trem de respiração, de modo que vou falar com minha assistente para assuntos hindus e pedir socorro.

Aí eu fiz uma pausinha pra ler o livro de metafísica e não vou concluir esse raciocínio infinito. Vou deixar vocês com a opinião de um especialista. Um beijo nas ponta dos vossos nariz.

A inspiração é a absorção do oxigênio contido no ar, que é levado aos corpúsculos vermelhos contidos no sangue. É o ato em que os elementos externos penetram no mundo interno. Inspirar refere-se à sua capacidade de absorver a vida. (...)

O processo respiratório expressa a capacidade de absorver e se expor, ao âmbito da troca, do dar e receber. Se a pessoa lidar bem com isso em sua vida, seu sistema respiratório será saudável. Porém, se tiver uma relação problemática entre ela e o mundo, isso irá refletir nesse sistema, provocando alguma doença. De acordo com a doença respiratória, pode-se compreender melhor as complicações internas nessa área da vida.

Em geral, qualquer problema respiratório está relacionado com a dificuldade em lidar com o ambiente. Demonstra que a pessoa não está suficientemente aberta para os acontecimentos à sua volta, tampouco sente-se livre para se expressar. Resistir ao que se passa no ambiente, bem como não ser espontâneo diante da situação, é altamente nocivo para o mecanismo respiratório.

AHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHA

Xoxo,

Contrariadinha da estrela.









I ain't got many friends left to talk to
No-one's around when I'm in trouble
(Lágrimas por ninguém, só porque é triste o fim.)