(não)
Eu sei que este blog nem parece tão véio assim, mas eu só mudei pra cá quando a situação ficou insustentável no blogger.br, então pra mim é tudo o mesmo, que eu tô usando faz uns 20 anos já (vinte não faz, mas faz uns bons quinze). E em vários momentos eu sinto a mesma coisa que estou sentindo agora:
Este blog não me satisfaz mais.
Porque eu não sou ~artista iluminada~ que se inspira com desgraça, tristeza e nada. Eu gosto de coisas felizes e engraçadas, sabe? Quando acontecem longos períodos de nada tendendo ao negativo, eu só quero ficar quieta. E uma das razões pra isso é que chega um ponto, depois de milhões de anos, que as pessoas que leem o que você escreve são muito íntimas ou acreditam que são, porque leem sobre sua vida há tanto tempo.
De modos que todo mundo se torna um insuportável caga regra.
Cê vem aqui falar de tristeza ou mimimi e as pessoas acham super ok mandar você se tratar hahaha. Amigue, você diz isso na cara das pessoas dessa forma rude? Qual a diferença? Cê vem reclamar de solidão e seus amigos se ofendem, mas no dia que você precisa da presença das pessoas, elas têm alguma coisa mais importante pra fazer e não é culpa delas ou elas estavam disponíveis sim, você que não chamou.
Depois que passou, todo mundo tava lá pra dar a mão, né?
Ontem, por exemplo.
Não, péra, um parêntese.
Talvez alguns de vocês saibam que se tem uma coisa que eu não suporto na minha vida, essa coisa é gente que tem uma característica maior que o todo. Explico: sabe aquela pessoa que quando você precisa identificar, você diz o nome e UMA característica e todo mundo já sabe quem é? Fulano + um nome de time. Fulano + uma religião. Fulano + uma característica física não apreciada. Eu acho isso péssimo. Tem coisa que a pessoa traz pra si mesma, né? Como a insuportabilidade de declarar o tempo todo pra que time torce. Vai na esquina e carrega uma bandeira, PELAMOR, CHAMPS, calm your tits, é só um time. Mas tem coisa que a pessoa simplesmente é. Tipo o Zé Gordão. Ok, gente, o Zé pode até comer demais e se recusar a fazer regime ou exercícios, mas gordo é o que o Zé É. Maria nariguda. Maria nasceu assim, gente. Ela não fica carregando uma bandeira do nariz ou tentando convencer ninguém que narigão é magia, você deveria ter um. E tem essas coisas (gordura, nariz grande) que a maioria das pessoas não quer ter ou ser, mas não tem alternativa, sabe? Então é um porre quando você usa isso pra identificar a pessoa.
A razão desse parêntese?
Outro dia uma pessoa queria me identificar sem dizer meu nome e me chamou de miss alergia. Eu nunca imaginei na minha vida o quanto isso me ofenderia, mas eu quis estourar a cara da pessoa. Ser alérgica é uma condição que independe da minha vontade (até porque, QUEM em sã consciência quereria viver com medo de morrer porque tá lá, sei lá, respirando?), que é eterna e incapacitante, que ninguém compreende, nem quem passa por isso. Outro dia uma pessoa me viu por 3 dias seguidos, nos 3 eu estava sustentando uma crise avassaladora. Aí a pessoa achou super conveniente dar seu diagnóstico médico imaginário e eu ignorando, até ela dizer "ninguém tem uma alergia que dure tanto". Pois é, ninguém. Tô aqui inventando porque eu curto um papel de coitadinha.
Se possível fosse, ninguém jamais saberia que eu sou alérgica. Mas tem um limite de "gripada de novo?" que a gente ouve na vida antes de explicar. Ainda assim, tem um limite de não quero comer isso, não posso ir nesse lugar, não tenho condições físicas pra isso, odeio dias de sol que eu preciso repetir um milhão de vezes, porque um simples "não quero e não posso" não são suficientes. Então eu tenho que explicar, né? ISSO.VAI.ME.MATAR. etc. É culpa de vocês, isso. Eu tô aqui só vivendo precariamente.
Fim do parêntese.
Eu fiz essa pausinha aí pra falar sobre ontem.
O problema da pessoa alérgica é que ela nunca sabe se está tendo uma crise ou se está tendo uma coisa completamente diferente, que qualquer outro cerumano poderia ter em qualquer momento. Demora um pouco pra identificar se é crise ou resfriado, crise ou gripe, crise ou enjoo, crise ou tuberculose. E geralmente é lá pelo terceiro dia de antialérgico não operante - e por antialérgico eu digo e terceiro comprimido ADICIONAL por dia - que você entende que se não melhorou, não é alergia.
Pois eu fiquei segunda, terça e quarta com uma tosse incapacitante. Mas teve umidade do ar menor que 30%, ventania e tempestade num mesmo dia, as três piores coisas pro meu tipo mais grave de alergia. Aí eu pensei que tava só morrendo mesmo, bem simples. Tomei o antialérgico do dia, o mais forte e o hard-core-motherfucker, porque tava mal mesmo e... nada. Adicionei pastilha pra garganta, spray, xarope... nada. Adicionei remédio pra dor na cara, no pescoço, na garganta... NADA. Aí comecei a piorar, né? Porque provavelmente o corpinho não conseguiu sintetizar a coisa toda e, geeeeente, pensei que foce morrer*.
*piada for dummies
E pra entender o quanto eu estava mal, eu saí do trabalho, fui pra casa e deitei na cama. Tinha academia pra ir, louça pra lavar, roupa pra colocar na máquina. Mas eu tirei a calça jeans pus o fio dental e deitei na cama e vi novela. Sabe quando foi a última vez que isso aconteceu? Quando eu tinha uns catorze anos.
Aí eu tava lá naquela situação miserável e minha mãe estava viajando - é importante essa parte, porque mãe nunca abandona, a não ser que ela esteja geograficamente indisponível - e eu pensando "minha nossa senhora do passaquatro, e agora?". Ni qui eu pensei, "nossa, mas eu tô ótima aqui das habilidades físicas, posso pegar meu próprio carro e me dirigir até o hospital mais próximo, né?
Coloquei a calça jeans de volta, prendi os cabelinho que tava tudo revolts a essa altura, me enchi de blusa, casaco, cachecol e fui. Sozinha. Pensei na possibilidade de precisar tomar remédios na veia e ficar assim um pouco incapacitada pra função de motorista quando já estava no meio do caminho, mas não tinha como recuar, prossegui. Pensei em como seria meio boring ficar distribuindo meu pulmão pela sala de espera sozinha por uma meia hora, mas não tinha muita alternativa. Não deu tempo de deprimir por abandono por muito tempo, o hospital era realmente perto. Cheguei, estacionei, descobri que tinha que subir um fucking lance de escada - atividade que tomou uns 10 minutos - cheguei na porta do hospital, onde uma funcionária fumava sob a marquise como se fosse super normal tentar asfixiar os outros que já estão lutando pra se locomover e fazer sinapses com oxigenação reduzida, entrei no hospital, onde ninguém aparecia pra atender.
A sala de espera até que cheia, mas a recepção vazia. E nada. O segurança percebeu que eu estava com sérias dificuldades respiratórias e foi chamar a recepcionista, que resolveu apertar todos os números de senha do mundo, mas nunca o meu. A SALA TÁ VAZIA, MOÇA! ME ATENDE, PELO AMOR DE DEUS.
A filha de chocadeira levou oito minutos contados no relógio pra chamar as senhas todas, três vezes cada uma. Chegou na minha vez, não me deixou nem falar oi: "não tem triagem, espera de três horas". Mas, moça, em três horas eu já morri! "Que pena."
Uma pena mesmo.
Me arrastei pra fora do hospital, de volta até meu carro. Saí do estacionamento sem saber como lhe dar com aquele momento específico da existência e parei na frente do hospital e chorei por aproximadamente 17 minutos, porque não tinha uma pessoa pra quem eu pensasse "poxa vida, xô ligar aqui pra esse amigo tão maneiro que vai me ajudar a chegar no próximo hospital e segurar minha mão enquanto eu morro".
FAVOR NÃO VIR AQUI DIZER QUE VOCÊ IRIA OBRIGADA
Eu não vou negar que uns quinze nomes passaram na minha cabeça, sabe? Mas como eu não falo no telefone nem sob grave ameaça de morte e eu não quero ter que ficar explicando (caso fale no telefone, tô nem falando de sms) que eu preciso de ajuda porque tá ruim assim mesmo, eu nem me dei ao trabalho.
Eu queria poder ligar e falar apenas as seguintes frases "frente do hospital x. morrendo. ajuda agora." e a pessoa estar lá num espaço de tempo entre 10 e 30 minutos, dependendo da sua localização no espaço no momento da ligação. "Ah, mas eu não tenho carro.", "ah, mas eu tô na aula", "ah, mas eu tenho um compromisso", "ah, mas..." eu.não.quero.ouvir. Se eu liguei e pedi ajuda, eu quero ajuda, ok. Reflita aí se eu morrer que diferença vai fazer a aula de introdução à babaquice que você perdeu hoje. Ou o vigésimo oitavo lanche do Mcdonald's que você ia comer com aquela pessoa neste ano. Ou o tempo que você passaria no ônibus.
Talvez não fosse fazer diferença nenhuma mesmo.
De modos que eu me sinto solitária.
Porque quando seu ~estilo de vida~ é falar bobagem e ser engraçada, é muito fácil ter gente perto de você nessas condições. O tempo todo, se você quiser. Mas nas vezes que minha saúde ficou muito ruim na minha vida (o que é, provavelmente, a única coisa que me tira o bom humor), não sobra um pra contar a história.
Teve uma vez (eu já contei isso aqui e nem ligo, vou contar de novo) que eu namorava um cara que eu nem queria namorar, mas ele infernizou tanto que eu só parei de negar. Pois tava tudo maravilhoso (pra ele) enquanto eu tava sendo eu, era um grude insuportável, do tipo que eu cheguei a fugir da pessoa na rua, pra que ela não me visse. Foi eu ficar doente que nego arranjou amigos e compromissos da noite pro dia. Um dia eu estava tão mal que não conseguia levantar e andar. Eu liguei e pedi ajuda, porque a condição em que eu me encontrava dava muita sede e eu nem sempre conseguia levantar pra repor a jarra de água. A resposta? "Tá todo mundo no restaurante whatevs, cê não vai querer que eu fique aqui e perca isso, né?".
NÃO, QUERO QUE VOCÊ VÁ PRO RAIO QUE O PARTA.
E foi pro restaurante e até hoje não compreende o que me acometeu pra terminar o relacionamento.
Sabe?
O ano passado foi um ano complexo pra minha saúde. E eu fiquei 120% amarga. E não sobrou praticamente ninguém. Os amigos que moram em outras cidades ou países e acham que não contam, tão muito enganados, porque muitos deles sumiram até do convívio digital. (Muitos sobraram, mas aqueles de quem eu não tinha dúvida que ficariam). Mas dos amigos in loco, que eu via até 4 vezes na semana em algumas ocasiões, dá pra contar nos dedos de uma mão (sobra dedo).
E numa hora de profundo desespero, que você chora dentro do carro numa rua deserta, à noite, e o único pensamento que vem à sua cabeça é "se eu chorar, vai piorar pra respirar", não tem ninguém.
Mas depois que eu apertar o botão publicar, tem a galera que vai ignorar (chamando mentalmente de reclamona e etc), tem a galera que vai me mandar procurar ajuda ou cagar alguma regra e tem a galera que vai me mandar mensagem particular dizendo que tava disponível sim.
E é por isso que eu não quero postar mais porcaria nenhuma e tal.