Tìtulo alternativo: o que não mata, engorda
Eu
vou avisar antes, porque aparentemente eu sou vigiada pela polícia surpresa da
internet: essa história não é engraçada, mas eu não consigo evitar contar como
se fosse. Eu chorei de rir nas 3 vezes que contei essa semana pra minha mãe,
pra minha irmã e pra uma amiga, e eu sinto muito, muito mesmo. Por isso eu não
vou dizer nomes, porque tem gente que não é obrigada a lidar com a minha
insensibilidade.
Vocês
são, vieram aqui por vontade própria.
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História
1
Eu
tomo injeção toda semana. Não é hipérbole, é apenas um fato: sábado é dia de
injeção, não importa o que. Minhas perninhas estão parecendo um campo minado de
tanta marca, mas é a vida. Na verdade, é isso ou não há vida. WHATEVER. Não tenho
medo nenhum, tomo benzetacil (que está escrito certo, favor não corrigir nos
comentários) sorrindo (verdade) e saio pulando em seguida (mentira), não tenho
medo de agulha, prefiro 489753 injeções a um comprimido – e ó que eu tomo, num
dia normal, cinco comprimidos, TODO.DIA. – desde que eu não tenha que dar a
injeção em mim mesma.
Minha
mãe, por sua vez, tem PAVOR de agulha. Tão grande que quase ela fez uma cesárea
sem anestesia só por causa da agulha, sabe? Aí quase morreu com a dor do parto
e quis um comprimidinho. Fugiu correndo da cadeira do acupunturista (eu faço
acupuntura, que também tá escrito certo, seus analfabeto, com 50 agulhas de
buenas) e sofre miseravelmente se a gente só disser a palavra injeção.
Acontece
que eu não consigo dar injeção em mim mesma, desculpa, sociedade. Então eu ia a
um posto de saúde, porque farmácia não dá, hospital não dá. Todo sábado. Minha mãe
e minha irmã se compadeceram e começaram a me ajudar, mas babãe sofria miseravelmente
cada vez que tinha que me espetar e eu achava que ela ia chorar. Então eu expliquei
pra ela que não só que eu não sinto DOR NENHUMA em injeções, mas não tenho medo
nem sofro com as dorzinhas do remédio injetado. Sou fortona. A única coisa que
me quebra é tirar sangue.
Isso
porque aos 7 anos eu tive uma experiência traumática. Contei pra minha mãe que
tive uma suspeita de meningite, que na verdade era uma suspeita de HEPATITE e
fui aterrorizada loucamente no laboratório pelo cerumano que tira sangue (qual
é a formação? Enfermagem? Eu não sei...).
Por
que eu tive que contar pra minha mãe que tive uma suspeita de hepatite aos sete
anos? Porque fui adotada aos 10.
HAHHHHHHHHHAHHAHAHAHAHAHA
MENTIRA.
Porque
eu morei com a minha avó por uns 3 meses enquanto minha mãe trabalhava
loucamente e perdeu alguns acontecimentos da minha vida.
E
minha mãe me perguntou que negócio era esse de hepatite e eu disse que não
fazia ideia, que um dia passei mal na escola, caí da cadeira, maior dramalhão e
me levaram pro hospital com suspeita de hepatite, quarentena e o circo todo.
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História
2
Semana
passada eu estava tentando ficar acordada tão desesperadamente que carreguei a
timeline do facebook com 100% dos bocó com quem eu me relaciono. Tava lá
rolando a tela sem prestar atenção e voltei a ler só os relevantes. Aí tinha um
amigo meu de infância dedicando uma mensagem de aniversário de morte para
Asdrúbal. Como vocês sabem, identidades estão sendo protegidas e o caso é que o
amigo em questão tinha um nome realmente estranho. Num mundo de gabriels,
eduardos e fernandos, nego chamava as.drú.bal.
Acontece
que eles todos moravam na cidade da minha vóvis, aquela em que eu morei por 3
meses. Quando vi a mensagem, muito me perguntei se numa cidade daquele tamanho
(que num vinha a ser São Paulo, onde babãe morava, obviamente) era possível ter
dois Asdrúbals. Mesmo assim, mandei uma mensagem pro coleguinha pra confirmar
se os dois eram o mesmo. E eram. Fiquei transtornada na hora, porque Asdrúbal era
meu namoradinho na segunda série, essa mesma em que eu tinha 7 anos.
Todo
mundo que eu conheço naquele buraco lindo lugar sabia que eu conhecia o Asdrúbal.
Inclusive um tempinho antes de ele morrer, fui a uma pizzaria com ele e um dos
meus 39857453 primos que habitam o local. Ninguém.me.avisou.
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História
3
Fiquei
o dia inteiro pensando no menino e em um monte de histórias irônicas, inclusive
na profissão que ele resolveu seguir. Tava achando tudo muito curioso, quando
me lembrei do começo do nosso ~relacionamento~.
Asdrúbal
usou toda sua coragem para me pedir em namoro, considerando quem era meu pai,
meu avô, meus tios e tias, meus primos, meus primos NA ESCOLA (família
Capuleto, pelamor). Foi lá e pediu e eu fui lá e disse sim, mas a partir de
amanhã. Gente, não façam perguntas difíceis, eu sei lá porque tinha que ser a
partir de amanhã.
Acontece
que amanhã ele não apareceu na escola. Nem no dia seguinte, nem no outro. O menino
do facebook da história 2, que vinha a ser nosso BFF em comum, me prometeu ir
até a casa dele pra ver se tava tudo bem e me dar notícias no dia seguinte.
O
dia seguinte foi atribulado, cheio de provas e coisa e tal, de modos que eu e
BFF não pudemos conversar até a hora da saída. Quando ele veio falar comigo,
estendeu a mão e me entregou um bilhete, dizendo que era do Asdrúbal explicando
tudo (mas que gente mais cheia dos friquefrique essa de SETE ANOS, não?), mas
pra adiantar, ele estava de repouso por motivo de: hepatite.
Quando
eu botei a mão na carta, minha tia apareceu sei lá de onde pra me buscar e, acreditando
que eu estava me oferecendo pro BFF ali na minha frente, fez questão de ler a
carta. Eu expliquei que era de outra pessoa, BFF só estava me entregando e ela
poderia ver depois que eu lesse. Ela insistiu em ler antes de mim. Eu disse
não. Ela tentou tomar da minha mão. Eu coloquei na boca. Mastiguei. Engoli. Eu comi
a carta com hepatite, porque eu tinha sete anos e eu não sabia o que caramelos
era hepatite.
Três
dias depois eu tive um treco na escola, capotei da cadeira rumo ao chão e fui
levada às pressas ao hospital, onde o maníaco da seringa tirou meu sangue e
quase me matou de stress antes que eu descobrisse o que vinha a ser hepatite.
Eu
estava com gripe.
Nunca
soube o que estava escrito na carta.
FIM.