quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Capuletando

Tìtulo alternativo: o que não mata, engorda



Eu vou avisar antes, porque aparentemente eu sou vigiada pela polícia surpresa da internet: essa história não é engraçada, mas eu não consigo evitar contar como se fosse. Eu chorei de rir nas 3 vezes que contei essa semana pra minha mãe, pra minha irmã e pra uma amiga, e eu sinto muito, muito mesmo. Por isso eu não vou dizer nomes, porque tem gente que não é obrigada a lidar com a minha insensibilidade.

Vocês são, vieram aqui por vontade própria.

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História 1

Eu tomo injeção toda semana. Não é hipérbole, é apenas um fato: sábado é dia de injeção, não importa o que. Minhas perninhas estão parecendo um campo minado de tanta marca, mas é a vida. Na verdade, é isso ou não há vida. WHATEVER. Não tenho medo nenhum, tomo benzetacil (que está escrito certo, favor não corrigir nos comentários) sorrindo (verdade) e saio pulando em seguida (mentira), não tenho medo de agulha, prefiro 489753 injeções a um comprimido – e ó que eu tomo, num dia normal, cinco comprimidos, TODO.DIA. – desde que eu não tenha que dar a injeção em mim mesma.

Minha mãe, por sua vez, tem PAVOR de agulha. Tão grande que quase ela fez uma cesárea sem anestesia só por causa da agulha, sabe? Aí quase morreu com a dor do parto e quis um comprimidinho. Fugiu correndo da cadeira do acupunturista (eu faço acupuntura, que também tá escrito certo, seus analfabeto, com 50 agulhas de buenas) e sofre miseravelmente se a gente só disser a palavra injeção.

Acontece que eu não consigo dar injeção em mim mesma, desculpa, sociedade. Então eu ia a um posto de saúde, porque farmácia não dá, hospital não dá. Todo sábado. Minha mãe e minha irmã se compadeceram e começaram a me ajudar, mas babãe sofria miseravelmente cada vez que tinha que me espetar e eu achava que ela ia chorar. Então eu expliquei pra ela que não só que eu não sinto DOR NENHUMA em injeções, mas não tenho medo nem sofro com as dorzinhas do remédio injetado. Sou fortona. A única coisa que me quebra é tirar sangue.

Isso porque aos 7 anos eu tive uma experiência traumática. Contei pra minha mãe que tive uma suspeita de meningite, que na verdade era uma suspeita de HEPATITE e fui aterrorizada loucamente no laboratório pelo cerumano que tira sangue (qual é a formação? Enfermagem? Eu não sei...).

Por que eu tive que contar pra minha mãe que tive uma suspeita de hepatite aos sete anos? Porque fui adotada aos 10.

HAHHHHHHHHHAHHAHAHAHAHAHA MENTIRA.

Porque eu morei com a minha avó por uns 3 meses enquanto minha mãe trabalhava loucamente e perdeu alguns acontecimentos da minha vida.

E minha mãe me perguntou que negócio era esse de hepatite e eu disse que não fazia ideia, que um dia passei mal na escola, caí da cadeira, maior dramalhão e me levaram pro hospital com suspeita de hepatite, quarentena e o circo todo.

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História 2

Semana passada eu estava tentando ficar acordada tão desesperadamente que carreguei a timeline do facebook com 100% dos bocó com quem eu me relaciono. Tava lá rolando a tela sem prestar atenção e voltei a ler só os relevantes. Aí tinha um amigo meu de infância dedicando uma mensagem de aniversário de morte para Asdrúbal. Como vocês sabem, identidades estão sendo protegidas e o caso é que o amigo em questão tinha um nome realmente estranho. Num mundo de gabriels, eduardos e fernandos, nego chamava as.drú.bal.

Acontece que eles todos moravam na cidade da minha vóvis, aquela em que eu morei por 3 meses. Quando vi a mensagem, muito me perguntei se numa cidade daquele tamanho (que num vinha a ser São Paulo, onde babãe morava, obviamente) era possível ter dois Asdrúbals. Mesmo assim, mandei uma mensagem pro coleguinha pra confirmar se os dois eram o mesmo. E eram. Fiquei transtornada na hora, porque Asdrúbal era meu namoradinho na segunda série, essa mesma em que eu tinha 7 anos.

Todo mundo que eu conheço naquele buraco lindo lugar sabia que eu conhecia o Asdrúbal. Inclusive um tempinho antes de ele morrer, fui a uma pizzaria com ele e um dos meus 39857453 primos que habitam o local. Ninguém.me.avisou.

*****

História 3

Fiquei o dia inteiro pensando no menino e em um monte de histórias irônicas, inclusive na profissão que ele resolveu seguir. Tava achando tudo muito curioso, quando me lembrei do começo do nosso ~relacionamento~.

Asdrúbal usou toda sua coragem para me pedir em namoro, considerando quem era meu pai, meu avô, meus tios e tias, meus primos, meus primos NA ESCOLA (família Capuleto, pelamor). Foi lá e pediu e eu fui lá e disse sim, mas a partir de amanhã. Gente, não façam perguntas difíceis, eu sei lá porque tinha que ser a partir de amanhã.

Acontece que amanhã ele não apareceu na escola. Nem no dia seguinte, nem no outro. O menino do facebook da história 2, que vinha a ser nosso BFF em comum, me prometeu ir até a casa dele pra ver se tava tudo bem e me dar notícias no dia seguinte.

O dia seguinte foi atribulado, cheio de provas e coisa e tal, de modos que eu e BFF não pudemos conversar até a hora da saída. Quando ele veio falar comigo, estendeu a mão e me entregou um bilhete, dizendo que era do Asdrúbal explicando tudo (mas que gente mais cheia dos friquefrique essa de SETE ANOS, não?), mas pra adiantar, ele estava de repouso por motivo de: hepatite.

Quando eu botei a mão na carta, minha tia apareceu sei lá de onde pra me buscar e, acreditando que eu estava me oferecendo pro BFF ali na minha frente, fez questão de ler a carta. Eu expliquei que era de outra pessoa, BFF só estava me entregando e ela poderia ver depois que eu lesse. Ela insistiu em ler antes de mim. Eu disse não. Ela tentou tomar da minha mão. Eu coloquei na boca. Mastiguei. Engoli. Eu comi a carta com hepatite, porque eu tinha sete anos e eu não sabia o que caramelos era hepatite.

Três dias depois eu tive um treco na escola, capotei da cadeira rumo ao chão e fui levada às pressas ao hospital, onde o maníaco da seringa tirou meu sangue e quase me matou de stress antes que eu descobrisse o que vinha a ser hepatite.

Eu estava com gripe.

Nunca soube o que estava escrito na carta.


FIM.