quarta-feira, 1 de junho de 2011

vou de taxi, cê sabe.

Às vezes mei que morre minha vontade de escrever.
Por um tempo morre a vontade de escrever qualquer coisa (eu respondo email na maior má vontade, com meia dúzia de palavras, depois que alguém já reclamou. Até sms eu regulo). Depois fica só a falta de vontade de escrever aqui. Não é nem blog o problema, é quem lê. Quem eu ACHO que lê. Saber com certeza eu nunca vou, né?

De modo que hoje eu vou tentar contar a história do taxista de 102 anos. Mentira, ele tinha *só* 80. Agora é sério.

Eu sei que os causos aqui estão monotemáticos, mas é que este é aquele ponto em que a vida da pessoa que possui blog diarinho se complica.

Aliás, ter um blog e fazer dele um diarinho é tão last decade que dá até vergonha. É incompatível com a minha idade também, mas né? A essas alturas da vida, eu nem tenho mais vontade de ter critério, anyway.

Incrusivemente, hoje combinei uma balada. Pois é. Perdão, minha gente. Eu pequei. Que o senhor tenha pena da minha alma miserável.

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O problema em ter gente conhecida demais lendo é que se a gente descreve vagamente uma pessoa e tem que conviver com o fato de que os amigues vão chutar quem é até o fim dos tempos. A gente fala en passant de um acontecimento e os colegue vão perguntar “foi aquele dia lá?” até você querer se enforcar com os próprios cabelos.

Aí, comofas pra contar histórias comparando o dia em que uma pessoa pela qual você tem profundo apreço diz, under the influence, que meique te odeia com o dia em que uma pessoa pela qual cê nem sente grandes afeto, under the same kind of influence, super te abraça, garra suas fuça, olha nos seus olho e diz TE AMO? Não tem como, né?

Gente, sério. Cêis precisam aprender a beber. Tem que ficar locão toda vez e embaralhar a mente da pessoa sóbria? Acho deselegante.


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Pois então eu tava lá, sendo assediada sequiçualmente por um cerumano alcoolizado (eu e 98% das mulheres que não estavam em casa no sábado à noite, mas a história é minha, me deixa). Aí fiz o que toda mocinha de família faria: entrei no banheiro, chamei um taxi e fiquei bem quieta esperando que ele chegasse.

Nesse ponto era um pouco difícil decidir o que seria pior: o assédio ou o maluco em potencial que deveria me levar em segurança até em casa. Mas eu tinha que ir embora, não é mesmo? E já tinha recusado carona (porque eu sou mongol, o que se há de fazer?).

Então o taxi chegou e eu corri pra ele como quem corre pela vida. Quase morri do coração ao ver um velhinho MUITO velhinho. Tipo o pai do velhinho do up, sabe? Velhinho com tanta ruga que parecia um mapa hidrográfico, com mais pintinhas que um chocotone, aquela boininha básica da terceira idade. Eu tenho medo de velhinho no volante, tenho PAVOR de velhinho no volante às 3 horas da manhã.

Mas já era.

Aí, o padrão. A pergunta que todo taxista me faz quando me pega num bar: a senhora tá bêbada, moça?

Não. Sou assim mesmo.

Nessa hora ele começou o maior sermão sobre os malefícios da bebida (pra mim, cê jura? Vai falar lá com os meus amiguinhos no bar.) e completou:

- faz uns 6 meses que eu não bebo. Desde que a namorada foi embora.

Aí você para e repensa sua vida, quando um velhinho de 80 anos tinha uma na-mo-ra-da 6 meses atrás e você... bom, você não quer falar do FAIL que é sua vida neste blog, né? É.

- a namorada era nova?
- era. E gostava de uma cerveja, aí eu bebia com ela.
- que bom que ela foi embora então, né? – eu, um poço de delicadeza desde 1980.
- ah, não. Porque ela levou a coisa mais preciosa que eu tinha...

A voz do velhinho fica meio enroscada na garganta e eu acho que ele vai chorar. E eu, do alto da minha experiência, juro que a mulher roubou o cachorro do senhorzinho e quase me ofereço pra ir buscar, quando ele completa:

- ... levou meu filho...

Agora o choque.

- ... DE NOVE ANOS.

Vamos todos calcular a idade em que o velhinho estava fazendo filho? Vamos? Só por um momento? Questionei toda a minha existência ali naquele taxi.

*****

Tenho um pouco (mas só um pouco) de vergonha de confessar que me sentiria mais comovida se a mulher tivesse roubado o cachorro, mas até eu sei que é triste roubarem o filho alheio.

E ó: eu sei que não tenho todas as informações, que não sei o que levou a mulher – cuja idade não foi revelada – a sair fugida com uma criança de nove anos, que não sei se o velhinho era um bom namorado e pai. Mas eu sou obrigada a acreditar que o velhinho era gente boa, porque eu estava dividindo um carro com ele às 3 horas da manhã.

Como minha casa fica na terceira curva depois da pqp, deu tempo de ele contar detalhadamente a história. Tadinho, viu? A não ser que ele seja um velhinho raqueteiro espancador, essa mulher tem que arder no mármore do inferno. O vovô tem mais o que? uns 20 anos de vida útil, se der sorte? Imagina ficar longe do filho. De NOVE fucking anos.

Dei altas dica pro velhinho entrar na justiça, né? Se ele não for um maníaco assassino, quem sabe?

Jamais superarei essa história.

E tenho um pouquinho (mas só um pouquinho) de vergonha de admitir que achei que o velhinho ia me matar de alguma forma. Mas aí não sei se é culpa da namorada fugitiva ou do taxista perdido, né? Que me traumatizou (e quem foi me resgatar) pra todo o sempre. Nego tá querendo me buscar até na conchinchina, só pra eu não sofrer bullying taxístico. Não é fácio.

Mas agora com licença. Eu vou ali orar, que amanhã é dia de bar e nunca se sabe em que condições eu vou chegar em casa.

Fiquem ligadinhos.